segunda-feira, 21 de outubro de 2013

O Grão Mestre e a heroica retirada dos cavaleiros de Rodes até Malta







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segunda-feira, 14 de outubro de 2013





Sitio de Rodas em 1522

O sítio de Rodes, em 1522, foi a derradeira tentativa do império turco para expulsar os Cavaleiros Hospitalários que tinham construído sua fortaleza na ilha e, assim, garantir o controle islâmico do Mediterrâneo Oriental. 

O primeiro assalto aconteceu em 1480, resultando num doloroso fracasso. VEJA MAIS CLICANDO AQUI. 

Os Cavaleiros de São João – também conhecidos como Cavaleiros Hospitalários, e posteriormente de Malta – capturaram Rodes no início do século XIV, após a perda da cidade de Acre, último bastião cruzado na Palestina, em 1291. 

A partir de Rodes eles continuaram hostilizando os inimigos de Cristo.

Os turcos, que haviam conquistado Constantinopla em 1453, não suportavam a presença de cavaleiros cristãos em suas próprias barbas. 

Além do mais, a fortaleza de Rodes era o maior e mais imediato obstáculo à expansão do islamismo na sua tentativa de invadir a Europa.


Em 1521, Philippe Villiers de L'Isle-Adam (1464 - 1534), nobre francês de alta linhagem, que ingressou na Ordem com 19 anos, foi eleito Grão-Mestre. 


Grão Mestre dos Cavaleiros de Rodas 
Philippe Villiers de L'Isle-Adam, em Rodes
Ele logo previu que uma nova invasão muçulmana de Rodes era inevitável. Por isso, continuou a fortalecer a ilha. 

Retomou a construção de fortificações, iniciada após a invasão otomana de 1480, e apelou aos cavaleiros da Ordem do resto da Europa para virem em defesa da casa-mãe da mesma.

Porém, os tempos do heroísmo primitivo das Cruzadas infelizmente haviam passado. O desejo intemperante de prazeres tinha penetrado até as altas esferas eclesiásticas em Roma. 

O espírito humanista e renascentista minava os espíritos, os líderes religiosos católicos, civis e eclesiásticos, se voltavam para uma vida de prazeres e exibicionismo.

Nesse ambiente de dissolução de costumes, Lutero já havia acendido a tocha da revolta protestante.

Foi assim que, com exceção de algumas tropas venezianas estacionadas na ilha de Creta, um punhado de heroicos cavaleiros ficou sozinho face ao imenso poder material dos sectários de Mafoma.

Como resultado das obras, a cidade de Rodes ficou protegida por dois, e em alguns lugares por três anéis de muralhas de pedra, além de vários grandes bastiões.

A defesa dessas muralhas e baluartes foi atribuída às seções de diferentes Línguas em que os cavaleiros se haviam organizado desde 1301. 

A entrada do porto foi bloqueada com uma pesada corrente de ferro, por trás do qual ficava ancorada a pequena frota da Ordem. 

A força de invasão turca chegou com 400 navios e apresentou-se diante de Rodes em 26 de junho de 1522. Comandava-a Mustafá Pashá. 


Portas das muralhas de Rodes
O sultão Solimão, chamado o Magnífico, chefe supremo dos otomanos, veio à frente de um exército de 100 mil homens que se reuniu em 28 de julho à frota de Mustafá Pachá para assumir o assalto em pessoa. 

O Grão-Mestre Villiers de L'Isle-Adam contava com apenas 600 cavaleiros e 4.500 soldados auxiliares.

Os turcos bloquearam o porto, bombardearam a cidade com a artilharia que haviam desembarcado e lançaram quase que diariamente ataques de infantaria.

Também procuraram minar a fortificação por meio de túneis e minas. 

O fogo de artilharia turca se fazia sentir numa cadência lenta, mas não deixou por isso de trazer grave prejuízo para as muralhas cristãs.

