quarta-feira, 18 de abril de 2012

30 anos de histórico manifesto contra o socialismo autogestionário



Janeiro de 2012
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Entrevista

30 anos de histórico manifesto contra o socialismo autogestionário

O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça- de-ponte? É o título do documento, de autoria de Plinio Corrêa de Oliveira, que denunciou o programa autogestionário do Partido Socialista Francês, que pretendia conduzir a sociedade a uma espantosa desagregação e instaurar uma igualdade radical.

Sr. Jean Goyard

"O sonho comunista era o de estabelecer uma sociedade sem Estado nem estruturas, na qual os cidadãos governariam a si próprios em torno de soviets"

No último mês de dezembro completaram-se 30 anos de um lance especialmente memorável, efetuado conjuntamente pelas TFPs de 13 países. Consistiu na publicação de um manifesto-bomba de autoria do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, ocupando seis páginas de jornais dos mais importantes do mundo, no qual era denunciado o programa autogestionário do governo socialista do presidente francês François Mitterrand. Tal programa correspondia a uma radical revolução que pretendia subverter completamente o Estado, a sociedade e a família, com repercussão no mundo inteiro, dada a natural irradiação de tudo quanto procede da França no domínio sócio-cultural.

Catolicismo teve a honra de participar dessa epopéia internacional, pois o documento foi publicado na íntegra em edição especial da revista (janeiro e fevereiro/1982). Agora, por ocasião do trigésimo aniversário desse lance, Catolicismo entrevistou o Sr. Jean Goyard, porta-voz e um dos mais antigos membros da Sociedade Francesa de Defesa da Tradição, Família e Propriedade – TFP.

*       *       *

Catolicismo — Antes de entrar no cerne doutrinário do tema autogestão e das repercussões do manifesto O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte?, o Sr. poderia dizer uma palavra sobre a campanha de divulgação dessa mensagem?

O Prof. Plinio Corrêa de Oliveira (foto acima), segura um exemplar do manifesto publicado em 45 dos maiores e mais influentes jornais de 19 países da Europa, das Américas e da Oceania.

Sr. Jean Goyard — Com muito gosto. Foi no dia 9 de dezembro de 1981 que o manifesto, redigido e assinado pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, presidente da TFP brasileira, e apoiado pelas demais TFPs existentes, apareceu em dois importantes jornais dos Estados Unidos e da Alemanha: respectivamente o "Washington Post" e o "Frankfurter Algemeine Zeitung". Nas semanas e meses seguintes, a íntegra do documento foi reproduzida em 45 dos maiores e mais influentes jornais de 19 países da Europa, das Américas e da Oceania. Pouco depois, um denso resumo do estudo foi publicado em 13 línguas de 49 países dos cinco continentes. A tiragem total do documento foi de 33,5 milhões de exemplares. Em seu conjunto, trata-se, sem a menor sombra de dúvida, de um dos maiores esforços publicitários não comerciais da história da mídia.

Catolicismo — Essas cifras são de fato impressionantes. Mas qual a necessidade ou oportunidade de tal esforço publicitário?

Francois Mitterrand

"O Projeto Socialista era baseado na autogestão. O Partido Comunista Francês pôs em surdina seu stalinismo e aprovou um Programa baseado na autogestão"

Sr. Jean Goyard — Para entendê-lo é preciso colocar-se no contexto da época, ou seja, no início dos anos 1980, quando o comunismo, agonizante nos países atrás da Cortina de Ferro, acabava de conquistar o poder na França, fruto de uma aliança entre comunistas e socialistas, conduzida por um líder carismático, François Mitterrand. Este tinha conseguido que os eleitores sonhassem com uma nova utopia de esquerda, a "autogestão socialista", a qual supostamente não continha as mazelas do "socialismo centralizado" dos "camaradas" do Leste Europeu. Tal programa poderia re-entusiasmar as esquerdas desanimadas no mundo inteiro. O prestígio internacional da França e seu rayonnement cultural seriam fatores propícios para esse revigoramento.

Catolicismo — Para as esquerdas era, então, uma hora delicada e decisiva...

