segunda-feira, 12 de março de 2012

Quando a Palavra fica sem palavras



Na audiência geral Bento XVI falou sobre o silêncio na vida de Jesus
Quando a Palavra fica sem palavras

À importância do silêncio na vida de Jesus e na relação do cristão com Deus, o Sumo Pontífice dedicou a catequese da audiência geral de quarta-feira 7 de Março, na praça de São Pedro.

Prezados irmãos e irmãs!

Numa série de catequeses precedentes falei sobre a oração de Jesus e não gostaria de concluir esta reflexão sem meditar brevemente acerca do tema do silêncio de Jesus, tão importante na relação com Deus.
Na Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini fiz referência ao papel que o silêncio adquire na vida de Jesus, sobretudo no Gólgota: "Aqui vemo-nos colocados diante da "Palavra da cruz" (cf. 1 Cor 1, 18). O Verbo emudece, torna-se silêncio de morte, porque se "disse" até calar, nada retendo do que nos devia comunicar" (n. 12). Diante deste silêncio da cruz, são Máximo, o Confessor, põe nos lábios da Mãe de Deus a seguinte expressão: "Fica sem palavras a Palavra do Pai, o qual fez todas as criaturas que falam; sem vida estão os olhos apagados daquele por cuja palavra e por cujo aceno se move tudo o que tem vida" (A vida de Maria, n. 89: Textos marianos do primeiro milénio, 2, Roma 1989, p. 253).
A cruz de Cristo não mostra somente o silêncio de Jesus como sua última palavra ao Pai, mas revela também que Deus fala por meio do silêncio: "O silêncio de Deus, a experiência da distância do Omnipotente e Pai é etapa decisiva no caminho terreno do Filho de Deus, Palavra encarnada. Suspenso no madeiro da cruz, o sofrimento que lhe causou tal silêncio fê-lo lamentar: "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" (Mc 15, 34; Mt 27, 46). Avançando na obediência até ao último suspiro de vida, na obscuridade da morte, Jesus invocou o Pai. A Ele entregou-se no momento da passagem, através da morte, para a vida eterna: "Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito" (Lc 23, 46)" (Exortação Apostólica pós-sinodal Verbum Domini, 21). A experiência de Jesus na cruz é profundamente reveladora da situação do homem que reza e do ápice da oração: depois de ter ouvido e reconhecido a Palavra de Deus, devemos medir-nos também com o silêncio de Deus, expressão importante da própria Palavra divina.
A dinâmica de palavra e silêncio, que caracteriza a oração de Jesus em toda a sua existência terrena, sobretudo na cruz, diz respeito também à nossa vida de oração, em duas direcções.
A primeira é a que se refere ao acolhimento da Palavra de Deus. É necessário o silêncio interior e exterior, para que tal palavra possa ser ouvida. E este é um ponto particularmente difícil para nós, no nosso tempo. Com efeito, a nossa é uma época na qual não se favorece o recolhimento; aliás, às vezes a impressão é de que as pessoas têm medo de se separar, mesmo por um instante, do rio de palavras e de imagens que marcam e enchem os dias. Por isso, na já mencionada Exortação Verbum Domini recordei a necessidade de nos educarmos para o valor do silêncio: "Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida da Igreja significa também redescobrir o sentido do recolhimento e da tranquilidade interior. A grande tradição patrística ensina-nos que os mistérios de Cristo estão ligados ao silêncio e só nele é que a Palavra pode encontrar morada em nós, como aconteceu em Maria, mulher inseparável da Palavra e do silêncio" (n. 66). Este princípio - que sem silêncio não se sente, não se ouve, não