Porém, após cinco semanas de ataque, em 4 de setembro, duas grandes minas de pólvora explodiram sob o bastião defendido pelos cavaleiros da Inglaterra, cujas muralhas caíram numa extensão de 12 metros, preenchendo o fosso. 


O escudo do Grão Mestre .perdura nos muros de Rodas
A estrada estava aberta para a invasão infrene da multidão de regimentos anticristãos.

Porém, Frei Nicolas Hussey, à testa dos cavaleiros ingleses apoiados pelo Grão-Mestre Villiers de L'Isle-Adam, desferiu uma contra-ofensiva que mandou de volta os fanáticos maometanos.

Por mais duas vezes os turcos tentaram apoderar-se da brecha naquele dia. Porém, em cada oportunidade, os cavaleiros ingleses, auxiliados pelos irmãos alemães, os expulsaram. 

No dia 24 de setembro, Mustafá Pashá ordenou um ataque maciço contra os bastiões defendidos pelos cavaleiros da Espanha, Inglaterra, Provence (França) e Itália. 

O combate foi furioso. O bastião da Espanha mudou duas vezes de mãos. O esforço maometano foi em vão. O próprio Solimão ficou fora de combate.

Ele se sentiu então de tal maneira despeitado pelo fracasso, que condenou à morte Mustafá Pashá, seu cunhado. Mas acabou poupando-lhe a vida, após outros altos chefes lhe implorarem misericórdia. 

O sucessor de Mustafá foi Ahmed Pashá, que tinha muita experiência como engenheiro. Sob suas instruções, os turcos concentraram esforços para dinamitar as muralhas, enquanto a artilharia não cessava seu fogo.

No fim de novembro os cavaleiros repeliram mais uma ofensiva geral.


Palácio do Grão Mestre de Rodes, interior austero e nobre
Mas os dois lados estavam exaustos. Os cavaleiros haviam esgotado suas reservas e não tinham esperança de receber auxílios da Europa.

Do outro lado, a desmoralização tomou conta dos acampamentos das tropas turcas.

A diminuição de seu número pelas perdas sofridas além de doenças as deixara à beira da defecção. 

Solimão ofereceu, então, a paz aos cristãos: suas vidas seriam poupadas caso eles se rendessem. Do contrário seriam todos mortos ou escravizados. 

Como o povo da ilha não queria mais combater, o Grão-Mestre Villiers de L'Isle-Adam aceitou negociações. 

De 11 a 13 de dezembro foi feita uma trégua para permitir as conversas.

Mas quando os moradores exigiram mais garantias para suas vidas, Solimão, que era falso, ficou irado e ordenou novos bombardeios e ataques. 

O bastião da Espanha caiu em 17 de dezembro. Com a maioria das muralhas destruídas, a queda da cidade era uma questão de tempo.

Em 20 de dezembro, o Grão-Mestre pediu mais uma trégua. 

Desta vez, Solimão fez uma proposta surpreendentemente generosa, talvez devido à sua péssima posição. 


Jazigo de Philippe Villiers de L'Isle-Adam, Museu Louis Senlecq
No dia 22, os representantes da cidade aceitaram a proposta do sultão turco.

Pelo acordo, os cavaleiros teriam doze dias para deixar a ilha, podendo levar suas armas e qualquer símbolo religioso que desejassem.

Os civis que o desejassem teriam três anos para emigrar. 

Nenhuma igreja seria profanada ou transformada em mesquita.

E os que ficassem na ilha ficariam livres de imposto durante cinco anos. 

Foi assim que, em 1º de janeiro de 1523, os cavaleiros sobreviventes e os últimos soldados marcharam para fora da cidade, com suas bandeiras tremulando ao vento, batendo tambores formados em ordem de batalha, como se fossem vencedores.

Eles embarcaram em 50 navios venezianos com destino a Creta – então possessão veneziana – acompanhados de alguns milhares de leigos.

O último sítio de Rodes acabou com uma vitória otomana, porém a um custo altíssimo: metade da força invasora morrera ou ficara aleijada.


