domingo, 13 de janeiro de 2013

[ZP130113] O mundo visto de Roma

ZENIT

O mundo visto de Roma

Serviço semanal - 13 de Janeiro de 2013

Pensamento do dia, domingo, 13 de janeiro

"A primeira coisa que captamos do mistério de Deus geralmente não é a verdade, mas a beleza". Hans Urs von Balthasar (1905- 1988)


Santa Sé

Jornada Mundial da Juventude Rio 2013

Comunicar a fé hoje

Homens e Mulheres de Fé

Observatório Jurídico

Familia e Vida

Mundo

Espiritualidade

Bioética

Angelus

Audiência de quarta-feira


Santa Sé


João Paulo II: canonização iminente
Cerimônia deverá acontecer neste ano ou em 2014

Por Redação

ROMA, 11 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - O momento esperado pelos milhões de fiéis que em 2005 já proclamavam a santidade de João Paulo II é iminente. O papa polonês será proclamado santo em 2014 ou ainda neste ano, de acordo com o cardeal Giovanni Battista Re, um dos mais estreitos colaboradores de Wojtyla.

O prefeito emérito da Congregação para os Bispos deu a notícia na apresentação "O papa e o poeta", escrito pelo vaticanista Mimmo Muolo, evento ocorrido ontem à noite no auditório da Conciliação, de Roma.

"Se não for neste ano, será no próximo", afirmou o purpurado, explicando que, "como ele realizou mais de um milagre, com certeza ao menos um é válido para a canonização".

Falta apenas o reconhecimento de um desses milagres pelos médicos da Congregação para as Causas dos Santos. "Os tempos podem ser muito breves", prosseguiu o cardeal, que obteve as informações faz alguns meses, quando, "diante das curas cientificamente inexplicáveis" que foram atribuídas à intercessão do papa, a congregação vaticana estudava três ou quatro delas "para avaliar a mais sólida e mais acorde com os critérios de julgamento".

"As curas são avaliadas por uma junta de sete médicos, membros de um organismo científico interno, severo, que tem a tarefa de examinar cada detalhe. Eles são tão rígidos e meticulosos que, por exemplo, nem se pronunciam se uma doença tiver sido curada com terapias que, em casos parecidos, se mostraram efetivas".

"Os sete médicos da junta têm que estar de acordo no reconhecimento de que o fato é inexplicável do ponto de vista humano e científico". É a equipe médica quem decide se houve um milagre ou não, afirmou Re.

Depois desta avaliação, a comissão de cardeais e bispos julga "apenas se o milagre foi obtido pela intercessão" do candidato à glória dos altares. É necessária a aprovação definitiva do papa "para definir a data e o período mais adequado", concluiu.

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Jornada Mundial da Juventude Rio 2013


Edições CNBB publica Manual de Instruções para a Semana Missionária
Um subsídio para orientar e sugerir a preparação da Semana Missionária nas diferentes dioceses do Brasil

Por Thácio Siqueira

BRASíLIA, 07 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Edições CNBB lança o Manual de Instruções da Semana Missionária, evento prévio à JMJ Rio 2013, que acontecerá em todas as dioceses do Brasil do 16 ao 20 de Julho de 2013.

"Ele quer ser uma contribuição, uma sugestão para a dinamização da Semana Missionária, segundo as indicações do Pontifício Conselho para os Leigos", escreve Dom Leonardo Ulrich Steiner, bispo auxiliar de Brasília e Secretário Geral da CNBB, na apresentação da obra.

Com uma cara jovial, leve, e de fácil leitura, o Manual de Instruções da Semana Missionária, elaborado pelas Comissões Pastorais da CNBB, sob a coordenação da Comissão Especial da CNBB para a Jornada Mundial da Juventude, transmite as orientações gerais para este evento e a proposta de uma programação concreta que pode ser seguida em cada diocese.

"A missão da Igreja nunca foi opção" - afirma o Pe. Marcelo Gualberto, das Pontifícias Obras Missionárias, no capítulo 2º do Manual de Instrução. "Nesta Semana Missionária em especial, vocês são chamados a colocarem em prática o que desde o batismo receberam" - continua Pe. Marcelo.

O Manual de Instrução da Semana Missionária também responde a questões práticas, por exemplo: como fazer uma visita missionária a uma casa? O que fazer antes, durante e depois da visita? Como abençoar uma casa? 

Entre os objetivos gerais da Semana Missionária – escreve num dos capítulos o Pe. Carlos Sávio da Costa Ribeiro, Coordenador Nacional da Semana Missionária – está o de acolher no país os peregrinos para que façam uma experiência do Brasil; e também está o desejo de preparar as dioceses para a JMJ. E acrescentou dizendo: "Uma proposta que não consta na programação, mas foi um pedido feito pelo Pontifício Conselho para os Leigos, é que sejam proporcionados aos jovens durante a Semana Missionária, de forma paralela as atividades que serão realizadas, momentos do sacramento da reconciliação".

O Manual pode ser adquirido pelo site das edições cnbb: www.edicoescnbb.com.br. Clique aqui para ir direto ao link da obra.

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Comunicar a fé hoje


O Ano da fé no dia a dia de um leigo
Entrevista com Julio Modesto, estudante de teologia da FATEO (Faculdade de Teologia da Arquidiocese de Brasília)

Por Thácio Siqueira

BRASíLIA, 10 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Júlio Modesto é estudante de Teologia da FATEO (Faculdade de teologia da Arquidiocese de Brasília), aposentado pelos Correios do Brasil, ministro extraordinário da eucaristia, casado há 30 anos com Ana Lídia Pacheco, tem três filhos, uma nora e duas netas;

Após a sua aposentadoria optou por fazer teologia e dedicar-se mais a Deus. E nesse Ano da Fé, como fruto pessoal da leitura da carta apostólica "Porta Fidei" de Bento XVI, resolveu ser um missionário dentro da sua própria realidade, desenvolvendo um apostolado com o nome "PROJETO PORTA FIDEI, Jesus Cristo: caminho, verdade e vida".

ZENIT conversou brevemente com o Sr. Júlio Modesto, em sua casa em Brasília, para saber como funciona o projeto, de onde ele tirou a inspiração para esse apostolado e quais são os seus objetivos.

Para maiores informações: projeto.porta.fidei@gmail.com

ZENIT: De que trata o seu apostolado chamado "Porta Fidei"?

Júlio: A ideia central é a seguinte. Que como leigo praticante do cristianismo dê um passo a mais: que transforme a ideia de ser um mero frequentador de missa dominical em eficaz mensageiro da Palavra do Senhor.

Principalmente me inspirei por meio do meu pároco, Pe.Agostinho, da paróquia São Paulo Apóstolo, do Guará I, que organizou uma feira da bíblia no mês da bíblia do ano passado.

ZENIT: Na prática, como funciona?

Júlio: Eu notei, depois da leitura da "Porta Fidei", e das próprias ideias partilhadas na FATEO, pelos colegas e professores, que todo mundo, na sua particularidade, deveria desenvolver um trabalho missionário.

Ao meu redor, me dei conta de que muitos são aqueles que ainda têm a Sagrada Escritura como livro de cabeceira, seja por falta de interesse ou por falta oportunidade. Inspirado nisso, resolvi, buscar junto ao meu pároco e às Edições CNBB, por preços acessíveis, bíblias, para presenteá-las àquelas pessoas que ainda não a possuem.

ZENIT: Quantas bíblias você pretende distribuir?

Pretendo distribuir tantas quantos forem os meus anos de vida terrena.

