Caros amigos!
Acabo de escrever, a pedido de minha Igreja, um pequeno artigo sobre "Jesus e as mulheres" para a Folha de São Paulo". Caso queiram antecipar a leitura, eis o texto.
Abraço, Matthias.
Acabo de escrever, a pedido de minha Igreja, um pequeno artigo sobre "Jesus e as mulheres" para a Folha de São Paulo". Caso queiram antecipar a leitura, eis o texto.
Abraço, Matthias.
A historiadora norte-americana Karen King, da Escola de Teologia de Harvard, apresentou, na semana passada, um pedaço de um papiro com algumas palavras na língua copta. São fragmentos de frases, que ocupam oito linhas. A historiadora imagina que o escrito seja do quarto século. Mundialmente, o papiro ganhou maior atenção, sobretudo, por conter as seguintes palavras: "Jesus disse a eles, Minha esposa".
Num instante, surgiram os mais diversos comentários. Quase tudo entrou no debate, da existência histórica de Jesus até o voto da castidade, assumido pelos religiosos, pelas religiosas e pelo clero diocesano na Igreja Católica. Questiona-se, em especial, o papel das mulheres na Igreja Católica, uma vez proposta a idéia de Jesus ter tido uma esposa.
Não quero limitar a discussão. No entanto, histórica e teologicamente, é necessário ter um maior cuidado. No que se refere ao fragmento em língua copta, somente agora serão realizados exames mais avançados. É preciso analisar a forma das letras e a composição da tinta. Assim será possível ter maior certeza a respeito da autenticidade do documento. No mais, é de grande importância guardar uma noção mais clara a respeito dos espaços cronológico-culturais.
O fragmento copta, pois, talvez seja do século IV d.C. Mais do que trezentos anos separam a elaboração destas frases da vida de Jesus. Quais as notícias históricas que ainda poderiam existir a respeito deste profeta galileu, em terras tão distantes como as do Egito? Historicamente, as fontes mais antigas, sobretudo, os textos elaborados no primeiro século, têm a preferência. Em especial, sejam lembradas as tradições contidas no Novo Testamento, que espelham a fé da geração dos apóstolos, os quais foram testemunhas oculares da pessoa de Jesus de Nazaré. Mais ainda: em princípio, não existe nenhuma verdadeira alternativa à fé apostólica, caso alguém se interesse por Jesus. Todos os outros testemunhos históricos sobre a vida de Jesus são mais tardios e, em geral, marcados pelos interesses particulares de seus autores.
Voltando à leitura das tradições bíblicas, vale a pena perguntar-se, sempre de novo, como se deu a relação entre Jesus e as mulheres. Sejam lembradas, neste momento, apenas duas das muitas colocações que se encontram nos Evangelhos.
Segundo o Evangelho de Marcos, escrito nos anos sessenta do primeiro século, Jesus valorizou, de forma extraordinária, o casamento e, com isso, marido e esposa. Na sua compreensão, "Deus une" o casal (Mc 10,9). Não se poderia dizer algo maior a respeito da dignidade e da grandeza do amor humano, no caso, da relação matrimonial. Simplesmente expressa a vontade de Deus. Quem, portanto, diminuir, de alguma forma, a grandeza deste tipo de amor e convivência, se opõe ao que Jesus, segundo a fonte mais antiga, ensinou.
Da mesma forma, existiu, na concepção de Jesus, a possibilidade de alguém, por causa dele e do Evangelho, abandonar tudo, inclusive a "mulher" (Lc 18,29). Desta forma, surgiu o grupo de seus seguidores. Conforme o Evangelho de Lucas, escrito nos anos setenta do primeiro século, "estavam com ele os doze" apóstolos, mas também "algumas mulheres" (Lc 8,1-2).
Enfim, nenhum texto pertencente ao Novo Testamento ou qualquer outro escrito do primeiro século menciona uma "esposa" ou "namorada" de Jesus. Existe sim, por parte de Jesus de Nazaré, a valorização de diferentes propostas de vida e uma enorme sensibilidade pela dignidade da mulher. Para descobrir isso, porém, é preciso ler e estudar os Evangelhos. Um fragmento de oito linhas não dará conta disso.
Dr. Matthias Grenzer
Professor da Faculdade de Teologia na PUC-SP
Num instante, surgiram os mais diversos comentários. Quase tudo entrou no debate, da existência histórica de Jesus até o voto da castidade, assumido pelos religiosos, pelas religiosas e pelo clero diocesano na Igreja Católica. Questiona-se, em especial, o papel das mulheres na Igreja Católica, uma vez proposta a idéia de Jesus ter tido uma esposa.
Não quero limitar a discussão. No entanto, histórica e teologicamente, é necessário ter um maior cuidado. No que se refere ao fragmento em língua copta, somente agora serão realizados exames mais avançados. É preciso analisar a forma das letras e a composição da tinta. Assim será possível ter maior certeza a respeito da autenticidade do documento. No mais, é de grande importância guardar uma noção mais clara a respeito dos espaços cronológico-culturais.
O fragmento copta, pois, talvez seja do século IV d.C. Mais do que trezentos anos separam a elaboração destas frases da vida de Jesus. Quais as notícias históricas que ainda poderiam existir a respeito deste profeta galileu, em terras tão distantes como as do Egito? Historicamente, as fontes mais antigas, sobretudo, os textos elaborados no primeiro século, têm a preferência. Em especial, sejam lembradas as tradições contidas no Novo Testamento, que espelham a fé da geração dos apóstolos, os quais foram testemunhas oculares da pessoa de Jesus de Nazaré. Mais ainda: em princípio, não existe nenhuma verdadeira alternativa à fé apostólica, caso alguém se interesse por Jesus. Todos os outros testemunhos históricos sobre a vida de Jesus são mais tardios e, em geral, marcados pelos interesses particulares de seus autores.
Voltando à leitura das tradições bíblicas, vale a pena perguntar-se, sempre de novo, como se deu a relação entre Jesus e as mulheres. Sejam lembradas, neste momento, apenas duas das muitas colocações que se encontram nos Evangelhos.
Segundo o Evangelho de Marcos, escrito nos anos sessenta do primeiro século, Jesus valorizou, de forma extraordinária, o casamento e, com isso, marido e esposa. Na sua compreensão, "Deus une" o casal (Mc 10,9). Não se poderia dizer algo maior a respeito da dignidade e da grandeza do amor humano, no caso, da relação matrimonial. Simplesmente expressa a vontade de Deus. Quem, portanto, diminuir, de alguma forma, a grandeza deste tipo de amor e convivência, se opõe ao que Jesus, segundo a fonte mais antiga, ensinou.
Da mesma forma, existiu, na concepção de Jesus, a possibilidade de alguém, por causa dele e do Evangelho, abandonar tudo, inclusive a "mulher" (Lc 18,29). Desta forma, surgiu o grupo de seus seguidores. Conforme o Evangelho de Lucas, escrito nos anos setenta do primeiro século, "estavam com ele os doze" apóstolos, mas também "algumas mulheres" (Lc 8,1-2).
Enfim, nenhum texto pertencente ao Novo Testamento ou qualquer outro escrito do primeiro século menciona uma "esposa" ou "namorada" de Jesus. Existe sim, por parte de Jesus de Nazaré, a valorização de diferentes propostas de vida e uma enorme sensibilidade pela dignidade da mulher. Para descobrir isso, porém, é preciso ler e estudar os Evangelhos. Um fragmento de oito linhas não dará conta disso.
Dr. Matthias Grenzer
Professor da Faculdade de Teologia na PUC-SP
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]