Solimão o Magnífico mandou ler nas mesquitas do império turco
soberbo panegírico do Grão Mestre: “aprendei como se cumpre o dever
até o ponto de ser admirado e honrado pelos próprios inimigos”
Donos de Rodes, os islâmicos consolidaram seu controle sobre o Mediterrâneo Oriental, o qual era indispensável para garantir as comunicações marítimas entre Constantinopla, Cairo e os portos do Levante. 

Os cavaleiros hospitalários se mudaram de imediato para a Sicília, obtendo depois as ilhas de Malta e de Gozo, além da cidade porto de Trípoli, pertencente até então ao imperador Carlos V.

A partir de Malta os cavaleiros ainda realizaram gloriosos feitos pelas armas católicas.

O Grão-Mestre Villiers de l'Isle-Adam morreu em Malta, no dia 21 de agosto de 1534. 

Sabendo de sua morte, o sultão Solimão o Magnífico fez proclamar nas mesquitas do império turco um panegírico onde se lê:


“Crentes, aprendei de um infiel como se cumpre o dever até o ponto de ser admirado e honrado pelos próprios inimigos”.
O corpo do herói foi enterrado no castelo de Sant’Angelo em Malta e transferido em 1577 para a cripta da catedral de São João recém-construída em La Valette, onde repousa até hoje.








Postado por Luis Dufaur às 05:30




Marcadores: Hospitalários, Malta, ordens militares, Rhodas, Rodes, Solimão o Magnífico, Villiers de l'Isle-Adam



UM COMENTÁRIO:


Reconhecer a derrota de forma humilde, é aceitar a condição de seus limites.Responder








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São Francisco de Assis e o fundamento evangélico para invadir as terras dos muçulmanos
Diálogo entre São Francisco de Assis e o Sultão al-Malik al-Kamil em 1219, perto de Damieta, Egito.

“O sultão lhe apresentou outra questão:

− “Vosso Senhor ensina no Evangelho que vós não deveis retribuir mal com mal, e não deveis recusar o manto que quem vos quer tirar a túnica, etc. Então, vós, cristãos não deveríeis invadir as nossas terras, etc.”.

“Respondeu o bem-aventurado Francisco:

− “Me parece que vós não tendes lido todo o Evangelho. Em outra parte, de fato, está dito: Se teu olho te escandaliza, arranca-o e joga-o longe de ti (Mt. 5,25).

“Com isto quis nos ensinar que também no caso de um homem que fosse nosso amigo ou parente, que nos amássemos como a pupila do olho, nós devemos estar dispostos a separa-lo, e afastá-lo de nós, até arrancá-lo de nós, se tenta nos afastar da fé e do amor de nosso Deus.

“Exatamente por isto o cristãos agem de acordo com a Justiça quando invadem vossas terras e vos combatem, porque vós blasfemais contra o Nome de Cristo e vos empenhais em afastar de Sua religião todos os homens que podeis.

“Se, pelo contrário, vós quiserdes conhecer, confessar e adorar o Criador e Redentor do mundo eles vos amariam como a si próprios”.

“Todos os presentes ficaram tomados de admiração pela resposta dele”.




Montgisard: um rei leproso e 500 cavaleiros desfazem o exército de Saladino




São João Damasceno, Doutor da Igreja, sobre os muçulmanos:
“Até o momento a superstição dos ismaelitas, arautos do Anticristo, continua a enganar os povos.

“São descendentes de Ismael, filho de Abraão e de Agar; os ismaelitas são também chamados comumente de agarianos.

“Eram idólatras, adoravam a estrela Lúcifer e Vênus, que chamavam, Chabar ou grande, até o tempo de Heráclio.

“Então levantou-se entre eles um falso profeta, chamado Maomé, que havendo encontrado os livros dos Antigo e Novo Testamentos, e tido contato com um monge ariano, formulou uma heresia nova.

“Conseguido o favor de seu povo por uma aparência de piedade, difundiu o rumor que os escritos lhe vinham do céu.

