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De: ZENIT <infoportuguese@zenit.org>
Data: 20 de junho de 2009 12:04:16 BRT
Para: semportughtml@mail6.zenit.org
Assunto: Bíblia - ZP090620
Responder A: infoportuguese@zenit.org
ZENIT
O mundo visto de Roma
Serviço Semanal - 20 de junho de 2009
SANTA SÉ
Bento XVI inaugura Ano Sacerdotal pedindo presbíteros santos
Avança redação do documento papal sobre o Sínodo da Palavra
Cardeal Lajolo: verdades científicas e teológicas não se podem contradizer
Ordenações lefebvrianas ainda são ilegítimas, esclarece Santa Sé
Bento XVI sublinha exigência de inculturar mensagem da salvação
Revelado plano de Hitler para matar Pio XII
MUNDO
Um ano para orar com os sacerdotes e por eles, pede arcebispo
Mudança climática, desafio aos estilos de vida e à solidariedade
CNBB manifesta reconhecimento a padre assassinado
EM FOCO
Igreja de Cristo é toda um povo sacerdotal, afirmam bispos de Portugal
Cáritas faz apelo por conversações de paz na Coreia do Norte
FLASH
Novo site vaticano para Ano Sacerdotal
ENTREVISTAS
Comunismo e fraturas ideológicas explicam lenda contra Pio XII
ANGELUS
Bento XVI: Pão no caminho para liberdade, justiça e paz
DOCUMENTAÇÃO
Homilia do Papa ao inaugurar o Ano Sacerdotal
Carta do Papa aos sacerdotes com ocasião do Ano Sacerdotal
Bento XVI apresenta Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos
Santa Sé Bento XVI inaugura Ano Sacerdotal pedindo presbíteros santos
O maior sofrimento da Igreja é o pecado dos seus sacerdotes
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 19 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI inaugurou o Ano Sacerdotal na tarde desta sexta-feira, constatando a necessidade que a Igreja tem de santos sacerdotes.Ao mesmo tempo, ao presidir as segundas vésperas na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus, na Basílica Vaticana, reconheceu que o maior sofrimento para a Igreja é o pecado dos sacerdotes.
A celebração começou quando o Papa se dirigiu à Capela do Coral da Basílica de São Pedro para venerar em silêncio o coração do Santo Cura de Ars, São João Maria Vianney; neste ano se comemora precisamente o 150º aniversário do seu falecimento.
"A Igreja tem necessidade de sacerdotes santos – disse o Papa na homilia; de ministros que ajudem os fiéis a experimentarem o amor misericordioso do Senhor e sejam suas testemunhas convictas."
Por isso, convidou os crentes a pedirem "ao Senhor que inflame o coração de cada presbítero" de amor por Jesus.
"Como esquecer que nada causa mais sofrimento à Igreja, Corpo de Cristo, que os pecados dos seus pastores, sobretudo daqueles que se convertem em 'ladrões de ovelhas', seja porque as desviam com suas doutrinas privadas, seja porque as atam com os laços do pecado e da morte?", perguntou-se o Papa.
"Também para nós, queridos sacerdotes, aplica-se o chamado à conversão e a recorrer à misericórdia divina, e igualmente devemos dirigir com humildade incessante a súplica ao Coração de Jesus, para que nos preserve do terrível risco de causar dano àqueles a quem devemos salvar", disse o Papa aos numerosos presbíteros e bispos presentes.
Por isso, afirmou: "Nossa missão é indispensável para a Igreja e para o mundo, e exige fidelidade plena a Cristo e uma incessante união com Ele, isto é, exige que busquemos constantemente a santidade, como o fez São João Maria Vianney".
Avança redação do documento papal sobre o Sínodo da Palavra
Terceira reunião do Conselho da Secretaria Geral
CIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 18 de junho de 2009 (ZENIT.org).- O Conselho da Secretaria Geral do Sínodo dos Bispos avançou este mês no processo de assistência a Bento XVI na elaboração da exortação pós-sinodal sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja.Em sua terceira reunião, celebrada nos dia 3 e 4 de junho, seus membros chegaram a um consenso para elaborar um texto neste sentido, segundo informou a Sala de Imprensa da Santa Sé através de um comunicado publicado nesta quinta-feira.
Os participantes examinaram um plano de desenvolvimento das proposições da XII Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, celebrada em outubro passado. Esse plano se apresentará depois ao Santo Padre, para lhe sirva de apoio na redação da exortação.
O encontro alcançou "resultados significativos para a redação de um texto (...) que agora é expressão do consenso dos membros do conselho", segundo o comunicado. Trata-se de "uma síntese das expectativas concretas das Igrejas particulares sobre as urgências espirituais e pastorais do momento presente".
Por outro lado, na reunião se refletiu sobre a maneira como São Paulo utiliza as Sagradas Escrituras de Israel em suas cartas principais.
"Essa releitura ajudou os participantes a descobrir a Palavra de Deus com toda sua vivacidade, eficácia e grande atualidade eclesial e social", afirma o comunicado.
Foi o secretário-geral do Sínodo dos Bispos, arcebispo Nikola Eterovic, quem convocou a reunião do conselho formado por destacados bispos e cardeais de diferentes países e alguns membros da Cúria Romana.
Cardeal Lajolo: verdades científicas e teológicas não se podem contradizer
Visita de uma delegação do Vaticano ao acelerador de partículas do CERN
GENEBRA, quinta-feira, 18 de junho de 2009 (ZENIT.org).- As verdades científicas e teológicas nunca se podem contradizer porque ambas "derivam da mesma fonte, que é Deus", afirmou o cardeal Giovanni Lajolo, presidente da Comissão Pontifícia para o Estado da Cidade do Vaticano.Foi durante uma mesa-redonda sobre diálogo entre fé e ciência, celebrada no início de junho na sede da Organização Europeia de Pesquisa Nuclear (CERN), em Genebra, durante a visita de uma delegação do Vaticano ao centro que acolhe o maior túnel acelerador de partículas do mundo.
O cardeal citou Roberto Belarmino, doutor da Igreja que pesquisou Galileu, segundo o qual se uma declaração científica é evidentemente verdadeira e não se encontra em absoluta conformidade com a Bíblia, é necessário investigar como se pode interpretar corretamente a Escritura para não contradizer a verdade científica.
Para o purpurado, esta afirmação "continua sendo um princípio válido em relação aos fatos científicos".
Segundo o cardeal Lajolo, a Igreja católica é uma defensora da razão e da verdade e por isso "reconheceu mais tarde a posição científica defendida por Galileu e o erro cometido em sua condenação".
Dom Lajolo liderava a delegação, entre cujos membros se encontravam o observador permanente do Vaticano na ONU, Dom Silvano Maria Tomasi, C.S.; o diretor do Observatório Astronômico Vaticano, padre Jose Funes, S.I., e o astrônomo do Vaticano Guy Consolmagno, S.I.
Para Dom Tomasi, a visita da delegação do Vaticano ao CERN abriu um importante canal de diálogo entre ciência e fé, assim como entre o Vaticano e o importante organismo de pesquisa.
"A questão que emergiu na visita foi como manter o contato", disse, porque os cientistas que estudam o universo se perguntam muitas das questões teológicas, como algumas sobre o significado da vida.
No entanto, acrescentou, os métodos utilizados por cientistas e teólogos para responder a esses questionamentos são radicalmente diferentes e os situam em "dois mundos completamente diferentes".
"Não há hostilidade entre ambos, mas é necessário falar cruzando essas fronteiras e determinar a maneira com que o conhecimento humano pode avançar", explicou.O cardeal Lajolo aceitou "com satisfação o convite de visitar o CERN por meu próprio interesse, diante dos limites mais longínquos que a ciência astrofísica está conseguindo alcançar com a aceleração de prótons".
O purpurado afirmou que as descobertas das novas partículas subatômicas podem ajudar a confirmar a teoria Superstring do professor da Universidade de Princeton Edward Witten, que busca unificar a teoria geral da relatividade de Albert Einstein e a física quântica.
Ordenações lefebvrianas ainda são ilegítimas, esclarece Santa Sé
Confirma a mudança de estatuto da Comissão Pontifícia "Ecclesia Dei"
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 17 de junho de 2009 (ZENIT.org).- A Santa Sé esclareceu que os bispos e sacerdotes seguidores do arcebispo Marcel Lefebvre não exercerão ministérios legítimos até que a Fraternidade Sacerdotal São Pio X conte com estatuto canônico reconhecido pela Igreja.O esclarecimento, emitido através de um comunicado da Sala de Imprensa vaticana hoje, fez-se necessário para responder aos vários pedidos de informação sobre as ordenações sacerdotais programadas pela Fraternidade para o fim do mês.
O comunicado remete à carta que Bento XVI dirigiu aos bispos da Igreja no dia 10 de março para explicar as razões da remissão da excomunhão dos bispos ordenados ilegitimamente em 1988 por Dom Lefebvre.
Nessa carta, o Papa indica que até que a Fraternidade não tenha uma posição canônica na Igreja, seus ministros não exercem ministérios legítimos na Igreja.
A carta acrescenta "enquanto as questões relativas à doutrina não forem esclarecidas, a Fraternidade não possui qualquer estado canónico na Igreja, e os seus ministros – embora tenham sido libertos da punição eclesiástica – não exercem de modo legítimo qualquer ministério na Igreja".
Por outro lado, o comunicado confirma a intenção do Papa de dar um novo status à Comissão Pontifícia "Ecclesia Dei", "associando-a à Congregação para a Doutrina da Fé". Esta Comissão é a instituição vaticana competente desde 1988 para essas comunidades e pessoas que, vindas da Fraternidade São Pio X ou de grupos similares, querem regressar à plena comunhão com o Papa.
Com este gesto, o Papa tenta esclarecer que "os problemas que devem ser tratados agora são de natureza essencialmente doutrinal e se referem sobretudo à aceitação do Concílio Vaticano II e do magistério pós-conciliar dos papas".
"Há razões para pensar que falta pouco para esse novo status –indica o comunicado. Este fato constitui a premissa para o início do diálogo com os responsáveis da Fraternidade São Pio X de face ao desejado esclarecimento das questões doutrinais e, portanto, também disciplinares, que ainda seguem abertas".
Em uma matéria publicada nessa terça-feira em Zenit, o bispo Bernard Fellay, líder da Fraternidade, referia-se às ordenações de três sacerdotes e três diáconos no seminário lefebvriano Zaitzkofen, na Baviera (Alemanha), programadas pelo bispo da Fraternidade Alfonso de Galaretta para o dia 27 de junho.
O superior-geral da Fraternidade opinava que o Vaticano agora "não tem problemas fundamentais" com as próximas ordenações sacerdotais, ainda que reconhecia que novas excomunhões poderiam "pôr em perigo tudo" e fazer fracassar os diálogos da Fraternidade com a Congregação para a Doutrina da Fé.
Sobre as ordenações previstas pela Fraternidade, o bispo Gerard Muller, de Ratisbona, também explicou recentemente à Fraternidade que enquanto a questão da condição canônica não estiver resolvida, as ordenações não estão autorizadas e, portanto, mereceriam ações disciplinares.