ZENIT: E por quê você escolheu a bíblia das Edições CNBB?

Porque é de uma linguagem acessível, completa e com explicações de Roda pé bem inteligíveis.

ZENIT: E há alguma preparação prévia que você oferece?

Júlio: Sim e não. Quando a pessoa se manifesta necessitada da Palavra eu lhe explico o sentido da importância do Cristo na vida dela. E quando a pessoa não me pergunta, então, eu vejo se há, de fato, interesse de conhecer a Palavra de Deus, e, se sabe ler, ofereço-lhe um exemplar da Sagrada Escritura das Edições CNBB.

ZENIT: Qual é a consequência disso?

Júlio: Surpreendente. Uma vez que se cria uma relação de interatividade cristã no novo contexto, que é o contexto do conhecer o Cristo, diretamente o Cristo, com base na Sagrada Escritura.

ZENIT: Qual é o seu interesse ao fazer esse projeto?

Júlio: Primeiro porque me encontro livre e aposentado para servir o Senhor Deus. Segundo porque é uma imensa alegria levar o Senhor às pessoas, quer seja através da Sagrada Escritura, quer seja através de gestos de solidariedade e de partilha. E por último, porque não vejo sentido na vida a não ser dar sentido à ela através do amor de Deus e do meu próprio reconhecimento como filho e criatura desse Deus infinitamente misericordioso, que tenho muita vontade conhecê-lo mais profundamente.

ZENIT: E você, como leigo estudante de teologia da FATEO, o que diria para os leigos do Brasil nesse ano da fé, e ano da Jornada Mundial da Juventude em nossa pátria?

Júlio: Que buscassem tomar a consciência de que a nossa participação como Igreja, que somos, é arregaçarmos a manga e irmos ao encontro dos anseios do Santo Padre.

Todos podem fazer algo. Eu especificamente busquei essa forma por causa dos meus estudos teológicos que me fizeram compreender a formação da Bíblia, a riqueza histórica e doutrinal, me deram uma dimensão de uma bem-aventurança eterna.

Desejo, portanto, que cada um use os seus dons e os disponibilize às ações do Espírito Santo para a Construção e manutenção da Santa Igreja, instituida por Cristo através de Pedro e que ficou bem claro que Jamais as portas do mal poderão prevalecer sobre ela. Por exemplo, se a pessoa canta, é músico, bom orador, etc, que ofereça os seus dons à Igreja de Cristo, ao próprio Cristo.

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Conferência TED chega ao Vaticano
Encontro mundial discute liberdade religiosa

Por Antonio Gaspari

ROMA, 08 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Conhecido como o "Oscar das ideias", a "Hollywood da genialidade", um mix entre ciência, comunicação e entretenimento, TED (Technology Entertainment Design) apresenta "ideias que merecem ser espalhadas" ( "ideas worth spreading" ).

Começou como uma conferência anual na Califórnia que reunia pessoas para falar sobre suas melhores ideias e agora é um dos sites mais visitados do mundo (www.ted.com). A novidade é que em 2013, TED chega ao Vaticano.

Dia 19 de abril na Via della Conciliazione o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho para a Cultura abrirá "TEDxviadellaconciliazione", (www.TEDxviadellaconciliazione.com), um encontro mundial para falar sobre liberdade religiosa hoje.

Para saber mais ZENIT entrevistou a organizadora do encontro, Giovanna Abbiati.

ZENIT: O que significa TED?

TED é uma conferência anual onde "mentes brilhantes" se encontram para partilhar ideias que merecem ser espalhadas. Os discursos são livremente publicados no site para serem propagados por todo o mundo.

ZENIT: O que tem a ver TED com a Igreja católica?

Ser católico significa ser universal. A missão da Igreja é desde sempre a mesma: testemunhar o encontro espiritual entre o divino e o ser humano.

Os resultados provenientes deste encontro devem ser espalhados! E como? Publicando em todas as línguas que conhecemos, de maneira que todos possam conhecer e compreender. Uma das novas linguagens que temos no mundo contemporâneo é a linguagem digital. Através da linguagem digital,TED espalha ideias, e nós queremos utilizar este poder de conectar, e espalhar também os resultados espirituais.

ZENIT: Porque vocês escolheram o tema da liberdade religiosa?

Este é um tema importante se queremos falar de paz. Na sociedade secularizada, muitas vezes, os sinais religiosos são proibidos, os símbolos são escondidos. Em alguns países a restrição de caráter religioso é altíssima. O Pew Research Center divulgou que mais de 2,2 milhões de pessoas, quase um terço da população mundial, vivem em 23 países, onde há restrições governamentais ou crescente hostilidade social em relação à prática religiosa. Porque temos medo da religião? Devemos temer apenas o fundamentalismo.

O fundamentalismo é uma perversão da religião. A violência não é religião, praticar a violência em nome de um credo religioso não é religião.

ZENIT: O que é esperado do encontro TED x via della Conciliazione?

Queremos reiterar que a liberdade religiosa é um direito fundamental. Antes de tudo é uma aspiração da alma. A liberdade religiosa consiste em garantir a proteção de todos os homens e mulheres de qualquer tentativa de coação da própria consciência.

Através da religião todo homem e toda mulher descobre a identidade do ser humano. Através da religião descobre o sentido e o valor da vida. A prática religiosa inspira e incentiva o ser humano na construção de um mundo de justiça e de paz. Todas as religiões expressam um senso de responsabilidade pela humanidade e pelo mundo.

ZENIT: Como?

Quer mudar a sociedade? Não exclua! Começando pela sua comunidade. A sua comunidade pode ser o seu vizinho de casa ou o seu irmão. Cuidar do mais fraco, do idoso, da viúva, do estrangeiro, significa tentar construir uma rede social em favor da fraternidade.

Aproveitando toda a força que a fé pode dar, é preciso tentar transformar o ódio em amor, praticar o amor também nos conflitos, favorecendo o perdão. Amor entendido como paixão de Cristo, que diz respeito também aos encarcerados e às pessoas doentes.

Enfrentar este desafio é difícil, mas o importante é que não fique apenas na mesa ou que envolva apenas os grupos dirigentes. É preciso começar pelos jovens.

ZENIT: Quem são os convidados?

Procuramos palestrantes capazes de promover o diálogo e a unidade em todos os âmbitos, partindo da cultura. Procuramos talentos e visionários capazes de demonstrar a existência de um substrato comum de ideais e desafios, tanto na religião como na cultura.

Pessoas como Soumaya Slim do Museu Soumaya ou Sheika Hussad AL Salem do Darmuseum. A primeira no México, a segunda no Kwait, ambas empenhadas em promover a beleza através da arte. Dois mundos diferentes com um objetivo comum.

Além disso, procuramos pessoas que mudam o mundo através da fé, como Alicia Vacas que desenvolve um grande trabalho na Terra Santa e Leone Narvaez que promove a paz na FARC (Força Armada Revolucionária) da Colômbia.

ZENIT: Porque foi escolhido o formato TED?

Na era do compartilhamento TED é capaz de espalhar ideias de maneira muito positiva. Assistindo televisão, escutando rádio, navegando na rede, o que recebemos, muitas vezes, é uma visão negativa do mundo. TED é uma plataforma que fala de compartilhar e difundir o otimismo. Não queremos dizer que o mal não existe, mas falar apenas das trevas significa esquecer a existência da luz. Um enfoque negativo assim corta as asas do ser humano. Somos feitos de carne, mas o nosso espírito foi criado para voar alto e além!

ZENIT: Qual é o sonho de vocês?

