É de aconselhar que se leia primeiro toda a Liturgia da Palavra.
1º DOMINGO DA QUARESMA - ANO C !
A Liturgia da Palavra deste 1º Domingo da Quaresma – C, apresenta-nos Jesus como modelo para todos os cristãos que são tentados pelas seduções do mundo, e em que Deus faz propostas a que o homem deve saber corresponder.
Depois que Cristo veio, foi sujeito às tentações e triunfou, num combate fundamental, temos a certeza de que também triunfaremos na luta quotidiana contra as seduções do mal.
Se aderirmos a Ele, poderemos com Ele conhecer a luz da Ressurreição.
A Quaresma deve levar-nos a renovar a nossa fé no Deus da salvação, que enviou Jesus Cristo a restaurar o plano de amor e felicidade, destruído por Adão.
A 1ª Leitura, do Livro do Deuteronómio, lembra-nos que, através da oferta dos primeiros frutos da terra, o Povo eleito reconhece que tudo vem de Deus : a terra que cultiva, assim como a energia para a cultivar.
Com este gesto, o homem vencia a tentação de se encerrar no mundo material, afirmando o primado do espiritual : «nem só de pão vive o homem».
- «O sacerdote receberá da tua mão os primeiros produtos da terra e pô-los-á diante do altar do Senhor, teu Deus(...). E prostar-te-ás em adoração diante do Senhor, teu Deus». (1ª Leitura).
Mas este gesto tem uma dimensão religiosa mais profunda.
Na verdade, a oferta das primícias a Deus, por intermédio do sacerdote, era acompanhada duma autêntica profissão de fé, em que se recapitulavam os acontecimentos mais importantes da História da Salvação.
O sentido da tentação leva o Salmo Responsorial a pedir a ajuda de Deus :
- "Estai comigo, Senhor, no meio da adversidade".
Na 2ª Leitura, S. Paulo diz aos Romanos, e hoje também a todos nós, que a fé cristã consiste na adesão a uma Pessoa, Jesus Cristo Ressuscitado, e, por isso, Senhor.
Com efeito todas as maravilhosas intervenções salvíficas de Deus têm o seu ponto culminante no Mistério Pascal de Cristo vitorioso e Salvador.
- «Todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido (...). Pois todo aquele que invocar o nome do Senhor, será salvo». (2ª Leitura).
Só esta fé em Cristo Ressuscitado, proclamada com alegria até às últimas consequências, nos dá a salvação.
O Evangelho de S. Lucas mostra-nos as tentações de Jesus no deserto, e diz-nos que elas não foram um acontecimento isolado.
Foi o começo duma luta contra o «príncipe deste mundo», que se prolongará por toda a vida, atingindo o auge com a Morte em Jerusalém.
Mas não podemos esquecer a quem devemos adorar.
- «Ao Senhor teu Deus é que hás-de adorar, só a Ele prestarás culto». (Evangelho).
Cristo é conduzido pelo Espírito ao deserto para repetir a fidelidade do homem que lhe responde.
Apoiando-Se inteiramente na Palavra de Deus "Está escrito", Cristo sai vitorioso da provação.
É uma antecipação da obediência incondicional do Filho bem-amado que se torna o primogénito da nova humanidade, fiel a Deus e a chamada à sua intimidade.
Todo o homem, como toda a geração e toda a comunidade, são chamados a reviver a mesma opção fundamental.
A mais temível tentação não é a que nasce da carne e do mundo, mas a que nasce duma situação em que a bondade de Deus não entra no nosso campo de percepção.
O Cristão pode então dizer :
- Onde está então Deus?
Só encontra indiferença e silêncio.
Deus mostra-Se tão distante que ele sente o abandono de Cristo.
Vive naquela situação-limite em que viveram :
- Abraão quando Deus lhe ordenou que sacrificasse Isaac.
- Job durante a doença.
- Jesus Cristo na Sua agonia.
A confiança incondicional é o único meio de salvação, mas ela toca as raias da revolta contra Deus.
Tais situações são a tentação suprema para o espírito.
Atacam a fé na sua própria raiz e compreende-se porque Cristo pede aos cristãos que fujam no caso de perseguição.
A não intervenção de Deus é sentida, então, de modo tão cruel que poderia destruir a fé.
Não é, pois, de admirar que a Igreja e os cristãos orem todos os dias, para que Deus saia daquele seu silêncio que abrevia o tempo em que não manifesta o seu poder.
Como a de Jesus, a vida do cristão conhece também a prova da tentação.
O baptismo que nos faz filhos de Deus, não nos introduz num estado de segurança e de imunidade.
É antes o começo de uma dura caminhada, no decorrer da qual a nossa fidelidade a Deus é, muitas vezes, posta à prova.
Em todas as circunstâncias, porém, o cristão poderá ser invencível.
Percorrer o caminho de Cristo quer dizer encontrar-se com Ele; quer dizer obstinar-se decididamente em seu caminho vencendo todos os obstáculos.
O sinal visível desse encontro é a celebração eucarística.
Sinal não só da nossa opção por Cristo, mas também de opção pelos homens como irmãos e companheiros de viagem.
É escolher a estrada estreita do amor e da justiça, porque foi esse o caminho de Cristo.
Participar humanamente na Eucaristia significa tornar-se pão para os outros, como Cristo o é para nós; significa dar a vida para fazer crescer em torno de nós o amor e a justiça, o sorriso e a esperança.
Cristo Ressuscitado, que venceu, definitivamente, o mal, ficou na Eucaristia, para nos comunicar esse poder e nos conduzir segundo o plano da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica :
538. – Os Evangelhos falam dum tempo de solidão que Jesus passou no deserto, imediatamente depois de ter sido baptizado por João : «Impelido» pelo Espírito para o deserto, Jesus ali permaneceu sem comer durante quarenta dias. Vive com os animais selvagens e os anjos O servem. No fim desse tempo, Satanás tenta-O por três vezes, procurando pôr em causa a sua atitude filial para com Deus; Jesus repele esses ataques, que recapitulam as tentações de Adão no paraíso e de Israel no deserto; e o Diabo afasta-se d'Ele «até determinada altura».(Lc.4,13).
540. – A tentação de Jesus manifesta a maneira própria de o Filho de Deus ser Messias, ao contrário da que Lhe propõe Satanás e que os homens desejam atribuir-Lhe. Foi por isso que Cristo venceu o Tentador, por nós : «Nós não temos um sumo-sacerdote incapaz de se compadecer das nossas fraquezas; temos um, que possui a experiência de todas as provações, tal como nós, com excepção do pecado» (Heb.4,15). Todos os anos, pelos quarenta dias da Grande Quaresma, a Igreja se une ao mistério de Cristo no deserto.
Se és Filho de Deus atira-Te daqui abaixo... Dar-Te-ei todo este poder...se me adorares.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]