Bento XVI sublinha exigência de inculturar mensagem da salvação
Cada povo deve expressar o Evangelho com sua própria linguagem
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 17 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Bento XVI confirmou a necessidade de que a mensagem da salvação seja inculturada nos diferentes povos, para que possam expressá-la e vivê-la com sua própria linguagem.A esta conclusão chegou nesta quarta-feira, durante sua intervenção na audiência geral, em que falou dos irmãos Cirilo e Metódio, apóstolos dos povos eslavos no século IX, inventores do alfabeto glagolítico e tradutores ao eslavo da Bíblia, dos Santos Padres e dos livros litúrgicos.
Ao continuar com a série de intervenções semanais sobre os grandes personagens da história da Igreja, o Papa constatou a contribuição oferecida pelos dois copadroeiros da Europa, ao compreender o valor do idioma na transmissão da Revelação.
Foram enviados pelo imperador de Constantinopla à Morávia, onde os povos eslavos haviam rejeitado o paganismo para converter-se ao cristianismo, mas não tinham professores que pudessem explicar-lhes a fé em seu idioma.
O Papa resumiu a grande missão destes dois santos com uma oração que um deles dirigiu a Cristo: "falar em eslavo por Ele".
E já que o idioma falado pelos eslavos dificilmente se adapta ao alfabeto latino, os santos, em sua tarefa de tradução bíblica e litúrgica, deram origem ao desenvolvimento do alfabeto glagolítico, que depois seria chamado precisamente de "cirílico", utilizado em numerosos idiomas, como o russo, búlgaro, macedônio e mongol.
"Cirilo e Metódio estavam convencidos de que os diferentes povos não podiam considerar que haviam recebido plenamente a Revelação até que não a tivessem escutado em seu próprio idioma e a lido nos caracteres próprios do seu alfabeto", explicou o Papa.
Por isso, esclareceu, "Cirilo e Metódio constituem um exemplo clássico do que hoje se indica com o termo 'inculturação': cada povo deve fazer que penetre na própria cultura a mensagem revelada e expressar a verdade salvífica com sua própria linguagem".
"Isso supõe um trabalho de 'tradução' de muito empenho, pois exige encontrar termos adequados para voltar a propor – sem traí-la – a riqueza da Palavra revelada."
"Os dois santos irmãos deixaram, neste sentido, um testemunho particularmente significativo que a Igreja continua contemplando hoje para inspirar-se e orientar-se", concluiu o Papa.
Ao finalizar a audiência, que aconteceu sob um sol intenso, o Papa convidou os presentes, em particular os jovens, doentes e recém-casados, a unir-se ao "Ano Sacerdotal" que ele inaugurará nesta sexta-feira, solenidade do Sagrado Coração de Jesus, Dia da Santificação dos Sacerdotes, por ocasião do 150º aniversário da morte do Santo Cura de Ars, João Maria Vianney.
Revelado plano de Hitler para matar Pio XII
Novo testemunho histórico confirma documentos precedentesCIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Hitler queria sequestrar ou matar Pio XII, segundo confirmam novos testemunhos históricos revelados nesta terça-feira.
Dados sobre este objetivo já haviam sido oferecidos no passado. Em 1972, havia falado dele o general da SS, Karl Wolf, ao referir detalhes sobre um encontro que teve com o Papa Eugenio Pacelli no dia 10 de maio de 1944. No entanto, é a primeira vez que se recolhem detalhes concretos sobre o plano de eliminação do pontífice.
Nesta terça-feira, o jornal italiano Avvenire publicou um testemunho histórico que confirma o plano organizado contra o Papa pelo Reichssicherheitsam
t (quartel general para a segurança do Reich) de Berlim, depois de 25 de julho de 1943.O jornal cita uma fonte direta e testemunhal, Niki Freytag von Loringhoven, de 72 anos, residente em Munique, filho de Wessel Freytag von Loringhoven, quem então era coronel do Alto Comando Alemão das Forças Armadas (Oberkommando der Wehrmacht, OKW), e depois participaria de um falido golpe contra Hitler.
Segundo Freytag von Loringhoven, nos dias 29 e 30 de julho de 1943, houve em Veneza um encontro secreto para informar ao chefe de contraespionagem italiano, o general Cesare Amè, da intenção do Führer de punir os italianos pela prisão Mussolini, com o sequestro ou o assassinato de Pio XII e do rei da Itália.
No encontro participaram o chefe de Ausland-Abwehr (contraespionagem)
, o almirante Wilhelm Canaris, e dois coronéis da seção II para a sabotagem, Erwin von Lahousen e precisamente Wessel Freytag von Loringhoven. Segundo Avvenire, este testemunho concorda com a deposição de Erwin von Lahousen no processo de Nurembergue de 1º de fevereiro de 1946 (Warnreise Testimony 1330-1430), no qual inclusive revela a reação de Freytag von Loringhoven ao conhecer o plano de Hitler: "É uma autêntica covardia!".
O chefe de contraespionagem italiano, Amè, segundo este testemunho histórico, ao voltar a Roma após conhecer as intenções de Hitler em Veneza, divulgou a notícia dos planos contra o Papa para bloqueá-los. Estas notícias chegaram ao embaixador da Alemanha na Santa Sé, Ernst von Weisäcker, quem as recolhe em seu livro Erinnerungen ("Lembranças"), de 1950.
Mundo Um ano para orar com os sacerdotes e por eles, pede arcebispo
Dom Raymundo Damasceno Assis abre Ano Sacerdotal em AparecidaAPARECIDA, sexta-feira, 19 de junho de 2009 (ZENIT.org).- O arcebispo de Aparecida, Dom Raymundo Damasceno Assis, abriu hoje, no Santuário Nacional, o Ano Sacerdotal, pedindo que este seja um tempo de orar com os padres e na intenção deles.
Dom Damasceno presidiu à missa das 9h na Basílica do Santuário de Aparecida, que contou com a presença dos bispos e padres da região.
O arcebispo recordou, no início de sua homilia, que o Ano Sacerdotal, proposto por Bento XVI, celebra-se no contexto dos 150 anos da morte São João Maria Vianney, patrono dos párocos e, a partir de agora, também padroeiro de todos os sacerdotes.
"Este ano deve ser tempo de graça para toda Igreja e especialmente para nós, sacerdotes", disse o arcebispo, que pediu um esforço de todos para configurar a vida a Cristo.
Trata-se, segundo Dom Damasceno, de um "ano de renovação da espiritualidade de cada presbítero e de todo presbitério". Este "deve ser um ano de oração dos sacerdotes e por eles", disse.
Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, dia de oração pela santificação dos sacerdotes, o arcebispo convidou as comunidades a "intensificar" as orações pelos padres "em todo mundo", e também intensificar as preces "pelo aumento das vocações sacerdotais".
O coração de Jesus aberto é "manifestação suprema do amor de Deus", coração que "ama profundamente, até o fim". "Que fazer para responder a este amor imenso?".
Dom Damasceno indicou, citando palavras de Santa Margarida Maria Alacoque, que se deve aproximar do coração de Jesus "sem temor", mas com "amorosa confiança".
Os presbíteros devem ser "cheios de misericórdia", sobretudo na administração do sacramento do perdão.
Devemos "conformar nossa vida a Jesus". Ser padre significa ser "exemplo do Bom Pastor", "homens de misericórdia e compaixão, de coração pleno e solidário com os que sofrem todas as formas de pobreza".
O arcebispo convidou a que este ano seja um "chamado à conversão", para que "Cristo Bom Pastor viva em nós e atue por meio de nós".
Após a homilia, Dom Damasceno dirigiu-se aos sacerdotes e se procedeu à renovação das promessas sacerdotais.
Mudança climática, desafio aos estilos de vida e à solidariedade
Afirma a Comissão dos Episcopados da Comunidade EuropeiaBRUXELAS, quinta-feira, 18 de junho de 2009 (ZENIT.org).- A Comissão dos Episcopados da Comunidade Europeia (COMECE) considera que a mudança climática é um desafio para os estilos de vida, a solidariedade e a justiça mundial.
Em comunicado enviado a ZENIT, no contexto de um seminário realizado ontem, a COMECE assinala que seis meses antes da Conferência das Nações Unidas sobre a mudança climática, em Copenhague, as Igrejas e suas organizações têm debatido com representantes da União Europeia sobre a dimensão ética da luta contra a mudança climática.Representantes da Comissão Europeia, do Parlamento Europeu e dos Estados membros trocaram seus pontos de vista com representantes das Igrejas sobre a base dos dados científicos mais recentes relativos à mudança climática.
Dados recentes apontam que o objetivo de reduzir as emissões de gases causadores do efeito estufa fixado para 2020 não é suficiente.
Helga Kromp-Kolb, meteorologista de reconhecimento internacional, declarou que 30% não são suficientes; 2°C é algo muito elevado e 2020 é muito tarde".
Karl Falkenberg, diretor geral de meio ambiente na Comissão Europeia, declarou que o resultado em Copenhague não será positivo se não chegarmos a convencer outros grandes países produtores de emissões tais como China, Índia ou Rússia de que se comprometam perante isso".
Bernd Nilles, secretário-geral da CIDSE (agências católicas de desenvolvimento) recordou que a luta contra a mudança climática deve estar fortemente ligada a políticas de ajuda ao desenvolvimento. Ele advertiu contra a falta de solidariedade com os países em vias de desenvolvimento. "Em Copenhague, precisamos de respostas, não de desculpas", disse.Já o secretário-geral da COMECE, padre Piotr Mazurkiewicz, afirmou que "uma resposta eficaz à mudança climática requer liderança política e uma reflexão séria. A questão que se apresenta é saber o que é uma vida boa e feliz".
Apoiando-se em vários informes de especialistas e em documentos de reflexão publicados pelas Igrejas e seus diversos organismos, os participantes indicaram que a necessidade de mudar os estilos de vida pode ser transmitida de maneira mais eficaz pela educação em todos os níveis e pela promoção e consumo duradouro".
(Nieves San Martín)
CNBB manifesta reconhecimento a padre assassinado
Investigações revelam que assessor do Setor Juventude foi vítima de latrocínio
BRASÍLIA, quinta-feira, 18 de junho de 2009 (ZENIT.org).- A CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) manifestou seu reconhecimento e prestou homenagem ao padre Gisley Azevedo Gomes, assessor do Setor Juventude do organismo, morto a tiros no último domingo, nas proximidades de Brasília. As investigações revelam latrocínio.O presidente da CNBB, Dom Geraldo Lyrio Rocha, presidiu à missa de corpo presente na tarde de ontem, na paróquia Santa Cruz e Santa Edwiges, em Brasília.
"A CNBB, representada por mim e pelos meus irmãos bispos aqui presentes, quer manifestar seu reconhecimento ao padre Gisley por sua dedicação, seu amor, sua doação à Pastoral da Juventude e ao Setor Juventude da CNBB", disse Dom Geraldo Lyrio, segundo informa o organismo episcopal.
"O padre Gisley sempre foi um homem de Deus, vivenciando as dores e as mazelas da juventude, mesmo assim lutava e batalhava para que estes jovens saíssem da atual conjuntura de pobreza, marginalização e violência."
Na homilia da missa, o bispo responsável pelo Setor Juventude da CNBB, Dom Eduardo Pinheiro, destacou as qualidades do sacerdote.
"Um homem dedicado a Deus e querido por todos os que o cercavam, seja na CNBB ou na Pastoral, seja nas comunidades mais humildes onde atuava". "Por isso digo que quem promove a paz é chamado de filho de Deus. Padre Gisley, você promoveu a paz, por isso, meu querido irmão, você foi um filho de Deus. Obrigado padre Gisley", disse, referindo-se ao texto do evangelho proclamado na celebração.
