Rodrigo Constantino
O escorregão de André Lara Resende
Espião francês pode?
Cheiro de fraude na OGX
Cotas raciais no Maracanã?
Cancele o trem-bala, Dilma!
Administrando a desgraça econômica
Inverno árabe
Transporte: problema de gestão
Monstro adolescente
O escorregão de André Lara Resende
Posted: 05 Jul 2013 04:59 PM PDT
Rodrigo Constantino
André Lara Resende escreveu uma excelente análise sobre a trajetória político-econômica do Brasil das últimas décadas, publicada na revista EU&Fim de Semana do Valor. Chama-se "O mal-estar contemporâneo", e resume com muita precisão as diferentes fases dos governos que passaram. Lara Resende faz um sucinto retrato da desfuncionalidade de nosso estado atualmente. Ele escreve:
Apesar de extrair da sociedade mais de um terço da renda nacional, o Estado perdeu a capacidade de realizar seu projeto. Não o consegue entregar porque, apesar de arrecadar 36% da renda nacional, investe menos de 7% do que arrecada, ou seja, menos de 3% da renda nacional. Para onde vão os outros 93% dos quase 40% da renda que extrai da sociedade? Parte, para a rede de proteção e assistência social, que se expandiu muito além do mercado de trabalho organizado, mas, sobretudo, para sua própria operação. O Estado brasileiro tornou-se um sorvedouro de recursos, cujo principal objetivo é financiar a si mesmo. Os sinais dessa situação estão tão evidentes, que não é preciso conhecer e analisar os números. O Executivo, com 39 ministérios ausentes e inoperantes; o Legislativo, do qual só se tem más notícias e frustrações; o Judiciário pomposo e exasperadoramente lento.
O Estado foi também incapaz de perceber que seu projeto não corresponde mais ao que deseja a sociedade. O modelo desenvolvimentista do século passado tinha dois pilares. Primeiro, a convicção de que a industrialização era o único caminho para escapar do subdesenvolvimento. Países de economia primário-exportadora nunca poderiam almejar alcançar o estágio de desenvolvimento das economias industrializadas. Segundo, a convicção de que o capitalismo moderno exige a intervenção do Estado em três dimensões: para estabilizar as crises cíclicas das economias de mercado; para prover uma rede de proteção social; e, no caso dos países subdesenvolvidos, para liderar o processo de industrialização acelerada. As duas primeiras dimensões da ação do Estado são parte do consenso formado depois da crise dos anos 1930. A terceira decorre do sucesso do planejamento central soviético em transformar uma economia agrária, semifeudal, numa potência industrial em poucas décadas. A proteção tarifária do mercado interno, com o objetivo de proteger a indústria nascente e promover a substituição de importações, completava o cardápio com um toque de nacionalismo.
O trecho em que ele disseca o projeto petista de poder, assim como seu modelo econômico, também é muito bom e merece ser citado quase na íntegra:
Nos dois primeiros anos do governo Lula, a política econômica foi essencialmente pautada pela necessidade de acalmar os mercados financeiros, sempre conservadores, assustados com a perspectiva de uma virada radical à esquerda. A partir daí, o PT passou a pôr em prática o seu projeto. Um projeto muito diferente do que defendia enquanto oposição. O projeto do PT no governo, frustrando as expectativas dos que esperavam mudanças, muito mais do que o aparente continuísmo dos primeiros anos do governo Lula, revelou-se flagrantemente retrógrado. É essencialmente a volta do nacional-desenvolvimentismo, inspirado no período em este que foi mais bem-sucedido: durante regime militar. A crise internacional de 2008 serviu para que o governo abandonasse o temor de desagradar aos mercados financeiros e, sob pretexto de fazer política macroeconômica anticíclica, promovesse definitivamente a volta do nacional-desenvolvimentismo estatal.
O PT acrescentou dois elementos novos em relação ao projeto nacional-desenvolvimentista do regime militar: a ampliação da rede de proteção social, com o Bolsa Família, e o loteamento do Estado. A ampliação da rede de proteção social se justifica, tanto como uma inciativa capaz de romper o impasse da pobreza absoluta, em que, apesar dos avanços da economia, grande parte da população brasileira se via aprisionada, quanto como forma de manter um mínimo de coerência com seu discurso histórico. Já a lógica por trás do loteamento do Estado é puramente pragmática. Ao contrário do regime militar, que não precisava de alianças difusas, o PT utilizou o loteamento do Estado, em todas suas instâncias, como moeda de troca para compor uma ampla base de sustentação. Sem nenhum pudor ideológico, juntou o sindicalismo de suas raízes com o fisiologismo do que já foi chamado de Centrão, atualmente representado principalmente pelo PMDB, no qual se encontra toda sorte de homens públicos, que, independentemente de suas origens, perderam suas convicções ao longo da estrada e hoje são essencialmente cínicos.
