Posted: 04 Oct 2013 06:11 AM PDT
- Cristãos assumem postura contra "Estado messiânico"
Editores do jornal Leben recordam exemplo da Igreja Confessante da Alemanha Nazista
Doug Schlegel
Quando as portas das igrejas se abriram em toda a Alemanha para acomodar as multidões de jovens nazistas de uniformes marrom, em paróquia após paróquia eles superavam em número — e derrotavam em votos — os membros do Movimento Jovens da Reforma.
- Pastor evangélico nazista
Quando o sínodo nacional se reuniu, os nazistas já tinham completo controle sobre as igrejas. Os novos líderes da igreja "cristã alemã", no que ficou conhecido como o "Sínodo Marrom", aprovaram a Cláusula Ariana proibindo os alemães de ascendência judaica de servirem a igreja. Torres sineiras e altares foram adornados com insígnias nazistas, clérigos de toga saudando de modo ridículo um Fuehrer que conclamara publicamente os alemães a "manterem a igreja apenas igreja" e garantirem que a igreja não se tornasse uma autoridade que competisse com o Estado. O pastor luterano Dietrich Bonhoeffer, que tinha liderado um grupo de jovens reformadores contra os uniformes marrons do sínodo, acreditava que era o momento de se separarem completamente da igreja estatal, principalmente após a aprovação da Cláusula Ariana, mas Karl Barth, outro dos mais proeminentes críticos eclesiásticos dos nacionais socialistas [nazistas], acreditava que eles deveriam permanecer e lutar dentro da igreja. Poucos pararam para considerar como a igreja veio a se achar nesse desagradável dilema, e não era nem um pouco evidente como, ou se era possível, a igreja poderia ser tirada do precipício.
Há momentos em que a corrente da história é uma torrente furiosa e a força e violência dessa corrente é alimentada por córregos distantes e, às vezes, obscuros. A história do protestantismo na Alemanha durante o início do século XX é tal torrente furiosa. Houve muitas forças, córregos se preferir, que alimentaram esse rio, que viu seu momento mais dramático com a ascensão do Nacional Socialismo [Nazismo] ao poder. Certamente, é fato bem conhecido que a ascensão do Nacional Socialismo Alemão acabou na dramática cachoeira da Segunda Guerra Mundial, onde o curso do rio foi decidido quando o Nacional Socialismo foi lançado contra as rochas.
O que a igreja estava fazendo — se é que estava fazendo algo— enquanto Hitler estava consolidando o poder e a verdadeira natureza do Nacional Socialismo se tornava evidente? A igreja foi cúmplice da ascensão de Hitler, ou fez resistência ao crescente mal?
Há um evento que servirá como indicador do que a igreja estava fazendo — O Sínodo de Barmen e a resultante Confissão de Barmen.
Como observado acima, temos que pesquisar os córregos. Às vezes os córregos são personalidades, às vezes são questões e às vezes são ideias; normalmente, são todos os três. Há pelo menos quatro nascentes para as águas agitadas do início do século XX: A doutrina dos "Dois Reinos" de Lutero, a consolidação e união imposta dos protestantes alemães por decreto do rei, os efeitos da Primeira Guerra Mundial e o estabelecimento da República de Weimar, e a ascensão do nacionalismo alemão, o conceito de Volk, com a coincidente queda na vida das igrejas e seus membros.
As questões básicas sobre o relacionamento entre o Reino de Deus, a igreja e o mundo eram motivos de contendas desde Agostinho, bispo de Hipona, no fim do século IV e início do século V. Mas Agostinho não deu a última palavra e a igreja ainda ficou envolvida nessa discórdia por mil anos até o tempo do famoso monge agostiniano alemão, Martinho Lutero. E é o legado teológico de Lutero que nos interessa. De forma especial, no início do século XX, os protestantes alemães tiveram de lidar com as implicações da doutrina dos Dois Reinos de Lutero e da doutrina relacionada das Disposições da Criação.
Com ou sem razão, a doutrina dos Dois Reinos de Lutero veio a ser compreendida pela maioria dos luteranos como uma lei que proibia a igreja de "se meter" nos assuntos do Estado, pois as responsabilidades da igreja estão na esfera da salvação e são uma questão de fé, e as responsabilidades do Estado estão na esfera da justiça e lei e são uma questão de razão.
Ainda hoje há discórdias sobre se Lutero realmente ensinou isso, mas a realidade é que, na Alemanha da década de 1920, essa opinião era predominante (ou pela menos a mais pregada), e foi expressamente adotada pelos nazistas para promover a submissão das igrejas nas questões do Estado.