se recebe uma palavra - é válido sobretudo para a oração pessoal, mas também para as nossas liturgias: para facilitar uma escuta autêntica, elas devem ser também ricas de momentos de silêncio e de acolhimento não verbal. É sempre válida a observação de santo Agostinho: Verbo crescente, verba deficiunt - "Quando o Verbo de Deus cresce, as palavras do homem faltam" (cf. Sermo 288, 5: PL 38, 1307; Sermo 120, 2: PL 38, 677). Os Evangelhos apresentam com frequência, sobretudo nas escolhas decisivas, Jesus que se retira totalmente sozinho num lugar afastado das multidões e dos próprios discípulos para rezar no silêncio e viver a sua relação filial com Deus. O silêncio é capaz de escavar um espaço interior no nosso íntimo, para ali fazer habitar Deus, para que a sua Palavra permaneça em nós, a fim de que o amor por Ele se arraigue na nossa mente e no nosso coração, e anime a nossa vida. Portanto, a primeira direcção: voltar a aprender o silêncio, a abertura à escuta, que nos abre ao próximo, à Palavra de Deus.
Porém, há uma segunda importante relação do silêncio com a oração. Com efeito, não há apenas o nosso silêncio para nos dispor à escuta da Palavra de Deus; muitas vezes, na nossa oração, encontramo-nos diante do silêncio de Deus, experimentamos quase um sentido de abandono, parece-nos que Deus não ouve e não responde. Mas este silêncio de Deus, como aconteceu também para Jesus, não marca a sua ausência. O cristão sabe bem que o Senhor está presente e escuta, mesmo na escuridão da dor, da rejeição e da solidão. Jesus garante aos discípulos e a cada um de nós que Deus conhece bem as nossas necessidades, em qualquer momento da nossa vida. Ele ensina aos discípulos: "Nas vossas orações, não sejais como os gentios, que usam vãs repetições, porque pensam que, por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais, antes que vós lho peçais" (Mt 6, 7-8): um coração atento, silencioso e aberto é mais importante que muitas palavras. Deus conhece-nos no íntimo, mais do que nós mesmos, e ama-nos: e saber isto deve ser suficiente. Na Bíblia, a experiência de Job é particularmente significativa a este propósito. Em pouco tempo, este homem perde tudo: familiares, bens, amigos e saúde; até parece que a atitude de Deus no que se lhe refere é a do abandono, do silêncio total. E no entanto Job, na sua relação com Deus, fala com Deus, clama a Deus; na sua oração, não obstante tudo, conserva intacta a sua fé e, no fim, descobre o valor da sua experiência e do silêncio de Deus. E assim no final, dirigindo-se ao Criador, pode concluir: "Eu tinha ouvido falar de ti, mas agora são os meus olhos que te vêem" (Jb 42, 5): todos nós conhecemos Deus quase só por ter ouvido falar dele, e quanto mais abertos permanecemos ao seu e ao nosso silêncio, tanto mais começamos a conhecê-lo realmente. Esta confiança extrema que se abre ao encontro profundo com Deus amadureceu no silêncio. São Francisco Xavier rezava, dizendo ao Senhor: eu amo-te, não porque podeis conceder-me o paraíso, ou condenar-me ao inferno, mas porque Vós sois o meu Deus. Amo-vos porque Vós sois Vós!