“Escreveu um livro eriçado de coisas ridículas, onde expõe a sua religião.

“Estabelece um Deus do universo, que não foi engendrado, nem engendrou nada.

“Diz que Cristo é o Verbo de Deus e seu Espírito, mas criado e servidor que nasceu sem cooperação humana, de Maria, irmã de Moisés e de Aarão, por operação do Verbo de Deus, que nela entrou; que os judeus, havendo querido, por um crime detestável, pregá-lo numa cruz, apoderaram-se dele, mas não crucificaram senão sua sombra: de sorte que Jesus Cristo não sofreu nem a cruz nem a morte, tendo Deus, a quem era todo querido, arrebatado o Verbo aos céus”.

(Fonte: “Fount of Knowledge, part two entitled Heresies in Epitome: How They Began and Whence They Drew Their Origin”, The Fathers of the Church, vol. 37 (Washington, DC: Catholic University of America Press, 1958), pp. 153-160).



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São Bernardo aos Templários
São Bernardo abade de Claraval, falou sobre a vida que devem levar aqueles que combatem por Jesus Cristo, com estas palavras:

“Quando se aproxima a hora do combate, armam-se de fé os cavaleiros, abrem-se a Deus em sua alma e cobrem-se, por fora, de ferro, não de ouro, a fim de que assim sejam bem apercebidos de armas, não adornados com jóias, infundam medo e pavor aos seus inimigos, sem excitar sua cobiça.

“É preciso ter cavalos fortes e velozes, não formosos e bem ajaezados pois o verdadeiro cavaleiro pensa mais em vencer do que em fazer proezas e os cavaleiros mundanos precisamente o que desejam é causar admiração e pasmo e não causar medo.

“Mostrando-se em tudo verdadeiros israelitas, que se adiantam ao combate pacífica e sossegadamente; mas apenas o clarim dá o sinal do ataque, deixando subitamente sua natural benignidade, parecem gritar com o salmista: Não temos odiado, Senhor, aos que te aborrecem? Não temos consumido de dor, ao ver a conduta de teus inimigos?”



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Maomé e o Corão segundo Santo Tomás de Aquino:
“Maomé seduziu os povos prometendo-lhes deleites carnais. ....

“Introduziu entre as poucas coisas verdadeiras que ensinou muitas fábulas e falsíssimas doutrinas. Não aduziu prodígios sobrenaturais, único testemunho adequado da inspiração divina. ....

“Afirmou que era enviado pelas armas,sinais estes que não faltam a ladrões e tiranos. Desde o início, não acreditaram nele os homens sábios nas coisas divinas e experimentados nestas e nas humanas, maspessoas incultas, habitantes do deserto, ignorantes de toda doutrina divina. E só mediante a multidão destes, obrigou os demais, pela violência das armas, a aceitar a sua lei.

“Nenhum oráculo divino dos profetas que o precederam dá testemunho dele; ao contrário, ele desfigura totalmente o Antigo e Novo Testamento, tornando-os um relato fantasioso, como o pode confirmar quem examina seus escritos.

“Por isso, proibiu astutamente a seus sequazes a leitura do Antigo e Novo Testamento, para que não percebessem a falsidade dele”.

“Summa contra Gentiles”, L. I, c. 6.



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Balduino IV, o rei cruzado e leproso de Jerusalém, amado de Deus
Balduíno IV foi o último rei de Jerusalém com espírito de Cruzada. Guy de Lusignan, seu sucessor, foi um interesseiro, sob cujo reinado a Civilização Cristã perdeu a posse da Cidade Santa.


Na história das Cruzadas, nada é mais emocionante que o reinado doloroso de Balduíno IV. Nada, entre os vários exemplos famosos, pode atestar melhor o império de um espírito de ferro sobre uma carne débil. Foi um rei sublime, que os historiadores tratam só de passagem, o que faz perguntar por que até aqui nenhum escritor se inspirou nele, exceto talvez o velho poeta alemão Wolfram von Eschenbach. Nem o romance nem o teatro o evocam, entretanto sua breve existência cheia de acontecimentos coloridos forma uma apaixonante e dilacerante tragédia.


