Caríssimo (a)
Como de costume, segue-lhe o texto abaixo para meditação das leituras das Missas deste final de semana.
Texto extraído da Obra de Francisco Fernandez Carvajal, Falar com Deus.
Tenho certeza que lhe será proveitoso.
Um abraço e boa semana.
Airton Luiz Sbrissa.
TEMPO COMUM. VIGÉSIMO OITAVO DOMINGO. CICLO B
O OLHAR DE JESUS
– A maior sabedoria consiste em encontrar Jesus Cristo.
– O encontro com o jovem rico.
– Jesus convida-nos a segui-lo.
I. OS TEXTOS DA MISSA deste domingo falam da sabedoria divina, que devemos estimar mais do que qualquer outro bem. Na primeira Leitura1, lemos o pedido que o autor do livro sagrado coloca nos lábios de Salomão: Invoquei o Senhor, e foi-me concedido o espírito de sabedoria. Preferi-a aos reinos e aos tronos, e em sua comparação tive as riquezas por nada. Não a equiparei às pedras preciosas, porque todo o ouro ao seu lado é um pouco de areia, e à sua vista a prata será considerada como lodo. Nada pode alcançar o valor do conhecimento de Deus, que nos faz participar da sua intimidade e dá sentido à vida: Preferi-a à saúde e à formosura, e resolvi tê-la por luz, porque o seu resplendor não tem ocaso. E, além disso, todos os bens me vieram juntamente com ela. Encontrei nas suas mãos inumeráveis riquezas.
O Verbo de Deus encarnado, Jesus Cristo, é a Sabedoria infinita, escondida no seio do Pai desde a eternidade e agora acessível aos homens que estejam dispostos a abrir o seu coração com humildade e simplicidade. Comparado com Ele, o ouro é um pouco de areia, e a prata será considerada co-mo lodo, nada. Ter Cristo é possuir tudo, pois com Ele nos chegam todos os bens. Por isso cometemos a maior insensatez quando preferimos alguma coisa (honra, riqueza, saúde...) ao próprio Cristo que nos visita. Nada vale a pena sem o Mestre.
"Senhor, obrigado por teres vindo. Terias podido salvar-nos sem teres vindo. Bastava simplesmente que quisesses salvar-nos; não se vê que a Encarnação fosse necessária. Mas quiseste vir para termos o exemplo completo de toda a perfeição [...]. Obrigado, Mestre, por teres vindo, por estares no meio de nós, homem entre os homens, o Homem entre os homens, como um entre tantos [...], e, apesar disso, o Homem que tudo atrai a si, porque, desde que veio, não existe outra perfeição. Obrigado por teres vindo e porque eu posso ver-te e alimentar a minha vida em ti"2.
Ser sábio, Senhor, é encontrar-te e seguir-te. Só acerta na vida quem te segue.
II. NO EVANGELHO DA MISSA3, São Marcos relata o episódio de uma pessoa que preferiu alguns bens ao próprio Cristo, que o convidara a segui-lo. Quando Jesus saía com os seus discípulos a caminho de Jerusalém, apareceu um jovem4 que se ajoelhou diante dEle e lhe perguntou: Bom Mestre, que devo fazer para alcançar a vida eterna? O Senhor indica-lhe os Mandamentos como caminho seguro e necessário para alcançar a salvação. O jovem, com grande simplicidade, respondeu-lhe que os cumpria desde a infância. Então Jesus, que conhecia a pureza daquele coração e o fundo de generosidade e de entrega que existe em cada homem e em cada mulher,pondo nele os olhos, mostrou-lhe afeto, amou-o com predileção, e convidou-o a segui-lo, pondo de parte tudo o que possuía.
São Marcos, que nos transmite a catequese de São Pedro, deve ter ouvido o relato dos lábios do próprio Apóstolo, em todos os seus pormenores. Como Pedro devia lembrar-se desse olhar de Jesus que, no começo da sua vocação, também pousara sobre ele e mudara o rumo da sua vida! E Jesus, fixando nele o olhar, disse-lhe: Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas, que quer dizer Pedro5. E a partir daquele instante a vida de Pedro foi outra.
Como gostaríamos de contemplar esse olhar de Jesus! Umas vezes, imperioso; outras, de pena e de tristeza, por exemplo ao ver a incredulidade dos fariseus6; outras, de compaixão, como à entrada de Naim, ao passar pelos que levavam a enterrar o filho morto da viúva7. É esse olhar que comunica uma força persuasiva às palavras com que convida Mateus a deixar tudo e segui-lo8, ou com que se faz convidar a casa de Zaqueu, levando-o à conversão9. É esse mesmo olhar que se enternece diante da fé e da grandeza de alma de uma viúva pobre que deu tudo o que tinha10, o mesmo que põe a descoberto a alma diante de Deus e suscita a contrição, como no caso da mulher adúltera11 e do próprio Pedro depois da sua tríplice negação12.
Jesus olhou com afeto para o jovem que se aproximara dEle e convidou-o: "Segue-me. Caminha sobre os meus passos. Vem para o meu lado! Permanece no meu amor!"13 É o convite que talvez nós tenhamos recebido um dia..., esse em que resolvemos segui-lo sem mais altos e baixos. "O homem precisa deste olhar amoroso: tem necessidade de saber-se amado, de saber-se eternamente amado e escolhido desde toda a eternidade (cfr. Ef 1, 4). Ao mesmo tempo, este amor eterno de eleição divina acompanha o homem durante toda a vida como o olhar de amor de Cristo. E isto sobretudo no momento da provação, da humilhação, da perseguição, do fracasso [...]. Então, a consciência de que o Pai nos amou desde sempre no seu Filho, de que Cristo nos ama a cada um e sempre, torna-se um ponto de apoio firme para toda a existência humana. Quando tudo se conjuga para nos fazer duvidar de nós mesmos e do sentido da nossa vida, então esse olhar de Cristo, ou seja, a consciência do amor que nEle se mostrou mais forte do que todo o mal e toda a destruição, essa consciência permite-nos sobreviver"14.
