Da Mihi Animas
- Aos Bispos da Igreja Católica Romana: a contribuição dos LGBTs católicos para o Sínodo 2014
- Mons. Fellay sobre Francisco: «Este não é um homem de doutrina»
- O cansaço do papa solitário
Posted: 11 Dec 2013 02:36 PM PST
O comentário abaixo é do IHU, Instituto dos jesuítas, claro.. A matéria foi publicada em seu site
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É com imensa alegria que compartilhamos a carta elaborada por nossos amigos da Pastoral da Diversidade, em São Paulo, em resposta à consulta pública às paróquias solicitada pelo Vaticano em preparação para o Sínodo dos bispos em 2014. A carta será disponibilizada também sob a forma de uma "petição on-line", um abaixo-assinado para recolhermos as assinaturas de quem quiser apoiar e subscrever o texto abaixo. Teremos 5 dias para recolher as assinaturas antes de enviá-las para nossos bispos e para o núncio apostólico (o representante diplomático da Santa Sé) no Brasil.
A carta foi publicada pelo blog Diversidade Católica, 6-12-2013.
Eis a carta.
Estimados Senhores Bispos,
É a primeira vez na história, tanto quanto se saiba, que todos os fiéis, inclusive nós Católicos LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), fomos convidados a nos expressar como sujeitos sobre temas tão importantes para o futuro da nossa Igreja. Aqueles que escrevemos esta carta estamos longe de nos sentirmos no direito de responder por tantas pessoas diferentes, contudo sentimo-nos honrados pelo convite e queremos pelo menos tentar responder à altura.
É evidente que nos faltam conhecimentos para responder à maioria das perguntas do questionário, por isso vamos nos ater somente às que nos dizem respeito diretamente. Antes, porém, gostaríamos de comentar brevemente quatro pontos que fluem de temas fundamentais da consulta.
O primeiro ponto é sobre o próprio termo Família. Gostaríamos de expressar que todos nós, como pessoas LGBT,filhas e filhos de Deus, nascemos no seio de famílias, das mais diversificadas, e todos nós buscamos viver em família, seja ela eletiva ou biológica. Como Católicos, sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo sempre promoveu e promove mais a família eletiva que a biológica. Ou seja, consideramos que o discurso Católico sobre a família nos toca profundamente, sobretudo porque estas palavras de Jesus nos ressoam: "A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática" (Lucas 8, 21). Temos as mais variadas experiências de vida familiar: para alguns de nós, o fato de sermos LGBT foi aceito com tranquilidade pelos nossos irmãos, pais, primos e outros. Para outros, o fato provocou – e continua provocando – muito sofrimento, seja em nossos parentes mais próximos, seja em nós mesmos. Em suma, queremos dizer que os dramas da vivência da fé em família não nos são alheios. Por isto, não podemos deixar de notar que, até agora, o discurso eclesiástico sobre a família nos trata como se fôssemos os inimigos da família, hostis de alguma forma à sobrevivência da mesma. Porém, nenhuma dinâmica familiar pode ser considerada saudável se alguém nela é tratado como ovelha negra (ou rosa). E isto nos leva a pedir que os Senhores não insistam em "defender" a família contrapondo-a aos direitos e à estabilidade psíquica e espiritual das pessoas LGBT. Estas "defesas" soam como forma de se imiscuir de maneira pouco evangélica em vivências familiares complexas em que todos sairiam ganhando se o assunto fosse tratado com honestidade, escuta, paciência e carinho.
O segundo ponto envolve a noção de Lei Natural. Mesmo que a terminologia não seja muito comum no nosso meio, a realidade visada nos é muito presente. Grande parte dos avanços no trato digno e humano das pessoas LGBT tem sido fruto da crescente consciência tanto em nível científico quanto em nível popular de que nós, LGBT, somos assim não por qualquer defeito ou deficiência, mas simplesmente como algo que é. Sendo assim, como é o caso com todas as pessoas, o nosso comportamento digno é fruto daquilo que somos. Ou seja, é a partir de ser, e não apesar de ser,LGBT que entramos, imbuídos com a força do Espírito Santo, naquela participação consciente e ativa em nos tornarmos aquilo que Deus quer para nós, que caracteriza a Lei Natural. Aprender aquilo que é, na prática, ser filha ou filho de Deus tendo como um dos aspectos – um elemento pequeno, mas não desprezível – de sua identidade o serLGBT, é uma grande tarefa de humanização para todos nós. Nesta tarefa não ficamos isentos de todas as possibilidades, tanto de pecado quanto de santidade, que desafiam qualquer pessoa. Contudo, observamos que quando a autoridade eclesiástica fala da Lei Natural, ela assume - aparentemente, sem se questionar - que somos de alguma maneira marginais ao tema, somos julgados de maneira sempre negativa, por causa de nossas inclinações que se supõem serem "objetivamente desordenadas". Ora, fica cada vez mais claro que a versão eclesiástica atual da Lei Natural carece de evidência na realidade. Por isso, exortamos os Senhores Bispos a não utilizar a Lei Natural como arma eclesiástica contra as pessoas LGBT e que deem mais espaço à dimensão da Lei Natural que consiste em aprender por observação aquilo que realmente é, pois só assim serão conhecidos e respeitados os desígnios do nosso Pai, Criador de todas as coisas, nas nossas vidas. Só assim nos ajudarão a caminhar segundo a vontade d'Ele.