O destino sorria à sua infância. Robusto e belo, ele era dotado da inteligência aguçada de sua raça angevina (de Anjou). Tinha sido dado a ele por preceptor Guilherme de Tyr, que se tomou de “uma grande preocupação e dedicação, como é conveniente a um filho de rei”. O pequeno Balduíno tinha muito boa memória, conhecia suficientemente as letras, retinha muitas histórias e as contava com prazer.


Um dia em que brincava de batalha com os filhos dos barões de Jerusalém, descobriu-se que tinha os membros insensíveis: “Os outros meninos gritavam quando eram feridos, porém Balduíno não se queixava. Este fato se repetiu em muitas ocasiões, a tal ponto que o arquidiácono Guilherme alarmou-se. Primeiro pensou que o menino fazia uma proeza para não se queixar. Então perguntou-lhe por que sofria aquelas machucaduras sem queixar-se. O pequeno respondeu que as crianças não o feriam, e ele não sentia em nada os arranhões. Então o mestre examinou seu braço e sua mão, e certificou-se de que estavam adormecidos” (L’Eraclès). Era o sinal evidente da lepra, doença terrível e incurável naquele tempo.


Os médicos aos quais foi confiado não podiam sustar a infecção, nem mesmo retardar a lenta decomposição que afetaria suas carnes. Toda sua vida não foi senão uma luta contra o mal irremissível. Mais ainda, muito mais: foi testemunho dos poderes de um homem sobre si mesmo e da encarnação assombrosa dos mais altos deveres. Balduíno IV foi um rei digno de São Luís, um santo, um homem enfim — e é isso, sobretudo, que importa à nossa admiração sem reticências — a quem nenhuma desgraça chegou a destruir o vigor de alma, as convicções, a altivez, as qualidades de coração, o senso das responsabilidades, dos quais ele hauria o revigoramento da coragem.


No fim de 1174, Saladino, senhor do Egito e de Damasco, veio sitiar Alepo. Os descendentes de Noradin pediram socorro aos francos. Raimundo de Trípoli atacou a praça forte de Homs e Balduíno IV empreendeu uma avançada vitoriosa sobre Damasco. Estas iniciativas fizeram com que Saladino abandonasse seu desejo inicial. Em 1176 o sultão voltou à carga, e a mesma manobra frustrou seus planos. Balduíno venceu seu exército de Damasco, em Andjar, e trouxe um belo lucro da expedição. Nesta ocasião ele tinha quinze anos.


Apesar de sua doença, cavalgava como um homem de armas, empunhando eximiamente a lança. Nenhum de seus predecessores teve tão cedo semelhante noção da dignidade real de que estava investido, e de sua própria utilidade. Percebendo as rivalidades existentes entre os que o cercavam, compreendeu quão necessária era sua presença à cabeça dos exércitos católicos. Mas que calvário deveria ser o seu! Aos sofrimentos físicos juntava-se a angústia moral: seu estado impedia-o de se casar, de ter um descendente. Ele não era senão um morto-vivo, um morto coroado, cujas pústulas e purulências se disfarçavam sob o ferro e a seda, mas que se mantinha de pé e se lançava à ação, movido não se sabe por que sopro milagroso, por que alta e devoradora chama de sacrifício.


Um novo cruzado — Filipe de Alsácia, conde de Flandres e parente próximo de Balduíno IV — acabava de desembarcar. O pequeno rei esperava muito desse apoio. Estava claro que era necessário ferir Saladino no coração de seu poderio — isto é, no Egito — se se quisesse abalar a unidade muçulmana. Era isso, precisamente, o que propunha o basileus, imperador de Bizâncio. O Egito, uma vez conquistado em parte, Damasco não poderia deixar de subtrair-se ao poder cambaleante de Saladino. Mas Filipe de Alsácia opinava de outra forma. Ninguém poderia impedi-lo de ir guerrear na Síria do Norte, e, o que era mais grave, de levar consigo parte do exército franco.