Aproximando-nos da conclusão das reflexões sobre a oração de Jesus, voltam à mente alguns ensinamentos do Catecismo da Igreja Católica: "O drama da oração é-nos plenamente revelado no Verbo que se faz carne e habita entre nós. Procurar compreender a sua oração através do que as suas testemunhas nos dizem dela no Evangelho, é aproximar-nos do Santo Senhor Jesus como da sarça ardente: primeiro, contemplando-O a Ele próprio em oração; depois, escutando como Ele nos ensina a rezar para, finalmente, conhecermos como é que Ele atende a nossa oração" (n. 2.598). E como é que Jesus nos ensina a rezar? No Compêndio do Catecismo da Igreja Católica encontramos uma resposta clara: "Jesus ensina-nos a rezar, não só com a oração do Pai-Nosso" - certamente o acto central do ensinamento do modo como rezar - "mas também com a sua própria oração. Assim, para além do conteúdo, ensina-nos as disposições requeridas para uma verdadeira oração: a pureza do coração que procura o Reino e perdoa aos inimigos; a confiança audaz e filial que se estende para além do que sentimos e compreendemos; a vigilância que protege o discípulo da tentação" (n. 544).
Percorrendo os Evangelhos vimos como o Senhor é, para a nossa oração, interlocutor, amigo, testemunha e mestre. Em Jesus revela-se a novidade do nosso diálogo com Deus: a oração filial, que o Pai espera dos seus filhos. E de Jesus aprendemos como a oração constante nos ajuda a interpretar a nossa vida, a fazer as nossas escolhas, a reconhecer e a acolher a nossa vocação, a descobrir os talentos que Deus nos concedeu, a cumprir diariamente a sua vontade, único caminho para realizar a nossa existência.
Para nós, muitas vezes preocupados com a eficácia funcional e com os resultados concretos que alcançamos, a prece de Jesus indica que temos necessidade de parar, de viver momentos de intimidade com Deus, "desapegando-nos" da confusão de todos os dias, para ouvir, para ir à "raiz" que sustenta e alimenta a vida. Um dos momentos mais bonitos da oração de Jesus é precisamente quando Ele, para enfrentar doenças, dificuldades e limites dos seus interlocutores, se dirige ao seu Pai em oração e assim ensina a quantos estão ao seu redor onde é necessário procurar a fonte para ter esperança e salvação. Já recordei, como exemplo comovedor, a oração de Jesus no túumulo de Lázaro. O evangelista João narra: "Quando tiraram a pedra Jesus, erguendo os olhos para o céu, disse: "Pai, dou-te graças por me teres atendido. Eu já sabia que sempre me atendes, mas Eu disse isto por causa das pessoas que me rodeiam, para que venham a crer que Tu me enviaste". Dito isto, bradou em alta voz: "Lázaro, vem para fora!"" (Jo 11, 41-43). Mas o ponto mais alto de profundidade na oração ao Pai, Jesus alcança-o no momento da Paixão e Morte, quando pronuncia o extremo "sim" ao desígnio de Deus e mostra como a vontade humana encontra o seu cumprimento precisamente na adesão plena à vontade divina, e não na oposição. Na oração de Jesus, no seu brado na Cruz, confluem "todas as desolações da humanidade de todos os tempos, escrava do pecado e da morte, todas as súplicas e intercessões da história da salvação... E eis que o Pai as acolhe e atende, para além de toda a esperança, ao ressuscitar o seu Filho. Assim se cumpre e se consuma o drama da oração na economia da criação e da salvação" (Catecismo da Igreja Católica, 2.606).
Caros irmãos e irmãs, peçamos com confiança ao Senhor para viver o caminho da nossa oração filial, aprendendo quotidianamente do Filho Unigénito que se fez homem por nós como deve ser o modo de nos dirigirmos a Deus. As palavras de são Paulo, sobre a vida cristã em geral, são válidas também para a nossa oração: "Estou convencido de que nem a morte nem a vida, nem os anjos nem os principados, nem o presente nem o futuro, nem as potestades nem a altura, nem o abismo nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em nosso Senhor Jesus Cristo" (Rm 8, 38-39).

