terça-feira, 22 de maio de 2012

Catolicismo, a Religião da Verdade


"Como é agradável e doce ver irmãos fervorosos e devotos, com santos costumes e bem disciplinados" (Imitação de Cristo)

Uma Luz na noite...

Catolicismo, a Religião da Verdade



"De modo nenhum, considero a minha vida preciosa para mim mesmo, contanto que eu leve a bom termo a minha carreira e realize o serviço que recebi do Senhor, ou seja, testemunhar o Evangelho da graça de Deus. Hoje dou testemunho diante de todos vós: eu não sou responsável se algum de vós se perder, pois não deixei de vos anunciar todo o projeto de Deus a vosso respeito”. 
(At 20, 24;26, 1ª Leitura de Hoje)
***

"Aquele que não progride, regride", é o que aprendemos na mais básica aula de catecismo. Na verdade, não seria preciso passar por uma aula para percebê-lo. Cada um, observando a si mesmo, notará que é muito mais fácil aderir a um vício ou permanecer num ócio covarde do que comprometer-se. Mesmo que pretendamos nos abster, permanecendo numa utópica neutralidade, a nossa inclinação natural nos faz trair o bem, de modo que, para sermos fiéis a Deus ou aos nossos próprios ideais, é preciso um esforço ativo. A virtude exige trabalho.
Como se vê, a máxima com que iniciei este post não é uma afirmação apriorística; muito pelo contrário, ela se fundamenta na realidade. E assim é com tudo o que a Igreja diz, ainda que certos âmbitos da realidade estejam além do que podemos imediatamente constatar.
No entanto, hoje nós vivemos a situação curiosa de "católicos" que relativizam o ensino da Igreja, e, sob um manto de "tolerância" ou de "fraternidade", passam a abrir mão de qualquer coisa de definitivo, como se fosse mais virtuoso ter esse caráter fluido que aceita tudo e que não condena nada. Mas a verdadeira tolerância não é isso; a verdadeira caridade não é isso; a verdadeira misericórdia não é isso.
Sua Santidade Bento XVI já escrevia com profunda clareza:
"Sem verdade, a caridade cai no sentimentalismo. O amor torna-se um invólucro vazio, que se pode encher arbitrariamente. É o risco fatal do amor, numa cultura sem verdade; acaba prisioneiro das emoções e opiniões contingentes dos indivíduos, uma palavra abusada e adulterada chegando a significar o oposto do que é realmente". (Caritas in Veritate, n.3)
O cristianismo naturalmente é a religião da Verdade, pois o Cristo disse de Si mesmo: "Eu sou a Verdade". Para um cristão, algo que cause bem estar mas que seja falso, não tem valor nenhum. Seria uma espécie de droga que tira o senso da realidade para produzir uma "felicidade" falsa. Tal espécie de sedativo impede que o cristão, tendo contato com o que seja real, venha a experimentar aquela alegria que, fundada na verdade, superabunda tudo. "Que minha alegria esteja em vós e que vossa alegria seja plena", dizia Jesus. S. João da Cruz, falando dessa alegria fundada na verdade, e não na imaginação humana, dizia que um só toque dela já paga todo o sofrimento da vida.
O grande ponto, então, é saber qual seja a verdade.
Estes últimos dias eu tenho tratado bastante do protestantismo, que é, obviamente, falso. Algumas pessoas inclusive se indispõem comigo. Outras não se incomodam. Algumas pensam que eu sou intolerante, embora minha intolerância se restrinja às idéias equivocadas do protestantismo. Essas mesmas pessoas, porém, acreditando-se tolerantes, deixam de me tolerar enquanto pessoa e abrem mão da minha amizade, como se fosse a coisa mais sem valor do mundo. 
Se para ser amigo de alguém, for preciso ser falso, tal amizade pode ser dispensada. Certa vez, criticaram a Aristóteles pelo fato de se opor a seu professor e amigo, Platão, ao que ele respondeu: "sou mais amigo da Verdade". E considerando que, para o cristão, a verdade é uma Pessoa, com muito mais razão eu posso e devo dizer a mesma coisa. Uma amizade sincera não se fundamenta no erro nem na mentira. Pois bem! Uma amizade que não suporte a verdade não é digna desse nome. Nunca exigi que alguém fosse católico para ser meu amigo; o que espero é que esse alguém aceite o fato de eu sê-lo com tudo o que isso implica. Esse negócio de fingir para manter o conforto é um modo de prostituição da própria alma. Não quero isso. A amizade que é reduzida a mera formalidade e que tem como valor único e último o de "ser absolutamente agradável" sem apreço pela verdade torna-se antes um caricato ofensivo e ridículo.
Mas, continuemos.
Eu penso que todos os cristãos deveríamos nos interessar profundamente por este assunto. Aliás, qualquer pessoa sincera deveria fazê-lo, pois é de crucial importância saber se há, de fato, uma verdade e, havendo, qual seja ela. 
Nós vivemos num tempo subjetivista em que vale mais sentir ou achar alguma coisa do que aprender, de fato. As pessoas preferem construir a própria verdade; uma religião que lhes agrade a sensibilidade, um Deus que se assemelhe às próprias suposições. Bêbadas de tal soberba e pretensão - ao mesmo tempo em que se acham humildes -, terminam acreditando que as religiões nada mais do que esse mesmo fenômeno de construção subjetiva, só que feito por um coletividade. As religiões seriam somente organizações mais ou menos sistemáticas e meramente culturais. Isto explicaria, talvez, as tensões entre costumes conservadores e o mundo moderno, que os considera totalmente anacrônicos. É com base nisso ainda que a gente tem de assistir a certas manifestações enérgicas contra a inaceitável pretensão do catolicismo de se dizer a verdade absoluta sobre a realidade.