Saladino respondeu invadindo a Síria do Sul. Balduíno reuniu o que lhe restava da tropa, desguarneceu audaciosamente Jerusalém e partiu para Ascalon, onde Saladino investia. Este, logo que foi informado, subestimou seu adversário. Ele acreditava que a queda de Ascalon era uma questão de dias, e marchou sobre Jerusalém com o grosso de seu exército. Balduíno compreendeu suas intenções. Saiu de Ascalon, fez um longo périplo e caiu repentinamente sobre as colunas de Saladino, em Montgisard.


O efeito da surpresa não compensava a desproporção dos efetivos em luta, e Balduíno sentiu a hesitação dos seus. Desceu do cavalo, prosternou-se com o rosto na areia, diante do madeiro da verdadeira Cruz, que era levada pelo Bispo de Belém, e orou com a voz banhada de lágrimas. Com o coração convertido, seus soldados juraram não recuar, e considerariam traidor quem voltasse atrás. Rodeando o Santo Lenho, o esquadrão de trezentos cavaleiros se lançou impetuosamente. “O vale entulhava-se com a bagagem do exército de Saladino — diz Le Livre des Deux Jardins — os cavaleiros francos surgiam ágeis como lobos, latindo como cães. Atacavam em massa, ardentes como uma chama”. E puseram em fuga o invencível Saladino. Se este salvou a pele, foi graças à rapidez de seu cavalo e ao devotamento de sua guarda. Retornou ao Egito, abandonando milhares de prisioneiros. Balduíno logrou, enfim, uma vitória sem precedentes.


No ano seguinte Balduíno edificou o Gué-de-Jacob, fortaleza destinada a defender a Galiléia dos ataques de Damasco. Guilherme de Tyr pretende que isso tenha sido feito pelas prementes solicitações de Odon de Saint-Amand, grão-mestre do Templo. Em todo caso, qualquer que tenha sido o inspirador da idéia, não há dúvida quanto à importância estratégica de Gué-de-Jacob.


Em 1179 Saladino invadiu a Galiléia. Balduíno foi ao seu encontro, tentando surpreendê-lo como tinha feito em Montgisard. Mas como os muçulmanos se contivessem, ele foi cercado e caiu prisioneiro. Muitos foram mortos e presos nesse dia. Pouco depois Saladino tomouGué-de-Jacob e fez executar todos os templários que a defendiam.


Sybila, irmã do rei, acabava de casar — contrariamente aos interesses de Estado — com Guy de Lusignan, homem de beleza discutível, sem fortuna e sem talento. Balduíno, pressionado pelos seus, minado pela doença, tinha consentido nessa união e dado a Lusignan os condados de Jaffa e Ascalon. Tão logo a insignificância do marido de Sybila se manifestou, atiçaram-se as esperanças dos senhores feudais. Contava-se que o irmão de Lusignan, comentando o casamento, disse: “Se Guy for Rei, eu deveria ser Deus!” Tal a mediocridade que lhe era atribuída.


Nessa mesma ocasião, Isabel de Jerusalém desposava Anfroi de Toron, filho indigno de seu pai, o falecido condestável de Jerusalém, morto em defesa do rei.


O estado de Balduíno IV piorava dia a dia. Foi uma provação para sua mãe — que não tinha boa fama — e para a roda de seus cortesãos ambiciosos e amorais, ver a aproximação de Balduíno com Raimundo de Trípoli, único homem capaz de o aconselhar sabiamente.