No final da audiência, o Santo Padre dirigiu-se aos fiéis presentes, pronunciando em português estas expressões.

Queridos peregrinos vindos do Brasil e de outros países de língua portuguesa: sede bem-vindos! Pedi sempre confiadamente ao Senhor de poder viver o caminho da vossa oração filial, aprendendo diariamente de Jesus como deveis dirigir-vos a Deus. E que as Suas bênçãos desçam sobre vós e vossas famílias!


(©L'Osservatore Romano - 10 de Março de 2012)
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Bento XVI visitou a paróquia romana de São João Baptista de La Salle
Do Tabor ao Gólgota pelo caminho do amor

O itinerário quaresmal que do monte Tabor conduz ao Gólgota indica ao cristão "o caminho do amor luminoso que vence as trevas" e "nos abre a porta para a liberdade e a novidade da Ressurreição", disse o Papa aos fiéis da paróquia romana de São João Baptista de La Salle, que visitou na manhã de domingo 4 de Março. Foi esta a homilia pronunciada durante a missa.

Amados irmãos e irmãs da Paróquia de São João Baptista de La Salle!
Antes de tudo gostaria de dizer, com todo o meu coração, obrigado por este acolhimento tão cordial e caloroso. Obrigado ao gentil Pároco pelas suas amáveis palavras, obrigado por este espírito de familiaridade que encontro. Somos realmente família de Deus, e o facto de que vedes no Papa também o pai, é para mim algo muito positivo, que me encoraja! Mas agora devemos pensar que também o Papa não é a última instância: a última instância é o Senhor, e fitemos o Senhor para sentir, para compreender - na medida do possível - algo da mensagem deste segundo Domingo da Quaresma.
A liturgia deste dia prepara-nos tanto para o mistério da Paixão - ouvimos na primeira Leitura - como para a alegria da Ressurreição. A primeira Leitura refere-se
ao episódio em que Deus põe à prova Abraão (cf. Gn 22, 1-18). Ele tinha um filho único, Isaac, que lhe nascera na velhice. Era o filho da promessa, o filho que depois deveria trazer a salvação também aos povos. Mas um dia Abraão recebe de Deus a ordem de o oferecer em sacrifício. O idoso patriarca encontra-se diante da perspectiva de um sacrifício que para ele, pai, é certamente o maior que se possa imaginar. Todavia, não hesita nem sequer um instante e, depois de ter preparado o necessário, parte juntamente com Isaac para o lugar estabelecido. E podemos imaginar este percurso rumo ao cimo do monte, o que se passou no seu coração e no coração do seu filho. Constrói um altar, coloca a lenha e, depois de amarrar o jovem, pega na faca para o imolar. Abraão confia totalmente em Deus, a ponto de estar disposto até a sacrificar o próprio filho e, com o filho, o futuro, porque sem filho a promessa da terra não é nada, termina em nada. E sacrificando o filho, sacrifica-se a si mesmo, todo o seu futuro, toda a promessa. É realmente um gesto de fé extremamente radical. Neste momento é detido por uma ordem do alto: Deus não quer a morte, mas a vida, o verdadeiro sacrifício não proporciona a morte, mas é a vida e a obediência de Abraão que se torna fonte de uma bênção imensa, até hoje. Deixemos isto, mas podemos meditar sobre este mistério.
Na segunda Leitura, são Paulo afirma que o próprio Deus cumpriu um sacrifício: ofereceu-nos o seu Filho, doou-o na Cruz, para vencer o pecado e a morte, para derrotar o maligno e para superar toda a malícia que existe no mundo. E esta misericórdia extraordinária de Deus suscita a admiração do Apóstolo e uma confiança profunda na força do amor de Deus por nós; com efeito, são Paulo afirma: "[Deus], que não poupou o próprio Filho, mas O entregou por todos nós, como não havia de nos dar também com Ele todas as coisas?" (Rm 8, 32). Se Deus se entrega a Si mesmo no Filho, dá-nos tudo. E Paulo insiste sobre o poder do sacrifício redentor de Cristo contra todos os outros poderes que podem ameaçar a nossa vida. Ele interroga-se: "Quem poderia acusar os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará? Cristo Jesus que morreu, ou melhor, que ressuscitou, que está à direita de Deus, é quem intercede por nós!" (vv. 33-34). Nós estamos no Coração de Deus, esta é a nossa grande confiança. Isto cria amor, e no amor caminhamos rumo a Deus. Se Deus doou o próprio Filho por todos nós, ninguém poderá acusar-nos, ninguém poderá condenar-nos, ninguém poderá separar-nos do seu amor imenso. Precisamente o sacrifício supremo de amor na Cruz, que o Filho de Deus aceitou e escolheu voluntariamente, torna-se fonte da nossa justificação, da nossa salvação. E pensamos que na Sagrada Eucaristia está sempre presente este gesto do Senhor, que no seu Coração permanece eternamente, e este gesto do seu Coração atrai-nos, une-nos a Si mesmo.