O terceiro ponto trata do termo Pastoral. Desejamos ardentemente a existência de uma verdadeira Pastoral LGBT no Brasil. Sabemos que nenhuma pastoral que não esteja fundamentada na Verdade pode produzir bons frutos. E, de fato, há um grave problema aqui, um dilema: ou somos pessoas heterossexuais consideradas defeituosas, ou somos pessoas LGBT normais. No primeiro caso, a Pastoral consistiria em nos ensinar a viver uma estrita continência sexual, lutaria contra qualquer forma de reconhecimento da nossa vida em comum, seja no civil seja no religioso, e talvez até propusesse métodos para nos "curar" da desordem profunda que nos é atribuída. No outro caso, a Pastoral teria a missão de nos ajudar a florescer e crescer na fé a partir daquilo que somos; seu interesse se voltaria, entre outras coisas, para a formação e estabilidade da nossa vida conjugal e familiar, inclusive através da adoção de filhos, e para fortalecer nosso compromisso com os mais sofridos através de projetos sociais; e sobretudo, se empenharia em melhorar a vida de tantas pessoas, especialmente das camadas mais empobrecidas e marginalizadas de nossa sociedade, que sofrem todo tipo de discriminação no trabalho, na educação, na saúde e outros âmbitos, por sua condição de LGBT, chegando até o ponto de serem jogadas na rua pelas suas famílias, e a se prostituírem para sobreviver.
A situação real na Igreja, no entanto, é que as autoridades eclesiásticas não conseguem reconhecer publicamente sequer que existe uma questão sobre a verdade a ser confrontada, embora no íntimo, tantos o saibam muito bem. O resultado, que vemos no dia a dia, é um mundo onde os leigos vão se dando conta cada vez mais facilmente de que não há nenhuma desordem objetiva intrínseca ao fato de alguém ser LGBT. Mas o clero, mesmo sabendo que muitos pertencem à nossa tribo, não consegue tratar deste assunto honestamente. E ainda menos os Senhores, cuja fala nesta esfera costuma ficar semelhante (com desculpas pela comparação) aos discursos de outrora: "Nós fingimos ensinar, e o povo finge aprender". O resultado é que uma verdadeira e oficial pastoral católica LGBT fica impossível! Os esforços pastorais hoje existentes, a partir dos quais escrevemos esta carta, sobrevivem na clandestinidade, sem acolhimento sincero, aberto e fraterno, em espaços eclesiais não reconhecidos como tais. Pedimos, então, não como mera questão acadêmica, mas como urgente exercício de responsabilidade pastoral, que os Senhores busquem a maneira de entrar pública e honestamente no processo de elucidar conosco aquilo que realmente é neste campo. Sem medo da verdade, pois sem ela, nenhuma Pastoral Católica é possível. O medo da verdade, além de pouco eficaz para a ação pastoral, também é inútil, pois, como lemos na Declaração Dignitatis Humanae, n.1, do Concílio Vaticano II, "A verdade não se impõe de outro modo senão pela força da própria verdade."
O quarto e último termo é a Evangelização. Observamos com grande alegria a maneira como o Papa Francisco tem abordado este tema na Evangelii Gaudium e sentimo-nos plenamente convocados a participar desta nova evangelização. De fato, muitos de nós já estamos fazendo isto de diferentes maneiras, exatamente como pessoasLGBT que vivenciam profundamente a fé - infelizmente, sem qualquer apoio da Igreja institucional. Mas nos sentimos animados pelo Papa quando ele nos disse na JMJ 2013 que assim tem de ser, e que, mais cedo ou mais tarde, os Senhores irão descobrir que nós estávamos fazendo aquilo que devíamos, levando o conhecimento e a presença de Jesus Cristo a diferentes periferias existenciais. Gostaríamos de ressaltar que, para nós, descobrir que somos pessoas LGBT amadas como tal por Deus, convidadas à irmandade de Jesus e à nova família eletiva da Igreja, é parte da Boa Nova de Cristo. Na medida em que os Senhores insistem em tratar todo movimento em prol da dignidade e veracidade das pessoas LGBT como contrário ao Evangelho, em vez de discernir os elementos de Kairós que nos chegam por meio deste movimento, da mesma forma se condena a evangelização a ser uma repetição estéril, uma mera ideologia moralista. A nossa experiência no Brasil, amplamente partilhada pelos nossos amigos e irmãos LGBT em outros países, tanto católicos quanto cristãos de outras Igrejas, aponta para a seguinte observação: as gerações mais jovens não conseguem entender porque conhecer a Jesus implica numa caracterização, que sabem que é falsa, das pessoas LGBT com quem convivem como amigos, irmãos, filhos, vizinhos e colegas de escola ou trabalho. Para a nova e verdadeira evangelização, feita com aquele espírito de que fala o Papa Francisco na sua exortação apostólica, é imprescindível descobrir qual é o elemento de "Boa Nova" no assunto LGBT. Caso contrário, as gerações mais jovens não irão vos escutar.
Feitas estas observações gerais, passamos a responder às perguntas da seção 5 do questionário.
5 - Sobre as uniões de pessoas do mesmo sexo
1. Existe no vosso país uma lei civil de reconhecimento das uniões de pessoas do mesmo sexo, equiparadas de alguma forma ao matrimônio?
Não existe uma lei propriamente dita, mas, graças a Deus, o Supremo Tribunal Federal equiparou a união civil entre pessoas do mesmo sexo ao matrimônio civil. Após a decisão do STF, o Conselho Nacional de Justiça expediu resolução, com caráter normativo e vinculante aos cartórios, que obriga os tabeliães a registrar uniões estáveis e casamentos entre pessoas do mesmo sexo.
2. Qual é a atitude das Igrejas particulares e locais, quer diante do Estado civil promotor de uniões civis entre pessoas do mesmo sexo, quer perante as pessoas envolvidas neste tipo de união?
