Monsenhor JOSÉ LUIZ VILLAC | Pergunta — Sou católico apostólico romano. Nas escolas há cartazes incentivando o uso do preservativo, mas na Missa os padres não manifestam a indignação de nós cristãos quanto a isso. Vou acrescentar um fato que aconteceu aqui em casa, agora no Ano Novo. Informaram-me que minha sobrinha e seu namorado viriam pousar aqui em casa naquela noite, e eu disse: "Será um imenso prazer recebê-los, mas é claro que eles vão dormir em camas separadas, não é?" Responderam: Não, eles vão dormir juntos, o que é que tem? Eu expliquei: "Eles ainda não são casados, e sob o meu teto não permitirei isso. Avise-os para que não venham". Minha mulher ficou furiosa comigo, e disse: "Você está querendo dar uma de santo agora!... Isso é coisa de antigamente, hoje em dia não tem nada a ver". Respondi: "Não sou santo, mas que é pecado é, e devemos evitar cometê-los. Principalmente temos obrigação de deixar isso bem claro aos mais jovens!" Resultado: Eles não vieram, e tive que aguardar uns dias para minha mulher deixar de ficar zangada comigo... (mas que não dormiram juntos em minha casa, não dormiram!). Os padres é que teriam que falar, falar e falar isso nas Missas. Eu sei que não falam, porque vou à Missa todos os domingos, raramente falto, e sei que nada dizem. Então é preciso gritar. Por que a Igreja se cala? De que tem medo? Tem medo de perder fiéis? Resposta — "Isso é coisa de antigamente...". Eis aí uma censura que induz ao pânico grande número de nossos contemporâneos. Com base nesse slogan, que abala as resistências amolecidas, os costumes de "antigamente" vão sendo combatidos, abandonados e substituídos por outros, mais "modernos". O slogan é expresso de maneira curiosamente incompleta: "Isso é coisa de antigamente, hoje em dia não tem nada a ver". Falta dizer: Não tem nada a ver com quê? Com os costumes e a moral de "hoje em dia", certamente! Portanto, "nada a ver" com o ordenamento social vigente em nossos dias. Bem entendido, esse novo "ordenamento" não constitui uma verdadeira ordem, e sim uma desordem total. Muitos de nossos contemporâneos recebem a graça de perceber que o desconcerto do mundo moderno é de tal monta, que não se resolverá sem uma intervenção extraordinária da Providência. Felizmente Nossa Senhora veio anunciar em Fátima, em 1917, que essa intervenção da Providência se dará em nossa época: será o triunfo do seu Imaculado Coração. E a verdadeira ordem, baseada na Lei natural, na Lei divina e nas leis da Igreja, será restabelecida em todo o mundo. Na lógica da Mensagem de Fátima, essa intervenção extraordinária da Providência comporta não só castigos nunca vistos – quiçá de ordem cósmica, como fogo caindo do céu – mas também um entrechoque dos homens entre si: uns maus lançando-se contra outros, mas unindo-se na perseguição aos bons. E o sangue dos mártires será mais uma vez semente de novos cristãos, de acordo com a frase de Tertuliano. Com isto a civilização cristã será restaurada em toda a Terra, segundo o lema que São Pio X tomou como diretriz para o seu pontificado: Omnia instaurare in Christo. Viveremos o bastante para assistir o triunfo da Santa Igreja anunciado por Nossa Senhora em Fátima, nós que estamos avançados em idade? Pergunta análoga foi formulada a Santa Catarina Labouré, vidente da Medalha Milagrosa. Seu confessor demonstrava-se preocupado com seu destino pessoal, e ela esclareceu: "Outros lá estarão, se nós não estivermos!". O dia e a hora, só Deus conhece. Cumpramos cada um o próprio dever — como fez o autor da pergunta que estamos respondendo — e abandonemo-nos confiadamente à misericórdia de Deus. Família tradicional X amor livre O abandono das sábias normas e costumes que regulavam a constituição de uma família tradicional leva à infelicidade, ao tormento e ao desespero. | O fato pessoal relatado pelo consulente é, portanto, mais amplo e profundo do que parece. Configura uma mudança total da instituição da família tradicional rumo ao amor livre, preconizado há séculos pelos revolucionários de diversas escolas. Marx e Freud, dois proeminentes "profetas" do mundo moderno, defenderam o amor livre em suas doutrinas apresentadas autonomamente, mas que desfecharam amalgamadas na revolução da Sorbonne de 1968. Aparentemente derrotada, na verdade essa revolução contaminou todo o mundo, da mesma forma que a fumaça dos cigarros impregna o salão onde houve uma festa, permanecendo mesmo depois que os convidados saíram. Isto explica que uma mãe de família, que provavelmente