É de aconselhar que se leia primeiro toda a Liturgia da Palavra.
27º DOMINGO COMUM - ANO C !
A Liturgia da Palavra deste 27º Domingo Comum C, é um elogio e um convite ao esforço de quem tem Fé.
O Cristianismo é Fé.
Esta é a sua característica específica, com base na Fé que recebemos no dia do nosso Baptismo e que temos obrigação de professar em toda a nossa vida.
Nós afirmamos muito facilmente, como pressuposto, que a Religião e a Fé são uma e mesa coisa.
Todavia isto só é verdade até um certo ponto.
O Antigo Testamento, por exemplo, apresentou-se, no seu conjunto, não como um conceito de Fé, mas um conceito de Lei.
Encarna primariamente um género de vida, no âmbito do qual o acto de fé vai continuamente adquirindo a maior importância.
Mais tarde, para a religiosidade romana não é realmente decisivo que se emita um acto de fé no sobrenatural ; ele pode de certo faltar sem que, por isso, se diminua a Religião.
Sendo a Religião, essencialmente um sistema de ritos, o elemento determinante é representado aos seus olhos pela minuciosa observância das cerimónias.
A história da fé começa com Abraão.
A sua atitude diante de Deus é a da fé.
A 1ª Leitura, do Livro do profeta Habacuc, mostra-nos que o povo de Israel algumas vezes se encontrou em dificuldade.
O triunfo do império babilónico sobre a Judeia, faz despontar no espírito deste profeta reflexo de todo o povo a ideia de que o Senhor terá esquecido aqueles que tão carinhosamente arrancara à escravidão egípcia.
Aos seus clamores, o Senhor responde :
- «Põe por escrito esta visão, inscreve-a em placas com toda a nitidez, de modo que possam ler facilmente. Embora esta visão só se realize na devida altura, ela tende para o seu termo e não enganará".(1ª Leitura).
Certo é, porém, que na perseguição o povo se purifica.
Aliás, outro tanto se tem verificado sempre na Igreja através dos tempos.
Por isso o Salmo Responsorial proclama :
- "Se hoje ouvirdes a voz do Senhor, não fecheis os vossos corações".
Na 2ª Leitura, S. Paulo diz a Timóteo, e hoje a todos os cristãos, empenhados em proclamar a fé do seu Baptismo, que a Evangelização não é um trabalho fácil pois a ela se opõem muitos obstáculos.
Uns, derivados da própria Mensagem Evangélica, na justa medida em que é exigente e comprometedora, outros, porque a ela se opõem muitas correntes ideológicas.
- "Recomendo-te que dês nova força ao dom de Deus que em ti se encontra pela imposição das minhas mãos(...) Guarda a boa doutrina que nos foi confiada, com o auxílio do Espírito Santo que habita em nós". (2ª Leitura).
A Mensagem Evangélica não é fácil, pelo que S. Paulo nos incita a uma coragem que nos leve a «Lutar sem desfalecimento».
O Evangelho é de S. Lucas que, em face do pedido dos Apóstolos, nos garante que a Fé é um dom gratuito.
Os Apóstolos já assim pensavam, pois que pedem a Jesus um aumento da sua Fé, a que Ele responde:
- «Se tivésseis fé comparável a um grão de mostarda, diríeis a essa amoreira "arranca-te e vai plantar-te no mar", e ela havia de obedecer-vos»...(Evangelho).
Orar com fé, não é de forma alguma impor a vontade pessoal Àquele que concede a dádiva da mesma fé.
É tão somente aceitar a sua doutrina e a sua Pessoa, conformando o próprio querer aos desígnios do Mestre e Senhor.
«O servo não é mais do que o seu senhor».
No Novo Testamento o objecto da fé atinge a plenitude : O Filho de Deus manifesta-se e o seu Reino é constituído.
Mas a atitude pessoal continua a ser a mesma; uma decisão da vontade que ama, move a inteligência a superar os cálculos humanos para se entregar a Deus com toda a fidelidade.
A fé nã consiste, pois, tanto numa adesão intelectual a uma série de verdades abstractas, mas é a adesão incondicional a uma pessoa, a Deus, que nos propõe o seu amor em Cristo morto e ressuscitado.
A fé é, portanto, obediência a Deus, comunhão com ele, vitória sobre a solidão.
É um dom de Deus, mas um dom que espera a nossa resposta, que quer tornar-se a alma da nossa vida quotidiana e de comunidade cristã.
É também um conhecimento novo, um modo de ler a realidade com o olhar de Cristo.
A fé é uma virtude, uma atitude habitual da alma, uma inclinação permanente a julgar e a agir segundo o pensamento de Cristo com espontaneidade e vigor.
O cristão animado pela fé, nela encontra a crítica permanente a todas as ideologias e a libertação de todos os ídolos, segundo o que nos diz S. João :
- "Esta é a vitória que venceu o mundo".(1 Jo.5,4).
O cristão de hoje vive num mundo secularizado, do qual Deus está ausente, que vive e se organiza sem ele, por vezes contra ele.
Com a sua fé, o cristão tem neste mundo a tarefa de destruir as falsas seguranças propondo-lhe as questões fundamentais e oferecendo a todos a sua grande esperança.
A fé do cristão é posta diante de um desafio : tornar-se propugnadora de problemas que nenhum laboratório, experiência ou computador electrónico, podem resolver, e que, no entanto, decidem o destino do homem no mundo.
Portanto, é mais do que actual para os cristãos a invocação dos discípulos :
- "Senhor, aumenta a nossa fé".
Professar a fé recebida no Baptismo é uma condição essencial que faz parte do plano da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica :
1814. A fé é a virtude teologal pela qual cremos em Deus e em tudo o que Ele nos disse e revelou e que a Santa Igreja nos propõe para acreditarmos, porque Ele é a própria verdade. Pela fé, «o homem entrega-se total e livremente a Deus»(DV 5). E por ela, o crente procura conhecer e fazer a vontade de Deus. «O justo viverá pela fé»(Rom.1,17). A fé viva «actua pela caridade»(Gal.5,6).
1816. O discípulo de Cristo, não somente deve guardar a fé e viver dela, como ainda professá-la, dar seguro testemunho dela e propagá-la. : «Todos devem estar dispostos a confessar a Cristo diante dos homens e a segui-l'O no caminho da cruz, em meio das perseguições que nunca faltam à Igreja»(LG 42). O serviço e testemunho da fé são requeridos para a salvação : «A todo aquele que Me tiver reconhecido diante dos homens, Eu o reconhecerei diante de meu Pai que está nos Céus. Mas àquele que me tiver negado diante dos homens, também Eu o negarei diante de meu Pai que está nos Céus»(Mt.10,32-33).
A fé recebida no Baptismo. deve ser professada e proclamada...
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]