Janeiro de 1998
A Palavra do Sacerdote
Ambientes, Costumes e Civilizações
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Juan Miguel Montes
Correspondente
Roma – "Reafirmo que sou hostil ao poder soviético. Reafirmo que o comunismo é incompatível com o cristianismo, que estão em luta, e nessa luta estou inteiramente do lado do cristianismo contra o comunismo", proclamou destemidamente Nora Rubasëva, uma das numerosas freiras católicas submetida a interrogatórios e maus tratos pelos comunistas.
Esse admirável testemunho de fé é registrado numa obra ainda inédita e desconhecida no Brasil a respeito da perseguição anti-religiosa efetuada pelos soviéticos.
Tal obra chegou a nossas mãos mediante tradução italiana, sendo seu conteúdo particularmente significativo para aqueles que guardam no coração as auspiciosas palavras de Nossa Senhora em Fátima sobre a conversão da Rússia.
Se il mondo vi odia...(Se o mundo vos odeia...), de Irina Isopova (Ed. Casa di Matriona, Milão, 1977, 315 pp.), talvez seja o relato mais completo que se tenha publicado sobre a história da perseguição movida contra os católicos no antigo império soviético. Certamente é o mais documentado, tendo a autora realizado pesquisas durante cinco anos nos arquivos da famosa KGB.
Nele é traçado um panorama histórico de singular clareza, desde a situação do catolicismo no tempo dos czares, e que percorre sucessivamente as diversas etapas do calvário sofrido pelos católicos durante o comunismo, até 1955.
É interessante ressaltar que, nos últimos anos do czarismo, apesar das dificuldades institucionais contra a Igreja Católica, o catolicismo era uma realidade florescente na Rússia, "não tanto quantitativamente quanto qualitativamente". Isto se devia às conversões bastante freqüentes de conhecidas personalidades da elite cultural e social do país. Um fenômeno análogo ao Movimento de Oxford, observado na Inglaterra vitoriana, quando representativas personalidades daquela nação converteram-se ao catolicismo.
Entretanto, nos anos subseqüentes à deflagração da revolução russa, as principais figuras dessa primavera católica acabaram no exílio, nos campos de concentração ou diante dos pelotões de fuzilamento. Mesmo assim, alguns dentre eles nutriram a ilusão de que, com os novos homens do poder, as coisas tornar-se-iam mais fáceis do que antes.
Não faltaram, como na época dos lapsi romanos, as tristes defecções. Pessoas de grande prestígio que sucumbiram psíquica e fisicamente aos interrogatórios e torturas dos carcereiros. A legalidade não mais existia, os processos podiam ser judiciais ou extra-judiciais, estes conduzidos pela polícia política e inapeláveis...
Entretanto, as páginas mais belas foram escritas por aqueles e aquelas que permaneceram fiéis até o fim. Muitas eram freiras, como as do Mosteiro fundado pela convertida Anna Abrikosova. Esta senhora, prestigiosa figura da alta sociedade e da cultura, havia se separado do marido, de comum acordo com ele, para seguir a vida religiosa. O marido, também convertido, foi ordenado sacerdote e morreu no exílio.
Uma das religiosas desse convento, Nora Rubasëva, submetida a interrogatórios, declarou: "Reafirmo que sou hostil ao poder soviético. Reafirmo que o comunismo é incompatível com o cristianismo, que estão em luta, e nessa luta estou inteiramente do lado do cristianismo contra o comunismo" (p. 60).
A freira Kamilla Krusel'nickaja, fuzilada em 1937, proclamou: "Tendo fé, estou em oposição ao poder soviético. E reafirmo que na Rússia não se pode professar abertamente a própria fé. A Igreja é perseguida em vários sentidos, os seus melhores filhos estão oprimidos" (p. 65).
É impossível não estabelecer um paralelo entre a altaneria com que essa mártir contemporânea arrostou seus iníquos juízes marxistas -- depois, o pelotão de fuzilamento -- e o espírito destemido mediante o qual Santa Cecília e tantas outras mártires da Antiguidade pagã enfrentaram pretores romanos e crudelíssimos suplícios!