não abandonou de todo a prática de seus deveres religiosos, considere natural em sua própria casa — como relatou o missivista — um comportamento que constitui manifestação inequívoca do amor livre. O que é o amor livre senão uma vida conjugal sem compromissos, que se inicia já no período do namoro e evolui para um convívio permanente na casa dos pais ou em imóvel separado? Às vezes é formalizado por um casamento civil, ou até religioso, mas destinado a durar poucos anos ou até poucos meses. Onde foi parar o "até que a morte nos separe"? A maior ilusão é acreditar que o amor livre gera a felicidade dos pseudo-cônjuges. A infelicidade desponta em qualquer perspectiva que se vislumbre a partir do amor livre. O abandono das sábias normas e costumes que regulavam a constituição de uma família tradicional leva à infelicidade, ao tormento e ao desespero. Os maiores prejudicados são os filhos que nasçam nessas circunstâncias. Quem se regozija com isso é o demônio, que deseja a perdição das almas, e sobretudo injuriar a Deus que o expulsou do Céu em castigo de seu non serviam (não servirei), brado sacrílego com que se levantou contra Deus. Portanto os que se dedicam à pregação ou prática do amor livre estão, consciente ou inconscientemente, fazendo o jogo do demônio e participando de sua rebelião contra Deus. Como seria bom que os sacerdotes lembrassem estas verdades nos sermões dominicais! O que a Igreja perde com isso? O rebanho esperava que seus bispos e sacerdotes pregassem as verdades transcendentais da Fé, ensinassem a moral tradicional, mas eles estavam empenhados no engajamento político e social dos fiéis. Em pé, na foto, o bispo francês Jacques Gaillot. | Omitindo pontos fundamentais da doutrina e moral católicas, os pregadores perdem as almas. No Brasil, quem o reconheceu foi o bispo D. Pedro Luiz Stringhini, então auxiliar de São Paulo: "Fizemos a opção pelos pobres, e eles fizeram a opção pelos pentecostais". O bispo pondera que a Igreja talvez tenha sido muito politizada e sofisticada: "O povo não entendia expressões como 'compromisso social da fé', 'engajamento pastoral'. As pessoas não gostaram de nosso jeito". Reconhece que a Igreja Católica deixou, dessa maneira, de atender as aspirações transcendentais do rebanho (cfr. "Folha de S. Paulo", 13-12-03). O rebanho esperava que seus bispos e sacerdotes pregassem as verdades transcendentais da Fé, ensinassem a moral tradicional, mas eles estavam empenhados no engajamento político e social dos fiéis. O resultado é que muitos católicos pouco esclarecidos fizeram a "opção preferencial pelos protestantes"... Assim, a Igreja perdeu os que tinha e não atraiu aqueles para os quais fora feita a "abertura para o mundo", preconizada — segundo a voz corrente — pela Constituição Pastoral Gaudium et Spes, do Concílio Vaticano II. O próprio Pontífice reinante, S.S. Bento XVI, afirma: "Nos decênios sucessivos ao Concílio Vaticano II, alguns interpretaram a abertura ao mundo, não como uma exigência do ardor missionário do Coração de Cristo, mas como uma passagem à secularização, vislumbrando nesta alguns valores de grande densidade cristã como igualdade, liberdade, solidariedade, mostrando-se disponíveis a fazer concessões e descobrir campos de cooperação. Assistiu-se assim a intervenções de alguns responsáveis eclesiais em debates éticos, correspondendo às expectativas da opinião pública, mas deixou-se de falar de certas verdades fundamentais da fé, como do pecado, da graça, da vida teologal e dos novíssimos. Insensivelmente caiu-se na auto-secularização de muitas comunidades eclesiais; estas, esperando agradar aos que não vinham, viram partir, defraudados e desiludidos, muitos daqueles que tinham: os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver aquilo que não vêem em parte alguma, ou seja, a alegria e a esperança que brotam do fato de estarmos com o Senhor ressuscitado" (Discurso aos Bispos da Conferência Episcopal do Brasil dos Regionais Oeste 1 e 2 em visita Ad Limina Apostolorum, 7-9-2009). Nosso missivista está certo, portanto, ao pleitear que os sacerdotes preguem nas Missas dominicais a Moral tradicional. Pois, como diz Bento XVI, "os nossos contemporâneos, quando vêm ter conosco, querem ver [e ouvir] aquilo que não vêem [nem ouvem] em parte alguma". Assim fazendo, a Igreja nada tem a perder. Pelo contrário, ganha aquilo que deve ganhar, isto é, as almas. E-mail para o autor: catolicismo@terra.com.br |
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]