Sr. Jean Goyard — Exatamente. O regime soviético encontrava-se corroído por uma crise interna que remontava às suas próprias origens. A URSS havia sido construída sobre um sistema antinatural e só podia sobreviver através da violência e da repressão. Em 1997, pesquisadores universitários publicaram uma obra intitulada O Livro Negro do Comunismo, na qual mostram que o número de mortos nas mãos ensanguentadas dos diferentes regimes comunistas ascendia a 100 milhões. Essa cifra é inferior à realidade: a comissão que estudou a repressão do regime soviético avaliou que só na URSS, entre 1917 e 1953, o número de vítimas foi de 43 milhões, ou seja, o dobro da cifra mencionada no Livro Negro para esse período. Recurso tão vasto à violência atesta que o regime era politicamente muito fraco. E, segundo tal comissão, para sobreviver na Rússia e alhures, a revolução comunista deveria exportar seu modelo a outros países mais ricos, que pudessem depois subvencionar o ineficiente regime socialista. Donde o interesse dos comunistas russos pela revolução cubana e sua exportação para o resto da América Latina, notadamente para o Brasil, país tão rico de recursos naturais.

Catolicismo — Mas esse regime totalitário e centralizador de fato correspondia ao ideal de Marx e Lenine, ou foi um desvio causado por circunstâncias internas e externas da revolução bolchevista?

Sr. Jean Goyard — O sonho comunista de Marx era o de estabelecer uma sociedade sem Estado nem estruturas, na qual os cidadãos governariam a si próprios em torno de pequenos soviets — conselhos compostos de operários, camponeses e soldados. De acordo com a utopia marxista, esse regime de autogoverno dos soviets seria anárquico, ou seja, literalmente sem governo e sem chefes, e só ele estabeleceria a igualdade e a fraternidade universais. Tratava-se, portanto, de uma utopia autogestionária segundo a qual cada soviet, cada pequena unidade de produção e de vida social geriria ela própria seus afazeres. As primeiras experiências de comunas autogeridas resultaram em total fracasso, obrigando a sua extinção e a instalação rápida do Estado centralizado e totalitário soviético.

Catolicismo — A utopia autogestionária foi então abandonada?

Sr. Jean Goyard — Nem um pouco. Para Stalin e seus asseclas, a ditadura do proletariado era apenas uma etapa transitória para a construção do regime comunista. A última Constituição da União Soviética, redigida por Brezhnev em 1977, ainda proclamava esse ideal autogestionário em seu Preâmbulo, que dizia: "O objetivo supremo do Estado soviético é edificar a sociedade comunista sem classes, na qual desenvolver-se-á a autogestão social comunista".

Catolicismo — Mas os partidos comunistas de fora da Rússia não propugnavam a autogestão, e sim a ditadura do proletariado...

Sr. Jean Goyard — Depois da Segunda Guerra Mundial, graças à traição das potências aliadas em Yalta, o comunismo deu um passo gigantesco na Europa do Leste, abocanhando países muito mais ricos do que a Rússia, como a Alemanha do Leste, a Tchecoslováquia, a Polônia, etc. E o regime que implantou nesses países foi uma cópia do modelo centralizado soviético. A única exceção foi a Iugoslávia do marechal Tito, que nos anos 1960 tentou descentralizar a produção e implantar uma certa autogestão nas fábricas.

Mons. Casaroli, responsável pela diplomacia vaticana, apoiou a chamada Ostpolitik, ou seja, a política de abertura ao Leste (comunista)

"O Projeto socialista preconizava uma intromissão da coletividade na vida privada de cada um, pretendendo intervir até na decoração interna dos lares!"

Mas os grandes partidos comunistas ocidentais, como o francês e o italiano, defendiam com unhas e dentes a ditadura do proletariado. Foi somente depois da Revolução da Sorbonne, de um lado, e do esmagamento da "Primavera de Praga", de outro, ambas ocorridas durante o ano de 1968, que a repressão política e planificação centralizada e ditatorial do modelo soviético passaram a ser mal vistas até pela esquerda. Foi aí que os PCs da França e da Itália iniciaram uma estratégia de "compromisso histórico" com os partidos democrata-cristãos. Tais partidos abriram-se então, novamente, para a perspectiva de um socialismo democrático de tipo autogestionário.

A utopia autogestionária cobrou força nos ambientes esquerdistas — pelo menos na França — nas correntes de esquerda cristã, sobretudo no sindicato Confederação Francesa Democrática de Trabalhadores (versão laicizada e reformada da velha Confederação Francesa de Trabalhadores Cristãos) e numa corrente chamada "deuxième gauche" (segunda esquerda), liderada por Michel Roccard no seio do Partido Socialista Unificado (PSU), que depois confluiu para o Partido Socialista Francês, liderado por François Mitterrand.