Às vezes as freiras se queixavam dos sacerdotes que cediam aos interrogatórios. Assim Soror Vera Gorodec, do Mosteiro dominicano de São Pedro, comenta um desses tristes episódios com o Bispo Mons. Neveu, Administrador apostólico para os católicos russos: "Como era terrível pensar que sacerdotes, que nós chamávamos pais, haviam nos traído e ao seu Bispo" (p. 77). Esse eclesiástico, pároco da igreja de São Luís dos Franceses recebeu na Igreja Católica numerosos cismáticos convertidos, sacerdotes e leigos, que haviam pertencido à chamada Igreja Ortodoxa (I.O.). Eles não quiseram seguir seus hierarcas, oficialmente comprometidos com o regime comunista após a desconcertante "Carta Pastoral" do Metropolita Sérgio, de 16 de julho de 1927. Foi sobretudo esse fato que atiçou as iras dos soviéticos contra os sacerdotes e a comunidade daquela igreja católica de Moscou.
Também nos campos de concentração as religiosas praticavam de forma indômita, a virtude da fortaleza. Algumas escreveram a um grupo de apoio na Alemanha uma carta interceptada pela NKVD: "Sejamos fortes no espírito, não existe nem campo de concentração nem NKVD que possam afastar do reto caminho os filhos e as filhas da única Igreja católica. Nós procuramos também aqui reunir devotos fervorosos da Igreja católica" (p. 78).
Mons. Neveu, referindo-se às numerosas religiosas vítimas da repressão, escreveu: "Estou orgulhoso de prestar homenagem à virtude dessas santas.... Nas prisões, nos campos de concentração, nos trabalhos forçados, nos lugares de deportação: por todas as partes onde as religiosas permaneceram fiéis à própria vocação e aos próprios santos votos, difundiram a fragrância de Cristo e a luz da nossa santa fé!" (p. 83).
Entre 1928 e 1930, o Papa Pio XI, que até então esperara pacientemente sinais de boa vontade da parte dos soviéticos, denunciou repetidamente diante do mundo as perseguições religiosas em curso na Rússia. A única resposta soviética foi um tratamento ainda mais cruel em relação aos católicos nos campos de concentração.
Se já em 1938 não se achava em liberdade um só sacerdote ou fiel da única igreja católica de Moscou (São Luís dos Franceses), durante a II Guerra Mundial piorou ainda muito mais a situação dos católicos na União Soviética. "A Igreja católica assumiu ainda mais o papel de inimigo interno. Os órgãos da NKVD prendiam todos os católicos que despertavam alguma dúvida; e a mínima suspeita de 'espionagem` terminava com o fuzilamento".(p. 81)
E assim continuaram as coisas, ao menos até 1948. Em 1956 "não restava vivo qualquer sacerdote de rito oriental, que pudesse animar ao menos uma comunidade católica russa" (p. 83).
A rivalidade que às vezes opusera católicos de rito latino aos de rito bizantino-eslavo se desfez completamente quando padres poloneses da Ucrânia foram presos, e encontraram o exarca Fëdorov e os seus irmãos greco-romanos no primeiro campo de concentração da história, o das Ilhas Solovki.
As páginas que se descrevem a vida e a espiritualidade dos deportados em Solovki são comovedoras. No diário deixado por Mons. Boleslas Sloskans, Bispo latino de Minsk-Mohilev, lemos:
"No início de junho de 1929 foram deportados para Solovki 22 representantes do clero católico. Amontoaram-nos todos juntos numa só cabana e nos isolaram completamente dos outros detidos. A vantagem era que, sendo todos sacerdotes, desde o início havíamos pensado sobretudo como e onde celebrar a Missa. Com duas malas improvisamos um altar no sótão e, naturalmente, às escondidas, celebrávamos todos os dias" (p. 102).