Precisamos aprender a conviver e a amar. Amar, não é apenas uma ideia, é o que nos conecta com o todo.

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Homens e Mulheres de Fé


"Sou frei Tomás e vim aqui para ser santo!"
Sacerdote franciscano foi sinal do Evangelho

Por Anita Sanchez Bourdin

ROMA, 11 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - A Igreja celebra hoje a memória de São Tomás de Cori, um padre franciscano, que viveu de 1655-1729.

Desde jovem Francesco Antonio Placidi - este é seu nome de batismo – conhecia os Frades Menores do convento de São Francisco de sua cidade natal, Cori, na província de Latina, ao sul de Roma. Perdeu sua mãe e seu pai com a idade de 14 anos, e antes de escolher a vida religiosa tomou conta de suas duas irmãs mais novas.

Uma vez que as irmãs se casaram, o futuro santo entrou, em 1677, na ordem dos franciscanos, e foi enviado para o Mosteiro da Santíssima Trindade em Orvieto (província de Perugia) para o noviciado.

Ordenado sacerdote em 1683, o irmão Tomás de Cori foi conhecido como o fundador dos "retiros" de São Francisco em Civitella (agora Bellegra, perto de Subiaco) e de São Franciscoem Palombara Sabina, ambos na região Lazio, Itália. Na sua chegada em 1684 ao humilde convento de Civitella, se apresentou com a seguinte frase: "Sou frei Tomás de Cori e eu vim aqui para ser santo!".

Com a exceção de seis anos como guardião do convento de Palombara, o irmão Tomás de Cori passou o resto de sua vida em Bellegra. Seunome está relacionado com a redação das Constituições dos Retiros por ele fundados. Conservadas em Bellegra, as regras escritas pelo irmão Tomás foram ampliadas em 1756 pelo Capítulo Geral de Múrcia a todos os Retiros da Ordem dos Frades Menores.

Em particular, o mais marcante em sua espiritualidade é a centralidade da Eucaristia. Durante 40 anos, a sua vida de oração foi caracterizada por uma total ausência de consolo "sensível", que, segundo seus biógrafos, foi vivida pelo futuro santo com grande serenidade.

Seu incansável apostolado a serviço do povo e dos pobres da região Lazio e especialmente na área de Subiaco lhe rendeu o apelido de "o apóstolo de Subiaco." Notável também foi o amor demonstrado para com os seus irmãos.

Frei Tomás morreu em 11 janeiro de 1729 com a idade de 74 anos. Foi beatificado em 1786 pelo Papa Pio VI, e canonizado pelo Papa João Paulo II em 21 de novembro de 1999. Para João Paulo II - que, em sua homilia, o definiu como "verdadeiro discípulo de São Francisco de Assis" - toda a vida de Frei Tomás de Cori "foi, portanto, um sinal do Evangelho, testemunha do amor do Pai Celestial, revelado em Cristo e operante no Espírito Santo, para a salvação do homem".

(Trad.MEM)

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Observatório Jurídico


O sacramento da eucaristia e os casados em segunda união
As normas jurídicas visam a libertar o fiel de uma vivência malsã da religião

Por Edson Sampel

SãO PAULO, 10 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - É mansa e pacífica entre os bispos a interpretação da Familiaris Consortio no sentido de que os divorciados não podem receber a sagrada eucaristia. De fato, a exortação apostólica de João Paulo II é claríssima: "A Igreja (...) reafirma sua práxis, fundamentada na sagrada escritura, de não admitir à comunhão eucarística os divorciados que contraíram nova união." (n. 84d). O código canônico também determina essa proibição (cânon 915). 

O direito eclesial prescreve que todo fiel tem a obrigação de receber a sagrada comunhão ao menos uma vez por ano, preferencialmente no tempo pascal (cânon 920). Note-se que a lei na Igreja tem cunho preponderantemente pastoral. Assim, o direito canônico não é um jugo a mais nos ombros do indivíduo; pelo contrário, as normas jurídicas visam a libertar o fiel de uma vivência malsã da religião. Desta feita, ninguém dirá que fulano é um mau católico, porque vai à missa todo domingo, mas comunga apenas uma vez por ano! O dever jurídico é a comunhão anual, por ocasião da Páscoa.  Neste aspecto, penso eu, já se vislumbra o alvorecer de uma esperança enorme para os casados em segunda união, com a majoração do tempo para a tomada de algumas providências, como, por exemplo, a consulta a um tribunal eclesiástico.

Quero, entretanto, deixar bem claro que, em não havendo obstáculo, todo fiel tem o direito de comungar nas missas dominicais, ou quotidianamente. É mesmo salutar que o faça, contanto que regularmente compareça ao confessionário. O sacramento da eucaristia é sem dúvida o maior dom que Deus nos ofertou. Por outro lado, é imperioso que não se caia numa vivência supersticiosa da religião, o que sucederia se acreditássemos que quanto mais vezes sicrano comungar mais santo ele será ou mais protegido ele estará. 

Quem trouxe bastante luz para obviar este problema foi o então cardeal Ratzinger, hoje nosso amantíssimo Bento XVI. Em 1985, numa célebre entrevista concedida ao jornalista italiano Messori, Ratzinger falava da nuança sacrifical da missa, que se encontra, segundo ele, um tanto quanto ofuscada. Com efeito, a missa não é só banquete, quando se manduca ou se come a hóstia consagrada; a missa é igualmente sacrifício. Explicava o eminente prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé: "Devemos reaver a consciência de que a eucaristia não é privada de valor se não se recebe a comunhão: nesta percepção, problemas dramaticamente urgentes, como a admissão ao sacramento dos divorciados casados novamente, podem perder muito de seu peso opressivo."("A fé em crise?", p. 99).

A santíssima eucaristia é decerto o centro da comunidade paroquial (cânon 528, § 2.º). Contudo, é mister compreender este sacramento corretamente, nas suas dimensões de banquete fraterno e de sacrifício do corpo e do sangue de nosso Senhor Jesus Cristo.

Edson Luiz Sampel é Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano.Professor da Escola Dominicana de Teologia (EDT).

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Familia e Vida


Família: lugar natural da presença de Deus
Festa da Sagrada Família em Palestrina

Por Paulo Schiavella

ROMA, 09 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - "A família é o lugar natural da presença de Deus, como igreja doméstica", resumiu o cardeal José Saraiva Martins em sua homilia na missa solene na catedral de Sant'Agapito, em 30 de dezembro, por ocasião da Festa da Sagrada Família.

A declaração de Martins é consequência lógica do fato de o Redentor "ter nascido em uma família". Por isso, "a família é uma comunidade de fé, é uma comunidade de oração, é uma comunidade de amor. Isto só é possível se construirmos a família na vontade de Cristo".

A homilia abordou também as concepções do mundo moderno que questionam a própria existência da família.

"Hoje", alertou o cardeal de Palestrina, "há muitos Herodes que querem matar o Menino, mas não alcançarão este objetivo. A civilização da vida e do amor não será morta". Por isso, "a esperança que podemos compartilhar é de que reine em nossa família a felicidade, a alegria da família de Nazaré; que reine nela o otimismo e a esperança".

Para testemunhar a presença do Senhor na família, a Pastoral Familiar de Palestrina chamou uma família por paróquia e cada uma recebeu das mãos do cardeal Martins um pequeno presente, símbolo da comunidade de fé, oração e caridade que é o núcleo familiar.

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Assinaturas pela vida
Reconhecendo a vida desde a concepção, a Europa voltaria a ser o centro do direito e um farol de civilização. Entrevista com Carlo Casini.