Na nossa experiência, tanto a CNBB como as Igrejas particulares eram obedientemente hostis à introdução destas realidades no nosso meio, se bem que em tom menos agressivo e grosseiro que os grupos evangélicos neopentecostais que protagonizaram a luta contra nossos direitos. Em nível mais local, não causou tanto problema a nova realidade legal, e como pessoas, algumas das quais envolvidas neste tipo de união, temos poucas noticias de maus-tratos por pessoas ligadas às paróquias, mas também poucas notícias de um acolhimento com júbilo. Evidentemente há uma dificuldade em obter informações mais exatas já que, oficialmente, toda atitude acolhedora neste tema tem sido clandestina.
3. Que atenção pastoral é possível prestar às pessoas que escolheram viver em conformidade com este tipo de união?
Retomamos nosso terceiro parágrafo acima, sobre o termo Pastoral. Prestamos todo o atendimento que nos é possível, em meio à clandestinidade eclesial, e aguardamos o dia em que poderemos pensar, em diálogo franco e aberto com nossos Bispos, os tipos adequados de liturgia pública de bênção para estes casos, como também o acompanhamento apropriado às diferentes etapas da vida das pessoas LGBT.
4. No caso de uniões de pessoas do mesmo sexo que adotaram crianças, como é necessário comportar-se pastoralmente, em vista da transmissão da fé?
Há pouco a fazer enquanto as autoridades eclesiásticas ainda se sentirem na obrigação de convencer as crianças adotadas por nós, pessoas LGBT, que as suas famílias não são verdadeiras famílias, e que suas mães ou seus pais são pessoas objetivamente desordenadas que contrariam o plano de Deus ao formar uniões caracterizadas por atos intrinsecamente maus. Se ultrapassarmos esta posição, não haverá grande diferença quanto à transmissão da fé, sendo as mesmas as facilidades e dificuldades de catequese para filhos adotados por casais do mesmo sexo ou de sexos opostos. Ajudar a superar o sentido do abandono na criança, sendo que muitas delas passam por situações abomináveis antes de serem adotadas, vai muito além da mera orientação sexual seja dos próprios filhos adotados, seja dos pais adotivos.
Posted: 11 Dec 2013 02:12 PM PST
Traduzido do original francês por Carlos Wolkartt
Esta entrevista foi realizada em vídeo pelo site dici.org, no qual também está disponível a gravação em áudio. Apresentamos a seguir a transcrição completa, onde o estilo oral foi mantido.
A chegada de um novo Papa
A chegada de um novo Papa é como recomeçar a contar do zero. Especialmente com um Papa que se distingue de seus predecessores por sua forma de atuar, falar e intervir, com grande contraste. Isso pode fazer com que esqueçamos o pontificado anterior, e é basicamente isso que está acontecendo. Pelo menos em relação a certas linhas conservadoras ou reformistas marcadas pelo Papa Bento XVI. É certo que as primeiras intervenções do Papa causaram muita confusão e inclusive quase contradição, em todo caso, uma oposição em relação a essas linhas reformistas.
Um exemplo: os Franciscanos da Imaculada
Em sua espiritualidade, eles seguem as indicações do padre Maximiliano Kolbe. Isso é muito interessante porque Maximiliano Kolbe desejava um combate para a Imaculada, um combate pela Imaculada, a vitória de Deus sobre os inimigos de Deus – podemos realmente usar esse termo – isto é, contra os franco-maçons. Essa observação é muito interessante. O combate contra o mundo, contra o espírito do mundo, tornou-os próximos a nós, quase por natureza, pode-se dizer; porque para iniciar um combate contra o mundo, a Cruz deve estar envolvida em alguma parte. Isso implica os princípios eternos da Igreja: o chamado "espírito cristão". Esse espírito cristão se manifesta magnificamente na antiga missa, na missa tridentina. Assim, quando Bento XVI publicou seu Motu Proprio, que deu mais espaço à missa [antiga], essa congregação decidiu em seu capítulo (isto é, toda a congregação) voltar à antiga missa de um modo geral, em plena consciência de que iam ter um monte de problemas devido às suas paróquias – mas, no entanto, esses problemas não eram insuperáveis.
Um ou outro [membro da congregação] também começou a plantear certas perguntas sobre o Concílio. Com isso, alguns infelizes (um pequeno número, tendo em conta que a congregação é composta por cerca de 300 padres e irmãos), aproximadamente uma dezena foi queixar-se com Roma, dizendo: "Estão querendo nos impor a antiga missa, estão atacando o Concílio". Isso provocou uma reação muito forte por parte de Roma, já sob o pontificado de Bento XVI – é necessário que isto fique claro; no entanto as conclusões, as medidas disciplinares foram tomadas sob o pontificado de Francisco. Estas medidas incluem, entre outras, a proibição da celebração da missa antiga para todos os membros da congregação, com poucas exceções, algumas eventuais permissões, aqui e acolá... Isto é um atentado direto ao Motu Proprio, que falou de um direito que os sacerdotes têm de celebrar a missa antiga, e portanto não havia necessidade de permissões, nem do ordinário, nem mesmo da Santa Sé. Isso é muito importante; obviamente, isto é um sinal.
Uma nova abordagem da Igreja
"Estamos fechando o parêntese". Este é o termo utilizado por vários progressistas após o advento do Papa Francisco. Creio que, em todo caso, para os que são chamados progressistas, era exatamente isso o que queriam. Em outras palavras, queriam pôr em esquecimento o pontificado de Bento XVI e as iniciativas direcionadas a restabelecer de algum modo a situação com algumas correções (podemos dizer "restauração"?); em todo caso, havia pelo menos um desejo de tirar a Igreja da catástrofe em que se encontra.