Há ainda um terceiro elemento do projeto de poder do PT. Trata-se da eleição de uma parte do empresariado como aliada estratégica. Tais aliados têm acesso privilegiado ao crédito favorecido dos bancos públicos e, sobretudo, à boa vontade do governo, para crescerem, absorverem empresas em dificuldades, consolidarem suas posições oligopolísticas no mercado interno e se aventurarem internacionalmente como "campeões nacionais".
A combinação de um projeto anacrônico com o loteamento do Estado entre o sindicalismo e o fisiologismo político, ao contrário do pretendido, levou à sobrevalorização cambial e à desindustrialização. Só foi possível sustentar um crescimento econômico medíocre enquanto durou a alta dos preços dos produtos primários, puxados pela demanda da China. A ineficiência do Estado nas suas funções básicas - segurança, infraestrutura, saúde e educação - agravou-se significativamente. Ineficiência realçada pela redução da pobreza absoluta na população, que aumentou a demanda por serviços de qualidade.
Se fui só elogios até aqui, por que o título do texto? Porque depois de tanta análise acurada, em minha opinião, o economista escorregou no final. E o fez porque tem focado com quase obsessão nessa bandeira de "pós-consumismo", que, diga-se de passagem, tem forte cheiro de Marina Silva. O autor conclui:
No mundo todo, a população parece já ter intuído a exaustão do modelo consumista do século XX, mas ainda não encontrou nas esferas da política tradicional a capacidade de participar da formulação das alternativas. Apegada a fórmulas feitas, a política continua pautada pelos temas e objetivos de um mundo que não corresponde mais à realidade de hoje. As grandes propostas totalizantes já não fazem sentido. O nacionalismo, a obsessão com o crescimento material, a ênfase no consumo supérfluo, os grandes embates ideológicos, temas que dominaram a política nos últimos dois séculos, perderam importância. Hoje, o que importa são questões concretas, relativas ao cotidiano, questões de eficiência administrativa para garantir a qualidade de vida.
É significativo que os protestos no Brasil tenham começado com a reivindicação do passe livre nos transportes públicos urbanos. A questão da mobilidade nas grandes metrópoles é paradigmática da exaustão do modelo produtivista-consumista. A indústria automobilística foi o pilar da industrialização desenvolvimentista e o automóvel o símbolo supremo da aspiração consumista. O inferno do trânsito nas grandes cidades, que se agrava quanto mais bem-sucedido é o projeto desenvolvimentista, é a expressão máxima da completa inviabilidade de prosseguir sem uma revisão profunda de objetivos. Ao que parece, a sociedade intuiu a falência do projeto do século passado antes que o Estado e aqueles que deveriam representá-la - governo e oposição, Executivo, Legislativo e imprensa - tenham se dado conta de que hoje trabalham com objetivos anacrônicos.
A insatisfação difusa dos protestos pode vir a ser catalizadora de uma mudança profunda de rumo, que abra o caminho para um novo desenvolvimento, não mais baseado exclusivamente no crescimento do consumo material, mas na qualidade de vida. Para isso, é preciso que surjam lideranças capazes de exprimir, formular e executar o novo desenvolvimento.
Qualidade de vida todos querem, claro. Isso é legítimo. Também é totalmente correto apontar a falha de modelos que focam somente em crescimento econômico, em PIB, ignorando o restante. Mas daí a partir para o ataque ao consumo em si, ao anseio normal e saudável das classes médias e baixas de subir na vida, de ter mais acesso a bens e serviços que são exclusividade dos mais ricos, de poder ter um carro próprio, isso me parece um erro.
O caos das nossas cidades não se deve ao consumo material mais acessível aos mais pobres, e sim à falta de competência estatal, de planejamento, de liberdade até. Há excessivo intervencionismo estatal, desvio de recursos, prioridades muito mal-calibradas, ineficiência dos governos, enfim, inúmeros obstáculos e problemas criados pelo próprio governo, não pelo desejo de consumir mais dos indivíduos. Um suíço consome muito mais que um brasileiro, na média, e vive muito melhor, com muito mais qualidade de vida. O mesmo vale para um australiano, americano, inglês etc.