Ao final da celebração, foram prestadas breves homenagens ao padre Gisley. O secretário geral da CNBB, Dom Dimas Lara Barbosa, leu a nota emitida pela CNBB na terça-feira, em que se reafirma "a urgência de toda a sociedade se mobilizar para pôr fim à violência que ceifa vidas tão precocemente".
Em coletiva de imprensa, Dom Dimas recordou que "o padre Gisley tinha uma preocupação com o extermínio dos jovens. Por isso o trabalho dele era essencial e era admirado e respeitado por todos. Lamentamos profundamente que ele tenha sido vítima da violência em cujo combate tanto se empenhou".
O secretário da CNBB elogiou a polícia do Distrito Federal, que prendeu os criminosos e encontrou o corpo em pouco mais 24 horas. Já na terça, a polícia deteve três homens e um menor que teriam participado do crime.
Dos três maiores presos, um foi solto. O delegado que investiga o caso explicou à imprensa que um dos criminosos tinha o contato do padre e o chamou. Quando o sacerdote chegou em seu veículo, eles deram voz de assalto e em seguida efetuaram três disparos.
Após a missa, o corpo do padre Gisley seguiu para a cidade de Morrinhos (Goiás), sua terra natal, para o sepultamento.
Em foco Igreja de Cristo é toda um povo sacerdotal, afirmam bispos de Portugal
CEP espera que Ano Sacerdotal seja "fecundo"
LISBOA, quinta-feira, 18 de junho de 2009 (ZENIT.org).- A CEP (Conferência Episcopal Portuguesa), reunida em assembleia plenária esta semana, em Fátima, na véspera da abertura do Ano Sacerdotal expressou seu agradecimento aos sacerdotes e disse esperar que este ano seja "fecundo"."A Igreja de Cristo é toda ela um povo sacerdotal. A vida e o ministério dos sacerdotes ordenados nasce do povo sacerdotal e a ele se destina, em dedicação plena de alma e coração", afirmam os bispos em um comunicado final da plenária.
"Os sacerdotes são imprescindíveis para a vida da Igreja. Importa pôr sempre em relevo a beleza da sua entrega a Cristo e do seu serviço apostólico às pessoas e comunidades cristãs, abertos ao mundo."
Os bispos de Portugal saúdam todos os sacerdotes, "desde os mais idosos que já não podem trabalhar, mas cuja oração e exemplo são ajuda e estímulo para todos, aos mais novos, de quem esperamos fidelidade criativa e dinamismo para a renovação da Igreja".
Os prelados apelam "à generosidade das comunidades cristãs e das famílias para que abram horizontes vocacionais aos seus filhos e agradecem a solicitude e desvelo de todos os que trabalham na pastoral vocacional e na formação dos sacerdotes, particularmente nos seminários".
Cáritas faz apelo por conversações de paz na Coreia do Norte
Afirma que é preciso aliviar o sofrimento dos pobres para acabar com a crise
CIDADE DO VATICANO, terça-feira, 16 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Cáritas afirma que aliviar o sofrimento dos pobres na Coreia do Norte, em lugar de uma ação militar, deve ser o componente chave para acabar com a atual crise.Os membros da Cáritas Internacional da Ásia, América do Norte e Europa reuniram-se na China na semana passada para discutir a situação na península da Coreia entre as crescentes tensões existentes ali, informa o portal da Cáritas Internacional.A ONU impôs sanções à Coreia do Norte após o governo de Pyongyang realizar testes com armas nucleares e optar por reforçar seu programa armamentista.
Cáritas pede a desnuclearização da região se se quer apoiar o desenvolvimento pacífico.
A organização caritativa da Igreja urge a que haja conversações de paz com soluções práticas para os norte-coreanos como melhor modo para evitar qualquer escalada de ação militar. Cáritas afirma que recorrer ao confronto armado trará consequências devastadoras para os pobres da Coreia do Norte e desestabilizaria a região.
A crise humanitária na Coreia do Norte continua. Ao menos 8,7 milhões de pessoas no país necessitam de ajuda alimentar (de uma população de 23 milhões). O número atual que recebe ajuda é muito menor e a ajuda está sendo cortada devido à falta de fundos. Em muitos setores, como nas infraestruturas de saúde e educação, o país está à beira do colapso.
A secretária-geral da Cáritas Internacional, Lesley-Anne Knight, declara que a intervenção armada "em resposta às ações beligerantes da Coreia do Norte será apenas causa de uma ulterior tragédia humana e de sofrimento para a população do país".
"Negociações genuínas com soluções concretas para melhorar as condições de vida diárias das pessoas são passos vitais para reduzir o sofrimento e colaborar com a Coreia do Norte para encontrar uma solução para esta crise", acrescenta.
"A situação desesperadora de muitos norte-coreanos os faz necessitar da intervenção da comunidade internacional. A maior parte da população é altamente vulnerável, vivendo em um estado precário, em que as necessidades básicas não estão cobertas. Não deveriam ser vítimas das provocações de seu governo", sublinha a secretária-geral da Cáritas Internacional.
Cáritas está dando prioridade através de seus programas às crianças, mulheres e anciãos que estão mais afetados. Durante vários anos, Cáritas proporcionou assistência humanitária aos mais pobres da Coreia do Norte. Continuará mobilizando ajuda e implementando programas efetivos nas áreas da distribuição de alimentos, saúde e educação, junto com seus sócios locais e regionais. A rede global de Cáritas trabalha através de seu membro, Cáritas Coreia, na coordenação de todas as atividades.
A entidade considera que a ação humanitária ao povo norte-coreano terá de ser encarada como um compromisso de longo prazo com o país.
(Nieves San Martín)
Flash Novo site vaticano para Ano Sacerdotal
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 19 de junho de 2009 (ZENIT.org).- A Congregação para o Clero lançou um site dedicado ao Ano Sacerdotal, inaugurado nesta sexta-feira por Bento XVI, www.annussacerdotalis.org .O cardeal Cláudio Hummes, OFM, prefeito da congregação vaticana, fez o anúncio através de um comunicado no qual explica que esta iniciativa pretende acompanhar a vida dos sacerdotes, de maneira particular ao longo deste ano.
O site "tem como específica finalidade a ajuda concreta, com notas espirituais, notícias várias e documentos, todos referentes ao Ano Sacerdotal", esclarece o purpurado brasileiro.
"O Ano Sacerdotal está sendo muito bem recebido no mundo inteiro – constata o cardeal Hummes. A repercussão positiva é imediata. Participemos, portanto, com empenho e criatividade."
O novo site está disponível em espanhol, italiano, francês, alemão e português.
Entrevistas Comunismo e fraturas ideológicas explicam lenda contra Pio XII
Entrevista com o diretor de L'Osservatore Romano
CIDADE DO VATICANO, terça-feira 16 de junho de 2009 (ZENIT.org).- A "lenda negra" sobre o Papa Pio XII (Eugenio Pacelli), que o acusa de proximidade com o nazismo, tem duas causas, segundo o diretor de L'Osservatore Romano: a propaganda comunista e as divisões dentro da Igreja.Giovanni Maria Vian as expôs em uma entrevista concedida a Zenit por ocasião da publicação de um livro que ele coordenou, intitulado "Em defesa de Pio XII. As razões da história" (In difesa di Pio XII. Le ragioni della storia).
O livro foi apresentado na quarta-feira passada pelo cardeal secretário de Estado, Tarcisio Bertone, e pelos historiadores Giorgio Israel (Universidade de Roma La Sapienza), Paolo Mieli (Universidade de Milão, diretor em dois períodos do jornal Il Corriere della Sera) e Roberto Pertici (Universidade de Bérgamo).
O diretor do jornal vaticano, historiador, não hesita em utilizar a expressão "lenda negra", pois, de fato, o Papa Pacelli – que, ao morrer, em 1958, recebeu elogios unânimes pela obra desempenhada durante a 2ª Guerra Mundial – depois foi realmente "demonizado".
Como foi possível uma mudança tão radical de sua imagem em poucos anos, mais ou menos a partir de 1963?
Propaganda comunista
Vian atribui esta campanha contra o Papa, em primeiro lugar, à propaganda comunista, que se intensificou na época da Guerra Fria.
"A linha assumida nos anos do conflito pelo Papa e pela Santa Sé, contrária os totalitarismos, mas tradicionalmente neutra, foi, na prática, favorável à aliança contra Hitler e se caracterizou por um esforço humanitário sem precedentes que salvou muitíssimas vidas humanas", observa.
"Esta linha foi, de qualquer forma, anticomunista e por isso, já durante a guerra, o Papa começou a ser acusado pela propaganda soviética de cumplicidade com o nazismo e seus horrores."
O historiador considera que, "ainda que Eugenio Pacelli sempre tenha sido anticomunista, nunca pensou que o nazismo pudesse ser útil para deter o comunismo, muito pelo contrário", e o prova com dados históricos.
Em primeiro lugar, "apoiou, entre o outono de 1939 e a primavera de 1940, nos primeiros meses da guerra, a tentativa de golpe contra o regime de Hitler por parte de círculos militares alemães em contato com os britânicos".
Em segundo lugar, Vian explica que, após o ataque da Alemanha à União Soviética, em meados de 1941, Pio XII em um primeiro momento se negou a que a Santa Sé se unisse à "cruzada" contra o comunismo – como era apresentada – e depois dedicou suas energias a superar a oposição de muitos católicos americanos à aliança dos Estados Unidos com a União Soviética contra o nazismo.
A propaganda soviética, recorda o especialista, foi recolhida eficazmente pela peça teatral Der Stellvertreter ("O vigário"), de Rolf Hochhuth, representada pela primeira vez em Berlim, no dia 20 de fevereiro de 1963, em que se apresentava o silêncio como indiferença diante do extermínio de judeus.
Já naquele então, constata Vian, denunciou-se que a obra teatral relança muitas das acusações de Mijail Markovich Scheinmann no livro Der Vatican im Zweiten Weltkrieg ("O Vaticano na 2ª Guerra Mundial"), publicado antes em russo pelo Instituto Histórico da Academia Soviética das Ciências, órgão de propaganda da ideologia comunista.
E uma nova prova da oposição de Pio XII ao nazismo é o fato de que os chefes do Terceiro Reich consideravam o Papa como um autêntico inimigo, segundo demonstram os documentos dos arquivos alemães, que não por acaso haviam sido fechados pela Alemanha comunista e que só puderam ser abertos e estudados recentemente, como mostra um artigo de Marco Ansaldo no jornal italiano La Repubblica, de 29 de março de 2007.
O livro editado por Vian recolhe um texto do jornalista e historiador Paolo Mieli, um escrito póstumo de Saul Israel, biólogo, médico e escritor judeu, artigos de Andrea Riccardi, historiador e fundador da Comunidade de S. Egídio, dos arcebispos Rino Fisichella, presidente da Academia Pontifícia para a Vida, e Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício para a Cultura, do cardeal Tarcisio Bertone, secretário de Estado e, por último, uma homilia e dois discursos de Bento XVI, pronunciados em memória de Pio XII.
Divisão eclesial
Mas a "lenda negra" contra Pio XII também teve promotores dentro da Igreja, por causa da divisão entre progressistas e conservadores, que se acentuou durante e depois do Concílio Vaticano II, anunciado em 1959 e clausurado em 1965, afirma o diretor.