O novo Papa chega com diversas posições, atacando um pouco de tudo. Todo mundo sabe disto: Bento XVI foi esquecido! Seria bom poder dizer: "Mas não! Este é o mesmo combate; Bento e Francisco, o mesmo combate!". Obviamente, a atitude não é a mesma em ambos [os pontificados]. A abordagem, a definição dos problemas que afetam a Igreja, não é a mesma! Essa ideia de introduzir reformas que são ainda mais amplas que tudo o que foi feito até agora... Em todo caso, não temos a impressão de que serão somente mudanças cosméticas, essas reformas do Papa Francisco!
Então, como isso afetará a Igreja? Isto é muito difícil de dizer.
Um clima de confusão
A chegada de um novo papa faz com que a gente se esqueça (de seu predecessor), como se recomeçássemos do zero, com um monte de surpresas, uma grande quantidade de erros – pois com suas palavras ele irritou a quase todo o mundo, não só a nós, mas a todos os conservadores em geral. Em questões morais, tomou posições surpreendentes; por exemplo, a pergunta sobre os homossexuais: "Quem sou eu para julgá-los?". Bom, o Papa é o juiz supremo aqui embaixo! Portanto, se há alguém que pode julgá-los, esse alguém é ele! É ele quem deve julgar e estabelecer a lei de Deus no mundo. Não nos interessa o que o Papa pensa pessoalmente, o que esperamos dele é que seja a voz de Cristo e, portanto, a voz de Deus, que nos diga o que Deus disse! E Deus não disse: "Quem sou eu para julgar?". Na realidade, Ele disse outra coisa: as condenações que encontramos nos escritos de São Paulo, não somente as do Antigo Testamento – podemos pensar em Sodoma e Gomorra – são muito explícitas. São Paulo e o Apocalipse são muito enérgicos em condenar esse mundo [de pecados] contra a natureza. Assim, expressões como essas, mesmo que tenham sido "recuperadas", dão a impressão de que em muitos casos se diz o contrário de tudo o que foi dito. Isto cria um clima de confusão, as pessoas ficam desestabilizadas: esperam necessariamente mais clareza sobre a moral, e ainda mais sobre a fé, pois essas duas coisas estão intrinsecamente conectadas. A fé e a moral são dois pontos sobre os quais a Igreja ensina e onde a infalibilidade pode ser invocada, e de repente vemos um Papa fazer declarações confusas...
A situação vai mais além: em uma entrevista com os jesuítas, o Papa ataca aqueles que querem clareza. É incrível!... Ele não usa a palavra clareza; ele usa a palavra certeza, aqueles que querem a segurança doutrinal. É óbvio que queremos isso! Com as palavras do próprio Deus, Nosso Senhor, que diz que nem sequer um jota deve ser mudado [nota da tradução: o jota é a menor letra do alfabeto hebraico], é melhor ser preciso!
Um Papa menos crível
É difícil chegar a um juízo sobre suas palavras, porque pouco depois, quase ao mesmo tempo, encontramos outras palavras suas sobre a fé, sobre pontos de fé, sobre a moral, que são muito claras e condenam o pecado, o diabo; declarações que explicam com muita força e muito claramente que ninguém pode ir ao céu sem verdadeira contrição dos pecados, e que ninguém pode esperar a misericórdia do Bom Deus a menos que se arrependa verdadeiramente de seus pecados. Tudo isso são recordações das quais estamos muito contentes, recordações muito necessárias! Mas, infelizmente, já perderam grande parte de sua força devido às declarações contrárias.
Creio que uma das coisas mais lamentáveis sobre essas declarações é que elas tiram a credibilidade, tiram grande parte da credibilidade do Sumo Pontífice, de modo que quando for necessário falar de coisas importantes, agora ou no futuro, essas declarações se colocarão no mesmo nível das demais. Nós diremos: "Ele está tentando agradar a todo o mundo: um pouco para a esquerda, um pouco para a direita". Espero estar equivocado, mas tenho a impressão de que esta será uma das características deste pontificado.
Quanto mais alta é a posição de autoridade à qual alguém se eleva, maior é o cuidado que se deve ter sobre o que se diz, e isto é especialmente válido para as palavras do Papa. Creio que ele fala demais. Consequentemente, suas palavras se tornam confusas, vulgares, talvez no sentido mais profundo do termo. Non decet: não é apropriado, e não é como um Papa deve atuar.
Já não se sabe o que é uma opinião pessoal e o que é a doutrina... As confusões são imediatas. "Mas quem fala é o Papa!". Mas o Papa não é uma pessoa privada. É claro que ele pode falar como teólogo privado, mas de qualquer maneira é o Papa! E os jornais não vão dizer: "Isto é uma opinião particular do Papa", mas "este é o Papa, é a voz da Igreja, que pensa desta maneira".
O Papa, um homem de ação
Não sei se poderia ousar dizer que já posso fazer uma síntese. Vejo muitos elementos díspares, vejo um homem de ação – é a primazia da ação, sem dúvida; este não é um homem de doutrina. Um argentino me disse: "Vocês europeus terão muita dificuldade para entender sua personalidade, porque o Papa Francisco não é um homem de doutrina, é um homem de ação, de práxis. Ele é um homem muito pragmático, muito próximo à terra". É visível em seus sermões que ele está perto da gente, e isso é talvez o que o faz muito popular, porque o que ele diz afeta a todos. Também irrita um pouco a todos, mas ele está muito próximo do chão. Não há muita teoria. Vemos isso claramente: trata-se de ação, pura e simples.