Por Antonio Gaspari

ROMA, 07 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - A iniciativa "Um de nós", promovida pelos cidadãos europeus (One of Us, www.oneofus.eu) está se tornando cada vez mais concreta. Autorizada a captar assinaturas on-line, ela conta com movimentos, associações, fóruns, clubes e igrejas que mobilizam os seus membros e os convidam a assinar o documento em defesa da vida.

Conforme previsto pelo Tratado de Lisboa, os promotores de "Um de nós" devem coletar um milhão de assinaturas em pelo menos sete países europeus para que a Comissão Europeia programe um eventual ato jurídico voltado a reconhecer o pedido apresentado pelos cidadãos.

"One of Us" é uma iniciativa particularmente importante porque pede o reconhecimento da vida desde a concepção.

ZENIT entrevistou Carlo Casini, presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais do Parlamento Europeu e presidente do Movimento pela Vida italiano (MPV), que explica que "One of Us" promove o compromisso da Europa com o fim das concessões de fundos a programas contrários à vida.

Casini pede especialmente o bloqueio dos fundos concedidos a organizações que promovem o aborto nos países em vias de desenvolvimento, mas não apenas isto. "Infelizmente, a Europa está financiando a pesquisa científica que manipula e destrói embriões, além de fundos internacionais que propagam o aborto como solução sanitária para os problemas das mulheres. Eu acho que, com o reconhecimento da vida desde a concepção, as políticas da Europa mudariam em favor da vida nascente".

Sobre o porquê de um cidadão dever interessar-se pelo projeto "One of Us", Casini explica a necessidade de parar a matança de inocentes, que, todos os anos, vê mais de um milhão e duzentos mil meninos e meninas concebidos serem impedidos de nascer. É "uma oportunidade para que a Europa volte a ser o continente do direito à vida".

A mobilização dos cidadãos europeus pelo reconhecimento da vida humana desde a concepção, segundo Casini, já está produzindo bons resultados, como a coordenação dos movimentos pró-vida e pró-família em vários países. O debate motivado por "One of Us" está estimulando um progresso cultural e social na Europa e no mundo, prossegue ele. "É o reconhecimento da dignidade do ser humano".

O presidente do MPV conclui: "Com o compromisso de não financiar mais as iniciativas educacionais, culturais e de saúde que promovem o aborto, e com o reconhecimento da vida humana desde a concepção, a Europa seria uma referência importante para o mundo inteiro".

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Mundo


Coreia do Sul: a primeira mulher presidente
Vitória histórica de Park Geun-hye, eleita com 51,6% dos votos

Por Daniele Trenca

ROMA, 11 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - 2013 será um ano importante para a Coreia do Sul. O país será chamado a desafios importantes, decisivos até, como o relacionamento com os "primos" do Norte e com o governo de Pyongyang. A partir deste ano, haverá ainda uma novidade absoluta: Park Geun-hye é a primeira mulher eleita presidente da República. Uma grande vitória, num país em que oito de cada dez deputados são homens.

A primeira mulher presidente da Coreia do Sul e a décima primeira pessoa a presidir o país asiático foi eleita com 51,6% dos votos, contra 48% do oponente Moon Jae-in. Apesar de reinar a incerteza, o comparecimento às urnas foi recorde, com quase 76%. Na Coreia, a chegada ao mais alto cargo não é apenas uma vitória da emancipação das mulheres, mas o início da mudança num modo de pensar que achava que as mulheres devem ficar de fora de certas áreas, sendo a política a primeira de todas.

Muitos desafios afetarão a nova presidente, que anunciou que "vai lutar pelas necessidades das pessoas e abrir uma era de felicidade". Promessas de campanha à parte, agora vêm os fatos. O cavalo de batalha de Park na campanha eleitoral foi o forte nacionalismo coreano, especialmente no tocante ao inimigo japonês e ao aliado norte-americano. Dentro de um mês, ela se tornará oficialmente a nova inquilina do Palácio Presidencial, em Seul, a chamada Casa Azul, para um quinquênio cheio de desafios. O maior deles: estabelecer um diálogo com a Coreia do Norte. Após a divisão, em 1953, a reconciliação pode enfim começar, junto com os primeiros passos para a reunificação final. As provocações da Coreia do Norte, no entanto, inclusive na política atômica, ainda são fortes e fazem tremer as diplomacias de meio mundo, começando pela dos EUA.

A Coréia do Sul é o quarto país no ranking das potências asiáticas, com a taxa de desemprego mais baixa do mundo (2,8%). É um dos poucos países com excedente orçamentário, mas os coreanos, mesmo assim, estão preocupados com a economia em desaceleração. O sistema de bem-estar precisa de retoques em favor da população, que se encontra diante de um rápido envelhecimento e ainda sofre com grandes áreas de pobreza.

Apesar de ser considerada uma democracia viva e livre, o poder no país fica concentrado nas mãos do presidente. Park é da ala conservadora e preside o Partido Nova Fronteira (Saenuri). É filha do general Park Chung-hee, que foi presidente do país entre 1961 e 1979, após um golpe de Estado, e terminou assassinado quando ainda estava no poder. Em setembro passado, talvez em vista da iminente campanha eleitoral, a agora nova presidente pediu desculpas aos compatriotas pelos abusos que ocorreram durante a ditadura de seu pai.

É claro que esta eleição não é sinônimo de igualdade entre os sexos, mas certamente significa uma vitória apertada para as mulheres, demonstrando que elas também podem sentar-se em lugares que, no mundo todo, especialmente por aquelas bandas, sempre foram considerados como postos de trabalho dos homens.

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"Promover uma paz justa"
Termina em Belém a reunião anual da Coordenação para a Terra Santa

ROMA, 10 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Encerrado hoje o encontro anual da Coordenação para a Terra Santa, em Belém, reproduzimos o texto do comunicado final, assinado por oito bispos da Europa e da América do Norte.

***

Desde que os bispos da Coordenação para a Terra Santa se reuniram em janeiro de 2012, a população desta região tem vivido acontecimentos sombrios e dramáticos: o conflito em Gaza e no sul de Israel, a guerra civil na Síria, que gerou grande número de refugiados em outros países, colocando à prova os seus recursos, e uma crescente polarização dentro de Israel e da Palestina. Estes fatos vêm provocando profunda angústia em toda esta região, entre israelenses, palestinos, judeus, muçulmanos e, em particular, no seio da população cristã que está em contínua diminuição.

Neste ano, encontramos a comunidade cristã em Gaza, Belém, Beit Jala, Madaba e Zarqa. No vale de Cremisan, ouvimo-los contar sobre as batalhas legais para proteger as terras da população local e das instituições religiosas contra a invasão da barreira de segurança ("o muro"). Exortamos nossos respectivos governos a tomar medidas para impedir esta injustiça. Ouvimos testemunhos comoventes de mulheres religiosas envolvidas no auxílio aos trabalhadores migrantes, às vítimas de tráfico e aos presos.

A nossa fé foi enriquecida pela força e pela coragem das pessoas que conhecemos: aquelas com quem compartilhamos uma fervorosa celebração da Eucaristia em Zarqa, na Jordânia; aqueles que lidam com os grupos mais vulneráveis, como os refugiados da Síria e do Iraque, em fuga do terror e da violência; e aqueles que lutam contra a opressão e contra a insegurança nos países que compõem a Terra Santa.