Cumpre notar que a esquerda católica, uma das correntes mais dinâmicas dentro do PSU, era representada pelos herdeiros da Jovem República, a expressão política do movimento Le Sillon, fundado por Marc Sagnier (1873-1950) e condenado por São Pio X juntamente com o Modernismo. As heresias e suas versões políticas têm a pele dura!

Catolicismo — Mas isso não é remontar longe demais no tempo?

Sr. Jean Goyard — Nada de grande nasce de repente, diziam os latinos. Mas essa confluência entre católicos e neo-marxistas — o tal "compromisso histórico", que vinha sendo preparado de longa data — foi muito favorecida pela chamada Ostpolitik, ou seja, a política de abertura ao Leste (comunista) iniciada pelo chanceler alemão Willy Brandt e continuada, no plano religioso, pelo então Mons. Casaroli, mais tarde Cardeal e responsável pela diplomacia vaticana. Isso tudo convergia para uma hipotética "terceira via" entre comunismo e capitalismo, discernida pela esquerda católica precisamente na autogestão.

Catolicismo — Houve então uma espécie de renascimento do conceito de autogestão e uma certa efervescência intelectual em torno dele na década de 1970?

Sr. Jean Goyard — Justamente. Desde 1966 já existia na França uma revista científica e militante com o nome Autogestão, que desapareceu 20 anos mais tarde. Em 1976, um intelectual de esquerda, Pierre Ronsanvallon, chegou a escrever um livro exaltando o que ele chamava A era da autogestão. Por isso, ele deu tal título ao livro. Na mesma ocasião, Edmond Maire, secretário-geral do sindicato CFDT, assumindo ares de profeta, escreveu a obra Amanhã a autogestão. Nesse mesmo ano, no seio de prestigiosa plataforma parisiense de investigação na área das ciências humanas e sociais denominada Maison des Sciences de l'Homme (Casa das Ciências Humanas), criou-se o Centro Internacional de Coordenação de Pesquisas sobre a Autogestão.

Catolicismo — E como foi que o conceito de autogestão virou programa político?

Sr. Jean Goyard — O PSU foi um dos fundadores do Partido Socialista Francês e, com ele, infiltrou-se no PS aquilo que se tornou o centro do programa daquele partido, ou seja, a autogestão. Nasceram assim, em 1975, as Quinze teses sobre a autogestão, seguidas depois pelo Projeto Socialista para a França dos anos 80, aprovado num congresso do PS em janeiro de 1980 para servir de plataforma programática da candidatura de François Mitterrand à presidência da República. O Projeto Socialista era todo ele baseado na autogestão. E o Partido Comunista Francês pôs em surdina seu stalinismo centralizador aprovando um Programa Comum de governo baseado igualmente na autogestão. É claro que, com vistas a não assustar o eleitorado e conseguir a eleição de Mitterrand, esse programa autogestionário velava o radicalismo de seus objetivos na gradualidade de sua estratégia para atingi-los.



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Entrevista

Catolicismo — Quais eram os objetivos do programa de governo de Mitterrand?

Para os manifestantes de Maio de 68, o mestre na escola, o patrão, o pai, o marido, o chefe eis, a partir desse momento, o inimigo

"Em Paris, as fontes autorizadas do governo disseram que não estavam preparadas para reagir a essa publicação, mas que a estavam estudando"

Sr. Jean Goyard — O objetivo final era a instauração da igualdade completa, da qual deveriam teoricamente nascer, por meio da autogestão, a liberdade e a fraternidade integrais. O programa visava a uma transformação total, não somente das empresas industriais, comerciais e agrícolas, mas também das escolas e da própria família. Eis, por exemplo, o que diz um trecho dele: "A crise da autoridade é uma das grandes dimensões da crise do capitalismo avançado. Maio de 68 foi, na França, a revelação mais patente: o mestre na escola, o patrão, o pai, o marido, o chefe (grande ou pequeno, histórico ou aspirando a sê-lo), eis, a partir de agora, o inimigo. Todo poder é cada vez mais considerado como uma manipulação [...] O detentor da menor parcela de autoridade é por isso mesmo contestado, senão desacreditado".