Finalmente, o Evangelho fala-nos do episódio da transfiguração (cf. Mc 9, 2-10): Jesus manifesta-se na glória antes do sacrifício da Cruz, e Deus Pai proclama-O seu Filho predilecto, o amado, e convida os discípulos a ouvi-lo. Jesus sobe a um monte alto e leva consigo três Apóstolos - Pedro, Tiago e João - que permanecerão particularmente próximos dele na agonia extrema, sobre outro monte, o das Oliveiras. Há pouco o Senhor tinha anunciado a sua paixão e Pedro não conseguia compreender por que motivo o Senhor, o Filho de Deus, falava de sofrimento, de rejeição, de mote e de cruz, aliás, chegou a opor-se com decisão a esta perspectiva. Agora Jesus leva consigo os três discípulos, para os ajudar a compreender que o caminho para alcançar a glória, a vereda do amor luminoso que vende as trevas, passa através do dom total de si, passa pelo escândalo da Cruz. E, sempre de novo, o Senhor deve levar-nos consigo também a nós, pelo menos para começarmos a compreender que este é o caminho necessário. A transfiguração é um momento antecipado de luz que nos ajuda também a nós, a fitarmos a paixão de Jesus com o olhar da fé. Sim, ela é um mistério de sofrimento, mas é inclusive a "paixão bem-aventurada" porque é - no núcleo - um mistério de amor extraordinário de Deus; é o êxodo definitivo que nos abre a porta para a liberdade e a novidade da Ressurreição, da salvação do mal. Temos necessidade disto no nosso caminho quotidiano, muitas vezes marcado também pela escuridão do mal!
Estimados irmãos e irmãs! Como já disse, estou muito feliz por estar no meio de vós hoje, para celebrar o Dia do Senhor. Saúdo cordialmente o Cardeal Vigário, o Bispo Auxiliar do Sector, o vosso Pároco, Pe. Giampaolo Perugini, ao qual agradeço mais uma vez a amáveis palavras que me dirigiu em nome de todos vós e também os apreciados dons que me oferecestes. Saúdo os Vigários paroquiais e saúdo as Irmãs Franciscanas Missionárias do Coração Imaculado de Maria, aqui presentes desde há muitos anos, particularmente beneméritas para a vida desta Paróquia, que encontrou hospitalidade imediata e generosa na sua casa nos primeiros três anos de vida. Depois, saúdo também os Irmãos das Escolas Cristãs, naturalmente afeiçoados a esta igreja paroquial que tem o nome do seu Fundador. Além disso, saúdo quantos trabalham activamente no âmbito da Paróquia: refiro-me aos Catequistas, aos membros das Associações e dos Movimentos, assim como aos vários grupos paroquiais. Enfim, gostaria de dirigir o meu pensamento a todos os habitantes do bairro, de modo especial aos idosos, aos doentes, às pessoas sozinhas e em dificuldade.
Ao vir hoje até vós, observei a posição particular desta igreja, posta no ponto mais elevado do bairro, e dotada de um campanário esbelto, como um dedo ou como uma seta rumo ao céu. Parece-me que esta é uma indicação importante: como os três Apóstolos do Evangelho, também nós temos necessidade de subir ao monte da transfiguração para receber a luz de Deus, para que a sua Face ilumine o nosso rosto. E é na oração pessoal e comunitária que nós encontramos o Senhor, não como uma ideia, ou como uma proposta moral, mas como uma Pessoa que quer entrar em relação connosco, que deseja ser amigo e quer renovar a nossa vida para a tornar como a sua. E este encontro não é só um facto pessoal; esta vossa igreja, posta no ponto mais elevado do bairro, recorda-vos que o Evangelho deve ser comunicado, anunciado a todos. Não esperemos que outros venham trazer mensagens diversas, que não conduzem à vida verdadeira; tornai-vos, vós mesmos, missionários de Cristo para os