Nesse momento reapareceu, libertado dos cárceres muçulmanos, o antigo príncipe de Antioquia, Renaud de Châtillon. Logo recomeçou suas aventuras, assaltando uma importante caravana de peregrinos com destino a Meca. Esse ato rompia a trégua assinada por Balduíno IV e Saladino e ofendia as convicções religiosas dos muçulmanos, a cujos olhos o atentado afigurava-se monstruoso. Intimado pelo rei a devolver os prisioneiros e o produto da pilhagem, ele recusou-se com arrogância, tornando assim evidente a incapacidade do doente de se fazer obedecer.


Imediatamente Saladino acorreu do Egito e invadiu a Galiléia, incendiando e devastando as colheitas, capturando rebanhos e semeando pânico por toda parte. Renaud de Châtillon suplicou ao rei que salvasse seus feudos. Balduíno concedeu, vencendo Saladino em julho de 1182.


Em agosto, o infatigável maometano tentou tomar Beyrouth por uma ação combinada por terra e mar. Uma vez mais Balduíno afastou o perigo. Impediu Saladino de se apoderar de Alepo e conduziu uma expedição até os subúrbios de Damasco. Assim, por toda parte, graças à sua energia sobre-humana, e ainda que daí em diante ele se fizesse carregar em liteira para as batalhas, o heróico leproso levava vantagem sobre o genial muçulmano.


Ele começava entretanto a perder a vista, a não poder mais se servir de seus membros. Os que lhe eram mais chegados o pressionavam a abandonar os afazeres do reinado, ou ao menos passar parte de suas responsabilidades a Guy de Lusignan. Pode-se bem imaginar o drama interior desse rei de 22 anos, corroído por úlceras, semi-paralisado e quase cego, cercado pelas sombras da desconfiança e dos maus pressentimentos, atormentado de um lado pelas insinuações e sugestões pérfidas dos seus, e de outro pela alta idéia que ele fazia de sua missão de rei. Se a lepra o enfraquecia, se ele não podia ter esperanças de se curar, sempre, entretanto, encontrava novas forças e resistia da melhor forma às ciladas da camarilha.


Como a doença entrasse numa fase evolutiva, ele devia lutar contra ela, e sobretudo contra a tentação de abandonar tudo para morrer em paz. Foi num desses períodos que ele consentiu, se bem que a contragosto, em investir Guy de Lusignan na regência do reino. No primeiro encontro com Saladino, Lusignan deixou o exército franco ser massacrado. Recusou com altivez prestar contas a Balduíno IV, que o destituiu de seu cargo. Para evitar que, pela complacência de Sybila, Lusignan se tornasse rei de Jerusalém após sua morte, designou seu sucessor o pequeno Balduíno V, filho de Guilherme “Longue Epée”. Como a situação da Terra Santa estivesse desesperadora, ele enviou uma embaixada ao Ocidente, composta pelo Patriarca de Jerusalém, pelo Mestre do Hospital e pelo Mestre do Templo, o velho Arnaud de Torrage.


Renaud de Châtillon, que indiretamente tinha ajudado o rei a se desembaraçar de Lusignan, achou-se autorizado a retomar suas pilhagens, agora na mais alta escala. Armou uma frota, que foi transportada ao Mar Vermelho em dorso de camelo. Devastando portos, interceptando comboios, essa frota ameaçou por algum tempo o caminho para Meca. Saladino, excitado até o cúmulo do furor, destruiu os navios de Renaud e depois sitiou-o em sua própria fortaleza, o Krac de Moab. Balduíno IV reapareceu, agonizando em sua liteira, para lhe fazer frente. Saladino retirou-se.


O último ato de Balduíno IV foi o de reunir em São João d’Acre o parlamento de seus barões. Guy de Lusignan, incapaz e rebelde, foi então oficialmente afastado do trono, e — o que não era senão justiça e sabedoria — a regência foi confiada a Raimundo de Trípoli.


Mais tarde, a 13 de março de 1185, o mártir rendeu sua alma a Deus, em presença se seus vassalos, dignitários e bons companheiros de guerra. Até os infiéis lhe tributaram homenagens.