Inspirados a promover uma paz justa, fazemos um apelo às comunidades cristãs em nossos países de origem e às pessoas de boa vontade em todo o mundo, a fim de apoiarem o trabalho feito nesta região em prol de um futuro melhor. Bons exemplos vêm de duas agências que visitamos: a Catholic Relief Services, em Gaza, e o programa da Caritas para refugiados na Jordânia.

Somos também chamados a reconhecer e comunicar aos outros a fé em Deus que traz luz para a vida das pessoas na Terra Santa. Uma das formas de expressão dessa luz é o compromisso da Igreja com a educação, investimento tangível para o futuro. Em nenhum lugar ele é mais evidente do que na Universidade de Belém, onde ficamos impressionados com as histórias dos alunos, e na Universidade Americana de Madaba, na Jordânia. Em 2009, o papa Bento XVI apelou aos funcionários e estudantes da região para serem construtores de uma sociedade justa e pacífica, composta por pessoas de diferentes origens étnicas e religiosas.

Juntamente com os bispos locais, encorajamos o apoio concreto aos mais vulneráveis, a formação dos jovens e qualquer esforço possível para a promoção da paz. Exortamos os cristãos a fazerem peregrinação à Terra Santa, onde podem experimentar a mesma hospitalidade calorosa que nos foi oferecida.

Vamos trabalhar com o máximo esforço para convencer os nossos respectivos governos a reconhecer as causas que estão na raiz do sofrimento desta terra e a intensificarem os esforços por uma paz justa.

Repetimos o apelo que o papa Bento lançou recentemente em seu discurso ao corpo diplomático acreditado junto à Santa Sé: "Após o reconhecimento da Palestina como estado observador não-membro da Organização das Nações Unidas, mais uma vez expresso a esperança de que, com o apoio da comunidade internacional, israelenses e palestinos se comprometerão com uma coexistência pacífica, no contexto de dois Estados soberanos, em que o respeito pela justiça e pelas legítimas aspirações dos dois povos sejam preservados e garantidos. Jerusalém, torna-te o que o teu nome significa! Uma cidade de paz, não de divisão".

Nas palavras de um salmo que rezamos juntos todos os dias, "Peçam a paz para Jerusalém" (Salmo 122, versículo 6).

Assinam o comunicado final:

Dom Richard Smith - Edmonton, Canadá
Dom Joan Enric Vives – Urgell, Espanha
Dom Gerald Kicanas - Tucson, Estados Unidos

Dom Stephan Ackermann - Trier, Alemanha
Dom Michel Dubost - Evry, França
Dom William Kenney - Representante da COMECE
Dom Pedro Bürcher - Reykjavik, Conferência Episcopal dos Países Nórdicos
Dom Declan Lang - Clifton, Inglaterra e País de Gales

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Catecismo da Igreja Católica é traduzido para idioma do Camboja
Vigário apostólico de Phnom Penh aplaude iniciativa

ROMA, 08 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - O Catecismo da Igreja Católica traduzido para a língua khmer "será uma ferramenta valiosa para todas as comunidades e associações de fiéis, para aprofundar o conteúdo do credo e da doutrina católica, no Ano de Fé", afirmou à Agência Fides o vigário apostólico de Phnom Penh, dom Olivier Schmitthaeusler, na conclusão do congresso organizado pelo Vicariato Apostólico para o Ano da Fé sobre "O Concílio Vaticano II e a Igreja".

Os participantes ouviram uma mensagem em vídeo enviada pelo Santo Padre Bento XVI, que encorajou os cristãos do Camboja a "se sentirem realmente parte da Igreja universal".

Por ocasião do congresso, os documentos do Vaticano II traduzidos em língua khmer foram apresentados como "recurso para o estudo e para a meditação", que ajudarão a compreender o papel da Igreja cambojana na dinâmica pós-conciliar.

Dom Schmitthaeusler explicou que a comunidade local escolheu refletir especialmente, neste ano, sobre o documento Lumen Gentium, para lembrar aos fiéis que "a Igreja é Povo de Deus e os fiéis são chamados à santidade".

O catecismo em khmer será ainda uma ferramenta valiosa para a evangelização.
A Igreja do Camboja representa 1% da população num país 96% budista, e está experimentando novamente a época dos Atos dos Apóstolos: "é um laboratório da Boa Nova num mundo budista", diz o vigário, que, durante o congresso, destacou os dois pontos importantes para a nova evangelização no país que sofreu a cruel perseguição do Khmer Vermelho: perdão e compromisso dos leigos.

"O verdadeiro encontro com Cristo abre o coração ao amor e à experiência do perdão, para nos levar à descoberta do dom da vida. Os leigos são os apóstolos deste anúncio", membros ativos de uma Igreja que é apreciada no país porque "toca o coração, é simples, amigável, orante e alegre".

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Espiritualidade


O Batismo das crianças e o sentido da vida
Meditação para a festa do Batismo do Senhor

Por Pe. Anderson Alves

ROMA, 13 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Terminamos o período de Natal celebrando o Batismo de Jesus no rio Jordão por João Batista. O motivo é que nesse dia o Céu se abriu sobre o Senhor, o Espírito Santo desceu sobre Ele de modo visível e se escutou a voz do Pai que disse: «Este é o meu Filho, o amado, em quem me comprazo». O que aconteceu com o Senhor naquele dia, ocorre com o cristão no dia do seu Batismo. O Céu que tinha sido fechado após o pecado dos nossos primeiros pais é reaberto para cada homem no dia do seu Batismo. Então o Espírito Santo vêm ao seu encontro, fazendo-o membro da Igreja, o corpo de Cristo e lhe é dirigida a Palavra do Pai: «Tu és o meu Filho amado, em ti me comprazo».

Cristo foi batizado adulto, no início de sua vida pública. Então, poderíamos nos perguntar por que somos batizados quando somos recém-nascidos. E hoje em dia, por influxo de certa cultura pagã, é cada vez mais comum perguntar: «É justo batizar uma criança inconsciente e que não tenha feito o percurso catecumenal?» Ou então: «podemos impor a uma criança uma religião? Não deveríamos deixá-la crescer para escolher por si mesma?»

No ano 2012, numa lectio divina à diocese de Roma, o Papa Bento XVI afrontou a estas questões, dizendo coisas surpreendentes. Em primeiro lugar, essas questões nos mostram «já não vemos na fé cristã a vida nova, a vida verdadeira, mas vemos uma escolha entre outras, e também um peso que não se deveria impor sem obter o assentimento da parte do sujeito»[1]. E isso é uma triste verdade. Aqueles que se fazem essas perguntas esqueceram-se de que o Cristianismo é o dom gratuito de um Deus que é Pai, que por amor nos criou e redimiu com o sangue de seu Filho. De modo que o Cristianismo pode parecer um fardo aos que ignoram os dons recebidos e que não percebem que a moral cristã é um caminho de busca do perfeito crescimento das mais altas capacidades humanas. A Ética cristã não é o seguimento de um código moral abstrato e frio, mas a busca apaixonada pelas verdadeiras virtudes, presentes em Jesus Cristo.

O Papa disse naquela ocasião que a realidade é diferente de como a julgam os opositores do Batismo das crianças. De fato, o Cristianismo é o encontro definitivo de Deus com o homem. É a doação total de Deus, que criou todas as coisas por amor e que fez o homem à sua imagem e semelhança a fim de que esse possa participar na sua felicidade. O Cristianismo é a fonte da verdadeira alegria e a sua moral não é um fardo, mas uma estrada que leva à verdadeira felicidade, que indica o verdadeiro sentido da liberdade, ligada sempre à responsabilidade e ao amor de benevolência.

