sexta-feira, 27 de julho de 2012

Muitos justos desejaram ver o que vós vedes (Mt 13,17)


Vitae Fratrum Ordinis Praedicatorum

Quinta-feira, 26 de Julho de 2012

Muitos justos desejaram ver o que vós vedes (Mt 13,17)

É este o desabafo de Jesus para os seus discípulos, depois da constatação que nem os milagres nem as palavras, ainda que ditas sob a forma de parábola, conseguiam converter o coração de muitos daqueles que o procuravam e escutavam. Tal como a profecia de Isaías tinha anunciado, viam e escutavam, mas não se convertiam, e portanto demonstravam que nem viam nem escutavam verdadeiramente.
Contudo, ao longo da história da revelação de Deus muitos homens e mulheres, profetas e justos, tinham desejado ver e escutar o que naquele momento era possível ver e escutar, o próprio Deus falando a linguagem humana, Deus presente entre os homens como um deles, excepto no pecado.
Entre os homens e mulheres que tinham tido este desejo encontra-se Joaquim e Ana, aqueles que o Evangelho apócrifo de São Tiago apresenta como os pais daquela que seria a mãe do Salvador, a Virgem Maria.
Durante muitos anos, e quase até à sua velhice, tinham desejado e esperado um filho, mas a esterilidade de Ana não lhes permitia essa felicidade. Apesar disso, a fé e a confiança deste homem e mulher não esmoreceram e como tal alcançaram o bem desejado, uma filha na sua velhice.
Desta forma, e à semelhança do que se passará mais tarde com Isabel e Zacarias, outro casal estéril da família, é pela confiança no poder de Deus, que não desampara aqueles que o procuram, que o milagre acontece.
A história do nascimento de Maria, da sua concepção, para além das semelhanças com a história de São João Baptista, assemelha-se profundamente à história do profeta Samuel, pois tal como este também Maria é entregue ao cuidado do templo sendo ainda uma criança.
O autor do dito Proto Evangelho de Tiago insere assim os progenitores de Maria, São Joaquim e Santa Ana na grande linhagem da história da salvação, associando-os a uma fragilidade humana traduzida na esterilidade e a uma grandeza da fé traduzida na esperança e na entrega da filha alcançada de Deus.
Sem verem, Joaquim e Ana acreditaram na promessa de Deus, acreditaram que era possível uma outra realidade, a filha desejada. E quando a viram presente, foram capazes de a entregar como dom que era, foram capazes de a deixar de ver para que fosse totalmente de Deus entregando-a no templo.
Estes são afinal os desafios da fé, esperar sem ver, acreditar sem ver, e quando se vê ou se alcança o esperado, entregá-lo para que possa continuar a ser dom, liberdade contra a apropriação que nos conduz à idolatria.


Ilustração: “A educação da Virgem”, de Giovanni Battista Tiepolo, na igreja de Nossa Senhora da Consolação, Veneza.
Publicada por Frei José Carlos Lopes Almeida, OP em 23:52

http://vitaefratrumordinispraedicatorum.blogspot.com.br/2012/07/muitos-justos-desejaram-ver-o-que-vos_26.html


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Etiquetas: Meditação Diária
1 comentário:

Mizé27 de Julho de 2012 02:36

Frei José Carlos,

Bem-haja por recordar-nos os desafios da fé, ...” esperar sem ver, acreditar sem ver, e quando se vê ou se alcança o esperado, entregá-lo para que possa continuar a ser dom, liberdade contra a apropriação que nos conduz à idolatria”.
Peçamos com humildade ao Senhor que reforce a nossa fé e a confiança no poder de Deus, “que não desampara aqueles que o procuram, e o milagre acontece”, como nos recorda no texto da Meditação.
Obrigada, Frei José Carlos, pela partilha da Meditação, profunda, que encoraja-nos e desafia-nos. Que o Senhor o abençõe e proteja.
Peçamos à Virgem Santíssima que interceda junto de Jesus para que continue a restabelecer-se.
Bom descanso.
Um abraço fraterno,
Maria José Silva
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[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]