Muita gente começa a pensar a respeito das religiões tendo esse pressuposto: elas são apenas uma tentativa humana de dar conta da dimensão do sagrado. Com tal simplismo, não espanta realmente que cheguem a conclusões relativistas. Porém, como o ser humano tem fome de absoluto, então o relativismo tornar-se-á a nova verdade absoluta: "não há verdades absoluta. Eis a única verdade absoluta". Quando chega a esta afirmação - o esvaziamento da verdade -, o sujeito só poderá estabelecer como critério válido de uma religião o fato de ela confortar, ou de ser poética, ou bonita, ou estimular o comportamento ético, etc. Mas tudo isso é muitíssimo (e bota "íssimo" nisso) secundário. Quem reduz a religião a essas questões está vendo somente uma sombra muito fraca do que ela é, de fato!
Como eu falava no início, as afirmações do catolicismo se baseiam na realidade. Se o catolicismo faz feliz, é porque esta é uma propriedade inerente à Verdade. E se ele pretende dizer a Verdade, isto implica na renúncia em inventar ou criar alguma verdade própria. Uma pessoa que faça da religião um manual de auto-ajuda e que para isto romanceie tudo sem se importar se o objeto de sua crença, de fato, corresponde à verdade,  não está a viver nenhuma religião, a não ser a da auto-ludibriação e adoração de si mesma.
Para conhecer, de fato, alguma coisa, a primeira atitude a se tomar é a de aceitar que a coisa seja tal qual é, isto é: eu não vou projetar o que eu quero que ela seja. Primeiro, eu tenho de respeitá-la e submeter-se à sua realidade. A grande força da inteligência está em submeter-se ao que é real. Se ela, ao contrário, cria uma verdade própria, não chegará a conhecer a coisa tal qual é. Daí que a humildade deve ser o grande pressuposto da inteligência. Sta Teresa D'Avila diz que a humildade é a verdade; poderíamos dizer também que a humildade vê a verdade. Porém, para conseguir isto, o nosso conceito de humildade também deve ser verdadeiro. De nada adianta eu pensar que ser humilde é ser um mole, que aceita tudo e não afirma nada. Isso não é humildade; é bobice e romantismo.
"Essa falsa humildade é comodismo; assim, tão "humildezinho", vais abrindo mão de direitos... que são deveres" S. Josemaria Escrivá, Caminho, 603.
Como que a Igreja pode se dizer a detentora da Verdade? Primeira coisa: não raciocinemos partindo da quarta ou da quinta parte. Vejamos os pressupostos. O que é uma religião? É uma tentativa de se religar com Deus. Por que se religar? Porque nós perdemos, há muito tempo, a ligação que tínhamos. Pronto: estamos a falar do Pecado Original. Todas as antigas grandes religiões partilham da mesma intuição: fizemos alguma besteira monumental no início que nos colocou em maus lençóis com Deus. Desde então, os homens tentaram remediar isto. Porém, a solução estava muito acima da mera capacidade humana. É por isso que Deus prometeu, desde o Gênesis, que iria enviar alguém capaz de fazer isso. E, de fato, enviou. Quem foi? Jesus.
Pois bem. Jesus vem ao mundo, não para que os homens aprendam a ser educadinhos e respeitem toda teoria, discurso e movimento religioso. Não. Jesus mesmo responde para que veio: "Eu vim para dar testemunho da Verdade. Para isso nasci e vim ao mundo". Logo, um Jesus que não se importe com a verdade, mas que queira somente o conforto e o bem estar dos homens é um Jesus inexistente, uma invenção romântica da modernidade. Seguir uma figura assim é fabricar um ídolo; é idolatria. É preciso respeitar Nosso Senhor tal qual Ele é. E se alguém tem de mudar seus conceitos, somos nós, não Ele.
Pois bem. Jesus diz ainda: "Conhecereis a Verdade e a Verdade vos libertará". Logo, a única coisa capaz de libertar o ser humano não é o auto-engano de uma religiãozinha politicamente correta e simpática com todo tipo de discurso. Somente a verdade é capaz de libertar o ser humano. Qual seria, então, a verdade? É o que dizíamos acima: a verdade é uma pessoa - Jesus Cristo.
"Tudo bem que Cristo seja a verdade... Porém, daí a afirmar que o catolicismo é a Verdade é um salto e tanto, né não?"
Né não! Penso que a argumentação seguinte já é bem conhecida, mas a façamos de novo, e de modo resumido: Jesus fundou uma Igreja; isto é fato. Qual é essa Igreja? É a Igreja Católica que existe desde os Apóstolos, com Pedro à frente. Qual a dificuldade de se entender isso?
Jesus, ao fundar Sua Igreja, lhe fez duas promessas: "As portas do inferno não prevalecerão contra ela" e ainda "Eu estarei convosco até o fim do mundo". O que se deduz disso? É fácil:
1- A Igreja nunca se corromperia.
2- Ela perduraria até o fim dos tempos.
Porém, é também notório que os homens são sujeitos difíceis e tenderiam a distorcer a verdade, aqui e ali. Só que, se Jesus se fez homem para que conhecêssemos a verdade, é claro que Ele não deixaria que a verdade se pervertesse. Logo, ele institui a hierarquia da Igreja, à qual Ele diz: "Ide e ensinai" e promete a assistência do Espírito Santo para preservar de erro esta mesma hierarquia. A Verdade católica, portanto, não é mera construção cultural, mas é fruto do próprio Deus que se revelou e falou a nós.
Ainda assim, alguns sujeitos tentaram corromper esta verdade. Os Apóstolos, desde o início, advertiram para que a Fé fosse conservada integramente contra os "falsos profetas" e as "fábulas" contadas por eles. 