Atualmente há cristãos que se deixam influenciar pelo pessimismo de um ambiente pagão e chegam a se perguntar por que Deus criou todas as coisas, por que ele fez o homem livre, permitindo assim a existência do mal? A resposta da fé cristã diz que Deus ama e por esta razão criou todas as coisas livremente, comunicando assim o seu amor paternal. E a quem insiste perguntando por que ele nos amou e criou, a resposta é simplesmente que o verdadeiro amor não há um porquê. Por que os nossos pais nos amam? O verdadeiro amor não tem um motivo, mas é sempre algo livre, total e generoso. E somente esse amor nos torna livres e responsáveis.

Por que então batizar as crianças? Deveríamos perguntar-lhes se querem ou não? O Papa lembrava que também a vida nos é dada sem que possamos escolher previamente se a queremos ou não; a vida nos é dada necessariamente sem o nosso consentimento. «É justo doar a vida neste mundo, sem ter recebido o consentimento ("queres viver ou não?")? Pode-se realmente antecipar a vida, doar a vida sem que o sujeito tenha tido a possibilidade de decidir?». E respondia o Papa dizendo que é possível e justo para os pais gerar a vida, somente se eles têm a garantia de que, apesar de tudo, é bom viver. Ou seja, somente quando se há esperanças, tem-se a garantia de que a vida é boa, protegida por Deus e é um verdadeiro dom. Quando há esperanças, existe a resposta pelo sentido da vida, e a justificativa para que essa seja doada com generosidade. De modo que os pais realmente cristãos sabem que o Batismo é essa "garantia" de que a vida é boa, protegida por Deus, que é o verdadeiro Amor. O Batismo é, pois, a antecipação do sentido da vida, o "sim" de Deus que protege a vida e justifica a sua doação.

Sendo assim, o Batismo das crianças não é contrário a liberdade pessoal e é necessário que os pais pensem nesse dom como uma garantia de vida eterna para poder justificar o dom da vida aos seus filhos. Caso contrário, a vida se torna um bem questionável. «Só uma vida que está nas mãos de Deus, nas mãos de Cristo, imersos em nome do Deus trino, é certamente uma coisa boa que você pode dar sem escrúpulos", dizia então o Papa.

O mundo atual se esqueceu de que o Batismo nos faz verdadeiros filhos de Deus e por isso desvaloriza a vida. Nós, cristãos, devemos agradecer a Deus porque Ele, ao fazer-nos compreender o valor do nosso Batismo, nos faz reconhecer a importância de cada vida humana, em todas as suas fases e condições. Quem acredita realmente na vida eterna, que começa com o Batismo, sabe valorizar a vida presente, defendendo-a do perigo da manipulação e de outros interesses perversos. Agradeçamos a Deus pelo nosso Batismo, que nos faz filhos de Deus, membros do Corpo de Cristo e templos do Espírito Santo. Este grande dom deu o verdadeiro sentido das nossas vidas e não pode ser negado às novas gerações: somos filhos de Deus e estamos em caminho, não em direção à morte, mas à vida eterna com Deus que é Pai e Senhor de todas as coisas.

Pe. Anderson Alves, sacerdote da diocese de Petrópolis – Brasil. Doutorando em Filosofia na Pontificia Università della Santa Croce em Roma.

[1] PAPA BENTO XVI, "Lectio Divina" no Congresso Eclesial da Diocese De Roma, Basílica de São João de Latrão, 11/06/2012. Disponível em: http://www.vatican.va/holy_father/benedict_xvi/speeches/2012/june/documents/hf_ben-xvi_spe_20120611_convegno-ecclesiale_po.html

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Carta de um condenado
O inferno do ponto de vista de um condenado

Por Edson Sampel

SãO PAULO, 08 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - "Meu nome é Fulano de Tal. Estou no inferno, ou melhor, sou no inferno, porque se trata de uma condição permanente. Que horror! Não adianta rezar por mim. Na situação perene em que me encontro, não há mais esperança. A propósito, vi uma placa na porta do inferno, com os seguintes dizeres escabrosos, escritos em italiano: "Lasciate ogne speranza, voi ch' intrate!": "Deixai toda esperança, vós que entrais!" (Divina Comédia, canto III, 9).

Os que padecemos neste estado não podemos nos comunicar com os que  padecem no purgatório ou com os que ainda vivem (Lc 16,26). Mandei esta carta, sub-repticiamente, por um foguete.

Ouço choro e ranger de dentes o "tempo"*  todo (Mt 8,12). Mas, o que mais me atormenta é a saudade de Deus, por este motivo, também choro e ranjo meus dentes. Vêm-me à mente as palavras de santo Agostinho: "Fizeste-nos para ti, Senhor, e nosso coração estará inquieto, enquanto não encontrar em ti descanso." (Confissões, livro I, cap. 1). O inferno é a angústia da ausência de Deus.

Nem sequer posso me arrepender, pois, no momento de minha morte, minha vontade petrificou-se no mal, no pecado. Os anjos que nos atenazam, conhecidos como demônios, são milhões, bilhões, talvez.

Há um fogo inexaurível que nos queima a todos os réprobos ininterruptamente. Não é um fogo simbólico ou imaterial; é um fogo mesmo, que incinera, porém, não aniquila o corpo.

Percebo que o estado de inferno não começou com meu óbito. Ainda quando estava vivo, o inferno se instalou no meu dia a dia, muito mais do que o céu ou o purgatório. Tolamente, acreditava que só se pecava por ação: matando alguém, roubando, ferindo etc. Dizia a mim mesmo e aos meus contemporâneos: não faço mal a ninguém. Que engano ledo, mas catastrófico! Mea culpa! Se sou torturado neste estado horripilante, isto se deve igualmente ao bem que eu não fiz. Jesus estava na prisão; não o visitei. Ele estava doente; não fui ao hospital para confortá-lo. Deparou-se-me completamente nu na minha frente; entretanto, não o vesti. Esteve com fome, com sede; contudo, eu não o alimentei. Era um imigrante; não o acolhi (Mt 25, 31-46). Não imaginava que minha omissão fosse já o inferno na terra, malgrado eu vivesse bastante infeliz, cerrado no meu egoísmo.

A Igreja sempre me ensinou o caminho do céu. Desafortunadamente, fiz ouvidos moucos ao magistério dos papas e dos bispos. Que pena! E é propriamente uma pena o que sofro neste estado sem fim."

Edson Luiz Sampel é Doutor em Direito Canônico pela Pontifícia Universidade Lateranense, do Vaticano. Membro da União dos Juristas Católicas de São Paulo (Ujucasp).

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Bioética


Espanha mantém projetos de pesquisa com células-tronco embrionárias à revelia da legislação europeia
Denúncia é da associação Profesionales por la Ética

Por Redação

MADRI, 09 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - O governo espanhol mantém 29 linhas de cultivos celulares de alta capacidade de multiplicação in vitro em centros da Andaluzia (Banco Andaluz de Células-Tronco e Centro Andaluz de Biologia Molecular e Medicina Regenerativa), Barcelona (Centro de Medicina Regenerativa) e Valência (Centro Príncipe Felipe), conforme denúncias da associação Profesionales por la Ética.

Esse tipo de projeto de pesquisa envolve dois problemas: o primeiro é que a pesquisa com células-tronco embrionárias já é obsoleta e se mostrou ineficiente e sem resultados terapêuticos depois de dez anos de trabalhos; o segundo é que os projetos de pesquisa com células-tronco embrionárias são contrários à legislação europeia e não poderão ser patenteados, de acordo com a sentença do Tribunal Europeu de Justiça de Luxemburgo, de outubro de 2011.