(Fonte: Georges Bordonove, “Les Templiers”, in “Catolicismo” nº 303)

















































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Isabel a Católica, rainha de Castela




Isabel, a Católica, a rainha que empreendeu uma Cruzada
Filha de João II, Rei de Castela, e sua segunda esposa, nasceu Isabel a 22 de abril de 1451 na pequena cidade de Madrigal. Aquela que seria a última mulher cruzada descendia, tanto pelo lado paterno quanto pelo materno, de dois reis santos e cruzados:São Luís IX, da França, e seu primo São Fernando III, de Castela.

Isabel assumiu o governo aos 23 anos, à morte de Henrique IV. Com sua energia, e acompanhada de seu marido Fernando, foi obtendo a adesão de cada cidade para sua causa.

Os jovens soberanos entregaram-se com energia à tarefa de reconstruir o país. Começaram a reprimir severamente os abusos e aplicar a justiça contra quem quer que fosse. Fizeram reviver, para isso, a Santa Irmandade, força de voluntários que servia de polícia local, com jurisdição sobre assassinatos, atos de violência, rapina, atentados a mulheres e desobediência às leis e aos magistrados. Isabel obteve do Papa a instauração da Santa Inquisição em Castela para pôr fim aos abusos, na esfera religiosa, principalmente de cristãos-novos (judeus convertidos), muitos dos quais tinham fé duvidosa e utilizavam a usura para pressionar os cristãos.

Um dos maiores empenhos que Isabel teve em seu reinado foi mover a guerra santa contra o invasor muçulmano. Para esse empreendimento, obteve do Papa as mesmas indulgências de Cruzada concedidas aos que iam lutar na Terra Santa, tendo o Sumo Pontífice lhe enviado uma cruz de prata para ir à frente de seus exércitos.

Nas várias campanhas que encetou, e sobretudo na reconquista de Granada, Isabel arrebatava seus soldados por sua energia sobre-humana, senso do dever e espírito sobrenatural. Estes “criam que ela era uma santa. Como Santa Joana d’Arc, sempre lhes recomendava viver honestamente e falar bem. Não havia nem blasfêmias nem obscenidades no acampamento onde ela se achava, e viam-se curtidos soldados ajoelhar-se para rezar, enquanto se celebrava a missa ao ar livre por ordem da piedosa rainha”. A presença da soberana era para os guerreiros como uma garantia de vitória, pois lhes inspirava valor e confiança. Até os mouros admiravam a grande rainha, cantando sua bondade e beleza em suas canções, apesar de a temerem como inimiga.

Enquanto Fernando, um dos melhores guerreiros de sua época, comandava o exército, a rainha cuidava de toda a retaguarda, como recrutamento de reforços, envio de alimentos e munições, bem como projetava os hospitais — foi ela quem instituiu o primeiro hospital militar da História, e suas enfermeiras precederam as da Cruz Vermelha em mais de trezentos anos. Cavalgava de um lugar a outro, indo mesmo aos acampamentos revestida de leve armadura de aço, para elevar o moral dos soldados. Mas essa rainha guerreira fazia questão de ela mesma costurar a roupa de seu marido, nunca usando o monarca outras senão as confeccionadas pelas hábeis mãos de Isabel ou de suas filhas.

Um fato mostra a têmpera dessa rainha. No cerco de Granada, uma vela mal colocada ateou fogo na tenda ao lado da rainha, e desta propagou-se para todo o acampamento, que foi tomado pelas chamas. Os mouros, das muralhas, cantavam vitória. Mas a enérgica soberana, para mostrar sua determinação de conquistar a cidade, mandou edificar novo acampamento de pedra, surgindo assim uma verdadeira cidade à qual deu o nome de Santa Fé. Foi de lá que partiram as investidas contra Granada, obtendo-se sua capitulação.

O Papa Alexandre VI concedeu ao real casal, por seus serviços em prol da Cristandade, o título de Reis Católicos, em harmonia com o de Rei Cristianíssimo, concedido anteriormente ao monarca francês.






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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.

"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]