"Virá tempo em que os homens já não suportarão a sã doutrina da salvação. Levados pelas próprias paixões e pelo prurido de escutar novidades, ajustarão mestres para si. Apartarão os ouvidos da verdade e se atirarão às fábulas." (II Tm 4,3-4)
Já no primeiro século, por exemplo, aparece a seita dos docetas que afirmavam que Jesus Cristo não se tinha feito homem, mas apenas tinha assumido a aparência de homem. Motivo: um Deus não podia se rebaixar a tal ponto. E o que foi que a Igreja fez? Achou engraçadinha a afirmação? Não! O Apóstolo João, ao escrever seu Evangelho, já estava a combater esse erro. Foi justamente para atacar essa mentira que ele escreveu bem no início do seu livro: "O Verbo se fez carne", isto é, não era mera aparência; Ele realmente se revestiu da nossa natureza. Logo, esse negócio de tolerar as invenções bonitinhas dos outros não se faz senão quando não se ama a Verdade. A Igreja, porém, tem o dever, dado pelo próprio Cristo, de conservar esta verdade intacta. Desrespeitar esse caráter da pureza da Fé é ser infiel ao próprio Cristo, de modo que ninguém ama a Jesus senão Lhe leva a sério.
"Um homem, um... cavalheiro transigente tornaria a condenar Jesus à morte."
"A transigência é sinal certo de não se possuir a verdade. - Quando um homem transige em coisas de ideal, de honra ou de Fé, esse homem é um homem... sem ideal, sem honra e sem Fé.
Aquele homem de Deus, curtido na luta, argumentava assim: - Não transijo? Mas é claro! Porque estou persuadido da verdade do meu ideal. Pelo contrário, você é muito transigente... Parece-lhe que dois e dois sejam três e meio? - Não?... Nem por amizade cede em tão pouca coisa? - É que pela primeira vez se persuadiu de ter a verdade... e passou-se para o meu partido!"
S. Josemaria Escrivá, Caminho, 393-395.