Não, definitivamente o cerne da questão não está nesse modelo "consumista", e sim no modelo intervencionista do estado. Países ricos consomem muito mais, e nem por isso estão imersos em tanto descaso das autoridades, em tanto caos urbano. Claro, cidades grandes, megalópolis, vão sofrer inexoravelmente com trânsito, com alguma poluição. Faz parte do progresso, é o preço da prosperidade, e nem os mais românticos, na prática, querem trocar isso pela vida tribal, indígena, dos que estão "protegidos" do consumo "exacerbado".
Portanto, confesso ficar decepcionado quando alguém do gabarito de André Lara Resende faz coro a esse tipo de mensagem, simpática aos ouvidos doutrinados pelo ecoterrorismo, mas que acaba servindo como pretexto para mais avanços estatais sobre nossas liberdades. Tudo em nome desse novo modelo, que vai superar o consumo industrial, normalmente para quem já desfruta dos principais produtos criados pelas modernas indústrias mundiais.
Espião francês pode?
Posted: 05 Jul 2013 10:07 AM PDT
Rodrigo Constantino
Deu na Folha: França mantém amplo esquema de espionagem
O governo da França mantém um amplo esquema de espionagem usado para interceptar, sem autorização judicial, ligações telefônicas e mensagens na internet, afirmou ontem o jornal "Le Monde".
A publicação comparou a estrutura ao Prism, sistema de vigilância dos EUA cuja existência foi revelada pelo ex-técnico da CIA Edward Snowden.
A revelação constrange o governo do presidente François Hollande, que havia protestado contra a coleta de dados pelos americanos.
De acordo com o "Le Monde", a espionagem feita no país é ilegal e não obedece a nenhum tipo de controle externo.
O governo francês não havia comentado o assunto até a noite de ontem.
Onde estão os esquerdistas? Onde está a revolta dos artistas e intelectuais da gauche caviar? Quando o alvo do ataque é o governo americano, sai de baixo; especialmente se for um governo Republicano! Obama tem recebido muitas críticas sim, por usar a abusar de mecanismos que, sob Bush, eram alvo de repúdio absoluto. Mas mesmo Obama já recebe uma crítica bem mais suave do que receberia Bush. E isso só porque ele não pode mais ser reeleito.
Mas quando é o governo francês... aí a turma dos "direitos civis" fica bem mais discreta, calma. Quando é o governo francês sob um socialista como Hollande então! Esse tipo de duplo padrão demonstra que falta muita imparcialidade nos debates. Governantes mais alinhados com o pensamento de esquerda gozam de uma espécie de salvo-conduto para abusar do poder.
Isso não está certo, e precisa mudar. Mas, para tanto, é preciso colocar a busca pela verdade e a objetividade das críticas acima da ideologia. Talvez seja pedir muito desses artistas e intelectuais...
Cheiro de fraude na OGX
Posted: 05 Jul 2013 09:46 AM PDT
Rodrigo Constantino
A tese predominante, até aqui, é a de que Eike Batista acreditou em seus próprios discursos, seus sonhos ousados, arrogantes, fantasiosos. Eu mesmo sou dessa opinião, pois parece que ele se comprometeu até na pessoa física com algumas garantias aos empréstimos. Mas essa notícia na Folha é da maior gravidade! Acende uma luz amarela, solta no ar um forte cheiro de fraude, ao menos depois que "a vaca foi pro brejo". Ela diz:
Executivos da petroleira OGX, de Eike Batista, tinham fortes indícios havia ao menos seis meses de que teriam que desistir da exploração de quatro campos de petróleo da empresa, apurou a Folha no alto escalão do grupo X.A decisão foi anunciada na última segunda-feira e fez as ações da empresa desabarem.
Dados apurados pelo corpo técnico da petroleira indicavam à diretoria já no início do ano que o custo de extração de petróleo nos campos Tubarão Tigre, Tubarão Gato, Tubarão Areia e Tubarão Azul, na bacia de Campos (RJ), seriam maiores do que o esperado, tornando assim desvantajoso desenvolvê-los.
O comunicado oficial ao mercado, no entanto, foi sucessivamente adiado enquanto os executivos tentavam outras soluções para engordar o portfólio da companhia e dirimir os prejuízos do anúncio aos investidores.