"Seu sucessor, João XXIII – Angelo Giuseppe Roncalli –, foi logo apresentado como o 'Papa Bom' e, pouco a pouco, foi contraposto ao seu predecessor: pelo caráter e pelo estilo totalmente diferentes, mas também pela decisão inesperada e surpreendente de convocar um concílio."
As críticas católicas ao Papa Pacelli haviam sido precedidas, em 1939, pelos interrogantes do filósofo católico francês Emmanuel Mounier, quem repreendeu o "silêncio" do Papa diante da agressão italiana da Albânia.
Pio XII foi criticado também por "ambientes de poloneses no exílio", que jogavam na sua cara o silêncio frente à ocupação alemã.
Deste modo, quando, a partir dos anos 60, aguçou-se na Igreja a polarização, os católicos que se opunham aos conservadores atacavam Pio XII, dado que ele era visto como um símbolo destes últimos, alimentando ou utilizando argumentos recolhidos da "lenda negra".
Justiça histórica
O diretor de L'Osservtore Romano sublinha que seu livro não nasce de uma tentativa de defesa prejudicial do Papa, "pois Pio XII não tem necessidade de apologistas que não ajudam a esclarecer a questão histórica".
No que se refere aos silêncios de Pio XII, não somente diante da perseguição judaica (denunciada sem grandes alardes, mas criticada de maneira inequívoca na mensagem natalina de 1942 e no discurso aos cardeais, de 2 de junho de 1943), mas também diante de outros crimes nazistas,o historiador destaca que esta linha de comportamento buscava que não se agravasse a situação das vítimas, enquanto o pontífice se mobilizava para ajudá-las nesta situação.
"O próprio Pacelli se perguntou em várias ocasiões por esta atitude. Foi, portanto, uma opção consciente e dura para ele de buscar a salvação do maior número de vidas humanas ao invés de denunciar continuamente o mal com o risco real de que os horrores fossem maiores ainda", explica Vian.
No livro, Paolo Mieli, de origem judaica, afirma neste sentido: "Aceitar as acusações contra Pacelli implica em levar ao banco dos supostos culpáveis, com as mesmas acusações, Roosevelt e Churchill, acusando-os de não ter pronunciado palavras mais claras contra as perseguições antissemitas".
Recordando que membros da sua família morreram no Holocausto, Mieli disse literalmente: "Eu me oponho a responsabilizar da morte dos meus familiares uma pessoa que não tem responsabilidade".
O livro publica também um texto inédito de Saul Israel, escrito em 1944, quando, com os demais judeus, ele havia encontrado refúgio no convento de Santo Antônio, na Via Merulana de Roma.
Seu filho, Giorgio Israel, que participou da apresentação do livro, acrescentou: "Não foi um ou outro convento ou um gesto de piedade para poucos; e ninguém pode pensar que toda esta solidariedade que as igrejas e conventos ofereceram ocorreu sem que o Papa soubesse, ou inclusive sem o seu consentimento. A lenda contra Pio XII é a mais absurda de todas as que circulam".
Muito além da "lenda negra"
Vian explica, por último, que o livro que ele editou não pretende centrar-se na questão da "lenda negra". Mais ainda, "meio século depois da morte de Pio XII (9 de outubro de 1958) e 70 aos após sua eleição (2 de março de 1939), parece criar-se um novo acordo historiográfico sobre a importância histórica da figura e do pontificado do Eugenio Pacelli".
O objetivo do livro é sobretudo contribuir para restituir à história e à memória dos católicos um Papa e um pontificado de importância capital em muitos aspectos que, na opinião pública, continuam sendo ofuscados pela polêmica suscitada pela "lenda negra".
Angelus Bento XVI: Pão no caminho para liberdade, justiça e paz
CIDADE DO VATICANO, domingo, 14 de junho 2009 (ZENIT.org).- Publicamos as palavras que Bento XVI pronunciou hoje ao rezar a oração mariana do Angelus junto a milhares de peregrinos congregados na praça de São Pedro, no Vaticano.***
Queridos irmãos e irmãs:
Celebra-se hoje em vários países, entre os quais a Itália, o Corpus Christi, a festa da Eucaristia, na qual o Sacramento do Corpo do Senhor é levado solenemente em procissão. Que significa para nós esta festa? Não apenas faz referência ao aspecto litúrgico; na realidade, o Corpus Christi é um dia que envolve a dimensão cósmica, o céu e a terra. Evoca, antes de tudo, ao menos em nosso hemisfério, este tempo tão belo e perfumado em que a primavera converte-se em verão, o sol brilha com intensidade no céu e nos campos amadurece o trigo. As festas da Igreja, igual às judaicas, estão relacionadas com o ritmo do ano solar, da semeadura e da colheita. Em particular, isso se destaca na solenidade deste dia, em cujo centro está o pão, fruto da terra e do céu. Por este motivo, o pão eucarístico é sinal visível d'Aquele em que o céu e a terra, Deus e homem, converteram-
se em uma só coisa. E isso mostra que a relação com as estações não é para o ano litúrgico algo simplesmente exterior. A solenidade do Corpus Christi está intimamente ligada à Páscoa e ao Pentecostes: a morte e a ressurreição de Jesus e a efusão do Espírito Santo constituem seus pressupostos. Ademais, está intimamente ligada à festa da Trindade, celebrada no domingo passado: só porque Deus mesmo é relação se pode dar uma relação com Ele; e só porque é amor pode amar e ser amado. Deste modo, o Corpus Christi é uma manifestação de Deus, um testemunho de que Deus é amor. De maneira única e peculiar, esta festa nos fala do amor divino, do que é e do que faz. Diz-nos, por exemplo, que regenera ao entregar-se a si mesmo, que se recebe ao dar, que não se desvirtua nem se consome, como canta um hino de São Tomás de Aquino: "nec sumptus consumitur". O amor tudo transforma e, portanto, compreende-se que no centro desta festa do Corpus Christi encontra-se o mistério da transubstanciação, sinal de Jesus-Caridade, que transforma o mundo. Ao contemplá-lo e adorá-lo, dizemos: sim, o amor existe, e dado que existe, as coisas podem mudar para melhor e nós podemos esperar. A esperança que procede do amor de Cristo nos dá força para viver e enfrentar as dificuldades. Por isso, cantamos, enquanto levamos em procissão o Santíssimo Sacramento; cantamos e louvamos a Deus que se revelou a nós escondendo-se no sinal do pão partido. Deste Pão todos temos necessidade, pois é longo e cansativo o caminho para a liberdade, a justiça e a paz.
Podemos imaginar com quanta fé e amor a Virgem terá recebido e adorado em seu coração a santa Eucaristia! Cada vez era para ela como reviver todo o mistério de seu Filho Jesus: desde a concepção até a ressurreição. "Mulher eucarística" chamou-a e venerou-a me predecessor, João Paulo II. Aprendamos dela a renovar continuamente nossa comunhão com o Corpo de Cristo para amar-nos uns aos outros como Ele nos amou.
[Traduzido por Zenit
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]
Documentação Homilia do Papa ao inaugurar o Ano Sacerdotal
Nas vésperas presididas na Basílica de São Pedro
CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 19 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a homilia que Bento XVI pronunciou nesta sexta-feira à tarde, ao inaugurar o Ano Sacerdotal, durante as vésperas da solenidade do Sagrado Coração de Jesus, que ele presidiu na Basílica Vaticana.* * *
Queridos irmãos e irmãs:
Na antífona do Magnificat, dentro de pouco, cantaremos: "O Senhor nos acolheu em seu coração", "Suscepit nos Dominus in sinum et cor suum". No Antigo Testamento, fala-se 26 vezes do coração de Deus, considerado como o órgão da sua vontade: em referência ao coração de Deus, o homem é julgado. Por causa da dor que seu coração sente pelos pecados do homem, Deus decide o dilúvio, mas depois se comove diante da fraqueza humana e perdoa. Depois, há uma passagem do Antigo Testamento em que o tema do coração de Deus se expressa de maneira totalmente clara: encontra-se no capítulo 11 do livro do profeta Oseias, em que os primeiros versículos descrevem a dimensão do amor com que o Senhor se dirige a Israel na aurora de sua história: "Quando Israel era menino, eu o amei e do Egito chamei meu filho" (v. 1). Na realidade, à incansável predileção divina, Israel responde com indiferença e inclusive com ingratidão. "Mas quanto mais os chamava, tanto mais eles se afastavam de mim" (v. 2). No entanto, Ele não abandona Israel nas mãos dos inimigos, pois "meu coração se contorce dentro de mim, minhas entranhas comovem-se" (v. 8).
O coração de Deus se estremece de compaixão! Na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, a Igreja apresenta este mistério à nossa contemplação, o mistério do coração de um Deus que se comove e oferece todo o seu amor à humanidade. Um amor misterioso, que nos textos do Novo Testamento nos é revelado como incomensurável paixão de Deus pelo homem. Não se rende diante da ingratidão, nem sequer diante da rejeição do povo que Ele escolheu; mais ainda, com infinita misericórdia, envia ao mundo seu Filho unigênito para que carregue sobre si o destino do amor destruído; para que, derrotando o poder do mal e da morte, possa restituir a dignidade de filhos aos seres humanos escravizados pelo pecado. Tudo isso com um preço muito caro: o Filho unigênito do Pai se imola na cruz: "Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim" (cf. João 13, 1). Símbolo deste amor que vai muito além da morte é seu lado atravessado por uma lança. Neste sentido, uma testemunha ocular – o apóstolo João – afirma: "Um dos soldados traspassou-lhe o lado com uma lança e imediatamente saiu sangue e água" (cf. João 19, 34).
Queridos irmãos e irmãs: obrigado, pois, respondendo ao meu convite, viestes em grande número a esta celebração, pela qual entramos no Ano Sacerdotal. Saúdo os senhores cardeais e os bispos, em particular o cardeal prefeito e o secretário da Congregação para o Clero, junto a seus colaboradores, e o bispo de Ars. Saúdo os sacerdotes e seminaristas dos colégios de Roma; os religiosos e religiosas e a todos os fiéis. Dirijo uma saudação especial a Sua Beatitude Ignace Youssef Younan, patriarca de Antioquia dos Sírios, que veio a Roma para visitar-me e manifestar publicamente a ecclesiastica communio (comunhão eclesial, N. da T.), que lhe foi concedida.
Queridos irmãos e irmãs: detenhamo-nos para contemplar juntos o Coração traspassado do Crucificado. Mais uma vez, acabamos de escutar, na breve leitura tomada da carta de São Paulo aos Efésios, que "Deus, que é rico em misericórdia, pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos em nossos delitos, nos vivificou juntamente com Cristo – pela graça fostes salvos! – e com ele nos ressuscitou e nos fez assentar nos céus, em Cristo Jesus" (Efésios 2, 4-6). Estar em Cristo Jesus significa já sentar-se nos céus. No Coração de Jesus se expressa o núcleo essencial do cristianismo; em Cristo nos é revelada e entregue toda a novidade revolucionária do Evangelho: o Amor que nos salva e nos faz viver já na eternidade de Deus. O evangelista João escreve: "Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna" (3, 16). Seu Coração divino chama então nosso coração; convida-nos a sair de nós mesmos e a abandonar nossas seguranças humanas para fiar-nos d'Ele e, seguindo seu exemplo, a fazer de nós mesmos um dom de amor sem reservas.
