domingo, 18 de março de 2012

Para se fazer ouvir por todos

L'OSSERVATORE ROMANO

Editoriais

Cidade do Vaticano, 18 de Março de 2012.
Os desafios de «Témoignage chrétien»

Para se fazer ouvir por todos

A cultura católica está a conduzir batalhas difíceis a nível moral e bioético, além do mais da difícil posição de quem pretende propor as próprias soluções como válidas para todos, crentes e não crentes. Trata-se de uma batalha na qual são indispensáveis muitas e válidas razões, sem se limitar a uma repetição auto-referencial dos documentos das instituições católicas: naturalmente esta é uma tarefa dos intelectuais leigos. Tarefa não fácil, da qual se tem um exemplo interessante nos redactores e colaboradores da revista francesa «Témoignage chrétien», que tratam, quase em cada número, um problema actual, muitas vezes de tipo bioético, descobrindo novos argumentos de debate que contribuem para ampliar o debate e para fortalecer o ponto de vista católico sobre o tema.

É suficiente um relance de olhos aos últimos números para nos darmos conta disto: em Novembro um dossier sobre a eugenética com o título O grande regresso com novos dados sobre a prática eugenética ainda em curso em vários países. No coração da Europa, por exemplo, esterilizam-se forçadamente as mulheres rom, assim como no Peru de Fujimori foram esterilizadas as mulheres das minorias étnicas. Além disso, isto acontece muitas vezes em condições higiénicas deploráveis, e com métodos que – mesmo se oficialmente definidos voluntários – na realidade são coercitivos.

Mas uma surpresa ainda maior é oferecida pela França, onde durante muitos anos se praticou a esterilização forçada das mulheres deficientes: só em 1966 foram esterilizadas 211 mulheres deficientes ou em graves dificuldades sociais. Depois da lei de 2001 que regula esta acção, subordinando-a ao juiz tutelar, parece que estes casos diminuíram de uma dezena por ano. Mas naturalmente a revista não se esquece de indicar que é realizado um verdadeiro massacre nos embriões e fetos imperfeitos ou diferentes do sexo desejado. Por isso, se nos países orientais prevalece a selecção sexual – são preferidos os meninos e não as meninas – no ocidente selecciona-se o recém-nascido sadio, sem se limitar às doenças mais graves. No Reino Unido, por exemplo, seleccionam-se os fetos também para não ter filhos afectados por estrasbismo.

«Témoignage chrétien» denunciou, num número sucessivo, a duplicidade dos ecologistas: por um lado, prontos a combater qualquer manipulação vegetal ou animal, por outro indulgentes em relação à relativa aos seres humanos, por receio de serem assimilados às religiões. Como se os problemas relativos às manipulações técnico-científicas do ser humano fossem problemas apenas religiosos. Mas os ecologistas desejam ser considerados progressistas, e por conseguinte aceitam que, no que diz respeito aos seres humanos, em nome da liberdade individual e da pesquisa, seja necessário mover-se no sentido das inovações tecnológicas. No fundo, conclui o dossier da revista, a esquerda parece estar submetida a uma verdadeira religião do progresso que a leva a aceitar qualquer descoberta tecnológica sobre os seres humanos, e desta forma o mundo da ética ambiental permanece separado e não comunicável com o da ética humana. A reflexão sobre a técnica é aprofundada também por um dossier especial sobre o pensador Jacques Ellul, intelectual fértil e original, protestante fervoroso, que desenvolveu uma crítica à cultura técnica sob muitos aspectos profética já nos anos sessenta do século passado. Ellul descreve a técnica como um sistema que funciona de modo automático e autónomo, um sistema no qual o ser humano não tem a possibilidade de escolha. Não se podem aceitar alguns aspectos e outros não; os danos ao ambiente – escreve - não são erros do sistema técnico, mas do próprio sistema. Por conseguinte invoca uma reconsideração sobre a cultura técnica no seu conjunto, em vez de proceder com uma resposta a cada problema que ela provoca. Trata-se de uma proposta muito interessante, que poderia abrir um novo debate intelectual.

Em Março, foi finalmente publicado um dossier sobre o gender: se o modo de apresentar o problema, intencionalmente neutro e pronto para acolher também o ponto de vista de quem defende o uso deste conceito, levanta questões interessantes, como a constatação de que só os católicos falam de «teoria do gender», enquanto os outros falam do mais neutro «estudos de género». Mas o dossier – muito aberto ao uso de gender, mesmo se não no sentido extremo da polémica feminista – esquece de tomar em consideração pontos de vista críticos também laicos, como o da filósofa francesa Sylviane Agacinski, que defende a necessidade de pensar a diferença natural dos sexos e recorda sobretudo que, mesmo se no passado foi a diferença netural entre os sexos que pôde legitimar a desigualdade feminina, não é negando esta diferença que se pode conquistar a igualdade. Trata-se contudo de um debate livre e criativo, que procura sair das insensibilidades teóricas para sugerir novas possibilidades de trabalho intelectual, para fortalecer a cultura católica e torná-la cada vez mais convincente e credível também para quem não é católico.

  Lucetta Scaraffia
17 de Março de 2012
[palavras-chave: Bioética]
Área utentesregistrados

 .

Deutsch

English

Español

Français

Italiano

Polski

Português

 .

Read the daily free

For the weekly editions please consult subscription requirements.

.

.

.

.

.

Hoje em primeiro plano

Special issue
for the Beatification



--
1.Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.
2.Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:
3.Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!
4.Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!
5.Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!
6.Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!
7.Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!
8.Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!
9.Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!
10.Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!
11.Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.
12.Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.

"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]