Um outro grupo que padeceu nos campos de concentração das Ilhas Solovki foi o das figuras de destaque entre os católicos da República Alemã Autônoma do Volga. Seus sacerdotes foram acusados pelas autoridades comunistas de haverem incitado os camponeses alemães à rebelião contra a coletivização das terras e de fazer espionagem para o Vaticano e a Alemanha. Por seu lado, os poloneses foram acusados de trabalhar pela Polônia e pela Santa Sé.
Ao concluir o capítulo referente ao calvário de católicos russos, ucranianos, poloneses e alemães na extinta União Soviética, escreve a autora:
"Todos os processos coletivos contra sacerdotes católicos nos anos 1937-38 foram concluídos com o fuzilamento. O mesmo ocorreu nos campos de concentração. Nas ilhas Solovki, por exemplo, apenas em outubro e novembro de 1937 foram fuzilados 32 sacerdotes católicos" (p. 116).
A autora narra ainda, com base em farta documentação, o heroísmo dos sacerdotes do Seminário Russicum, que penetravam clandestinamente na União Soviética entre os anos 1939-1955.
Com efeito, a Santa Sé havia organizado em Roma, junto à Congregação para as Igrejas Orientais, o Russicum, ou seja, um seminário internacional onde os estudantes aprendiam "a língua, a literatura e a história russa, bem como a liturgia adotada pela igreja ortodoxa, e também eram explicados os fundamentos da ideologia soviética" (p. 168).
Não se sabe exatamente quantos desses clérigos conseguiram entrar na Rússia após seus estudos na Cidade Eterna, mas a autora afirma que ao menos 15 se registraram oficialmente para celebrar a missa nas igrejas católicas russas. Muitos desapareceram "sem deixar vestígio", pelo menos dois foram fuzilados, outros ainda retornaram à pátria após um longo período nos campos de concentração.
Entre os ex-alunos do Russicum, o padre italiano Pietro Leoni merece particular menção. Muito querido por seus fiéis, grande orador em língua russa e homem de grande espiritualidade, foi internado em campo de concentração devido à sua total franqueza e destemor nas críticas que fazia dos soviéticos. Após anos de trabalho forçado nas condições mais inumanas, continuava com espírito indômito: interrompia as conferências de doutrinamento organizadas pela polícia para os detidos, produzindo verdadeiras balbúrdias, dizia a verdade sem rebuços nos interrogatórios da polícia, resistia a todas as punições sem nunca se dobrar. Por fim, sua tenacidade fez com que o regime, por motivos diplomáticos, julgasse mais prudente deixá-lo voltar ao Ocidente, o que se deu em 1955.
Irina Isopova conclui seu comovente livro com um utilíssimo elenco alfabético dos confessores da fé na URSS: exilados, fuzilados, desaparecidos ou que suportaram durante anos a terrível vida do Arquipélago Gulag.
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- Brutal perseguição religiosa na ex-URSS
Recente obra, baseada em documentos dos próprios arquivos da KGB, desvenda o requinte de perversidade de que foram vítimas numerosos católicos –– sacerdotes, religiosas e leigos –– muitos dos quais receberam destemidamente a gloriosa coroa do martírio
Juan Miguel Montes
Correspondente
Roma – "Reafirmo que sou hostil ao poder soviético. Reafirmo que o comunismo é incompatível com o cristianismo, que estão em luta, e nessa luta estou inteiramente do lado do cristianismo contra o comunismo", proclamou destemidamente Nora Rubasëva, uma das numerosas freiras católicas submetida a interrogatórios e maus tratos pelos comunistas.
Esse admirável testemunho de fé é registrado numa obra ainda inédita e desconhecida no Brasil a respeito da perseguição anti-religiosa efetuada pelos soviéticos.
Tal obra chegou a nossas mãos mediante tradução italiana, sendo seu conteúdo particularmente significativo para aqueles que guardam no coração as auspiciosas palavras de Nossa Senhora em Fátima sobre a conversão da Rússia.
