terça-feira, 25 de setembro de 2012

CHESTERTONBRASIL.ORG

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Charles Dickens - resenha 9

Posted: 25 Sep 2012 02:39 PM PDT

Por Dale Ahlquist
Presidente da American Chesterton Society
Publicado originalmente com o título [Lecture 9] Charles Dickens, disponível no site Chesterton.org
Traduzido por Davi James Dias
Revisado por Renato O. Romano
 
Um dia perguntaram a Chesterton a pergunta de sempre: "Que livro o senhor levaria para uma ilha deserta?" Como sabem, a resposta dele foi imediata: "O Guia Prático para Construção de Navios". O que muitos não sabem, porém, é que ele acabou confessando qual livro, de fato, gostaria de levar consigo se ficasse preso numa ilha deserta: Pickwick Papers, de Charles Dickens.
Em seu livro Charles Dickens, de 1906, Chesterton dedica todo um capítulo a Pickwick; explica por que razão essa obra literária é eterna e por que "eterno" não é algo ruim, mas algo bom. Pickwick é o "Ulisses da Comédia", cuja história é um épico do viver feliz para sempre, detendo-se aqui e ali no caminho para avaliar alguns tumultuosos e divertidos incidentes de percurso. A religião popular, diz Chesterton, possui infinitas alegrias e infinitas brincadeiras; mas nós perdemos umas e outras: "Somos fracos, muito fracos para desejar tal vigor imperecível. Nós acreditamos que é possível possuir em excesso algo bom – crença blasfema, que põe a perder, de uma só vez, tudo de mais sagrado em que repousa a esperança dos homens."
Essa é a tarefa da crítica literária. Não é um passeio nos bastidores, onde se nos revela o modo como se fazem os truques. Não é uma vistoria, onde se busca por rachaduras e falhas estruturais. Não. É uma viagem privilegiada em direção ao que há de mais profundo, onde presenciamos cenas espetaculares às quais não assistiríamos se ousássemos entrar sozinhos. Chesterton interpreta o papel de Virgílio com Dante, conduzindo-nos com mão segura pelo mundo extraordinário de Dickens. Já no início ele nos adverte, com justiça, do que devemos esperar, apontando para a placa que encima a entrada: "Vós que entrais, abandonai toda a desesperança".
Então entramos. Tomamos conhecimento das maravilhosas personagens de Dickens e nos unimos a elas em suas façanhas. No caminho conhecemos também ao próprio Dickens. E, mais adiante, de novo o encontramos, sob o aspecto de algumas personagens suas. Percorremos as ruas da Londres do século XIX debaixo de luz e sombras, onde a esperança luta com a desesperança, onde a cada esquina nos espera uma nova aventura. Chesterton explica que, embora talvez este não seja o mundo que teríamos feito, tampouco é um mundo que poderíamos ter feito. "O seu mérito consiste, precisamente, em que ninguém de nós poderia ter concebido algo semelhante... É o melhor de todos os mundos impossíveis."
T. S. Eliot afirmou que o livro de Chesterton a respeito de Dickens é "o melhor livro jamais escrito sobre o autor".
Um dos aspectos mais surpreendentes do livro de Chesterton é que, quando foi escrito, os romances de Dickens passavam por uma espécie de eclipse na Inglaterra. Então aquele livro contribuiu para provocar um profundo renascimento de Dickens e fez com que J. M. Dent publicasse novas edições de todos os seus livros para a coleção Everyman's Library, convidando G. K. Chesterton para escrever a introdução de cada um dos vinte e quatro volumes.      
Em 1942, a editora The Readers Club – cujo conselho editorial contava com os nomes de Clifton Fadiman, Sinclair Lewis, Carl Von Doren e Alexander Woolcott – lançou uma nova edição do livro de Chesterton sobre Dickens, com o subtítulo "O último dos grandes homens". Na introdução dessa edição, Alexander Woolcott se diz convencido de que o livro é "legível", já que ele próprio o leu... várias vezes. E, como todo e qualquer leitor que se deleite com a leitura desse livro, Woolcott aprecia particularmente a conclusão, uma das passagens mais edificantes de toda a obra de Chesterton:
A camaradagem e a verdadeira alegria não são entreatos em nossa jornada; na verdade... as nossas jornadas é que são entreatos na camaradagem e na alegria, que com Deus hão de durar para sempre. Não é a estalagem que indica a estrada; é a estrada que indica a estalagem. E, afinal, todas as estradas apontam para uma estalagem derradeira, ali onde nos encontraremos com Dickens e com todas as suas personagens; e, quando bebermos novamente, será das esplêndidas jarras na taberna ao fim do mundo.

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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.

"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]