O livre mercado depende de boas instituições para funcionar bem. Entre elas, instrumentos de proteção aos acionistas minoritários contra fraudes. Onde estavam a CVM, a ANP e demais órgãos fiscalizadores do governo? Qual será a reação a esta notícia, caso comprovada? Esse tipo de comportamento mancha nossas instituições, prejudica a imagem do próprio mercado.
Eike Batista, em linhas gerais, representa o anti-mercado. Desde o começo tenho apontado sua simbiose nefasta com o governo. Um empresário que vem publicamente tecer elogios patéticos ao BNDES, pois recebeu bilhões subsidiados do banco, ou que enaltece a importância de um modelo misto, com forte presença estatal na economia, pois dela se aproveita, não pode ser visto como um ícone do capitalismo de livre mercado.
E agora mais essa. O mercado de capitais americano funciona bem, conta com mais de 14 mil empresas com capital aberto, milhões de acionistas do mundo todo, justamente porque há credibilidade, confiança, ainda que casos de fraude ocorram, como no episódio Madoff (duramente punido, porém, e atrás das grades até hoje).
O Brasil precisa aprender a respeitar mais as instituições que preservam o funcionamento do mercado. Queremos mais investigações! E queremos punições severas caso fiquem comprovadas eventuais fraudes, ou abuso de poder sobre os acionistas minoritários. O país precisa deixar no passado a mentalidade que justifica o apelido de "menorotário" para os acionistas minoritários das companhias com ações na Bolsa.
Cotas raciais no Maracanã?
Posted: 05 Jul 2013 07:53 AM PDT
Fonte: Folha
Rodrigo Constantino
Deu na Folha: Em uma entrevista coletiva que tinha como objetivo divulgar o lançamento de sua biografia, "Gilberto Bem Perto", mas que acabou enveredando para assuntos variados, o cantor Gilberto Gil criticou, na tarde desta quinta-feira, em Paraty (RJ), a falta de acesso da população negra e pobre às partidas da Copa das Confederações e da Copa-2014, no Brasil, por conta do alto preço dos ingressos.
"Tem de haver uma mobilização autopromovida pelas favelas, pelas periferias, para suprir a carência que esses grandes eventos globais acabam impondo ao Brasil, que é a filtragem pelo preço dos ingressos", disse o ex-ministro da Cultura, que afirmou ter ido ao Maracanã no último domingo, para a final entre Brasil e Espanha.
"Fiquei na tribuna de honra, ao lado do [Joseph] Blatter [presidente da Fifa], do Zagallo, Ivete Sangalo, Jorge Ben Jor. Quando cheguei em casa, vi pela TV que o lugar onde os jogadores correram para abraçar a torcida não tinha o matiz racial brasileiro, era esbranquiçado. Isso no Maracanã, onde as pessoas da Mangueira costumavam descer para ver os jogos."
Comento: Era só o que faltava! Cotas raciais para jogos! Gilberto Gil está fazendo coro a Frei David Santos, da Educafro, que, segundo Ancelmo Gois, tem demandado a mesma coisa da Fifa. Essa gente não vai descansar enquanto não criar um Brasil totalmente segregado, com "negros" (lembrem-se sempre de que 40% da população é parda, mestiça, recusa o rótulo purista de "raça") de um lado, e brancos do outro.
O que o país precisa é oferecer melhores condições para todos, independente da cor da pele. E isso não será por meio de mais intervenção estatal, com criação de privilégios na canetada, e sim por reformas liberais que permitam mais prosperidade econômica.
Por fim, Gilberto Gil deveria convencer seu camarada Chico Buarque a reduzir os preços dos ingressos para seus shows, pois nesse momento, os artistas de esquerda parecem esquecer o discurso bonitinho para a platéia, e mergulhar nessa coisa "terrível" chamada lucro. Será que Gil vai reclamar do show do colega ter muito "branco de elite", e ninguém das favelas e periferias?
Cancele o trem-bala, Dilma!
Posted: 05 Jul 2013 06:51 AM PDT
Rodrigo Constantino
A presidente Dilma tem repetido incansavelmente que tem escutado a "voz rouca das ruas". Alguns mais otimistas têm acreditado. Tudo mentira, claro. Se ela realmente tivesse escutando as vozes dos protestos, uma das primeiras coisas que seu governo teria feito, que não precisa de Constituinte, plebiscito ou referendo, bastando tomar a decisão unilateralmente e comunicá-la, seria desistir do absurdo projeto do trem-bala.