É a luta de classes em todos os níveis: no lar, na escola, no trabalho. Imagine aonde chegaria uma sociedade na qual ninguém mais pode mandar, nem sequer os pais no seio da própria família! É o caos! Mas, na utopia autogestionária, isso se tornaria possível através de uma reforma do homem, que o habilitaria a viver num regime parecido ao das tribos da Amazônia, onde tudo é comum e a liberdade supostamente não gera desigualdades. Aliás, no Projeto Socialista de Mitterrand preconizava-se uma intromissão da coletividade na vida privada de cada um, eliminando a distinção entre trabalho e tempo livre, modelando os lazeres e pretendendo intervir até na decoração interna dos lares!

Catolicismo — Mas, apesar desse radicalismo, os franceses elegeram Mitterrand?

Sr. Jean Goyard — Mitterrand elegeu-se devido ao apoio que recebeu da esquerda católica e do Episcopado francês. Este declarou que o próprio de uma sociedade democrática era poder escolher entre uma pluralidade de programas opostos e que os católicos cobriam todo o espectro do tabuleiro político. A declaração incluía, portanto, sem qualquer ressalva, o PC e o PS com seu programa demolidor. Segundo uma revista progressista da época, chamada Informations catholiques internationales, bem mais de um milhão de católicos contribuiu com seus votos para a eleição de Mitterrand. Isso incluía até um quarto dos católicos praticantes! E note-se que, no programa comum da esquerda, estava previsto o favorecimento do aborto e das reivindicações homossexuais...

Catolicismo — É realmente desolador. Mas voltemos à publicação das TFPs contra o socialismo autogestionário, publicada nos jornais do mundo inteiro apenas sete meses após a posse de Mitterrand. Qual é a principal crítica que a referida Mensagem das TFPs faz ao projeto socialista autogestionário?

Sr. Jean Goyard — Em síntese, o manifesto demonstrava que, na lógica do Projeto Socialista para a França dos Anos 80, o Estado e a sociedade autogestionários eram ainda mais totalitários que a ditadura do proletariado soviética. Porque seria o Estado que implantaria por lei a sociedade autogestionária, a qual continuaria a viver em virtude da onipotência do mesmo Estado que a organizou. Além do mais, na sociedade autogestionária, o indivíduo ver-se-ia controlado não somente pelo imenso aparelho estatal, mas também — e sobretudo — pelo micro-aparelho dos grupos autogestionários dos quais cada um participaria no seu trabalho, no seu bairro e nas associações recreativas onde se diverte. A única liberdade que lhe restaria seria a do uso da palavra e do voto nessas moléculas autogestionárias. No restante, o Estado teria o poder ilimitado de legislar a respeito de tudo. Ele ensinaria, formaria, nivelaria e preencheria os lazeres. Em suma, instalar-se-ia na mente do indivíduo, que se veria reduzido à condição de autômato cujos sinais de vida própria seriam tão-só o de se informar, dialogar e votar nessas assembleias.

Catolicismo — Os socialo-comunistas devem ter-se sentido aniquilados com essa argumentação, porque realmente ela é irretorquível. Mas gostaríamos de saber como foi a difusão do documento na França?

Capa do livro publicado pela TFP francesa contendo o texto do manifesto

"A denúncia das TFPs cortou as asas do PS no momento em que a autogestão começava a voar no céu internacional. O PS preferiu contemporizar e mudar de política"

Sr. Jean Goyard — Ele foi censurado pelo governo! Um dos maiores quotidianos franceses, chamado "Le Figaro", de centro, aceitou, num primeiro momento, publicar a mensagem redigida pelo Prof. Plinio Corrêa de Oliveira. É preciso recordar que se tratava de um anúncio de seis páginas inteiras de jornal, pago ao preço de mercado através de uma agência! Mas, no último momento, a direção do "Figaro" rompeu unilateralmente o contrato. Nem todos tinham conhecimento de que Robert Hersant, seu proprietário na época, havia sido anarco-sindicalista na juventude. Depois ele se tornou nazista e fundou um grupúsculo que colaborou com os ocupantes alemães durante a guerra. Hersant foi condenado pela colaboração com o inimigo e anistiado em 1952, voltando às suas origens socialistas e fazendo-se eleger deputado. Na Assembléia Nacional ele pertenceu ao grupo parlamentar da União democrática e socialista da Resistência, partido animado por Mitterrand. Nos anos 1970 voltou novamente para a direita e comprou o "Figaro", sem deixar por isso de ser amigo pessoal de Mitterrand.