"Solicitamos ao Ministério da Saúde [da Espanha] uma mudança de rota na pesquisa biomédica espanhola, para que os recursos sejam destinados a projetos eficientes, como os que usam células adultas e células IP (células-tronco capazes de gerar a maioria dos tecidos). Este pedido foi feito por 2.700 profissionais, cientistas e pesquisadores de vários âmbitos de atuação. Mas não recebemos resposta alguma", declara Teresa García-Noblejas, secretária geral e de comunicação dos Profesionales por la Ética.

A solicitação formal ao Ministério da Saúde espanhol foi feita mediante o Manifesto 25 de Março, que pede uma pesquisa biomédica eficiente, respeitosa do ser humano e adequada à legislação europeia.

O próximo passo é solicitar que o ministério explique o custo das pesquisas que usam embriões humanos em projetos com financiamento público e quais foram os seus resultados reais. "Não podemos dedicar recursos públicos a macroprojetos sem resultado terapêutico algum e ainda por cima contrários à legislação europeia", conclui García-Noblejas.

Para mais informações sobre os Profesionales por la Ética e sobre seu projeto "Direitos Humanos na Fase Pré-Natal": http://www.professionalesetica.org/.

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Angelus


"Renascer do alto, de Deus, da Graça"
Palavras de Bento XVI ao recitar o Angelus

CIDADE DO VATICANO, 13 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Apresentamos as palavras pronunciadas ao meio-dia de hoje, durante a oração do Angelus pelo Papa Bento XVI aos fiéis e peregrinos reunidos na Praça de São Pedro.

(Antes do Angelus)

Queridos irmãos e irmãs!

Com este domingo após a Epifania se conclui o Tempo litúrgico do Natal: tempo de luz, a luz de Cristo que, como novo sol aparecendo no horizonte da humanidade, dissipa as trevas do mal e da ignorância. Celebramos hoje a festa do Batismo de Jesus: aquele Menino, filho da Virgem, que contemplamos no mistério do seu nascimento; o vemos hoje adulto imergir-se nas águas do rio Jordão, e santificar assim todas as águas e o cosmo inteiro, como evidencia a tradição oriental. Mas porque Jesus, no qual não havia sombra do pecado, fez-se batizar por João? Por que queria cumprir aquele gesto de penitência e de conversão, junto a tantas pessoas que queriam assim preparar-se para a vinda do Messias? Aquele gesto – que marca o início da vida pública de Cristo – coloca-se na mesma linha da Encarnação, da descida de Deus do mais alto céu ao abismo do inferno. O senso deste movimento de abaixamento divino se resume em uma única palavra: amor, que é o nome próprio de Deus. Escreve o apóstolo João: "Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: Deus mandou ao mundo o seu Filho unigênito, para que vivamos por ele", e o mandou "como expiação dos nossos pecados" (1 Jo 4, 9-10). Então porque o primeiro ato público de Jesus foi receber o batismo de João, o qual, vendo-o chegar, disse: "Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo" (Jo 1, 29).

Narra o evangelista Lucas que enquanto Jesus recebendo o batismo, "estava em oração, o céu se abriu e desceu sobre Ele o Espírito Santo em forma corpórea, como uma pomba, e veio uma voz do céu: "Tu és o meu Filho amado, em ti ponho o meu bem-querer" (3, 21-22). Este Jesus é o filho de Deus que é totalmente imerso na vontade de amor do Pai. Este Jesus é Aquele que morrerá na cruz e ressurgirá pela potência do mesmo Espírito que agora pousa sobre Ele e o consagra. Este Jesus é o homem novo que quer viver como filho de Deus, ou seja, no amor; o homem que frente ao mal do mundo, escolhe a via da humildade e da responsabilidade, escolhe não salvar a si mesmo, mas oferecer a própria vida pela verdade e pela justiça. Ser cristão significa viver assim, mas este estilo de vida comporta um renascimento: renascer do alto, de Deus, da Graça. Este renascimento é o Batismo, que Cristo doou à sua Igreja para regenerar os homens à uma vida nova. Afirma um antigo texto atribuído a santo Hipólito: "Quem cai com fé neste banho de renascimento, renuncia ao diabo e se afeiçoa com Cristo, nega o inimigo e reconhece que Cristo é Deus, se despoja da escravidão e se veste de adoção filial (Discurso da Epifania, 10:pg 10, 862).

Segundo a tradição, nesta manhã tive a alegria de batizar um grande grupo de crianças que nasceram nos últimos três ou quatro meses. Neste momento, gostaria de estender a minha oração e a minha benção a todos os recém nascidos; mas, sobretudo, convidar a todos a recordar do próprio Batismo, daquele renascimento espiritual que nos abriu o caminho da vida eterna. Possa cada cristão, neste Ano da Fé, redescobrir a beleza de ser renascido do alto, do amor de Deus, e viver como filho de Deus.  

(Após o Angelus)

Queridos irmãos e irmãs!

Hoje celebramos o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Na mensagem deste ano comparei a migração a uma "peregrinação de fé e de esperança." Quem deixa sua terra o faz porque espera um futuro melhor, mas o faz também porque confia em Deus, que guia os passos do homem, como Abraão. E assim os migrantes são portadores de fé e de esperança no mundo. A cada um deles dirijo hoje a minha saudação, com uma oração e benção especiais. Saúdo em particular as comunidades católicas de migrantes presentes em Roma, e as confio à proteção de santa Cabrini e do beato Scalabrini.

 (Trad.MEM)

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Audiência de quarta-feira


O agir de Deus não se limita às palavras
Catequese de Bento XVI sobre a Encarnação realizada durante a Audiência Geral de quarta-feira

CIDADE DO VATICANO, 09 de Janeiro de 2013 (Zenit.org) - Queridos irmãos e irmãs,

Neste tempo natalício nos concentramos mais uma vez no grande mistério de Deus que desceu do seu Céu para entrar na nossa carne. Em Jesus, Deus encarnou-se, e tornou-se homem como nós, e assim nos abriu a estrada para o seu Céu, para a comunhão plena com Ele.

Nestes dias, em nossas Igrejasouviu-se muitas vezes o termo "Encarnação" de Deus, para exprimir a realidade que celebramos no Santo Natal: o Filho de Dus se fez homem, assim como recitamos no Credo. Mas o que significa esta palavra central para falar da fé cristã? Encarnação deriva do latim "incarnatio". Santo Inácio de Antioquia – desde o primeiro século – e, sobretudo, santo Irineu usaram este termo refletindo sobre o Prólogo do Evangelho de são João, em particular sobre a expressão: "O Verbo se fez carne" (Jo 1, 14). Aqui a palavra "carne", segundo o uso hebraico, indica o homem na sua integridade, todo o homem, mas propriamente sobre o aspecto da sua transitoriedade e temporalidade, da sua pobreza e contingência. Isto para dizer que a salvação trazida por Deus fazendo-se carne em Jesus de Nazaré toca ao homem na sua realidade concreta e em qualquer situação em que se encontra. Deus assumiu a condição humana para curá-la de tudo o que a separa Dele, para permirtir-nos chamá-lo,em seu Filho Unigênito, como o nome de "Abbá, Pai" e sermos verdadeiramente filhos de Deus. Santo Irineu afirma: "Este é o motivo pelo qual o Verbo se fez homem, e o Filho de Deus, Filho do homem: para que o homem, entrando em comunhão com o Verbo e recebendo assim a filiação divina, se transformasse filho de Deus" (Adversus haereses, 3,19,1: PG 7,939; cfr Catecismo da Igreja Católica, 460).