Se il mondo vi odia...(Se o mundo vos odeia...), de Irina Isopova (Ed. Casa di Matriona, Milão, 1977, 315 pp.), talvez seja o relato mais completo que se tenha publicado sobre a história da perseguição movida contra os católicos no antigo império soviético. Certamente é o mais documentado, tendo a autora realizado pesquisas durante cinco anos nos arquivos da famosa KGB.
Nele é traçado um panorama histórico de singular clareza, desde a situação do catolicismo no tempo dos czares, e que percorre sucessivamente as diversas etapas do calvário sofrido pelos católicos durante o comunismo, até 1955.
É interessante ressaltar que, nos últimos anos do czarismo, apesar das dificuldades institucionais contra a Igreja Católica, o catolicismo era uma realidade florescente na Rússia, "não tanto quantitativamente quanto qualitativamente". Isto se devia às conversões bastante freqüentes de conhecidas personalidades da elite cultural e social do país. Um fenômeno análogo ao Movimento de Oxford, observado na Inglaterra vitoriana, quando representativas personalidades daquela nação converteram-se ao catolicismo.
Entretanto, nos anos subseqüentes à deflagração da revolução russa, as principais figuras dessa primavera católica acabaram no exílio, nos campos de concentração ou diante dos pelotões de fuzilamento. Mesmo assim, alguns dentre eles nutriram a ilusão de que, com os novos homens do poder, as coisas tornar-se-iam mais fáceis do que antes.
Não faltaram, como na época dos lapsi romanos, as tristes defecções. Pessoas de grande prestígio que sucumbiram psíquica e fisicamente aos interrogatórios e torturas dos carcereiros. A legalidade não mais existia, os processos podiam ser judiciais ou extra-judiciais, estes conduzidos pela polícia política e inapeláveis...
- Repete-se o heroísmo dos primeiros mártires cristãos
Entretanto, as páginas mais belas foram escritas por aqueles e aquelas que permaneceram fiéis até o fim. Muitas eram freiras, como as do Mosteiro fundado pela convertida Anna Abrikosova. Esta senhora, prestigiosa figura da alta sociedade e da cultura, havia se separado do marido, de comum acordo com ele, para seguir a vida religiosa. O marido, também convertido, foi ordenado sacerdote e morreu no exílio.
Uma das religiosas desse convento, Nora Rubasëva, submetida a interrogatórios, declarou: "Reafirmo que sou hostil ao poder soviético. Reafirmo que o comunismo é incompatível com o cristianismo, que estão em luta, e nessa luta estou inteiramente do lado do cristianismo contra o comunismo" (p. 60).
A freira Kamilla Krusel'nickaja, fuzilada em 1937, proclamou: "Tendo fé, estou em oposição ao poder soviético. E reafirmo que na Rússia não se pode professar abertamente a própria fé. A Igreja é perseguida em vários sentidos, os seus melhores filhos estão oprimidos" (p. 65).
É impossível não estabelecer um paralelo entre a altaneria com que essa mártir contemporânea arrostou seus iníquos juízes marxistas -- depois, o pelotão de fuzilamento -- e o espírito destemido mediante o qual Santa Cecília e tantas outras mártires da Antiguidade pagã enfrentaram pretores romanos e crudelíssimos suplícios!
Às vezes as freiras se queixavam dos sacerdotes que cediam aos interrogatórios. Assim Soror Vera Gorodec, do Mosteiro dominicano de São Pedro, comenta um desses tristes episódios com o Bispo Mons. Neveu, Administrador apostólico para os católicos russos: "Como era terrível pensar que sacerdotes, que nós chamávamos pais, haviam nos traído e ao seu Bispo" (p. 77). Esse eclesiástico, pároco da igreja de São Luís dos Franceses recebeu na Igreja Católica numerosos cismáticos convertidos, sacerdotes e leigos, que haviam pertencido à chamada Igreja Ortodoxa (I.O.). Eles não quiseram seguir seus hierarcas, oficialmente comprometidos com o regime comunista após a desconcertante "Carta Pastoral" do Metropolita Sérgio, de 16 de julho de 1927. Foi sobretudo esse fato que atiçou as iras dos soviéticos contra os sacerdotes e a comunidade daquela igreja católica de Moscou.