Com esses antecedentes, não é de excluir que a súbita mudança de atitude do "Figaro" — que representava para o jornal uma significativa perda de dinheiro — tenha sido inspirada pelo ocupante do Palácio do Eliseu... Tentamos, então, publicar o documento em outros órgãos da mídia, mas nenhum dos grandes jornais parisienses com mais de 100 mil exemplares de tiragem quis publicar a matéria paga. O único que teve a coragem de o fazer foi... um jornal estrangeiro: a edição francesa (20 mil exemplares) do "International Herald Tribune". Apesar dessa censura, a aparição simultânea da Mensagem no "Washington Post" e no "Frankfurter Allgemeine Zeitung" foi comentada no jornal nacional dos principais canais franceses de televisão da época, TF1 e Antenne 2. Recebemos na nossa sede de Paris grande número de ligações telefônicas de jornalistas.

Catolicismo — Houve alguma reação do governo?

Sr. Jean Goyard — Apenas três dias após a publicação em Frankfurt e Washington do anúncio de seis páginas, o "Herald Tribune" descreveu assim a reação do governo francês: "Em Paris, as fontes autorizadas do governo disseram que não estavam preparadas para reagir a essa publicação, mas que a estavam estudando. 'Absolutamente não há pânico e estamos bem mais interessados em saber quem ou o que se encontra por detrás dessa publicação', declarou 5a feira um porta-voz do Eliseu, acrescentando que 'mais tarde' poderia haver uma reação". As únicas reações foram, a partir daí, as contínuas e infrutíferas perseguições administrativas e fiscais pelo governo socialista contra a TFP francesa. Aliás, para ser inteiramente exato, vários artigos da imprensa de esquerda — como "L'Humanité", "Libération", "Le Matin" — deixaram transpirar a indignação dos socialistas diante da campanha internacional das TFPs. Especialmente eloquente foi um artigo publicado no "L'Unité", órgão do Partido Socialista, pelo conhecido historiador Max Gallo, hoje de direita.

Catolicismo — Mas a difusão ficou por isso mesmo?

Sr. Jean Goyard — Não. Para romper o cerco da censura socialista, a TFP francesa enviou o documento pelo correio a mais de 300 mil lares selecionados. Essa difusão suscitou um número enorme de adesões e serviu depois aos candidatos da direita nas eleições cantonais que se seguiram. Nossos representantes foram convidados a fazer conferências e participar de reuniões organizadas por outros movimentos.

Catolicismo — E no plano publicitário?

Sr. Jean Goyard — As diversas TFPs responderam com um comunicado intitulado Na França, o punho esmaga a rosa (que era o símbolo do Partido Socialista de Mitterrand). Publicada na grande imprensa internacional, a nova matéria desacreditou o governo francês e a sua famosa autogestão, a qual se mostrava na realidade tão totalitária e liberticida quanto o comunismo soviético. Na França, novamente, todos os jornais recusaram a publicação desse segundo documento, com exceção do "Herald Tribune" e de um pequeno semanário conservador chamado "Rivarol".

Catolicismo — Tudo somado, qual foi o resultado da publicação no mundo inteiro da Mensagem das TFPs contra o socialismo autogestionário francês?

Sr. Jean Goyard — A denúncia das TFPs cortou as asas do PS francês exatamente no momento em que a autogestão por ele preconizada começava a voar no céu internacional. A partir daí, se Mitterrand continuasse a aplicar o Programa Comum, ele se desmascararia e confirmaria a denúncia do Prof. Plinio. O PS preferiu contemporizar e mudar de política, iniciando uma nova fase moderada no seu estilo de governo. Quatro anos mais tarde, a direita obteve maioria legislativa e começou a privatizar as grandes empresas que Mitterrand havia nacionalizado. E quando a esquerda voltou novamente ao poder, no segundo período presidencial de Mitterrand, ela preferiu seguir a política denominada "ni-ni": nem privatização, nem nacionalização. O sonho autogestionário tinha sido enterrado. De fato, até as palavras talismãs autogestão e autogestionário passaram completamente de moda e geraram uma grande frustração em toda a esquerda.

Catolicismo — Há sintomas dessa frustração?