É fácil ver como essa opinião estimularia a passividade em relação ao poder crescente — e abuso de poder — do Estado. No entanto, esta doutrina foi também sustentada pela doutrina paralela das Disposições da Criação. A doutrina das Disposições da Criação ensinava que "os cristãos, como todos os outros seres humanos, existem num sistema de estruturas universais que são anteriores e independentes do fato dos cristãos crerem em Cristo e pertencerem à igreja. Deus colocou todos os seres humanos em estruturas específicas de existência — como nacionalidade, raça, identidade sexual, família, trabalho, governo — que, de uma forma ou outra, são simplesmente dados da existência da criatura. A lei e os mandamentos de Deus são revelados através dessas estruturas morfológicas comuns da criação e da existência humana e tanto atuam em independência como em tensão com a revelação especial de Deus no evangelho de Jesus Cristo."
Seguindo suas conclusões lógicas, essas posições teológicas levam a um destino específico, como veremos depois. Essas suposições teológicas básicas foram utilizadas por teólogos como Paul Althaus para desenvolver uma compreensão do relacionamento entre a igreja e o Estado.
A segunda nascente começou com determinação no início do século XIX. Em 1817, Friedrich Wilhelm III buscou unificar as igrejas divididas da Alemanha por decreto, transformando-as numa única igreja evangélica. Assim foi fundada a Igreja Evangélica da Antiga União Prussiana.
Essa união forçada jamais teve o efeito desejado por Friedrich Wilhelm. Aliás, o que no fim das contas aconteceu foi que o Estado começou a desempenhar um papel ainda maior na vida da igreja, e nas gerações seguintes, tanto os líderes das igrejas quanto seus membros ficaram cada vez mais à vontade com a autoridade do Estado na igreja e com as expressões do nacionalismo alemão. Cem anos depois, esse relacionamento estreito deu seu fruto inevitável durante a Primeira Guerra Mundial. Desse modo, vemos aí a terceira nascente.
Quando explodiu a Primeira Guerra Mundial, os líderes e teólogos evangélicos alemães apoiaram o esforço bélico incondicionalmente. Até mesmo as armas e uniformes dos soldados traziam lemas cristãos. Essa guerra (pela perspectiva da igreja alemã) era uma guerra santa. Mas quando a perda de vida se elevou (dois milhões de alemães mortos, sem contar milhares de milhares de feridos e mutilados) a população alemã começou a se afastar da igreja. Quando a Marinha amotinou-se e a Revolução de Novembro começou, a Alemanha se rendeu, e praticamente toda a realeza e aristocracia fugiram do país.
Dessas ruínas, nasceu a República de Weimar. A grande maioria dos líderes e teólogos não apoiou a nova república democrática e ansiava a volta da monarquia. Essa atitude reacionária da igreja alienou ainda mais os membros das igrejas e a população como um todo, mas quando os termos e efeitos do tratado de Versailles se tornaram claros, o fogo latente do nacionalismo alemão foi atiçado, e o histórico relacionamento estreito entre a igreja e o Estado ressurgiu durante a ascensão de Adolf Hitler, do Nacional Socialismo [Nazismo] e do conceito generalizado de Volk alemão.
Essa quarta nascente, a ascensão do Nacional Socialismo e do conceito de Volk, é o contexto direto do Sínodo de Barmen. Deve-se notar que o conceito de Volk é muito mais profundo do que a tradução comum para comunidade ou povo. O termo Volk tinha uma qualidade mais profunda, quase mística, que refletia a ideia de propósito e destino. Então, quando Hitler fazia menção do conceito de Volk, ele não estava se referindo meramente aos alemães como uma nacionalidade ou mesmo como um grupo étnico, mas estava alcançando profundamente o povo alemão, falando para as aspirações de todos eles, do orgulho e em certa medida, do propósito divinamente ordenado do povo alemão.
Para os nacionais socialistas, o Estado era a expressão natural do conceito de Volk. Muitos na igreja alemã haviam também absorvido esse conceito. Muitos líderes evangélicos influentes não estavam somente mal-preparados para enfrentar o perigo crescente que Hitler representava, mas muitos até o receberam de braços abertos!
Quando olhamos esses acontecimentos no contexto histórico e eclesiástico, é mais fácil ver por que tantos foram enganados e levados à inação e até a cooperação. O Sínodo de Barmen é o exemplo de um grupo de líderes eclesiásticos que tentou enfrentar o que eles perceberam corretamente como um mal crescente. Eles tentaram orientar os crentes a fazer a mesma resistência.