Aqui eu tentei apresentar alguns pontos contra essa loucura, esse descaso com o nosso dinheiro. Hoje, em artigo no GLOBO, Antonio Dias Leite traz dados que provam essa prioridade altamente estranha do governo:
Causa espécie que nesse quadro tumultuado ainda esteja de pé o projeto iniciado em 2007, a ser brevemente licitado, do trem-bala, de 511 quilômetros entre Campinas e Rio de Janeiro, que atravessaria 32 municípios densamente povoados, cujo prazo de construção é imprevisível. O seu orçamento, três vezes revisto, está no nível de dezenas de bilhões de reais, a ser coberto, na sua maior parte, com recursos públicos, da mesma ordem de grandeza dos que poderiam propiciar duplicação da rede de metrô ou outros sistemas de atendimento à mobilidade urbana, como o BRT.
Para caracterizar com alguma aritmética a insensatez da ideia do trem-bala, basta indicar que, se viesse a ser concluído, atenderia a uma demanda de 20 mil usuários por dia, enquanto a população que se beneficia dos 269 quilômetros dos metrôs de oito cidades é de 4,5 milhões por dia, em parte mal servida, e com outros milhões excluídos.
Como um sinal para a sociedade de nova atitude efetiva do governo, seriam de grande impacto o cancelamento desse fantasioso projeto de trem-bala e o fechamento da empresa que para esse fim foi constituída.
Como não dá para lutar contra os fatos, a insistência do governo Dilma nesse projeto só levanta suspeitas. Qual o real interesse nisso? Será que teria alguma ligação com essa montanha de gastos públicos que só cresce a cada nova revisão, e que poderia ser mais facilmente desviada para bolsos particulares? Fica difícil acreditar que tanta paixão pelo projeto tenha causas nobres e justificativas racionais...
Administrando a desgraça econômica
Posted: 05 Jul 2013 06:54 AM PDT
Rodrigo Constantino
A análise feita por Rogério Werneck no GLOBO hoje está perfeita, em minha opinião. Meu ex-professor da PUC argumenta que, mesmo com muitos no governo já tendo se dado conta de que o modelo macroeconômico adotado pela equipe econômica de Dilma seja uma desgraça (conforme muitos alertavam faz tempo, inclusive este que escreve), não é interessante para o PT revertê-la. Eis os motivos:
Tudo indica que os segmentos mais lúcidos do governo já notaram que o que foi pretensiosamente rotulado de "nova matriz macroeconômica" redundou em retumbante fracasso. Mas a avaliação da cúpula do governo é que já não há mais tempo para uma "guinada" na política econômica. De um lado, porque, a esta altura, a admissão do fracasso seria muito custosa. De outro, porque os benefícios da "guinada" custariam muito tempo para se fazer sentir.
O governo estaria, portanto, refém de seu próprio discurso ao longo de todo esse tempo no poder. Note-se que nem mesmo a cabeça de Guido Mantega rolou ainda! Ou seja, não há, por parte da presidente Dilma, sequer a preocupação em sinalizar ao mercado que compreende os erros de trajetória. Mantega ainda finge que está tudo bem, que não há crise, o que espanta até gente do próprio governo.
O caminho escolhido, portanto, será o de insistir nos erros, torcendo para que dê tempo de atravessar as eleições e permanecer no poder. Se a crise não se agravar muito, impactando negativamente o emprego, a noção do governo é de que será viável superar o problema econômico e atingir seu único objetivo: continuar no poder. Para tanto, o governo já deixou claro que fará de tudo, o "diabo", como disse a própria presidente. Isso inclui mais malandragem, conforme explica Werneck:
Nesta semana, o Planalto deixou mais do que claro o quão longe está disposto a ir para "administrar no braço" a situação. Já sem qualquer preocupação com dissimulação, publicou decreto que amplia, de forma escancarada, as possibilidades de manipulação das contas fiscais, para geração de superávit primário fictício por meio da simples movimentação circular de recursos entre o Tesouro e o BNDES.