Cada um recebe uma chamada particular do Mestre, e da resposta a esse convite dependem toda a paz e toda a felicidade verdadeiras. A autêntica sabedoria consiste em dizer sim a cada um dos convites que Cristo, Sabedoria infinita, faz ao longo da nossa vida, porque Ele continua a percorrer as nossas ruas e praças. Cristo vive e chama. "Um dia – não quero generalizar; abre o teu coração ao Senhor e conta-lhe a tua história –, talvez um amigo, um simples cristão igual a ti, te fez descobrir um panorama profundo e novo, e, ao mesmo tempo, antigo como o Evangelho. Sugeriu-te a possibilidade de te empenhares seriamente em seguir Cristo, em ser apóstolo de apóstolos. Talvez tenhas perdido então a tranqüilidade e não a tenhas recuperado, convertida em paz, enquanto livremente,porque te apeteceu – que é a razão mais sobrenatural –, não respondeste sim a Deus. E veio a alegria, forte, constante, que só desaparece quando te afastas dEle"15.
É a alegria da entrega, tão oposta à tristeza que afogou a alma do jovem rico que não quis corresponder à chamada do Mestre.
III. VAI, VENDE QUANTO TENS e dá-o aos pobres, e terás um tesouro nos céus; e vem depois e segue-me, disse Jesus a esse jovem que tinha muitos bens. E as palavras que deviam comunicar-lhe uma grande alegria, deixaram-lhe na alma uma grande tristeza: Mas ele, afligido por estas palavras, retirou-se triste. "A tristeza deste jovem deve fazer-nos refletir. Podemos ter a tentação de pensar que possuir muitas coisas, muitos bens neste mundo, pode fazer-nos felizes. E no entanto, vemos no caso deste jovem do Evangelho que as muitas riquezas se converteram em obstáculo para aceitar o chamamento de Jesus. Não estava disposto a dizer sim a Jesus e não a si próprio, a dizer sim ao amor e não à fuga! O amor verdadeiro é exigente"16.
Se notamos no nosso coração um travo de desgosto e tristeza, é possível que se deva a que o Senhor nos está pedindo alguma coisa e nós nos recusamos a dá-la; não acabamos de deixar o coração livre de quaisquer laços para segui-lo plenamente. É talvez o momento de nos lembrarmos das palavras de Jesus no fim desta passagem do Evangelho: Em verdade vos digo que todo aquele que deixar casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou campos por minha causa e por causa do Evangelho, receberá já agora no tempo presente cem vezes mais em casas, irmãos, irmãs, mães, pais, filhos e campos, juntamente com perseguições, e no século futuro a vida eterna.
... E vem depois e segue-me. Com que ansiedade não estariam todos à espera da resposta do jovem! Com essa palavra – segue-me –, Jesus chamava os seus discípulos mais íntimos. Era um convite que implicava acompanhá-lo no seu ministério, escutar a sua doutrina e imitar o seu modo de vida... Agora, depois da Ascensão aos Céus, esse seguimento não é, logicamente, acompanhá-lo pelos caminhos e aldeias da Palestina, mas permanecer onde Ele nos encontrou, no meio do mundo, e fazer nossa a sua vida e doutrina, comunicar-nos com Ele mediante a oração, tê-lo presente no trabalho, no descanso, nas alegrias e nas penas..., dá-lo a conhecer com o testemunho alegre de uma vida simples e com a palavra.
Seguir o Senhor significa hoje empreender o caminho de uma vida de empenho e de luta por imitar o Mestre. "Neste esforço de identificação com Cristo, costumo distinguir como que quatro degraus: procurá-lo, encontrá-lo, tratá-lo, amá-lo. Talvez vos sintais como que na primeira etapa. Procurai o Senhor com fome, procurai-o em vós mesmos com todas as forças. Atuando com este empenho, atrevo-me a garantir que já o tereis encontrado, e que tereis começado a tratá-lo e a amá-lo"17.
O Senhor não deixa de chamar-nos para que tomemos a sério o caminho da santidade no meio dos nossos afazeres diários. Jesus, hoje, continua a viver e a chamar-nos. É o mesmo que percorria os caminhos da Palestina. Não deixemos passar a oportunidade de assumir um compromisso definitivo, de pôr a mão no arado com a firme disposição de nunca mais olhar para trás18.
(1) Sab 7, 7-11; (2) Jacques Leclerq, Treinta meditaciones sobre la vida cristiana, Desclée de Brouwer, Bilbao, 1958, págs. 50-51; (3) Mc 10, 17-30; (4) cfr. Mt 19, 16; (5) Jo 1, 42; (6) cfr. Mc 2, 5; (7) cfr. Lc 7, 13; (8) cfr. Mt 9, 9; (9) cfr. Lc 19, 5; (10) cfr. Mc 12, 41-44; (11) cfr. Jo 8, 10; (12) cfr. Lc 22, 61; Mc 14, 72; (13) João Paulo II, Homilia, 1.10.79; (14) João Paulo II, Carta aos jovens, 31.03.85, 7; (15) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, É Cristo que passa, n. 1; (16) João Paulo II, Homilia, 1.10.79; (17) Bem-aventurado Josemaría Escrivá, Amigos de Deus, n. 300; (18) Lc 9, 62.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]