Para ajudar o leitor a sentir o estado da igreja quando Hitler começou a governar, daremos uma olhada num representante dos líderes que eram hostis aos objetivos de Barmen. Paul Althaus era professor de teologia da Universidade de Göttingen e um líder notável. Enquanto observava a ascensão de Hitler ao poder em 1933, ele fez as seguintes observações:
Nossas igrejas protestantes saudaram o momento decisivo de 1933 como um presente e milagre de Deus… Nós aceitamos o momento decisivo desse ano como misericórdia das mãos de Deus… Um Estado que começa a governar novamente segundo a lei de Deus merece não apenas aplausos, mas também a alegre e ativa colaboração da igreja… A desintegração do direito de punir criminosos, transformando-o em terapia social e pedagogia que tinham ido longe, chegou ao fim; a punição deve novamente ser infligida em séria retaliação. O novo Estado está novamente tendo coragem de empunhar a espada da justiça. Repudiou a falta assustadora de responsabilidade do Parlamento e nos mostrou novamente o que significa responsabilidade. Varreu a sujeira da corrupção. Está protegendo a sociedade das forças destrutivas na literatura e no teatro. Chama e educa nosso povo (Volk) a uma nova disposição comunitária.
Com o benefício da retrospectiva, essas palavras de um líder evangélico notável são ainda mais arrepiantes, especialmente quando percebemos que ele foi apenas um dos muitos líderes evangélicos que se expressaram.
Os nazistas foram rápidos na consolidação do poder não somente no Estado, mas também na igreja. Eles não toleravam desunião em ambos, e usaram os colaboradores dispostos na igreja para impor suas vontades.
Quando os "cristãos alemães" começaram a impor os conceitos de raça e Volk em toda a igreja, os líderes sitiados que se opunham a eles convocaram um "sínodo livre" no dia 22 de dezembro de 1933, em Barmen, para os dias 3 e 4 de janeiro. A convocação foi para aqueles que ainda eram fiéis à autoridade das Escrituras. Trezentos e vinte pastores e líderes responderam, e foi realizado o primeiro de muitos sínodos livres. Foi neste sínodo que Karl Barth introduziu os princípios que se tornariam a afirmação clássica de resistência ao governo e políticas nazistas na igreja alemã — A Confissão de Barmen.
É uma das curiosidades desse período da história da igreja que Barth seria um dos "heróis". Ele, juntamente com outros teólogos como o luterano Martin Niemöller, que são criticados — e com justiça — por suas teologias destrutivas, se encontravam no meio de uma luta de vida e morte pela preservação da igreja na Alemanha.
A natureza da luta uniu os líderes e as igrejas reformadas, luteranas e unidas no propósito comum de resistir à tirania crescente tanto na igreja como no Estado. No decorrer dos meses seguintes, os diversos grupos começaram a formar uma entidade mais coesa, que estava começando a ser chamada de "Igreja Confessante". A Igreja Confessante acabou realizando outro sínodo em Barmen nos dias 29 e 30 de maio de 1934, no qual uma declaração definitiva estava para ser feita.
A declaração foi produto de muita discussão e certo desacordo. Alguns dos representantes luteranos opuseram-se a algumas partes da linguagem por serem contrárias à Confissão Luterana, e as sementes da eventual desunião foram semeadas, mas a declaração final é uma afirmação forte repudiando a ideia de Estado totalitário como um culto de idolatria, e rejeitara a subordinação da Palavra e do Espírito à igreja ou aos líderes na igreja. Era, por assim dizer, a Declaração de Independência para a igreja crente e fiel na Alemanha.
Embora a Declaração não tratasse especificamente da perseguição aos judeus, nem identificasse especificamente os nazistas com os erros citados, essa declaração é, apesar disso, bela em sua simplicidade e também em seu reconhecimento do centro da questão, que Cristo é a cabeça da Igreja.
Homens como Althaus insultaram a declaração publicamente e divulgaram uma confissão contrária que tentava promover as ideias que os "cristãos alemães" tinham de Volk e Estado. Claro que a história nos conta qual visão obteve a supremacia por algum tempo. O movimento da Igreja Confessante na Alemanha se desintegrou, e as igrejas fiéis na Alemanha sofreram muito.
É um exercício perigoso aprender apenas uma "lição" daqueles tempos, pois há muita coisa que não devemos "jamais esquecer". Enquanto guardamos com carinho a memória daqueles que resistiram com fé às pretensões de um Estado messiânico, devemos também sobriamente refletir sobre como a igreja tinha praticamente renunciado à sua autoridade moral na Alemanha anos antes da ascensão do Nacional Socialismo [Nazismo].
Traduzido por Edgar Bezerra e Julio Severo do artigo do WND: Christians take stand against "messianic state"
Fonte: www.juliosevero.com
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]