Isto é o que se vê. Mas, como isto afetará a Igreja? Quais serão as consequências para a vida da Igreja em seu conjunto? É simplesmente uma voz que clama no deserto, que não terá nenhum efeito em absoluto, ou pelo contrário, será uma parte da Igreja, a parte progressista, que se beneficiará dela? Pode-se dizer que eles gostariam muito de tirar vantagem disso.
O que é interessante, inclusive agora, nesta análise da situação da Igreja, é ver que das torpes palavras que são pronunciadas [pelo papa Francisco], alguns tiram certas conclusões e depois disso surge um "esclarecimento", uma tentativa de restabelecer a doutrina. Já houve um ou dois esclarecimentos ou intervenções notáveis por parte do Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, que reafirma, com toda clareza e firmeza, os pontos abalados pelo Papa. É como se o Prefeito da Fé tivesse que censurá-lo ou corrigi-lo... É um tanto embaraçoso! Finalmente os progressistas, em determinado instante, vão se decepcionar e dirão que não é o que esperavam. Enquanto isso, o Papa lhes dá uma esperança, uma falsa esperança...
Um Papa modernista?
Eu utilizei a palavra "modernista" [veja aqui]; creio que não fui compreendido por todos. Talvez devesse ter dito "um modernista em suas ações". Mais uma vez, [Francisco] não é um modernista no sentido absoluto, teórico, um homem que desenvolve todo um sistema coerente; não existe esta coerência. Há linhas – por exemplo, a linha evolutiva – que estão precisamente relacionadas à ação. Quando o Papa diz que quer uma nebulosidade na doutrina, se introduz a dúvida, não só a nebulosidade, mas a dúvida, indo tão longe a ponto de dizer que até mesmo os grandes líderes da fé, como Moisés, deram margem a dúvidas... Só conheço uma dúvida em Moisés: quando duvidou em ferir a rocha! Por causa disso, o Bom Deus o castigou e ele não pôde entrar na Terra Prometida. Pois bem, não creio que esta dúvida seja em favor de Moisés, que em outros momentos era bastante contundente em suas afirmações... sem dar margem a dúvidas.
É realmente surpreendente esta ideia de que deve haver dúvidas sobre tudo. É muito bizarro! Não vou dizer que isto é uma reminiscência de Descartes, mas... isto cria um ambiente. E o que é atualmente perigoso é que se insista sobre isso nos jornais, nos meios de comunicação...
Ele é, de certa forma, o queridinho da mídia; é bem visto, é elogiado, é posto em destaque, mas não chega ao fundo da questão.
Uma situação imutável
Trata-se de um ambiente que passa próximo da situação real da Igreja, mas a situação em si não mudou. Temos passado de um pontificado a outro, e a situação da Igreja permanece a mesma. As linhas básicas continuam sendo as mesmas. Na superfície, há variações: pode-se dizer que se trata de variações sobre um tema muito conhecido! As afirmações básicas são feitas, por exemplo, sobre o Concílio. O Concílio é uma reinterpretação do Evangelho à luz da civilização contemporânea ou moderna – o papa usou ambos os termos.
Creio que deveríamos começar pedindo uma definição muito séria do que é a civilização contemporânea, moderna. Para nós e para os homens comuns, é simplesmente a rejeição de Deus, é a morte de Deus. É Nietzsche, é a Escola de Frankfurt, é uma rebelião quase generalizada contra Deus. Isto se vê em quase todas as partes. Vemos na União Europeia, que em sua Constituição se nega em reconhecer suas raízes cristãs. Vemos em tudo que é propagado pela mídia, na literatura, na filosofia, na arte: tudo tende ao niilismo, à afirmação do homem sem Deus, e até mesmo em rebelião contra Deus.
Então, como podemos reler o Evangelho à luz dessa civilização moderna? Simplesmente não é possível, é um círculo quadrado! Estamos de acordo com a definição que acabamos de dar e dela extraímos consequências que são radicalmente diferentes das do Papa Francisco, que vai tão longe a ponto de expor seu pensamento dizendo: "Olhem para os belos frutos, os maravilhosos frutos do Concílio: olhem a reforma litúrgica!". Obviamente, isso nos causa um arrepio na espinha! Tendo em conta que a reforma litúrgica foi descrita por seu último predecessor como a causa da crise da Igreja, é difícil ver e entender como, de repente, deve ser qualificada como um dos melhores frutos do Concílio!
Certamente, isto é um fruto do Concílio, mas se este é um belo fruto, então o belo é bom ou mau? Ficamos perdidos!
Por enquanto, nada se faz para curar a Igreja
Até agora, nada foi feito para remediar a situação de desvio, de decadência da Igreja, absolutamente nada, nenhuma medida que afete toda a Igreja. Poderíamos falar da encíclica sobre a fé, mas eu não acho que podemos considerá-la como sendo uma medida eficaz. Certamente que não. Isso não afeta, não cura os enfermos do Corpo Místico, enfermos a ponto de morrer – a Igreja moribunda. O que estão fazendo para sair desta situação? Nada, até agora nada. São só palavras, palavras que entram por um ouvido e saem pelo outro. Alguém poderia dizer que estou sendo muito duro, não sei, mas na prática, onde estão sendo tomadas as medidas anunciadas para acabar com a confusão? Em lugar nenhum. Simples assim.