Claro que isso não vai acabar bem. A crise econômica tende a se agravar. Alguns petistas, chocados com a queda de aprovação da presidente Dilma, repetem que Lula passou pelo mesmo problema após o mensalão, mas conseguiu se recuperar e se reeleger. Como lembra Werneck, eles ignoram que foi justamente a forte economia que ajudou Lula na época. Dilma terá um quadro muito pior. Resta saber se isso vai resultar na retirada do PT do poder, e se o preço a ser pago pela população será alto demais até lá. Conclui com um alerta o professor:
É bom não ter ilusões. O que vem aí são 15 meses de mais do mesmo. Ou pior, de muito mais do mesmo. Apertem os cintos.
Inverno árabe
Posted: 05 Jul 2013 06:07 AM PDT
Rodrigo Constantino
A ficha caiu para muitos agora: a comemoração com a "Primavera Árabe" foi muito precipitada. Esqueceram que a democracia não é criada em um passe de mágica, e que sem os devidos pilares institucionais, ela pode desandar facilmente. O editorial do GLOBO constata:
Pode-se dizer que a experiência, no Egito, não foi bem-sucedida. A Irmandade Muçulmana, organização islamista, preencheu espaços quando o Exército foi forçado a sair de cena. Um representante dela, Mohamed Mursi, elegeu-se presidente. A democratização é uma das grandes aspirações de boa parte do povo egípcio, mas Mursi não esteve à altura. Mostrou-se mais preocupado em seguir a cartilha da Irmandade rumo à islamização do que em buscar apoio político para governar e lidar com a crise econômica. Quando as multidões voltaram à Praça Tahrir, agora para pedir a saída de Mursi, o Exército se inquietou.
O que muitos "especialistas" ignoravam durante aqueles dias de fúria nas ruas árabes, é que a maioria islâmica pode desejar impor, via voto que seja, a sharia, uma "ditadura da maioria" calcada em sua religião. O mesmo risco e a mesma tendência ocorreu na Tunísia, como mostra o editorial:
Na Tunísia, onde se iniciou a Primavera Árabe, o partido islâmico local, Ennahda, ganhou as eleições após a derrubada do ditador Ben Ali. E, como no Egito, começou a desagradar a população quando começou a impor a agenda islamizante: foi acusado de tentar dominar o Estado e limitar liberdades já conquistadas pela sociedade. Sob pressão da oposição e protestos nas ruas, ele concordou em dividir o governo com dois partidos seculares. Bom começo.
A pergunta que pouca gente se fez à época da euforia das manifestações populares: quem armou com fuzis aqueles rebeldes? Fuzis não brotam pelo Facebook. Foi essa a mensagem mais cética que tentei levar para reflexão naquele momento, como nessa palestra no Fórum da Liberdade em Porto Alegre, quando tive que substituir Reinaldo Azevedo de última hora:
Acho que são reflexões válidas para os dias de hoje em nosso país também...
Transporte: problema de gestão
Posted: 05 Jul 2013 05:41 AM PDT
Fonte: O GLOBO
Rodrigo Constantino
O editorial do GLOBO hoje argumenta que o problema no transporte público é de má gestão dos municípios. Para sustentar a tese, são apresentados dados que impressionam, como estes:
Um dado é suficiente para dar a medida do descaso do administrador público com o setor: apenas 44,7% das 38 maiores cidades do país têm um plano de transporte, com diretrizes, ações a serem executadas etc. É muito pouco, se considerarmos que quase de 85% dos 190 milhões de brasileiros vivem em cidades. Há, portanto, enormes demandas não atendidas. Se forem considerados todos os mais de 5.500 municípios, não há planejamento na atividade em 98% deles. Mesmo no Rio de Janeiro, estado relativamente rico, em apenas nove das 92 cidades há plano de transporte.
Entre os motivadores desse desleixo, estaria o desejo do político de optar por obras aparentes:
Especialista no ramo, o professor Joaquim Aragão, da Universidade de Brasília, explica o descaso municipal: "Governante quer obra. O plano é um investimento, tem que contratar gente para desenvolvê-lo. Demora até que ele esteja pronto. Planejamento também limita arbitrariedades do governo". A interpretação equivale a uma outra, mais folclórica, de que político gosta de obra à flor da terra, e não subterrânea, longe dos olhos do eleitor. Daí, conclui-se com alguma maldade, haver sérios problemas no saneamento básico.