Exatamente dez anos após a primeira publicação do anúncio de seis páginas das TFPs, o Partido Socialista Francês realizou um congresso muito famoso, porque nele foi modificada a sua Declaração de Princípios, em vista da estrepitosa queda do Muro de Berlim

"O sonho autogestionário tinha sido enterrado. De fato, até as palavras talismãs autogestão e autogestionário passaram completamente de moda"

Sr. Jean Goyard — Claro. E muito significativos. Limito-me aos dois mais eloquentes. Exatamente dez anos após a primeira publicação do anúncio de seis páginas das TFPs, o Partido Socialista Francês realizou um congresso muito famoso, porque nele foi modificada a sua Declaração de Princípios, em vista da estrepitosa queda do Muro de Berlim: renunciou à luta de classes e aceitou a economia de mercado. Durante o referido congresso, um dos mais importantes dirigentes do PS, Laurent Fabius, que fora o mais jovem primeiro-ministro de Mitterrand e que se tornaria alguns meses mais tarde secretário-geral do Partido, declarou: "Quando eu aderi ao Partido Socialista, há pouco mais de 17 anos, nossas ideias eram claras. Nós queríamos mudar a sociedade em profundidade. Tínhamos nessa época três palavras de ordem: nacionalizações, planificação, autogestão. Nosso pequeno 'livro vermelho' chamava-se 'Programa Comum'. Nossa estratégia, a 'união das esquerdas' e nossos aliados, os comunistas. [...] Mas, a caminho, como aqueles navios que quebram seus adereços no momento de jogar-se ao mar, eis que alguns de nossos conceitos originais ficaram ultrapassados, o comunismo morreu, o porvir é de leitura complexa, é preciso repensar nosso projeto, nosso instrumento e até nossa estratégia".

Dez anos mais tarde, em junho de 2001, o Centro de História Social do Século XX, da Universidade Paris 1, organizou um colóquio sob o expressivo título: "Autogestão. A última utopia?", do qual resultou a edição, em 2003, pelas Publications de la Sorbonne, de uma obra de 612 páginas. Seu título é o mesmo do colóquio e contém as diferentes proposições nele apresentadas. O responsável pela edição, Prof. Frank Georgi, após realçar com vários exemplos o prestígio de que gozava a autogestão no começo dos anos 1970, constata: "Um quarto de século mais tarde, o contraste é impressionante. Desde vinte anos, a palavra tem quase desaparecido do vocabulário político e social". E pergunta desabusado: "Pode-se hoje tentar compreender melhor, nos anos 1960 a 1980, o aparecimento, o apogeu e a decadência do que pode aparecer, com o recuo do tempo, como a última das grandes utopias do século XX?".

Não tenho nenhuma hesitação em afirmar que, com o recuo do tempo, também aparece mais claro que o tiro de canhão que acabou com a utopia autogestionária, no plano intelectual e publicitário, foi a publicação pelas TFPs do manifesto O socialismo autogestionário: em vista do comunismo, barreira ou cabeça-de-ponte? E o Mundo Livre deve esse serviço à argúcia e à segurança doutrinária de um católico e brasileiro de escol, o inesquecível Prof. Plinio Corrêa de Oliveira.

Catolicismo — Os socialistas franceses voltaram ao poder ainda depois do fim do segundo mandato de Mitterrand. Posto que tinham renunciado à última utopia do século XX, no que consistiu seu programa de governo?

Sr. Jean Goyard — No aprofundamento de uma Revolução Cultural mais subtil e que já começou sob a égide de Jacques Lang, o ministro da Cultura de Mitterrand. Essa Revolução Cultural iniciada pelos socialistas e continuada nos governos de centro-direita pretende subverter os modos de vida, a arte e a cultura. Ela desprestigia a cortesia e o francês bem falado, promove uma "arte" que exalta o feio e o chulo, dá livre curso à pornografia e ao relaxamento dos costumes. E, a pretexto de multiculturalismo, favorece uma imigração descontrolada de muçulmanos que se recusam a se integrar, criam áreas em que a polícia não pode entrar e nas quais vigoram o tráfego de drogas e a delinquência. Ou então o Islã! Mas uma análise dessa Revolução Cultural exigiria outra entrevista...

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1.    Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.    
2.    Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:    
3.    Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!    
4.    Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!    
5.    Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!    
6.    Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!    
7.    Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!    
8.    Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!    
9.    Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!    
10.    Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!    
11.    Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.    
12.    Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.














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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.

"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]