SEXTA-FEIRA SANTA!
É o segundo dia do Tríduo Pascal, em que se celebra a morte de Jesus sobre a Cruz.
Em cada Eucaristia se celebra sempre a Morte do Senhor, juntamente com a Sua Ressurreição, com a qual forma o único Mistério Pascal.
Mas na Sexta-Feira Santa consagra-lhe um rito especial comemorativo que, normalmente, se realiza à hora em que o Salvador expirou no Calvário.
A celebração deste dia compreende três partes distintas :
1. liturgia da Palavra.
A Paixão do Senhor, que não pode tomar-se isoladamente como um facto encerrado em si mesmo, visto ser apenas um dos momentos constitutivos da Páscoa, só pode compreender-se e interpretar-se à luz da Palavra divina.
Por isso a Liturgia começa por nos introduzir, por meio de Isaías, de S. Paulo e de S. João, no mistério do sofrimento e Morte de Jesus.
A essa luz, a Paixão do "Servo sofredor" aparece-nos como uma obra de expiação em favor da humanidade, realizada com plena, total e soberana liberdade.
E Jesus surge-nos não apenas como Vítima inocente e sofredora, mas também como Sacerdote.
A Sua Morte tem valor sacrificial, é acto de mediação universal e causa de salvação.
Não é tragédia, mas glorificação.
A Sua Cruz não é objecto de ignomínia, mas trono de glória.
Na posse do significado salvífico da Paixão, a assembleia cristã sente necessidade de se unir a esse acto sacerdotal de expiação e intercessão.
Assim, a Liturgia da Palavra encerrar-se-á com uma solene oração, que abrange a humanidade inteira, pela qual Cristo morreu - uma oração verdadeiramente "missionária".
Nos fins do século IV a Adoração da Cruz foi introduzida nas tradições da Sexta-Feira Santa em Jerusalém.
Segundo a história, ou talvez com algo de lendário à mistura, Helena, a mãe do primeiro Imperador cristão, Constantino, descobriu na área de Jerusalém a verdadeira cruz em que Cristo tinha sido crucificado.
Desde então tornou-se tradicional em Jerusalém, expor esta sagrada relíquia à veneração e adoração dos fiéis, que se aproximavam dela e a beijavam.
Mais tarde este costume, bem como pequeninos pedaços da cruz, espalharam-se por todo o Império Romano.
No século VIII este hábito de adorar a cruz do Salvador foi incorporado na Liturgia e hoje, a lenta e piedosa procissão da Adoração da Cruz faz parte da Liturgia da Sexta-Feira Santa.
Antes do Concílio Vaticano II, era costume, para os ministros do altar e para os fiéis que se quisessem associar a esta cerimónia da Adoração da Cruz, tirarem os sapatos.
Depois faziam-se três genuflexões duplas, antes de se beijar a cruz ou o Senhor crucificado.
Mais recentemente esta cerimónia ficou simplificada.
Ninguém se descalça e faz-se apenas uma genuflexão simples perante a Cruz que se vai beijar.
Permanece todavia o antigo costume de se desnudar a cruz por três vezes, um pouco de cada vez, à medida que a procissão se encaminha para o altar e, de cada vez , o Ministro canta :
- "Eis o lenho da Cruz, do qual pendeu a salvação do mundo".
De cada vez, sobe o tom da entoação e os fiéis vão respondendo no mesmo tom :
- "Vinde adoremos".
É uma intensa, total e dramática expressão de adoração, de penitência e de súplica.
Era comum entre os povos mais antigos e passou depois para a tradição cristã.
Jesus também orou no Jardim das Oliveiras, prostrado, na noite antes da sua morte :
- "E, adiantando-Se um pouco mais, caiu com a face por terra, orando e dizendo : Meu Pai, se é possível passe de Mim este cálice, todavia não seja como Eu quero, mas como Tu quiseres". (Mt. 26,39).
Até aos princípios da Idade Média, fazia-se uma prostração completa antes da celebração da Santa Missa, e disso há apenas uma reminiscência no princípio da celebração litúrgica de Sexta-Feira Santa.
Antes da Reforma Litúrgica havia várias ocasiões em que se faziam adorações profundas (genuflexão com os dois joelhos) como na adoração da Cruz e na presença do Santíssimo Sacramento exposto.
Presentemente só se faz uma genuflexão simples, isto é, só com um joelho, mesmo na presença do Santíssimo Sacramento exposto. (Instrução geral para a Sagrada Comunhão e para o culto da Eucaristia fora da Missa n. 84).
IMPROPÉRIOS
Por definição, um Impropério é uma acusação ultrajante, uma censura áspera, um vitupério.
Os Impropérios são os cânticos religiosos da adoração da Cruz em Sexta-Feira Santa, que reflectem as queixas de Cristo dirigindo-se aos Judeus :
- "Meu povo, que te fiz Eu ? Em que te contristei ? Responde-Me. Libertei-te do Egipto: e tu preparaste uma Cruz ao teu Salvador"...
Pensa-se que se fundamentam em Miqueias :
- "Povo Meu, que te fiz, ou em que te contristei? Responde-me. Tirei-te da terra do Egipto, livrei-te da casa da escravidão, e enviei diante de ti, Moisés, Aarão e Maria"... (Miq.6,3).
Os Impropérios datam desde o século VII e ainda hoje se usam embora sejam opcionais.
Durante algum tempo foram desencorajados por representarem uma atitude anti-semítica.
Mas para os católicos significam um convite aos duros de coração e aos que necessitam de arrependimento.
3. Comunhão Eucarística
Depois da contemplação do mistério da Cruz ( 1a parte), depois da adoração de Cristo Crucificado (2a parte), a Liturgia vai introduzir-nos no mais íntimo do Mistério Pascal, vai pôr-nos em contacto com o próprio "Cordeiro Pascal".
Não se celebra hoje a Eucaristia.
No entanto, pela Comunhão do "Pão que dá a Vida", consagrado em Quinta-Feira Santa, somos "baptizados" no Sangue de Jesus, somos mergulhados na Sua Morte.
Assim unidos à fonte mesma da vida sobrenatural, ficámos cheios de força para passarmos da morte do pecado à alegria da Ressurreição.
Através do Corpo Sacramental do Senhor crucificado e ressuscitado ficámos também mais unidos ao seu Corpo Místico, isto é, a Cristo que sofre e morre nos Seus membros.
Como o Senhor Jesus, também nós devemos dar a vida pelos nossos irmãos.(1 Jo.3,16).
À celebração que se faz na Sexta-Feira Santa, chamava-se "Missa dos Pressantificados", porque nessa celebração se comungava o Pão Eucarístico consagrado na Missa do dia anterior e guardado num altar fora do Templo, chamado o altar da reposição.
Primitivamente só o celebrante comungava neste dia e não havia a Oração Eucarística. Mas a partir de 1955, foi restaurada a tradição com a Liturgia da Palavra, a veneração da Cruz e a comunhão dos fiéis.
Em Sexta-Feira Santa é dia de Jejum desde os 21 aos 59 anos, e de abstinência desde os 14 anos. (Cân.1252).
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]