Se é verdade que o convite de Jesus a "permanecer em seu amor" (cf. João 15, 9) se dirige a todo batizado, na festa do Sagrado Coração de Jesus, Dia de Santificação Sacerdotal, este convite ressoa com maior força para nós, sacerdotes, em particular nesta tarde, solene início do Ano Sacerdotal, que convoquei por ocasião do 150º aniversário da morte do Santo Cura de Ars. Vem-me imediatamente à mente uma bela e comovedora afirmação, referida no Catecismo da Igreja Católica: "O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus" (n. 1589). Como não recordar com comoção que diretamente desse Coração manou o dom do nosso ministério sacerdotal? Como esquecer que nós, presbíteros, fomos consagrados para servir, humilde e autorizadamente, ao sacerdócio comum dos fiéis? Nossa missão é indispensável para a Igreja e para o mundo, que exige fidelidade plena a Cristo e uma incessante união com Ele; isto é, exige que busquemos constantemente a santidade, como fez São João Maria Vianney. Na carta que vos dirigi por ocasião deste ano jubilar especial, queridos sacerdotes, eu quis sublinhar alguns aspectos que qualificam nosso ministério, fazendo referência ao exemplo e ao ensinamento do Santo Cura de Ars, modelo e protetor de todos os sacerdotes, em particular dos párocos. Espero que este meu texto vos sirva de ajuda e estímulo para fazer deste ano uma ocasião propícia para crescer na intimidade com Jesus, que conta conosco, seus ministros, para difundir e consolidar seu Reino, para difundir seu amor, sua verdade. E, portanto, "a exemplo do Santo Cura de Ars, deixai-vos conquistar por Ele e sereis, também vós, no mundo de hoje, mensageiros de esperança, reconciliação e paz".
Deixar-se conquistar totalmente por Cristo! Este foi o objetivo de toda a vida de São Paulo, a quem dirigimos nossa atenção durante o Ano Paulino, que já está terminando; esta foi a meta de todo o ministério do Santo Cura de Ars, a quem invocaremos particularmente durante o Ano Sacerdotal; que este seja também o principal objetivo de cada um de nós. Para ser ministros ao serviço do Evangelho, é certamente útil e necessário o estudo com uma atenta e permanente formação pastoral, mas é ainda mais necessária essa "ciência do amor", que só se aprende de "coração a coração" com Cristo. Ele nos chama a partir o pão do seu amor, a perdoar os pecados e a guiar o rebanho em seu nome. Precisamente por este motivo, não podemos nos afastar nunca do manancial do amor que é seu Coração atravessado na cruz.
Somente assim seremos capazes de cooperar eficazmente com o misterioso "desígnio do Pai", que consiste em "fazer de Cristo o coração do mundo", desígnio que se realiza na história na medida em que Jesus se converte no Coração dos corações humanos, começando por aqueles que estão chamados a estar mais perto d'Ele, os sacerdotes. As "promessas sacerdotais" que pronunciamos no dia da nossa ordenação e que renovamos cada ano, na Quinta-Feira Santa, na Missa Crismal, voltam a nos recordar este constante compromisso. Inclusive nossas carências, nossos limites e fraquezas devem nos conduzir ao Coração de Jesus. Se é verdade que os pecadores, ao contemplá-lo, devem aprender a necessária "dor dos pecados" que volta a conduzi-los ao Pai, isso se aplica ainda mais aos ministros sagrados. "Como esquecer que nada faz a Igreja, Corpo de Cristo, sofrer mais que os pecados dos seus pastores, sobretudo daqueles que se convertem em "ladrões de ovelhas" (João 10, 1ss), seja porque as desviam com suas doutrinas privadas, seja porque as atam com os laços do pecado e da morte? Também para nós, queridos sacerdotes, aplica-se o chamado à conversão e a recorrer à Misericórdia Divina, e igualmente devemos dirigir com humildade incessante a súplica ao Coração de Jesus para que nos preserve do terrível risco de causar dano àqueles a quem devemos salvar.
Há pouco, pude venerar, na Capela do Coro, a relíquia do Santo Cura de Ars: seu coração. Um coração inflamado de amor divino, que se comovia frente ao pensamento da dignidade do sacerdote e falava aos fiéis com tons tocantes e sublimes, afirmando que "depois de Deus, o sacerdote é tudo!... Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu" (cf. Carta para o Ano Sacerdotal). Cultivemos, queridos irmãos, esta mesma comoção, seja para cumprir nosso ministério com generosidade e dedicação, seja para custodiar na alma um verdadeiro "temor de Deus": temor de poder privar de tanto bem, por nossa negligência ou culpa, as almas que nos foram confiadas, ou de poder causar-lhes dano. Que Deus não o permita! A Igreja tem necessidade de sacerdotes santos, de ministros que ajudem os fiéis a experimentar o amor misericordioso do Senhor e sejam suas testemunhas convictas. Na adoração eucarística, após a celebração das Vésperas, pediremos ao Senhor que inflame o coração de cada presbítero com essa caridade pastoral capaz de fundir seu "eu" no de Jesus sacerdote, para assim poder imitá-lo na mais completa entrega de si mesmo. Que nos obtenha esta graça a Virgem Mãe, de quem amanhã contemplaremos com viva fé o Coração Imaculado. O Santo Cura de Ars vivia uma filial devoção por ela, até o ponto de que, em 1836, antecipando-
se à proclamação do dogma da Imaculada Conceição, já havia consagrado sua paróquia a Maria "concebida sem pecado". E manteve o costume de renovar frequentemente esta oferenda da paróquia à Santa Virgem, ensinando aos fiéis que "basta dirigir-se a ela para ser escutados", pela simples razão de que ela "deseja sobretudo ver-nos felizes". Que Nossa Senhora, nossa Mãe, nos acompanhe no Ano Sacerdotal que iniciamos hoje, para que possamos ser guias firmes e iluminados para os fiéis que o Senhor confia aos nossos cuidados pastorais. Amém! [Tradução: Aline Banchieri.
© Copyright 2009 - Libreria Editrice Vaticana]
Carta do Papa aos sacerdotes com ocasião do Ano Sacerdotal
Uma nova primavera para a IgrejaCIDADE DO VATICANO, quinta-feira, 18 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a carta que Bento XVI enviou para os sacerdotes do mundo ao começar o Ano Sacerdotal, que o pontífice proclamou com motivo do 150° aniversário da morte (dies natalis) de São João Maria Vianney, conhecido como cura d'Ars.
* * *
Amados irmãos no sacerdócio,
Na próxima solenidade do Sacratíssimo Coração de Jesus, sexta-feira 19 de Junho de 2009 – dia dedicado tradicionalmente à oração pela santificação do clero – tenho em mente proclamar oficialmente um «Ano Sacerdotal» por ocasião do 150.º aniversário do «dies natalis» de João Maria Vianney, o Santo Patrono de todos os párocos do mundo.[1] Tal ano, que pretende contribuir para fomentar o empenho de renovação interior de todos os sacerdotes para um seu testemunho evangélico mais vigoroso e incisivo, terminará na mesma solenidade de 2010. «O sacerdócio é o amor do Coração de Jesus»: costumava dizer o Santo Cura d'Ars.[2] Esta tocante afirmação permite-nos, antes de mais nada, evocar com ternura e gratidão o dom imenso que são os sacerdotes não só para a Igreja mas também para a própria humanidade. Penso em todos os presbíteros que propõem, humilde e quotidianamente, aos fiéis cristãos e ao mundo inteiro as palavras e os gestos de Cristo, procurando aderir a Ele com os pensamentos, a vontade, os sentimentos e o estilo de toda a sua existência. Como não sublinhar as suas fadigas apostólicas, o seu serviço incansável e escondido, a sua caridade tendencialmente universal? E que dizer da fidelidade corajosa de tantos sacerdotes que, não obstante dificuldades e incompreensões, continuam fiéis à sua vocação: a de «amigos de Cristo», por Ele de modo particular chamados, escolhidos e enviados?
Eu mesmo guardo ainda no coração a recordação do primeiro pároco junto de quem exerci o meu ministério de jovem sacerdote: deixou-me o exemplo de uma dedicação sem reservas ao próprio serviço sacerdotal, a ponto de encontrar a morte durante o próprio acto de levar o viático a um doente grave. Depois repasso na memória os inumeráveis irmãos que encontrei e encontro, inclusive durante as minhas viagens pastorais às diversas nações, generosamente empenhados no exercício diário do seu ministério sacerdotal. Mas a expressão utilizada pelo Santo Cura d'Ars evoca também o Coração traspassado de Cristo com a coroa de espinhos que O envolve. E isto leva o pensamento a deter-se nas inumeráveis situações de sofrimento em que se encontram imersos muitos sacerdotes, ou porque participantes da experiência humana da dor na multiplicidade das suas manifestações, ou porque incompreendidos pelos próprios destinatários do seu ministério: como não recordar tantos sacerdotes ofendidos na sua dignidade, impedidos na sua missão e, às vezes, mesmo perseguidos até ao supremo testemunho do sangue?