"O Verbo se fez carne" é uma daquelas verdades com a qual estamos tão acostumados que quase não nos afeta mais a grandeza do evento que essa exprime. E efetivamente neste período natalício, no qual tal expressão retorna sempre na liturgia, muitas vezes, se fica mais atento aos aspectos exteriores, às "cores" da festa, que ao coração da grande novidade cristã que celebramos: algo absolutamente impensável, que apenas Deus poderia operar e no qual podemos entrar somente com a fé. O Logos, que está em Deus, o Logos que é Deus, o Criador do mundo, (cf Jo 1,1), pelo qual todas as coisas foram criadas (cf 1,3), que acompanhou e acompanha os homens na história com a sua luz (cf 1, 4-5; 1-9), se faz um entre nós, faz morada em meio a nós, se faz um de nós (cf 1,14). O Concilio Ecumênico Vaticano II afirma: "O Filho de Deus ... trabalhou com mãos de homem, pensou com mente de homem, agiu com vontade de homem, amou com coração de homem. Nascendo da Virgem Maria, Ele se fez verdadeiramente um de nós, em tudo similar a nós exceto no pecado (Cost. Gaudium Et spes, 22). É importante portanto recuperar o estupor diante deste mistério, deixar-nos envolver pela grandeza deste evento: Deus, o verdadeiro Deus, Criador de tudo, percorreu como homem nossas estradas, entrando  no tempo do homem, para comunicar-nos a sua própria vida (cf 1 Jo 1, 1-4). E o fez não com o esplendor de um soberano, que submete o mundo com o seu poder, mas com humildade de uma criança.

Gostaria de destacar um segundo elemento. No Santo Natal normalmente se troca presente com as pessoas mais próximas. Às vezes pode ser um gesto feito por convenção, mas geralmente exprime afeto, é sinal de amor e de estima. Na oração sobre as ofertas da Missa da aurora da Solenidade de Natal a Igreja reza "Acolhei, ó Pai, a nossa oferta nesta noite de luz, e por essa misteriosa troca de dons transforma-nos no Cristo teu Filho, que elevou o homem ao seu lado na glória". O pensamento da doação está ao centro da liturgia e traz à nossa consciência o original presente de Natal: naquela noite santa, Deus fazendo-se carne, quis fazer-se presente para os homens, doou a si mesmo por nós; Deus fez de seu Filho único um presente para nós, assumiu a nossa humanidade para doar-nos a sua divindade. Este é o grande presente. Também quando presenteamos o importante não é que seja algo mais ou menos caro; mas quem não doa um pouco de si mesmo, doa sempre muito pouco; aliás, muitas vezes busca-se substituir o coração e o compromisso de doação de si pelo dinheiro, com coisas materiais. O mistério da Encarnação está a indicar que Deus não fez assim: não doou alguma coisa, mas doou a si mesmo no seu Filho Unigênito. Encontramos aqui o modelo do nosso doar, para que as nossas relações, especialmente aquelas mais importantes, sejam guiadas pela gratuidade do amor.

Gostaria de oferecer uma terceira reflexão: o fato da Encarnação, de Deus que se fez homem como nós, nos mostra o realismo sem precedentes do amor divino. O agir de Deus, de fato, não se limita às palavras, podemos dizer que Ele não se contenta em falar, mas se imerge na nossa história e assume para si o cansaço e o peso da vida humana. O Filho de Deus se fez verdadeiramente homem, nasceu da Virgem Maria, em um tempo e em um lugar determinado, em Belém durante o reinado do imperador Augusto, sob o governador Quirino (cf Lc 2, 1-2); cresceu em uma família, teve amigos, formou um grupo de discípulos, instruiu os Apóstolos para continuarem a sua missão, terminou o percurso de sua vida terrena na cruz. Este modo de agir de Deus é um forte estimulo para nos interrogarmos sobre o realismo da nossa fé, que não deve ser limitado à esfera do sentimento, das emoções, mas deve entrar no concreto da nossa existência, deve tocar a nossa vida de cada dia e orientá-la também no modo prático. Deus não parou nas palavras, mas nos indicou como viver, partilhando da nossa mesma experiência, exceto no pecado. O Catecismo de são Pio X, que alguns de nós estudamos quando jovens, com a sua essencialidade, pergunta: "Para viver segundo Deus, o que devemos fazer?",oferece a seguinte resposta: " Para viver segundo Deus devemos acreditar nas verdades reveladas por Ele e observar os seus mandamentos com a ajuda da sua graça, que é obtida mediante os sacramentos e a oração". A fé tem um aspecto fundamental que interessa não apenas à mente e ao coração, mas à toda a nossa vida.

Proponho um último elemento para vossa reflexão. São João afirma que o Verbo, o Logos era desde o princípio em Deus, e que tudo foi feito por meio do Verbo e nada do que existe foi feito sem Ele (cf Jo 1, 1-3). O Evangelista alude claramente à narração da criação no primeiro capitulo do Livro de Gênesis, e o lê novamente à luz de Cristo. Este é um critério fundamental na leitura cristã da Bíblia: o Antigo e o Novo Testamento devem ser lidos sempre em conjunto e a partir do Novo é revelado o sentido mais profundo também do Antigo. Aquele mesmo Verbo, que existe desde sempre com Deus, que é Deus Ele mesmo e por meio do qual e em vista do qual tudo foi criado (cf Col 1, 16-17), fez-se homem: o Deus eterno e infinito se imergiu na finitude humana, na sua criatura, para reconduzir o homem e a inteira criação a Ele. O Catecismo da Igreja Católica afirma: "A primeira criação encontra o seu sentido e o seu ponto culminante na nova criação em Cristo, cujo esplendor ultrapassa o da primeira" (n.349). Os Padres da Igreja aproximam Jesus a Adão, de modo a defini-lo "segundo Adão" ou Adão definitivo, a imagem perfeita de Deus. Com a Encarnação do Filho de Deus surge uma nova criação, que dá a resposta completa à pergunta " Quem é o homem?". Somente em Jesus se manifesta plenamente o projeto de Deus sobre o ser humano: Ele é o homem definitivo segundo Deus. O Concílio Vaticano II  o reitera com força: "Na realidade, somente no mistério do Verbo encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem ... Cristo, novo Adão, manifesta plenamente o homem ao homem e revela a eles a sua vocação" (cost. Gaudium et spes, 22; cf Catecismo da Igreja Católica, 359). Naquele menino, o Filho de Deus contemplado no Natal, podemos reconhecer a verdadeira face, não somente de Deus, mas a verdadeira face do ser humano; e somente abrindo-nos à ação da sua graça e procurando cada dia segui-Lo nós realizaremos o projeto de Deus para nós, para cada um de nós.

Queridos amigos, neste período meditemos a grande e maravilhosa riqueza do Mistério da Encarnação, para deixar que o Senhor nos ilumine e nos transforme sempre mais à imagem de seu Filho feito homem por nós.

Ao final Bento XVI dirigiu a seguinte saudação em português:

Uma cordial saudação a todos os peregrinos de língua portuguesa, a quem agradeço a presença e desejo a riqueza imensa e inesgotável que é Cristo, o Deus feito homem. Revesti-vos de Cristo! E, com Ele, o vosso Ano Novo não poderá deixar de ser feliz. Sobre vós e vossas famílias, desça a minha Bênção.

(Trad.MEM)

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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.

"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]