É de aconselhar que se leia primeiro toda a Liturgia da Palavra.
23º DOMINGO COMUM - ANO B !
«Effathá...» «Abre-te...»
A Liturgia da Palavra deste 23º Domingo Comum – B, coloca-nos perante um desafio entre a Fé e a Palavra, em que Cristo, pelos seus milagres põe à prova a Fé do seu povo, como sinal da sua missão messiânica.
No tempo de Cristo o ambiente era de revolta contra o poder do império romano e Deus mandou o seu Filho, Jesus Cristo, que pelo seu exemplo, pelas suas palavras e pelos seus milagres, proclamará a convivência pacífica entre todos os homens, elevando ao mais alto grau o amor, a igualdade e o perdão.
A 1ª Leitura, do Livro do profeta Isaías, diz-nos que, volvidos quarenta anos de exílio, o povo judeu rejubila porque vai, enfim, entrar na Palestina.
A alegria de viver e a esperança num futuro melhor, e mais livre, apoderam-se daqueles corações.
- «Tende coragem. Não vos assusteis. Aí está o vosso Deus ! É a Sua vinda justiceira, é Deus que vem retribuir. Ele próprio vem salvar-nos».(1ª Leitura).
Ser salvo é na verdade renascer para a vida e para a alegria.
Comunicar aos homens, sobretudo aos que sofrem, a razão profunda da nossa esperança – Cristo -, eis uma das inquietações do cristão consciente, pelo que sempre deve louvar o Senhor como proclama o Salmo Responsorial :
- "Ó minha alma, louva o Senhor !"
Na 2ª Leitura, S. Tiago condena sem reserva as atitudes de discriminação de pessoas e classes, bem diferentes das que Jesus usou para pôr à prova a fé das pessoas e classes, até mesmo na assembleia litúrgica.
- "Não estareis assim a estabelecer distinções entre vós e a tornar-vos juízes com intenções pouco rectas ?"(2ª Leitura).
Traímos Jesus Cristo e tornamos vã e inútil a nossa celebração, sempre que idolatramos as pessoas socialmente qualificadas e ignoramos os marginalizados, pobres, doentes e incultos.
S. Tiago referia-se às preferências dadas pelo homem aos mais ricos enquanto Jesus atendia os mais pobres.
O Evangelho, é de S. Marcos e diz-nos que nos encontramos numa terra pagã, onde há surdos que ainda não entenderam, ou talvez ainda não tenham ouvido o anúncio da Revelação de Deus aos homens; e há mudos, pois que as suas preces são, por enquanto, um débil balbuciar.
- "Jesus, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse : «Effathá», isto é «abre-te». Abriram-se os ouvidos do homem, e logo se lhe desfez a prisão da língua, e começou a falar correctamente". (Evangelho).
Na pessoa do surdo-mudo, se encontra a messianidade de Cristo.
E os gestos de Cristo nada têm a ver com a magia.
O milagre com que Jesus curou o que era surdo e também com dificuldades de falar, foi um autêntico apelo à fé de todos os que o trouxeram da região de Decápole.
Todos reconheceram o poder de Jesus e, assombrados, d'Ele diziam :
- «Tudo tem feito admiravelmente : faz que os surdos oiçam e que os mudos falem».(Mc.7,37)..
A pregação e os milagres de Jesus, tinham o cunho do amor e da compaixão e exigiam a fé, mas muitas vezes também Jesus recomendava que não dissessem nada a ninguém.
Ler ou proclamar a Palavra de Deus significa reconhecer o primado de Deus na nossa vida.
Os cristãos, como os hebreus, sabem que a sua fé depende da Palavra de Deus e, se empregam só palavras humanas para falar de Deus, são comparáveis a um mudo ou ao balbuciar duma criança.
O gesto de Jesus narrado pelo Evangelho torna-se actual num gesto feito na Igreja para a iniciação dos catecúmenos.
No rito do Baptismo, actualmente em vigor, o gesto do "effathá" foi colocado no fim, entre os sinais de conclusão e de exortação.
Enquanto toca os ouvidos e a boca do baptizado, o ministro diz :
- "O Senhor Jesus, que fez ouvir os surdos e falar os mudos, vos dê a graça de, em breve poderdes ouvir a Sua Palavra e professar a fé, para louvor e glória de Deus Pai. Amen".
Há aqui uma clara intenção pastoral que é a de fazer os Pais e os Padrinhos compreederem que a criança, apresentada por eles para o Baptismo, deverá ser "instruída" nas fé pela escuta da Palavra de Deus, e ser educada para a expressão desta fé na oração e na vida e que eles ficam com essa responsabilidade.
A Palavra de Deus na Igreja depois do Concílio e da reforma litúrgica recuperou o lugar que lhe compete na Missa com a actualização da Liturgia da Palavra, que precede sempre a Liturgia Eucarística.
O papel da Palavra na celebração é tão essencial, que a Missa se pode chamar uma celebração eucarística da Palavra.
Proclama-se aí a Palavra de Jesus, expressão perfeita da Palavra de Deus, extraída das Sagradas Escrituras.
Mas celebra-se antes de tudo o hoje de Jesus Cristo no meio do mundo.
A palavra revela aos participantes o ritmo pascal, oculto nos acontecimentos da sua vida e da vida do mundo; interpela-os até ao íntimo da alma, convida-os à renovação da fé, e faz a sua introdução concreta na obediência até à morte, cujo exemplo definitivo lhe foi dado por Jesus.
Em virtude da Palavra, a acção de graças do povo reunido em memória da paixão e da ressurreição de Cristo, adquire toda a sua actualidade e promove maior fidelidade à vontade de Deus expressa nos sinais dos tempos.
Daí a necessidade de uma Catequese actual e bem ordenada, como momento central de toda a actividade pastoral, de toda a solidariedade e instituição eclesial, de toda a estrutura que possa contribuir para a edificação do Corpo Místico de Cristo.
A Palavra de Deus é essencial para toda a experiência cristã, porque não há iniciativa ou estrutura pastoral que não seja um reflexo da escuta da Palavra, com que foi apresentada e aprofundada a mensagem evangélica.
A Palavra de Jesus, confirmada pelos seus milagres foram os meios que Ele usou para dar cumprimento aos planos da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica :
1503. – A compaixão de Cristo para com os doentes e as suas numerosas curas de enfermos de toda a espécie são um sinal claro de que Deus «visitou o seu povo»(Lc.7,16) e de que o Reino de Deus está próximo. Jesus tem poder não somente para curar, mas também para perdoar os pecados : veio curar o homem na sua totalidade, alma e corpo ; é o médico de que os doentes precisam.
1504. – Frequentemente, Jesus exige dos doentes a fé. Serve-se de sinais para curar : saliva e imposição das mãos, lodo e lavagem. Por sua parte os doentes procuram tocar-Lhe «porque saía d'Ele uma força que a todos curava»Lc.6,19). Por isso, nos sacramentos, Cristo continua a «tocar-nos» para nos curar.
Começou a falar correctamente... Jesus recomendou que não dissesse nada...
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]