Infelizmente existem também situações, nunca suficientemente deploradas, em que é a própria Igreja a sofrer pela infidelidade de alguns dos seus ministros. Daí advém então para o mundo motivo de escândalo e de repulsa. O máximo que a Igreja pode recavar de tais casos não é tanto a acintosa relevação das fraquezas dos seus ministros, como sobretudo uma renovada e consoladora consciência da grandeza do dom de Deus, concretizado em figuras esplêndidas de generosos pastores, de religiosos inflamados de amor por Deus e pelas almas, de directores espirituais esclarecidos e pacientes. A este respeito, os ensinamentos e exemplos de S. João Maria Vianney podem oferecer a todos um significativo ponto de referência. O Cura d'Ars era humilíssimo, mas consciente de ser, enquanto padre, um dom imenso para o seu povo: «Um bom pastor, um pastor segundo o coração de Deus, é o maior tesouro que o bom Deus pode conceder a uma paróquia e um dos dons mais preciosos da misericórdia divina».[3] Falava do sacerdócio como se não conseguisse alcançar plenamente a grandeza do dom e da tarefaconfiados a uma criatura humana: «Oh como é grande o padre! (…) Se lhe fosse dado compreender-
se a si mesmo, morreria. (…) Deus obedece-lhe: ele pronuncia duas palavras e, à sua voz, Nosso Senhor desce do céu e encerra-se numa pequena hóstia».[4] E, ao explicar aos seus fiéis a importância dos sacramentos, dizia: «Sem o sacramento da Ordem, não teríamos o Senhor. Quem O colocou ali naquele sacrário? O sacerdote. Quem acolheu a vossa alma no primeiro momento do ingresso na vida? O sacerdote. Quem a alimenta para lhe dar a força de realizar a sua peregrinação? O sacerdote. Quem a há-de preparar para comparecer diante de Deus, lavando-a pela última vez no sangue de Jesus Cristo? O sacerdote, sempre o sacerdote. E se esta alma chega a morrer [pelo pecado], quem a ressuscitará, quem lhe restituirá a serenidade e a paz? Ainda o sacerdote. (…) Depois de Deus, o sacerdote é tudo! (…) Ele próprio não se entenderá bem a si mesmo, senão no céu».[5] Estas afirmações, nascidas do coração sacerdotal daquele santo pároco, podem parecer excessivas. Nelas, porém, revela-se a sublime consideração em que ele tinha o sacramento do sacerdócio. Parecia subjugado por uma sensação de responsabilidade sem fim: «Se compreendêssemos bem o que um padre é sobre a terra, morreríamos: não de susto, mas de amor. (…) Sem o padre, a morte e a paixão de Nosso Senhor não teria servido para nada. É o padre que continua a obra da Redenção sobre a terra (…) Que aproveitaria termos uma casa cheia de ouro, senão houvesse ninguém para nos abrir a porta? O padre possui a chave dos tesouros celestes: é ele que abre a porta; é o ecónomo do bom Deus; o administrador dos seus bens (…) Deixai uma paróquia durante vinte anos sem padre, e lá adorar-se-ão as bestas. (…) O padre não é padre para si mesmo, é-o para vós».[6] Tinha chegado a Ars, uma pequena aldeia com 230 habitantes, precavido pelo Bispo de que iria encontrar uma situação religiosamente precária: «Naquela paróquia, não há muito amor de Deus; infundi-lo-eis vós». Por conseguinte, achava-se plenamente consciente de que devia ir para lá a fim de encarnar a presença de Cristo, testemunhando a sua ternura salvífica: «[Meu Deus], concedei-me a conversão da minha paróquia; aceito sofrer tudo aquilo que quiserdes por todo o tempo da minha vida!»: foi com esta oração que começou a sua missão.[7] E, à conversão da sua paróquia, dedicou-se o Santo Cura com todas as suas energias, pondo no cume de cada uma das suas ideias a formação cristã do povo a ele confiado. Amados irmãos no sacerdócio, peçamos ao Senhor Jesus a graça de podermos também nós assimilar o método pastoral de S. João Maria Vianney. A primeira coisa que devemos aprender é a sua total identificação com o próprio ministério. Em Jesus, tendem a coincidir Pessoa e Missão: toda a sua acção salvífica era e é expressão do seu «Eu filial» que, desde toda a eternidade, está diante do Pai em atitude de amorosa submissão à sua vontade. Com modesta mas verdadeira analogia, também o sacerdote deve ansiar por esta identificação. Não se trata, certamente, de esquecer que a eficácia substancial do ministério permanece independentemente da santidade do ministro; mas também não se pode deixar de ter em conta a extraordinária frutificação gerada do encontro entre a santidade objectiva do ministério e a subjectiva do ministro. O Cura d'Ars principiou imediatamente este humilde e paciente trabalho de harmonização entre a sua vida de ministro e a santidade do ministério que lhe estava confiado, decidindo «habitar», mesmo materialmente, na sua igreja paroquial: «Logo que chegou, escolheu a igreja por sua habitação. (…) Entrava na igreja antes da aurora e não saía de lá senão à tardinha depois do Angelus. Quando precisavam dele, deviam procurá-lo lá»: lê-se na primeira biografia.[8]
O exagero devoto do pio hagiógrafo não deve fazer-nos esquecer o facto de que o Santo Cura soube também «habitar» activamente em todo o território da sua paróquia: visitava sistematicamente os doentes e as famílias; organizava missões populares e festas dos Santos Patronos; recolhia e administrava dinheiro para as suas obras sócio-caritativas e missionárias; embelezava a sua igreja e dotava-a de alfaias sagradas; ocupava-se das órfãs da «Providence» (um instituto fundado por ele) e das suas educadoras; tinha a peito a instrução das crianças; fundava confrarias e chamava os leigos para colaborar com ele.
O seu exemplo induz-me a evidenciar os espaços de colaboração que é imperioso estender cada vez mais aos fiéis leigos, com os quais os presbíteros formam um único povo sacerdotal[9] e no meio dos quais, em virtude do sacerdócio ministerial, se encontram «para os levar todos à unidade, "amando-se uns aos outros com caridade fraterna, e tendo os outros por mais dignos" (Rm 12, 10)».[10] Neste contexto, há que recordar o caloroso e encorajador convite feito pelo Concílio Vaticano II aos presbíteros para que «reconheçam e promovam sinceramente a dignidade e participação própria dos leigos na missão da Igreja. Estejam dispostos a ouvir os leigos, tendo fraternalmente em conta os seus desejos, reconhecendo a experiência e competência deles nos diversos campos da actividade humana, para que, juntamente com eles, saibam reconhecer os sinais dos tempos». [11]
O Santo Cura ensinava os seus paroquianos sobretudo com o testemunho da vida. Pelo seu exemplo, os fiéis aprendiam a rezar, detendo-se de bom grado diante do sacrário para uma visita a Jesus Eucaristia.[12] «Para rezar bem – explicava-lhes o Cura –, não há necessidade de falar muito. Sabe-se que Jesus está ali, no tabernáculo sagrado: abramos-Lhe o nosso coração, alegremo-nos pela sua presença sagrada. Esta é a melhor oração».[13] E exortava: «Vinde à comunhão, meus irmãos, vinde a Jesus. Vinde viver d'Ele para poderdes viver com Ele».[14]«É verdade que não sois dignos, mas tendes necessidade!».[15] Esta educação dos fiéis para a presença eucarística e para a comunhão adquiria um eficácia muito particular, quando o viam celebrar o Santo Sacrifício da Missa. Quem ao mesmo assistia afirmava que «não era possível encontrar uma figura que exprimisse melhor a adoração. (...) Contemplava a Hóstia amorosamente».[16] Dizia ele: «Todas as boas obras reunidas não igualam o valor do sacrifício da Missa, porque aquelas são obra de homens, enquanto a Santa Missa é obra de Deus».[17]Estava convencido de que todo o fervor da vida de um padre dependia da Missa: «A causa do relaxamento do sacerdote é porque não presta atenção à Missa! Meu Deus, como é de lamentar um padre que celebra [a Missa] como se fizesse um coisa ordinária!».[18] E, ao celebrar, tinha tomado o costume de oferecer sempre também o sacrifício da sua própria vida: «Como faz bem um padre oferecer-se em sacrifício a Deus todas as manhãs!».[19]
Esta sintonia pessoal com o Sacrifício da Cruz levava-o – por um único movimento interior – do altar ao confessionário. Os sacerdotes não deveriam jamais resignar-se a ver os seus confessionários desertos, nem limitar-se a constatar o menosprezo dos fiéis por este sacramento. Na França, no tempo do Santo Cura d'Ars, a confissão não era mais fácil nem mais frequente do que nos nossos dias, pois a tormenta revolucionária tinha longamente sufocado a prática religiosa. Mas ele procurou de todos os modos, com a pregação e o conselho persuasivo, fazer os seus paroquianos redescobrirem o significado e a beleza da Penitência sacramental, apresentando-
a como uma exigência íntima da Presença eucarística. Pôde assim dar início a um círculo virtuoso. Com as longas permanências na igreja junto do sacrário, fez com que os fiéis começassem a imitá-lo, indo até lá visitar Jesus, e ao mesmo tempo estivessem seguros de que lá encontrariam o seu pároco, disponível para os ouvir e perdoar. Em seguida, a multidão crescente dos penitentes, provenientes de toda a França, haveria de o reter no confessionário até 16 horas por dia. Dizia-se então que Ars se tinha tornado «o grande hospital das almas».[20] «A graça que ele obtinha [para a conversão dos pecadores] era tão forte que aquela ia procurá-los sem lhes deixar um momento de trégua!»: diz o primeiro biógrafo.[21] E assim o pensava o Santo Cura d'Ars, quando afirmava: «Não é o pecador que regressa a Deus para Lhe pedir perdão, mas é o próprio Deus que corre atrás do pecador e o faz voltar para Ele».[22] «Este bom Salvador é tão cheio de amor que nos procura por todo o lado».[23] Todos nós, sacerdotes, deveríamos sentir que nos tocam pessoalmente estas palavras que ele colocava na boca de Cristo: «Encarregarei os meus ministros de anunciar aos pecadores que estou sempre pronto a recebê-los, que a minha misericórdia é infinita».[24] Do Santo Cura d'Ars, nós, sacerdotes, podemos aprender não só uma inexaurível confiança no sacramento da Penitência que nos instigue a colocá-lo no centro das nossas preocupações pastorais, mas também o método do «diálogo de salvação» que nele se deve realizar. O Cura d'Ars tinha maneiras diversas de comportar-se segundo os vários penitentes. Quem vinha ao seu confessionário atraído por uma íntima e humilde necessidade do perdão de Deus, encontrava nele o encorajamento para mergulhar na «torrente da misericórdia divina» que, no seu ímpeto, tudo arrasta e depura. E se aparecia alguém angustiado com o pensamento da sua debilidade e inconstância, temeroso por futuras quedas, o Cura d'Ars revelava-lhe o segredo de Deus com um discurso de comovente beleza: «O bom Deus sabe tudo. Ainda antes de vos confessardes, já sabe que voltareis a pecar e todavia perdoa-vos. Como é grande o amor do nosso Deus, quevai até ao ponto de esquecer voluntariamente o futuro, só para poder perdoar-nos!».[25]Diversamente, a quem se acusava de forma tíbia e quase indiferente, expunha, através das suas próprias lágrimas, a séria e dolorosa evidência de quão «abominável» fosse aquele comportamento. «Choro, porque vós não chorais»:[26] exclamava ele. «Se ao menos o Senhor não fosse assim tão bom! Mas é assim bom! Só um bárbaro poderia comportar-se assim diante de um Pai tão bom!».[27] Fazia brotar o arrependimento no coração dos tíbios, forçando-os a verem com os próprios olhos o sofrimento de Deus, causado pelos pecados, quase «encarnado» no rosto do padre que os atendia de confissão. Entretanto a quem se apresentava já desejoso e capaz de uma vida espiritual mais profunda, abria-lhe de par em par as profundidades do amor, explicando a inexprimível beleza de poder viver unidos a Deus e na sua presença: «Tudo sob o olhar de Deus, tudo com Deus, tudo para agradar a Deus. (...) Como é belo!»[28] E ensinava-lhes a rezar assim: «Meu Deus, dai-me a graça de Vos amar tanto quanto é possível que eu Vos ame!».[29]
No seu tempo, o Cura d'Ars soube transformar o coração e a vida de muitas pessoas, porque conseguiu fazer-lhes sentir o amor misericordioso do Senhor. Também hoje é urgente igual anúncio e testemunho da verdade do Amor: Deus caritas est (1 Jo 4, 8). Com a Palavra e os Sacramentos do seu Jesus, João Maria Vianney sabia instruir o seu povo, ainda que frequentemente suspirava convencido da sua pessoal inaptidão a ponto de ter desejado diversas vezes subtrair-se às responsabilidades do ministério paroquial de que se sentia indigno. Mas, com exemplar obediência, ficou sempre no seu lugar, porque o consumia a paixão apostólica pela salvação das almas. Procurava aderir totalmente à própria vocação e missão por meio de uma severa ascese: «Para nós, párocos, a grande desdita – deplorava o Santo – é entorpecer-se a alma»,[30] entendendo, com isso, o perigo de o pastor se habituar ao estado de pecado ou de indiferença em que vivem muitas das suas ovelhas. Com vigílias e jejuns, punha freio ao corpo, para evitar que opusesse resistência à sua alma sacerdotal. E não se esquivava a mortificar-se a si mesmo para bem das almas que lhe estavam confiadas e para contribuir para a expiação dos muitos pecados ouvidos em confissão. Explicava a um colega sacerdote: «Dir-vos-ei qual é a minha receita: dou aos pecadores uma penitência pequena e o resto faço-o eu no lugar deles».[31] Independentemente das penitências concretas a que se sujeitava o Cura d'Ars, continua válido para todos o núcleo do seu ensinamento: as almas custam o sangue de Cristo e o sacerdote não pode dedicar-se à sua salvação se se recusa a contribuir com a sua parte para o «alto preço» da redenção.