irmãos, lá onde eles vivem, trabalham, estudam ou passam o tempo livre. Conheço as numerosas e significativas obras de evangelização que estais a realizar, de modo particular através do oratório chamado "Estrela polar" - é com prazer que recebo esta t-shirt [do oratório] - onde, graças ao voluntariado de pessoas competentes e generosas, e com a participação das famílias, se favorece a agregação dos jovens através da actividade desportiva, mas sem descuidar a formação cultural, através da arte e da música, e sobretudo educa-se para a relação com Deus, para os valores cristãos e para uma participação cada vez mais consciente na celebração eucarística dominical.
Alegro-me que o sentido de pertença à comunidade paroquial tenha amadurecido cada vez mais, consolidando-se ao longo dos anos. A fé deve ser vivida juntos, e a paróquia é um lugar onde aprendemos a viver a própria fé no "nós" da Igreja. E desejo encorajar-vos a fim de que cresça também a co-responsabilidade pastoral, numa perspectiva de comunhão autêntica entre todas as realidades presentes, que são chamadas a caminhar juntas, a viver a complementaridade na diversidade, a testemunhar o "nós" da Igreja, da família de Deus. Conheço o compromisso com que vos dedicais à preparação dos adolescentes e dos jovens para os Sacramentos da vida cristã. O próximo "Ano da fé" seja uma ocasião propícia também para esta paróquia, para fazer crescer e consolidar a experiência da catequese sobre as grandes verdades da fé cristã, de modo que todo o bairro conheça e aprofunde o Credo da Igreja e supere aquele "analfabetismo religioso", que constitui um dos maiores problemas do nosso hoje.
Caros amigos! A vossa comunidade é jovem - vê-se - constituída por famílias jovens, e graças a Deus são muitas as crianças e os adolescentes que dela fazem parte. A este propósito, gostaria de recordar a tarefa da família e de toda a comunidade cristã, de educar para a fé, ajudados nisto pelo tema do corrente ano pastoral, pelas orientações pastorais propostas pela Conferência Episcopal Italiana, e sem esquecer o ensinamento profundo e sempre actual de são João Baptista de La Salle. Amadas famílias, sois vós sobretudo o ambiente de vida em que se dão os primeiros passos da fé; sede comunidades onde se aprenda a conhecer e amar cada vez mais o Senhor, comunidades em que haja um enriquecimento recíproco para viver uma fé verdadeiramente adulta. Finalmente, gostaria de recordar a todos vós a importância e a centralidade da Eucaristia na vida pessoal e comunitária. A Santa Missa esteja no âmago do vosso Domingo, que deve ser redescoberto e vivido como Dia do Senhor e da comunidade, no qual deveis louvar e celebrar Aquele que morreu e ressuscitou para a nossa salvação, e viver juntos na alegria de uma comunidade aberta e pronta para acolher cada pessoa sozinha ou em dificuldade. Com efeito, congregados ao redor da Eucaristia, sentimos mais facilmente que a missão de cada comunidade cristã consiste em transmitir a mensagem do amor de Deus a todos os homens. Eis por que é importante que a Eucaristia seja sempre o cerne da vida dos fiéis, como o é no dia de hoje.
Prezados irmãos e irmãs! Do Tabor, o monte da Transfiguração, o itinerário quaresmal conduz-nos até ao Gólgota, monte do supremo sacrifício de amor do único Sacerdote da nova e eterna Aliança. Naquele sacrifício está encerrada a maior força de transformação do homem e da história. Assumindo sobre Si mesmo todas as consequências do mal e do pecado, Jesus ressuscitou no terceiro dia como vencedor da morte e do maligno. A Quaresma prepara-nos para participar pessoalmente neste grande mistério da fé, que celebraremos no Tríduo da paixão, morte e ressurreição de Cristo. Confiemos à Virgem Maria o nosso caminho quaresmal, assim como o da Igreja inteira. Ela, que acompanhou o seu Filho Jesus até à Cruz, nos ajude a ser discípulos fiéis de Cristo, cristãos maduros, para podermos participar juntamente com Ela na plenitude da alegria pascal. Amém!


(©L'Osservatore Romano - 10 de Março de 2012)
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.

"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]