A Igreja, no entanto, tem as promessas da vida eterna
Nosso Senhor disse muito claramente: "as portas do inferno não prevalecerão contra Ela" (Mt. 16,18). Com base nestas palavras, gostaríamos de dizer a Nosso Senhor: "Mas, o que estais fazendo? Veja, vós estais deixando que as coisas aconteçam, que pareçam ir de encontro à vossa promessa!". Em outras palavras, nós estamos um pouco surpresos com o que está acontecendo. Estou falando aqui da história da Igreja. Essas palavras [do Evangelho segundo Mateus] – estou convencido disso – foram para a maioria dos teólogos a fonte de declarações sobre a impossibilidade de ver na Igreja justamente o que estamos vendo agora. Consideramos que é absolutamente impossível, por causa da promessa de Nosso Senhor. Bom, então, não vamos negar as promessas de Nosso Senhor, vamos tratar de dizer como essas promessas, que são infalíveis, são no entanto possíveis em uma situação que pareça contrária a elas. Parece que, desta vez, as portas do inferno fizeram uma entrada de primeira classe na Igreja. Creio que devemos ter cuidado, não devemos equivocar-nos. Sobretudo com esses tipos de declarações, declarações proféticas de Nosso Senhor, é preciso manter o significado básico. Essas analogias são muito fortes, há uma realidade que se afirma aqui e que é inegável: as portas do inferno não prevalecerão. E isso é tudo. Mas isso não significa que a Igreja não vai sofrer. Bom, então, até que ponto pode ir este sofrimento? E aqui não há espaço para a interpretação: somos obrigados a ir um pouco mais além do que pensávamos.
Quando pensamos em São Paulo, que fala do Filho da perdição, que será adorado como Deus, vemos que não se trata de um anticristo militar ou, por assim dizer, civil; trata-se de uma pessoa religiosa, uma pessoa que será adorada, que afirma os atos da religião por si mesmo. E a "abominação da desolação" se encaixa nisto? Creio que sim. Portanto, isto significa que há, junto com este anúncio das promessas de indefectibilidade da Igreja, os anúncios de uma época terrível para a Igreja, onde as pessoas farão perguntas, especificamente esta pergunta: mas então, o que aconteceu com esta indefectibilidade, estas promessas de Nosso Senhor? A Santíssima Virgem... As famosas palavras de La Salette, que são repetidas quase literalmente por Leão XIII, não são revelações; é a Igreja, e poderíamos dizer, a própria Igreja em um ato: Leão XIII escreve um exorcismo, esse famoso exorcismo de Leão XIII, porém mais tarde as expressões mais solenes desse exorcismo são eliminadas, [expressões] anunciando que Satanás reinará e estabelecerá seu trono em Roma. Simples assim. Dessa forma, a sede da Igreja de repente se converterá na sede do Anticristo. Essas são as mesmas palavras da Santíssima Virgem: "Roma se converterá na sede do Anticristo". Estas são as palavras de La Salette. Palavras como "Roma perderá a fé", "o eclipse da Igreja" são muito fortes e vão de encontro à promessa. Isto não quer dizer que a promessa é nula, é evidente que permanece; mas não descarta um momento de grande sofrimento para a Igreja, que poderia ser considerado como uma aparente morte.
Paixão de Cristo, Paixão da Igreja
Creio que chegamos a esse ponto. A questão permanece: em que medida o Bom Deus pedirá a seu Corpo Místico acompanhar e imitar o que Seu corpo físico teve de suportar, que foi até a morte. Será que chegaremos a esse ponto, ou vamos parar antes? Todos nós esperamos que pare o quanto antes. Creio – não seria a primeira vez – que o Bom Deus vai intervir para restabelecer as coisas, no momento em que todo o mundo estiver pensando: "desta vez acabou". Creio que esta será uma das provas da origem divina da Igreja. No momento em que todos os esforços humanos se esgotarem, exaustos, em outras palavras, quando tudo estiver terminado, esse será justamente o momento em que Ele atuará. Eu creio. E então será uma manifestação extraordinária de que esta Igreja é a única que é verdadeiramente divina.
A atitude dos fiéis
Em primeiro lugar, devem manter a fé. Pode-se dizer que esta é a principal mensagem de São Paulo, e também foi a mensagem dos tempos de perseguição: ser firme, state [em latim], seguro, permanecer de pé, firmes na fé. Manter a fé não pode ser meramente teórico. O que eu chamo de fé "teórica" existe: é a fé de alguém que é capaz de recitar o Credo, que aprendeu seu catecismo, que é capaz de repeti-lo, e isto é o começo. Mas esta fé não leva ao céu. Isto é o que se tem que aprender. A fé descrita nas Escrituras é a fé que – de acordo com o termo técnico – é informada pela caridade. São Paulo estava falando desta relação entre a fé e a caridade quando disse aos coríntios: "Se eu tivesse toda a fé, até ao ponto de transportar montanhas," (que não é pouca coisa, já que uma fé que pode mover montanhas não é algo que se vê todos os dias!) "se não tiver caridade, não sou nada... Não sou mais que um bronze que soa, ou um címbalo que tine" (Cf. 1 Cor. 13, 1-2).
Não é suficiente fazer grandes profissões de fé, não é suficiente atacar ou condenar os erros; muitos pensam que cumprem com seu dever como cristãos quando fazem isto, mas é um erro. Não estou dizendo que não se deve fazer isso: deve-se fazer isso, faz parte. Mas a fé que São Paulo e a Sagrada Escritura falam é impregnada de caridade. A caridade é o que dá forma à fé. A caridade é o amor de Deus e, consequentemente, o amor ao próximo. Portanto, trata-se de uma fé que se volta para o próximo, que está, sem dúvida, em erro, e lhe recorda a verdade, mas de tal maneira que, graças a essas recordações, o cristão pode semear a fé, restabelecer alguém na verdade, levar esta alma à verdade. Portanto, não é um zelo amargo, pelo contrário, trata-se de uma fé aquecida pela caridade.