No mundo actual, não menos do que nos tempos difíceis do Cura d'Ars, é preciso que os presbíteros, na sua vida e acção, se distingam por um vigoroso testemunho evangélico. Observou, justamente, Paulo VI que «o homem contemporâneo escuta com melhor boa vontade as testemunhas do que os mestres ou então, se escuta os mestres, é porque eles são testemunhas».[32] Para que não se forme um vazio existencial em nós e fique comprometida a eficácia do nosso ministério, é preciso não cessar de nos interrogarmos: «Somos verdadeiramente permeados pela Palavra de Deus? É verdade que esta é o alimento de que vivemos, mais de que o sejam o pão e as coisas deste mundo? Conhecemo-la verdadeiramente? Amamo-la? De tal modo nos ocupamos interiormente desta palavra, que a mesma dá realmente um timbre à nossa vida e forma o nosso pensamento?».[33] Assim como Jesus chamou os Doze para estarem com Ele (cf. Mc 3, 14) e só depois é que os enviou a pregar, assim também nos nossos dias os sacerdotes são chamados a assimilar aquele «novo estilo de vida» que foi inaugurado pelo Senhor Jesus e assumido pelos Apóstolos.[34]
Foi precisamente a adesão sem reservas a este «novo estilo de vida» que caracterizou o trabalho ministerial do Cura d'Ars. O Papa João XXIII, na carta encíclica Sacerdotii nostri primordia – publicada em 1959, centenário da morte de S. João Maria Vianney –, apresentava a sua fisionomia ascética referindo-se de modo especial ao tema dos «três conselhos evangélicos», considerados necessários também para os presbíteros: «Embora, para alcançar esta santidade de vida, não seja imposta ao sacerdote como própria do estado clerical a prática dos conselhos evangélicos, entretanto esta representa para ele, como para todos os discípulos do Senhor, o caminho regular da santificação cristã».[35] O Cura d'Ars soube viver os «conselhos evangélicos» segundo modalidades apropriadas à sua condição de presbítero. Com efeito, a sua pobreza não foi a mesma de um religioso ou de um monge, mas a requerida a um padre: embora manejasse com muito dinheiro (dado que os peregrinos mais abonados não deixavam de se interessar pelas suas obras sócio-caritativas)
, sabia que tudo era dado para a sua igreja, os seus pobres, os seus órfãos, as meninas da sua «Providence»,[36] as suas famílias mais indigentes. Por isso, ele «era rico para dar aos outros e era muito pobre para si mesmo».[37] Explicava: «O meu segredo é simples: dar tudo e não guardar nada».[38]Quando se encontrava com as mãos vazias, dizia contente aos pobres que se lhe dirigiam: «Hoje sou pobre como vós, sou um dos vossos».[39] Deste modo pôde, ao fim da vida, afirmar com absoluta serenidade: «Não tenho mais nada. Agora o bom Deus pode chamar-me quando quiser!».[40] Também a sua castidade era aquela que se requeria a um padre para o seu ministério. Pode-se dizer que era a castidade conveniente a quem deve habitualmente tocar a Eucaristia e que habitualmente a fixa com todo o entusiasmo do coração e com o mesmo entusiasmo a dá aos seus fiéis. Dele se dizia que «a castidade brilhava no seu olhar», e os fiéis apercebiam-se disso quando ele se voltava para o sacrário fixando-o com os olhos de um enamorado.[41] Também a obediência de S. João Maria Vianney foi toda encarnada na dolorosa adesão às exigências diárias do seu ministério. É sabido como o atormentava o pensamento da sua própria inaptidão para o ministério paroquial e o desejo que tinha de fugir «para chorar a sua pobre vida, na solidão».[42] Somente a obediência e a paixão pelas almas conseguiam convencê-lo a continuar no seu lugar. A si próprio e aos seus fiéis explicava: «Não há duas maneiras boas de servir a Deus. Há apenas uma: servi-Lo como Ele quer ser servido».[43] A regra de ouro para levar uma vida obediente parecia-lhe ser esta: «Fazer só aquilo que pode ser oferecido ao bom Deus».[44] No contexto da espiritualidade alimentada pela prática dos conselhos evangélicos, aproveito para dirigir aos sacerdotes, neste Ano a eles dedicado, um convite particular para saberem acolher a nova primavera que, em nossos dias, o Espírito está a suscitar na Igreja, através nomeadamente dos Movimentos Eclesiais e das novas Comunidades. «O Espírito é multiforme nos seus dons. (…) Ele sopra onde quer. E fá-lo de maneira inesperada, em lugares imprevistos e segundo formas precedentemente inimagináveis (…); mas demonstra-nos também que Ele age em vista do único Corpo e na unidade do único Corpo».[45] A propósito disto, vale a indicação do decreto Presbyterorum ordinis: «Sabendo discernir se os espíritos vêm de Deus, [os presbíteros] perscrutem com o sentido da fé, reconheçam com alegria e promovam com diligência os multiformes carismas dos leigos, tanto os mais modestos como os mais altos».[46]Estes dons, que impelem não poucos para uma vida espiritual mais elevada, podem ser de proveito não só para os fiéis leigos mas também para os próprios ministros. Com efeito, da comunhão entre ministros ordenados e carismas pode brotar «um válido impulso para um renovado compromisso da Igreja no anúncio e no testemunho do Evangelho da esperança e da caridade em todos os recantos do mundo».[47] Queria ainda acrescentar, apoiado na exortação apostólica Pastores dabo vobis do Papa João Paulo II, que o ministério ordenado tem uma radical «forma comunitária» e pode ser cumprido apenas na comunhão dos presbíteros com o seu Bispo.[48] É preciso que esta comunhão entre os sacerdotes e com o respectivo Bispo, baseada no sacramento da Ordem e manifestada na concelebração eucarística, se traduza nas diversas formas concretas de uma fraternidade sacerdotal efectiva e afectiva.[49] Só deste modo é que os sacerdotes poderão viver em plenitude o dom do celibato e serão capazes de fazer florir comunidades cristãs onde se renovem os prodígios da primeira pregação do Evangelho.
O Ano Paulino, que está a chegar ao fim, encaminha o nosso pensamento também para o Apóstolo das nações, em quem refulge aos nossos olhos um modelo esplêndido de sacerdote, totalmente «doado» ao seu ministério. «O amor de Cristo nos impele – escrevia ele –, ao pensarmos que um só morreu por todos e que todos, portanto, morreram» (2 Cor 5, 14). E acrescenta: Ele «morreu por todos, para que os vivos deixem de viver para si próprios, mas vivam para Aquele que morreu e ressuscitou por eles» (2 Cor 5, 15). Que programa melhor do que este poderia ser proposto a um sacerdote empenhado a avançar pela estrada da perfeição cristã?
Amados sacerdotes, a celebração dos cento e cinquenta anos da morte de S. João Maria Vianney (1859) segue-se imediatamente às celebrações há pouco encerradas dos cento e cinquenta anos das aparições de Lourdes (1858). Já em 1959, o Beato Papa João XXIIIanotara: «Pouco antes que o Cura d'Ars concluísse a sua longa carreira cheia de méritos, a Virgem Imaculada aparecera, noutra região da França, a uma menina humilde e pura para lhe transmitir uma mensagem de oração e penitência, cuja imensa ressonância espiritual há um século que é bem conhecida. Na realidade, a vida do santo sacerdote, cuja comemoração celebramos, fora de antemão uma viva ilustração das grandes verdades sobrenaturais ensinadas à vidente de Massabielle. Ele próprio nutria pela Imaculada Conceição da Santíssima Virgem uma vivíssima devoção, ele que, em 1836, tinha consagrado a sua paróquia a Maria concebida sem pecado e havia de acolher com tanta fé e alegria a definição dogmática de 1854».[50] O Santo Cura d'Ars sempre recordava aos seus fiéis que «Jesus Cristo, depois de nos ter dado tudo aquilo que nos podia dar, quis ainda fazer-nos herdeiros de quanto Ele tem de mais precioso, ou seja, da sua Santa Mãe».[51]
À Virgem Santíssima entrego este Ano Sacerdotal, pedindo-Lhe para suscitar no ânimo de cada presbítero um generoso relançamento daqueles ideais de total doação a Cristo e à Igreja que inspiraram o pensamento e a acção do Santo Cura d'Ars. Com a sua fervorosa vida de oração e o seu amor apaixonado a Jesus crucificado, João Maria Vianney alimentou a sua quotidiana doação sem reservas a Deus e à Igreja. Possa o seu exemplo suscitar nos sacerdotes aquele testemunho de unidade com o Bispo, entre eles próprios e com os leigos que é tão necessário hoje, como o foi sempre. Não obstante o mal que existe no mundo, ressoa sempre actual a palavra de Cristo aos seus apóstolos, no Cenáculo: «No mundo sofrereis tribulações. Mas tende confiança: Eu venci o mundo» (Jo 16, 33). A fé no divino Mestre dá-nos a força para olhar confiadamente o futuro. Amados sacerdotes, Cristo conta convosco. A exemplo do Santo Cura d'Ars, deixai-vos conquistar por Ele e sereis também vós, no mundo actual, mensageiros de esperança, de reconciliação, de paz.
Com a minha bênção.
Vaticano, 16 de Junho de 2009.
BENEDICTUS PP. XVI
[1] Assim o proclamou o Sumo Pontífice Pio XI, em 1929.
[2] «Le Sacerdoce, c'est l'amour du cœr de Jésus», in Le Curé d'Ars. Sa pensée – son cœur, obra cuidada por Abbé Bernard Nodet (ed. Xavier Mappus, Foi Vivante, 1966), pág. 98. Em seguida, será citada: Nodet. A mesma frase aparece no Catecismo da Igreja Católica, n. 1589.
[3] Nodet, 101.
[4] Ibid., 97.
[5] Ibid., 98-99.
[6] Ibid., 98-100.
[7] Ibid., 183.
[8] MONNIN A., Il Curato d'Ars. Vita di Gian-Battista-Maria Vianney , vol. I (ed. Marietti, Turim 1870), pág. 122.
[9] Cf. Lumen gentium, 10.
[10] Presbyterorum ordinis, 9.
[11] Ibid., 9.
[12] «A contemplação é o olhar de fé, fixado em Jesus. "Eu olho para Ele e Ele olha para mim" – dizia, no tempo do seu santo Cura, um camponês d'Ars em oração diante do sacrário»(Catecismo da Igreja Católica, n. 2715).
[13] Nodet, 85.
[14] Ibid., 114.
[15] Ibid., 119.
[16] MONNIN A., o.c., II, pág. 430ss.
[17] Nodet, 105.
[18] Ibid., 105.
[19] Ibid., 104.
[20] MONNIN A., o.c., II, pág. 293.
[21] Ibid., II, pág. 10.
[22] Nodet, 128.
[23] Ibid., 50.
[24] Ibid., 131.
[25] Ibid., 130.
[26] Ibid., 27.
[27] Ibid., 139.
[28] Ibid., 28.
[29] Ibid., 77.
[30] Ibid., 102.
[31] Ibid., 189.
[32] Evangelii nuntiandi, 41.
[33] BENTO XVI, Homilia na Missa Crismal (9 de Abril de 2009).
