Milagres proibidos e milagres reconhecidos

Fonte: L'OSSERVATORE ROMANO
Cultura
Cidade do Vaticano, 1 de Abril de 2012.
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Milagres proibidos
e milagres reconhecidos

A advertência a não abusar da credulidade popular não foi enviada – para conhecimento, enquanto Pessoa informada dos factos – também ao Criador, só porque não é fácil encontrar o seu endereço; mas quando este pequeno inconveniente burocrático for resolvido também Deus poderá encontrar-se no banco dos réus (por abuso de poder, crime de lesa-majestade laica ou outra acusação qualquer extraída do fértil género literário da ficção jurídica).

Não é a primeira vez que acontece, como a história da salvação nos recorda, mas desta vez a vicissitude apresenta traços tragicômicos: a intervenção imprevisível da Graça foi julgada incompatível com as leis do código publicitário inglês: «Na Grã-Bretanha – explica Gianfranco Amato, assinalando na Rede um dos êxitos mais surreais da censura pós-moderna – a Advertising Standards Authority (Asa) vigia sobre a tutela dos consumidores: e recentemente proibiu que a associação cristã Healing On The Streets (Hots) dissesse publicamente que através da oração é possível obter a cura».

Em Bath, a associação Hots é composta por voluntários que rezam pelos doentes, tornando pública a própria actividade num site web; segundo a Autority trata-se de publicidade enganadora, «ilegítima e irresponsável», culpada por «induzir falsas esperanças». Não obstante as intimidações sofridas, Paul Skelton, fundador da Hots, decidiu recorrer contra a decisão da Asa: de outra forma, se assim continuar «no futuro continuará a ser ilícito afirmar que os milagres existem?».

Até agora, não houve comentário algum por parte da Catholic Association, que há mais de cem anos organiza peregrinações a Lourdes, mas é evidente que a própria existência da pequena cidade dos Pireneus, levando às extremas consequências a lógica da Asa, poderia representar um vulnus incurável na tutela dos direitos do consumidor e, como tal, depressa ser declarada ilegal; é um lugar no qual factores inexplicáveis continuam persistentemente a acontecer, não obstante todas as normativas vigentes.

Um lugar subversivo, este santuário mariano do século XIX, que não dá sinais de passar de moda, e no qual tudo ou quase tudo, das realidades visíveis às invisíveis, se pode inverter de um momento para outro no seu oposto.
Silvia Guidi
31 de Março de 2012
[palavras-chave: Teologia]
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