O dever de estado
O que os fiéis devem fazer é o seu dever de estado de vida. Manter a fé, uma fé imbuída de caridade, profundamente ancorada na caridade, que lhes permita evitar o desalento, o zelo amargo e o pesar, e em vez disso, experimentar a alegria, a alegria cristã, que consiste em saber que Deus nos ama tanto que Ele está disposto a viver conosco, viver em nós pela graça. Ele ilumina tudo o que está acontecendo, e dá uma alegria que nos faz esquecer os problemas, remetendo-lhes ao seu lugar – problemas que certamente são muito sérios. Mas, o que são [esses problemas] em comparação com o Céu que se ganha justamente por meio destes sofrimentos? Esses sofrimentos são preparados, organizados pelo Bom Deus, não com o intuito de fazer-nos cair, mas com o propósito de fazer-nos vencer. Como disse São Paulo: "E vivo, já não eu, mas é Cristo que vive em mim". Isto é tão belo! O cristão é um tabernáculo da Santíssima Trindade, um templo de Deus, um templo vivo!
O papel da Fraternidade São Pio X
Sua principal preocupação é com aquilo que de fato mantém a Igreja viva: a Missa, o Santo Sacrifício da Missa, que é a aplicação concreta, quotidiana dos méritos de Nosso Senhor Jesus Cristo. Tudo foi merecido na Cruz, que é verdadeiramente a totalidade das graças para todos os homens, desde os primeiros pais, Adão e Eva, até os que estão no fim do mundo. Todas as graças que recebemos nos foram merecidas por Nosso Senhor na Cruz. A Missa é a perpetuação, a renovação, a representação deste sacrifício; no altar há um sacrifício idêntico ao da Cruz, que em cada um e em todos os lugares estão à disposição dos cristãos (por extensão, pode-se dizer à disposição da humanidade) os méritos de Nosso Senhor, sua satisfação, sua reparação, a fim de obter o perdão de todos os pecados, desse oceano de pecados cometidos todos os dias, e também para obter as graças que necessitamos. A missa é realmente a bomba que distribui em todo o Corpo Místico as graças merecidas na Cruz. É por isso que podemos dizer: é o coração que distribui através do sangue tudo o que as células do corpo necessitam. Assim podemos dizer da missa: é o coração. Ao cuidar deste coração, nos encarregamos de toda a vida da Igreja.
Restaurar a Igreja através da Missa
Se queremos uma restauração da Igreja, e certamente queremos, devemos ir a este lugar: à fonte, e a fonte é a Missa. Não qualquer liturgia, mas uma liturgia extremamente santa. Santa a um grau inimaginável. Uma liturgia que tem uma santidade extraordinária, que foi verdadeiramente forjada pelo Espírito Santo através dos séculos, redigida pelos papas santos e, portanto, com uma profundidade extraordinária. Não há absolutamente nenhuma comparação entre a missa nova e esta missa antiga. Na realidade, são dois mundos diferentes e, estava a ponto de dizer, os cristãos ao menos um pouco sensíveis à graça se dão conta disso rapidamente. Muito rapidamente. Infelizmente, hoje em dia observamos que muitas pessoas nem sequer a conhecem. Mas pra mim é evidente que a restauração da Igreja tem que começar por aí. Portanto, é por isso que sou profundamente grato ao Papa Bento XVI por haver restabelecido a Missa. Isto foi de uma importância capital. É de uma importância capital.
Formação dos sacerdotes
A Fraternidade preserva a Missa, quer esta Missa, e também preserva quem a diz, e não há outro que possa fazê-lo senão o sacerdote, somente o sacerdote. Portanto, este é propriamente o verdadeiro propósito da Fraternidade: o sacerdócio, o sacerdote, formar sacerdotes, ajudar os sacerdotes, sem nenhuma limitação, sem restrições, nada deve ser descartado, nada! É o sacerdote como Nosso Senhor quer. Lembrando-lhe justamente dos tesouros que muitos ignoram hoje, o que é uma tragédia.
Redescobrir o espírito cristão
A missa é ainda mais importante. A missa é o que transmitirá a fé, é o que alimentará a fé. Obviamente, se alguém celebra a Missa sem fé, é um grande problema. Porém não é uma questão de provocar antagonismos, mas uma questão de unir o que se supõe que deve estar unido. Mas creio que com esses dois elementos [sacerdócio e missa] já temos grandes recursos para a sobrevivência da Igreja. Todo mundo sabe que a Igreja foi atacada em vários níveis; no entanto, o problema mais profundo – estou convencido disso – é a perda do espírito cristão. Os cristãos chegaram a ser como o mundo. Disseram a todo instante que era o objetivo do Concílio para acomodar-se ao mundo moderno. Bem, não, isso não é possível! Vivemos neste mundo, por isso utilizamos um monte de coisas que são da ordem de circunstâncias históricas concretas, que passam. No fundo, o que permanece é o apego ao Bom Deus, o serviço prestado ao Bom Deus, que inclui, é claro, a fé, a graça e este espírito cristão. Queremos ir para o céu, temos que ir para o céu, e para isso devemos evitar o pecado e fazer o bem. As duas coisas. Enquanto não nos voltarmos a esses fundamentos, a Igreja vai continuar, por assim dizer, a ser maltratada por um vírus letal, que é o vírus do mundo moderno, especificamente da civilização moderna.