[34] Cf. BENTO XVI, Discurso à Assembleia plenária da Congregação do Clero (16 de Março de 2009).
[35] Parte I.
[36] Este foi o nome que deu à casa onde fez alojar e educar mais de 60 meninas abandonadas. Para mantê-la, a nada se poupava: «J'ai fait tous les commerces imaginables» - dizia ele sorrindo (Nodet, 214).
[37] Nodet, 216.
[38] Ibid., 215.
[39] Ibid., 216.
[40] Ibid., 214.
[41] Cf. ibid., 112.
[42] Cf. ibid., 82-84.102-103.
[43] Ibid., 75.
[44] Ibid., 76.
[45] BENTO XVI, Homilia na Vigília de Pentecostes (3 de Junho de 2006).
[46] N. 9.
[47] BENTO XVI, Discurso aos Bispos amigos do Movimento dos Focolares e da Comunidade de Santo Egídio (8 de Fevereiro de 2007).
[48] Cf. n. 17.
[49] Cf. JOÃO PAULO II, Exort. ap. Pastores dabo vobis , 74.
[50] Carta enc. Sacerdotii nostri primordia, parte III.
[51] Nodet, 244.
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Bento XVI apresenta Cirilo e Metódio, apóstolos dos eslavos
Intervenção durante a audiência geral
CIDADE DO VATICANO, quarta-feira, 17 de junho de 2009 (ZENIT.org).- Publicamos a intervenção de Bento XVI durante a audiência geral desta quarta-feira, dedicada a apresentar a figura dos santos irmãos Cirilo e Metódio. * * *
Queridos irmãos e irmãs:
Hoje eu gostaria de falar dos santos Cirilo e Metódio, irmãos no sangue e na fé, chamados de apóstolos dos eslavos. Cirilo nasceu em Tessalônica, filho do magistrado imperial Leão, em 826-827; era o mais jovem dentre sete filhos. Sendo criança, aprendeu a língua eslava. Aos 14 anos, foi enviado a Constantinopla para educar-se e esteve acompanhado pelo jovem imperador Miguel III. Naqueles anos, foi introduzido nas diferentes disciplinas universitárias, entre outras, a dialética, tendo como professor Fócio. Depois de ter rejeitado um brilhante matrimônio, decidiu receber as ordens sagradas e se converteu em bibliotecário no Patriarcado. Pouco depois, desejando retirar-se à solidão, escondeu-se em um mosteiro, mas logo foi descoberto e lhe foi confiado o ensino das ciências sagradas e profanas, tarefa que desempenhou tão bem, que ganhou o apelativo de "filósofo".
Enquanto isso, o irmão Miguel (nascido por volta do ano 815), após uma carreira na administração pública na Macedônia, por volta do ano 850 abandonou o mundo para retirar-se à vida monástica no Monte Olimpo, em Bitínia, onde recebeu o nome de Metódio (o nome monástico tinha de começar pela mesma letra do nome de batismo) e se converteu em arquimandrita do mosteiro de Polychron.
Atraído pelo exemplo do seu irmão, Cirilo também decidiu deixar o ensino para dedicar-se a meditar e rezar no Monte Olimpo. Pois bem, anos depois (por volta de 861), o governo imperial lhes encarregou uma missão entre os cázaros do mar de Azov, que pediram que lhes enviassem um literato que soubesse discutir com os judeus e com os sarracenos. Cirilo, acompanhado pelo seu irmão Metódio, viveu durante um longo tempo em Crimeia, onde aprendeu hebraico. Lá procurou também o corpo do Papa Clemente I, que teria sido desterrado nesse lugar. Encontrou sua tumba e, quando voltou com seu irmão, trouxe as preciosas relíquias. Ao chegar a Constantinopla, os dois irmãos foram enviados à Morávia pelo imperador Miguel III, a quem o príncipe da Morávia, Ratislau, havia feito uma petição concreta: "Nosso povo, desde que rejeitou o paganismo, observa a lei cristã; mas não temos um professor que seja capaz de nos explicar a verdadeira fé no nosso idioma". A missão teve bem cedo um insólito êxito. Ao traduzir a liturgia para a língua eslava, os dois irmãos ganharam uma grande simpatia entre o povo.
Isso, no entanto, suscitou a hostilidade contra eles do clero franco, que havia chegado precedentemente à Morávia e considerava o território como pertencente à própria jurisdição eclesial. Para justificar-se, em 867, os dois irmãos viajaram a Roma. Durante esta viagem, detiveram-se em Veneza, onde houve uma acalorada discussão com os que defendiam a assim chamada "heresia trilíngue": consideravam que havia somente três idiomas nos quais se podia louvar licitamente a Deus: hebraico, grego e latim. Obviamente, os dois irmãos se opuseram a isso com força. Em Roma, Cirilo e Metódio foram recebidos pelo Papa Adriano II, que foi ao seu encontro em procissão para acolher dignamente as relíquias de São Clemente. O Papa também havia compreendido a grande importância de sua excepcional missão. Desde a metade do primeiro milênio, de fato, os eslavos haviam se assentado em grande número naqueles territórios situados entre as duas partes do Império Romano, oriental e ocidental, que experimentavam tensões entre si. O Papa intuiu que os povos eslavos poderiam desempenhar o papel de ponte, contribuindo desse modo a conservar a união entre os cristãos de uma e de outra parte do império. Portanto, não hesitou em aprovar a missão dos dois irmãos na Grande Morávia, acolhendo a aprovando o uso do eslavo na liturgia. Os livros eslavos foram colocados no altar de Santa Maria de Phatmé (Santa Maria a Maior) e se celebrou a liturgia nas basílicas de São Pedro, Santo André e São Paulo.
Infelizmente, em Roma, Cirilo ficou muito doente. Ao sentir que sua morte se aproximava, quis consagrar-se totalmente a Deus como monge em um dos mosteiros gregos da cidade (provavelmente em Santa Prassede) e tomou o nome monástico de Cirilo (seu nome de batismo era Constantino)
. Depois pediu com insistência ao seu irmão Metódio, quem, enquanto isso, havia sido consagrado bispo, que não abandonasse a missão na Morávia e que voltasse àquelas populações. Dirigiu esta invocação a Deus: "Senhor, meu Deus... escutai a minha oração e custodiai na fidelidade a vós o rebanho que me havias confiado... Libertai-os da heresia dos três idiomas, reuni todos na unidade e fazei que o povo que escolhestes viva a concórdia na autêntica fé e na reta confissão". Ele faleceu no dia 14 de fevereiro de 869. Fiel ao compromisso assumido com seu irmão, no ano seguinte, 870, Metódio voltou à Morávia e a Panoia (hoje Hungria), onde enfrentou novamente a violenta animadversão dos missionários francos que o prenderam. Não se desanimou e, quando foi libertado em 873, entregou-se ativamente à organização da Igreja, atendendo à formação de um grupo de discípulos. O mérito desses discípulos esteve em superar a crise que se desencadeou após a morte de Metódio, em 6 de abril de 885: perseguidos e presos, alguns desses discípulos foram vendidos como escravos e levados a Veneza, onde foram resgatados por um funcionário de Constantinopla, quem lhes permitiu voltar aos países dos eslavos balcânicos. Acolhidos na Bulgária, puderam continuar a missão começada por Metódio, difundindo o Evangelho na "terra de Hus". Deus, em sua misteriosa providência, servia-se deste modo da perseguição para salvar a obra dos santos irmãos. Dela, resta também a documentação literária. Basta pensar nas obras como o Evangeliário (perícopes litúrgicos do Novo Testamento), o Saltério, vários textos litúrgicos em eslavo, nos quais trabalharam os dois irmãos. Após a morte de Cirilo, deve-se a Metódio e a seus discípulos, entre outras coisas, a tradução de toda a Sagrada Escritura, o Nomocanon e o Livro dos Padres.
Resumindo brevemente o perfil espiritual dos dois irmãos, é preciso constatar antes de mais nada a paixão com que Cirilo se aproximou dos escritos de São Gregório Nazianzeno, aprendendo dele o valor do idioma na transmissão da Revelação. São Gregório havia expressado o desejo de que Cristo falasse através dele: "Sou servo do Verbo, por isso me coloco a serviço da Palavra". Querendo imitar Gregório neste serviço, Cirilo pediu a Cristo que falasse em eslavo por ele. Introduziu sua obra de tradução com a invocação solene: "Escutai, eslavos, escutai a Palavra que procede de Deus, a Palavra que alimenta as almas, a Palavra que leva ao conhecimento de Deus". Na verdade, já anos antes de que o príncipe da Morávia pedisse ao imperador Miguel III o envio de missionários à sua terra, parece que Cirilo e o irmão Metódio, rodeados por um grupo de discípulos, estavam trabalhando no projeto de recolher os dogmas cristãos em livros escritos em eslavo. Então se constatou com clareza a necessidade de contar com novos sinais gráficos, que fossem mais adequados à língua falada: nasceu assim o alfabeto glagolítico, que, posteriormente modificado, foi designado com o nome de "cirílico", em honra de seu inspirador. Foi um fato decisivo para o desenvolvimento da civilização eslava em geral. Cirilo e Metódio estavam convencidos de que os diferentes povos não podiam considerar que haviam recebido plenamente a Revelação até que não a tivessem escutado em seu próprio idioma e lido nos caracteres próprios do seu alfabeto.
A Metódio corresponde o mérito de permitir que a obra empreendida pelo seu irmão não fosse bruscamente interrompida. Enquanto Cirilo, o "filósofo", tendia à contemplação, ele se orientava mais à vida ativa. Deste modo, pôde colocar as bases da sucessiva afirmação do que poderíamos chamar de "ideia cirilo-metodiana", que acompanhou os povos eslavos nos diferentes períodos históricos, favorecendo o desenvolvimento cultural, nacional e religioso. Já o reconheceu o Papa Pio XI com a carta apostólica Quod Sanctum Cyrillum, na qual qualificava os dois irmãos como "filhos do Oriente, bizantinos de pátria, gregos de origem, romanos por sua missão, eslavos pelos frutos apostólicos" (AAS 19 [1927] 93-96). O papel histórico que eles desempenharam foi depois oficialmente proclamado pelo Papa João Paulo II que, com sua carta apostólica Egregiae virtutis viri, declarou-os copadroeiros da Europa junto a São Bento (AAS 73 [1981] 258-262).
Com efeito, Cirilo e Metódio constituem um exemplo clássico do que hoje se indica com o termo "inculturação": cada povo deve fazer que penetre na própria cultura a mensagem revelada e expressar a verdade salvífica com sua própria linguagem. Isso supõe um trabalho de "tradução" de muito empenho, pois exige encontrar termos adequados para voltar a propor – sem traí-la – a riqueza da Palavra revelada. Os dois santos irmãos deixaram, neste sentido, um testemunho particularmente significativo que a Igreja continua contemplando hoje para inspirar-se e orientar-se.
[Ao final da audiência, o Papa saudou os peregrinos em vários idiomas. Em Português, disse:]
Uma cordial saudação aos peregrinos de língua portuguesa, em especial ao grupo do Brasil e aos paroquianos de Évora. Possa a Boa Nova de Jesus ser traduzida na vossa disposição de servir os outros com generosidade e alegria. Obrigado pelo carinho com que me acompanhais na minha missão de sucessor de Pedro. Sobre vós e vossas famílias desça a minha bênção.
[Tradução: Aline Banchieri.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]