Como já dizia o escritor Scott Hahn - antes fervoroso protestante e grande estudioso da Bíblia que se converteu ao estudar seriamente -, o credo que rezamos na Santa Missa, tão despreocupadamente, é, na verdade, um grande drama: por aquelas verdades de Fé, muitíssimos cristãos morreram para não as transigir. Hoje em dia, porém, a tolerância doutrinal que alguns católicos demonstram é, antes, uma vergonha se comparada à valentia e à Fé daqueles outros. Isto porque eles levavam a sério a Fé. Hoje em dia, o martírio é receber a pecha de fundamentalista, bitolado e outras menos honrosas. Os outros, os "tolerantes", além de não complicarem a vida e não se importarem com nada, ainda são elogiados e tidos como os verdadeiros seguidores do Senhor. Ora, vá! Jesus foi para a Cruz justamente por não tolerar essas coisas. Os primeiros cristãos foram perseguidos e mortos, não por adorarem a Jesus, mas por dizerem que Ele era a única verdade.
A Igreja, então, é no mundo aquela que resguarda a verdade. E é só ter um pouco de disposição para ver que ela é praticamente a única que luta continuamente para que algo de dignidade ainda persevere no mundo. O protestantismo, ao contrário, surge dos disparates de Lutero que, além de ser um blasfemo que chamava Jesus de fornicador, entre outras sandices, era ainda um beberrão, imoral e suicida. Sinceramente, supor que um sujeito assim poderia criar algo que preste, convenhamos, é meio irreal; é entrar no mundo dos teletubies ou andar na nuvenzinha cor de rosa dos ursinhos carinhosos. Não se está a afirmar aqui que não existam protestantes sinceros e morais. Está-se aqui a falar do protestantismo em si; não das pessoas que lá estão. Há gente boa lá, assim como há gente safada no catolicismo, oras. Porém, o catolicismo tem natureza sobrenatural e é realmente capaz de perdoar pecados e produzir a Graça na alma. O protestantismo, não; ele somente pode ser eficaz enquanto código de ética ou estimulador de virtudes morais. Porém, nele o sujeito fica limitado aos seus próprios esforços que, conforme vimos acima, não são suficientes para elevá-lo à ordem sobrenatural.
Percebamos, portanto, que o fato de a Igreja Católica ser a única e professar a verdade é algo factual! Ou se leva a sério isso, ou não se crê em Jesus Cristo. A minha dica pra muita gente nem seria a de estudar a história da Igreja ou os fatos dos primeiros séculos. Eu recomendaria tão somente ler atentamente os Evangelhos para notar que Jesus não era um abobado sorridente a brincar de ciranda com os Apóstolos. Era e é um Sujeito muito sério. Não foi à toa que Ele veio; não quis apenas ser um exemplo. Ele veio para o Sacrifício e, com isso, conquistou-nos algo que absolutamente não poderíamos conseguir sozinhos. Para ter acesso a este algo, cumpre ser batizado e receber, pelos Sacramentos da Igreja, a comunhão com Ele. A única forma de isentar-se desta obrigação é se a pessoa estiver no estado de "Ignorância Invencível" que, porém, já é assunto para um outro artigo.

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"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]