Em vez de priorizar essa gestão e os investimentos subterrâneos, os governantes preferem também contratar gente, por motivos óbvios:
O contingente de funcionários públicos passou de 3,3 milhões, em 99, para 6 milhões no ano passado. Um salto desastroso do ponto de vista das carências de investimento no transporte de massa. Representantes dos prefeitos alegam que o empreguismo se deve às atribuições assumidas pelos municípios na Educação e Saúde. Infelizmente, a qualidade dos serviços prestados nas duas atividades não condiz com o inchaço das folhas de pagamento.Também chama a atenção que haja meio milhão de servidores contratados sem concurso, em cargos comissionados, de confiança, geralmente preenchidos por meio de apadrinhamento pessoal e/ou político-ideológico.
O problema do transporte é complexo. Várias capitais em países desenvolvidos também vivem certo caos, mas nada comparado ao nosso. Em parte, a explicação para a diferença está, sim, na melhor gestão. Redes de metrô costumam se espalhar pelo subsolo dessas capitais com grande capilaridade, ao contrário do que ocorre por aqui. Há excessivo controle estatal também em nosso país, o que engessa o setor e ajuda na formação de cartéis poderosos.
Não há soluções fáceis. É preciso mudar muita coisa. Mas não resta dúvida de que uma gestão mais eficiente poderia contribuir muito para o avanço. Essa é, inclusive, uma das bandeiras que o Partido NOVO tem levantado: buscar uma gestão mais profissional e eficiente em prefeituras, deixando o populismo de lado e focando na solução de problemas práticos. Que isso se torne realidade logo.
Porque se depender desses políticos e desses partidos atuais, fica complicado ter a mesma esperança que o próprio jornal demonstra ao concluir o editorial: "Que o barulho das ruas possa despertar prefeitos para esta realidade". Pouco provável...
Monstro adolescente
Posted: 05 Jul 2013 04:30 AM PDT
Fonte: O GLOBO
Rodrigo Constantino
Prepare o Engov. Deu no GLOBO:
Um adolescente de 14 anos apreendido nesta quinta-feira por policiais da 119ª DP (Rio Bonito) confessou ter torturado, estrangulado e matado com golpes de uma pedra um garoto de apenas 9 anos no bairro Rato Molhado, em Rio Bonito, Região Metropolitana do Rio. Depois de matá-lo, o menor ainda estuprou o menino. Após o crime, o corpo de Pedro Lucas Barreto da Conceição foi jogado de um barranco de cerca de 15 metros de altura. Ele foi encontrado por colegas do menino, que, horas antes do crime, soltavam pipa com ele.
O crime aconteceu na noite de quarta-feira e chocou a cidade. O delegado titular da 119ª DP, Paulo Henrique da Silva Pinto, disse que o adolescente será encaminhado para uma instituição para menores infratores na cidade. O Ministério Público decidirá para qual delas ele irá.
— Foi um crime bárbaro, com requintes de crueldade. Em nenhum momento o adolescente aparentou arrependimento. Apesar de ele ser menor de idade, terá que responder pelo que fez — disse o delegado, que não quis entrar em detalhes sobre a motivação do crime.
[...]
Comento: O que fazer com um monstro desses? Digo mais: o que fazer com monstros que pedem "medidas socioeducativas" no afã de recuperar monstros como esse? Como lidar com gente que culpa a "sociedade" por atos bárbaros como este? Como aturar pessoas que aplaudem o Estatuto da Criança e do Adolescente, que protege psicopatas assim, só porque é jovem? Até quando a sociedade vai suportar viver em um ambiente onde os crimes mais bárbaros acabam impunes?
O ocorrido choca qualquer pessoa com um mínimo de sensibilidade. As pessoas de bem clamam por severas punições aos delinqüentes que praticam atos abjetos como este! A maioridade penal precisa ser drasticamente reduzida, a mentalidade vigente precisa parar de tirar a responsabilidade dos indivíduos e jogá-la para a difusa e abstrata "sociedade", ou o vago e amorfo "sistema".
O fato é que indivíduos se mostram capazes de atos extremamente bárbaros, e algumas vezes em idades bastante precoces. Eles devem encontrar o rigor da punição, pois a prioridade de qualquer sociedade que se preza deve ser com os inocentes, as vítimas!
Infelizmente, há uma turma dos "direitos humanos" que sempre coloca sua prioridade nos algozes, nos bandidos, nos criminosos, e nunca pensa nas vítimas inocentes e em seus familiares. Essa gente, verdade seja dita, é tão monstruosa quanto este frio assassino jovem, pois lhe falta justamente a empatia necessária para defender a justiça.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]