O triunfo do Imaculado Coração de Maria
"Por fim, o meu Imaculado Coração triunfará". Esta é uma declaração absoluta, que não está condicionada pelo que se passou antes. E é de fato uma declaração que fixa e estabelece a esperança, como uma rocha. Obviamente, como este triunfo parece estar relacionado com a consagração (da Rússia), estamos pedindo a consagração – isso é completamente normal. Quanto tempo teremos que esperar para ver cumprir-se o que foi solicitado? Ou será que o Bom Deus, mais uma vez, terá que contentar-se com o de menos? Não sabemos. O que sabemos é que no final este triunfo chegará. E, portanto, isto é uma certeza. Não vamos falar de uma certeza de fé, porque isto não é uma questão de fé, mas uma palavra dada pela Santíssima Virgem, e sabemos muito bem o quanto vale a sua palavra! Isso é tudo.
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Fonte
DICI. Entretien avec Mgr Bernard Fellay, Menzingen, novembre 2013. Em:
Posted: 11 Dec 2013 01:20 PM PST
Uma tontura de cabeça, um encontro cancelado, um comentário brusco sobre as escolhas do novo pontífice. Quarta-feira passada, no arco de poucas horas, soou um sinal de alerta pelo Papa Bergoglio.
Depois da audiência geral na Praça de São Pedro – a temperatura estava fria – Francisco sentiu sua cabeça girar, e o leve mal-estar o obrigou a ir logo repousar, renunciando ao encontro com o cardeal Angelo Scola, que veio especialmente de Milão a lhe falar sobre uma futura visita à Expo 2015.
Não é pouca coisa. Scola foi o principal antagonista de Bergoglio no conclave: não por motivos pessoais, naturalmente, mas como expoente de outra plataforma. Scola ainda é uma das personalidades mais renomadas entre os bispos italianos, e uma boa relação com ele é decisiva para orientar a Conferência Episcopal Italiana na linha de reforma que o papa tem em mente.
Na realidade, Francisco está explorando exageradamente as suas forças. Aos 76 anos e com a responsabilidade de uma organização de mais de 1,1 bilhão de adeptos, o papa argentino não tirou um minuto de férias neste verão europeu. Ao contrário de João Paulo II, ele não se restaura com pequenas "fugas" na natureza e, ao contrário de Bento XVI, não se concede regularmente todos os dias uma hora de caminhada pelos jardins vaticanos.
Aos jovens da paróquia de San Cirillo, em Roma, ele disse no domingo passado que tira apenas meia hora de repouso depois do almoço e, depois, "de novo ao trabalho, até a noite". Francisco espera muito das suas forças. Há um motivo. Bergoglio sente que não tem muito tempo à disposição. Uma dezena de anos, antes de decidir, provavelmente também ele, passar o bastão. E dez anos na história da Igreja são muito poucos.
Na maré de elogios e de aplausos que o rodeia, o papa argentino está sozinho, muito solitário. Se ele se limitasse ao programa que muitos cardeais eleitores esperavam, não haveria problemas. Reorganizar o IOR e agilizar a Cúria são questões técnicas de uma realização nada difícil. Consultar os bispos mais frequentemente – como era pedido ao futuro pontífice durante as reuniões gerais antes do conclave – podia ser realizado com reuniões plenárias do Colégio Cardinalício mais frequentes e com uma ordem do dia precisa.
Mas Francisco está fazendo muito mais do que muitos dos seus eleitores imaginavam. (Isso aconteceu com João XXIII). Ele quer remodelar a Cúria desde os fundamentos, reorganizar o Sínodo dos Bispos, dar forma a uma nova abordagem às temáticas sexuais, levar o clero a abandonar atitudes burocráticas e autorreferenciais, mudar o estilo do poder episcopal, inserir as mulheres em postos de governo, imprimir com uma nova comissão (anunciada nessa quinta-feira) um novo impulso à luta contra a pedofilia, protegendo as vítimas e dando indicação aos episcopados.
Há uma pergunta que paira sobre o Palácio Apostólico: quem apoia Francisco? Com quais forças ele pode contar? A resposta é que um "partido" ou um "movimento" ativo entre clero e bispos pró-Francisco não existe. Não se reforma um aparato corpulento como o eclesiástico – milhares de bispos, centenas de milhares de padres e religiosos, uma rede de centros de poder grandes e pequenos – sem uma forte fileira de seguidores fiéis e comprometidos.
Na Cúria, uma equipe bergogliana ainda não existe. O novo secretário de Estado, Dom Parolin, é o homem certo (também pela sua forte marca sacerdotal) para trabalhar com Bergoglio, mas a maioria dos cargos curiais são provisórios.
Até agora, não se vê nos dicastérios curiais e no episcopado mundial uma patrulha compacta de cardeais, bispos e padres prontos para lutar pelas suas reformas como podiam ser os defensores da reforma gregoriana na Idade Média ou da reviravolta do Concílio de Trento. Os episcopados nacionais estão inertes. Muitos assistem passivamente às externalizações de Francisco. Muitos conservadores esperam em silêncio um passo em falso seu. Nas grandes organizações, o aparato sabe que é feito de borracha.
Nesse clima, as declarações do secretário de Ratzinger, Dom Gänswein, ao semanário alemão Zeit, espalharam inquietação. A revista, embora não entre aspas, escreveu que, para o braço-direito de Bento XVI, a decisão de Francisco de não morar nos apartamentos papais foi sentida como uma "afronta". Além disso, Gänswein, embora reconhecendo que o papa é apenas um, exclama, desconsolado, textualmente: "A cada dia, eu espero de novo o que será diferente (do que antes)".
Mais do que um encorajamento, uma rejeição ao novo curso. Francisco está sozinho, mesmo que o coração dos fiéis bata por ele.
Instituto Humanitas Unisinos
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]