Também nos campos de concentração as religiosas praticavam de forma indômita, a virtude da fortaleza. Algumas escreveram a um grupo de apoio na Alemanha uma carta interceptada pela NKVD: "Sejamos fortes no espírito, não existe nem campo de concentração nem NKVD que possam afastar do reto caminho os filhos e as filhas da única Igreja católica. Nós procuramos também aqui reunir devotos fervorosos da Igreja católica" (p. 78).
Mons. Neveu, referindo-se às numerosas religiosas vítimas da repressão, escreveu: "Estou orgulhoso de prestar homenagem à virtude dessas santas.... Nas prisões, nos campos de concentração, nos trabalhos forçados, nos lugares de deportação: por todas as partes onde as religiosas permaneceram fiéis à própria vocação e aos próprios santos votos, difundiram a fragrância de Cristo e a luz da nossa santa fé!" (p. 83).
- 32 Sacerdotes fuzilados no espaço de dois meses!
Entre 1928 e 1930, o Papa Pio XI, que até então esperara pacientemente sinais de boa vontade da parte dos soviéticos, denunciou repetidamente diante do mundo as perseguições religiosas em curso na Rússia. A única resposta soviética foi um tratamento ainda mais cruel em relação aos católicos nos campos de concentração.
Se já em 1938 não se achava em liberdade um só sacerdote ou fiel da única igreja católica de Moscou (São Luís dos Franceses), durante a II Guerra Mundial piorou ainda muito mais a situação dos católicos na União Soviética. "A Igreja católica assumiu ainda mais o papel de inimigo interno. Os órgãos da NKVD prendiam todos os católicos que despertavam alguma dúvida; e a mínima suspeita de 'espionagem` terminava com o fuzilamento".(p. 81)
E assim continuaram as coisas, ao menos até 1948. Em 1956 "não restava vivo qualquer sacerdote de rito oriental, que pudesse animar ao menos uma comunidade católica russa" (p. 83).
A rivalidade que às vezes opusera católicos de rito latino aos de rito bizantino-eslavo se desfez completamente quando padres poloneses da Ucrânia foram presos, e encontraram o exarca Fëdorov e os seus irmãos greco-romanos no primeiro campo de concentração da história, o das Ilhas Solovki.
As páginas que se descrevem a vida e a espiritualidade dos deportados em Solovki são comovedoras. No diário deixado por Mons. Boleslas Sloskans, Bispo latino de Minsk-Mohilev, lemos:
"No início de junho de 1929 foram deportados para Solovki 22 representantes do clero católico. Amontoaram-nos todos juntos numa só cabana e nos isolaram completamente dos outros detidos. A vantagem era que, sendo todos sacerdotes, desde o início havíamos pensado sobretudo como e onde celebrar a Missa. Com duas malas improvisamos um altar no sótão e, naturalmente, às escondidas, celebrávamos todos os dias" (p. 102).
Um outro grupo que padeceu nos campos de concentração das Ilhas Solovki foi o das figuras de destaque entre os católicos da República Alemã Autônoma do Volga. Seus sacerdotes foram acusados pelas autoridades comunistas de haverem incitado os camponeses alemães à rebelião contra a coletivização das terras e de fazer espionagem para o Vaticano e a Alemanha. Por seu lado, os poloneses foram acusados de trabalhar pela Polônia e pela Santa Sé.
Ao concluir o capítulo referente ao calvário de católicos russos, ucranianos, poloneses e alemães na extinta União Soviética, escreve a autora:
"Todos os processos coletivos contra sacerdotes católicos nos anos 1937-38 foram concluídos com o fuzilamento. O mesmo ocorreu nos campos de concentração. Nas ilhas Solovki, por exemplo, apenas em outubro e novembro de 1937 foram fuzilados 32 sacerdotes católicos" (p. 116).
- Sacerdotes oferecem a própria vida por zelo apostólico
A autora narra ainda, com base em farta documentação, o heroísmo dos sacerdotes do Seminário Russicum, que penetravam clandestinamente na União Soviética entre os anos 1939-1955.
Com efeito, a Santa Sé havia organizado em Roma, junto à Congregação para as Igrejas Orientais, o Russicum, ou seja, um seminário internacional onde os estudantes aprendiam "a língua, a literatura e a história russa, bem como a liturgia adotada pela igreja ortodoxa, e também eram explicados os fundamentos da ideologia soviética" (p. 168).
Não se sabe exatamente quantos desses clérigos conseguiram entrar na Rússia após seus estudos na Cidade Eterna, mas a autora afirma que ao menos 15 se registraram oficialmente para celebrar a missa nas igrejas católicas russas. Muitos desapareceram "sem deixar vestígio", pelo menos dois foram fuzilados, outros ainda retornaram à pátria após um longo período nos campos de concentração.
Entre os ex-alunos do Russicum, o padre italiano Pietro Leoni merece particular menção. Muito querido por seus fiéis, grande orador em língua russa e homem de grande espiritualidade, foi internado em campo de concentração devido à sua total franqueza e destemor nas críticas que fazia dos soviéticos. Após anos de trabalho forçado nas condições mais inumanas, continuava com espírito indômito: interrompia as conferências de doutrinamento organizadas pela polícia para os detidos, produzindo verdadeiras balbúrdias, dizia a verdade sem rebuços nos interrogatórios da polícia, resistia a todas as punições sem nunca se dobrar. Por fim, sua tenacidade fez com que o regime, por motivos diplomáticos, julgasse mais prudente deixá-lo voltar ao Ocidente, o que se deu em 1955.
Irina Isopova conclui seu comovente livro com um utilíssimo elenco alfabético dos confessores da fé na URSS: exilados, fuzilados, desaparecidos ou que suportaram durante anos a terrível vida do Arquipélago Gulag.
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- Comunistas e cismáticos:
- nova aliança contra a Igreja Catolica
- Recentemente uma aliança estabelecida entre a hierarquia cismática da chamada Igreja Ortodoxa (I.O) e deputados nacionais-comunistas possibilitou a aprovação na Duma (Parlamento russo) de uma lei fortemente discriminatória contra a Igreja Católica, a qual, segundo eles, não teria um verdadeiro passado histórico na Rússia. O livro de Irina Isopova desmente com fatos documentados essa falácia, demonstrando que há muito tempo a árvore sagrada da Igreja Católica está presente na Rússia e suas raízes se nutriram do sangue e dos sofrimentos de numerosos mártires.
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- Inexplicável atitude dos chefes dos PCs ocidentais
- Por que continuaram comunistas os chefes dos PCs, em todo o Ocidente, apesar de conhecerem a miséria provocada pelo comunismo nas nações juguladas por Moscou? Por que, conhecendo a situação miserável da Rússia e das nações cativas, consentiram em chefiar um partido político que não tinha outro objetivo senão arrastar para essa situação de escravidão e vergonha os próprios países do Mundo Livre, em que haviam nascido? Por que, enfim, desejavam, essa tenebrosa situação? Por que ocultavam a verdade a seus próprios asseclas, alguns dos quais-- pelo menos -- se a conhecessem, teriam desertado das fileiras vermelhas?
- Por que os historiadores ocidentais, durante o longo período de dominação soviética, narraram de modo otimista o que se passou no mundo comunista? Por que tais historiadores se contentaram em dizer tão pouca coisa sobre desgraças tão imensas?
- Estas e muitas outras penetrantes indagações formulou-as em alto e bom som o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira no Manifesto Comunismo e anticomunismo na orla da última década deste milênio, publicado na "Folha de S. Paulo" de 14-2-1990 e transcrito em numerosos órgãos de imprensa tanto do Brasil quanto do exterior.
- Em tal manifesto o insigne pensador católico ainda lança a seguinte apóstrofe: "Esta atitude dos líderes comunistas das várias nações livres, conjurados com Moscou para desgraçarem cada qual a respectiva pátria, há de ser considerada, pela posteridade, um dos grandes enigmas da História".
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]