Confraria de São João Batista
- Esmolas, segundo São Tomás de Aquino.
- O pecado da zombaria segundo São Tomás de Aquino.
- Modéstia no vestir: motivos para as mulheres não usarem mais calças.
- Cristo Crucificado: a escola do cristão.
- MORTIFICAÇÃO.
Posted: 05 Apr 2014 12:49 PM PDT
Parece que não existe um preceito de dar esmolas:
1. Com efeito, os conselhos são diferentes dos preceitos. Ora, dar esmolas é um preceito, segundo o livro de Daniel (4, 24): "Ó rei, aceita meu conselho: redime teus pecados com esmolas". Logo, dar esmolas não é um preceito.
2. Além disso, a cada qual é lícito usar ou conservar os seus bens. Ora, conservando-os, não se pratica a esmola. Logo, é lícito não dar esmola e, portanto, ela não é um preceito.
3. Ademais, tudo o que cai sob um preceito, por um certo tempo obriga sob pena de pecado mortal, porque os preceitos afirmativos obrigam por um tempo determinado. Portanto, se dar esmola fosse um preceito, poder-se-ia determinar um tempo durante o qual pecaria mortalmente quem não a desse. Ora, não parece que seja o caso, pois sempre se pode pensar que provavelmente um indigente poderá ser socorrido de outra maneira, e que o dinheiro da esmola poderia ser-nos necessário, no presente ou no futuro. Logo, parece que dar esmola não é um preceito.
4. Ademais, todos os preceitos se reduzem aos do Decálogo; entre eles nada concerne à esmola. Logo, dar esmola não é um dos preceitos.
EM SENTIDO CONTRÁRIO, ninguém é condenado ao castigo eterno por omissão de uma obra que não é preceito. Ora, alguns deverão sofrer esta pena, porque não praticaram a esmola, como se vê no Evangelho de Mateus (25, 41). Portanto, dar esmola é um preceito.
Tomas_Respondo
Como o amor ao próximo é um preceito, é necessário que tudo o que é indispensável para guarda-lo caia também sob o preceito. Ora, em virtude desse amor, não somente devemos querer o bem ao nosso próximo, mas inclusive realiza-lo: "Não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade", diz a primeira Carta de João (3, 18). Para querer e operar o bem em relação ao próximo é preciso socorrê-lo nas necessidades, a saber, dando-lhe esmolas. Logo, dar esmola é um preceito.
Mas, como os preceitos tratam de atos de virtude, dar esmola será obrigatório na medida em que este ato for necessário para a virtude, isto é, enquanto a reta razão o exige. Ora, isso implica duas ordens de considerações, relativamente ao que dá e ao que recebe a esmola. Do lado do doador, deve-se levar em conta que as esmolas hão de ser feitas do seu supérfluo, como está no Evangelho de Lucas: "Dai esmola do que vos é supérfluo" (11, 41). Chamo supérfluo não só o que sobra das necessidades do doador, mas também das demais pessoas dele dependentes. Com efeito, cada um deverá primeiramente prover às suas necessidades próprias e às dos seus dependentes (neste caso fala-se do que é necessário à pessoa, sendo que este vocábulo implica a dignidade). Depois, com o que sobrar, as necessidades dos outros devem ser socorridas. É assim que faz a natureza: primeiro cuida, por meio da virtude nutritiva, do que é necessário para sustentar o próprio corpo; depois, pela virtude da geração, dispende o supérfluo para gerar um outro ser.
Do lado do beneficiário, requer-se que ele esteja na necessidade, sem o que a esmola não teria razão de ser. Mas como é impossível a cada um socorrer a todos os que padecem necessidade, o preceito não impõe que se faça esmola em todos os casos de necessidade, mas somente a necessidade que não pode ser socorrida de outro modo. Aplica-se aqui a palavra de Ambrósio: "Dá de comer ao que morre de fome; se não o fizeres, matá-lo-ás".
Concluindo, eis o que é de preceito: dar esmola do supérfluo ao que passa por extrema necessidade. Fora dessas condições, dar esmola é um conselho, igual aos conselhos que se dão para buscarmos um bem melhor.
Quanto às objeções iniciais, deve-se dizer que:
1. Daniel dirigia-se a um rei que não estava sujeito à lei de Deus. Por isso, o que estava prescrito por essa lei, que ele não reconhecia, não lhe devia ser proposto senão sob forma de conselho. Ou, como se diz, trata-se de um caso em que a esmola não é de preceito.
2. Deve-se dizer que o homem tem a propriedade dos bens temporais que de Deus recebeu. Quanto ao uso, porém, eles não lhe pertencem unicamente, mas igualmente aos outros, que podem ser socorridos pelo seu supérfluo. É o que ensina Basílio: "Se confessas ter recebido de Deus estes bens (isto é, os bens temporais), deveria Deus ser acusado de injustiça por os ter repartido desigualmente? Por que tu vives na abundância, e o outro condenado a mendigar, senão para que tu ganhes os méritos de uma boa administração, e ele, a recompensa da paciência? É do faminto o pão que reténs; do nu a roupa que conservas no armário; do descalço o calçado que se estraga em teu depósito; do indigente a prata que possuis em custódia. Por isso, tuas injustiças são tão numerosas quanto os dons que poderias conceder". O mesmo ensinou Ambrósio.
3. Se pode determinar um certo tempo dentro do qual peca mortalmente quem não praticar a esmola. Do lado do beneficiário, a esmola deve-lhe ser feita quando for de uma evidente e urgente necessidade, sem aparecer quem de pronto o socorra. Do lado do doador, quando possui um supérfluo que, segundo todas as previsões, presentemente não lhe será necessário. Não é forçoso fixar-se em considerações sobre tudo o que poderia ocorrer no futuro: seria "preocupar-se com o dia de amanhã" (Mt 6, 84), que o Senhor proíbe. Assim, o supérfluo e o necessário devem ser apreciados segundo as circunstâncias prováveis e mais comuns.
4. Todo socorro prestado ao próximo se reduz ao mandamento de honrar pai e mãe. Assim o interpreta o Apóstolo: "A piedade é proveitosa a tudo, pois contém a promessa da vida presente e futura" (I Ti 4, 8). Ele fala assim porque, ao preceito de honrar pai e mãe, acrescenta-se esta promessa: "para teres uma longa vida sobre a terra". Ora, na piedade estão incluídas todas as espécies de esmolas.
Suma Teológica II-II, q.32, a.5
FONTE: http://sumateologica.wordpress.com/2014/01/23/tomas-responde-existe-um-preceito-de-dar-esmolas/#more-4837
Posted: 05 Apr 2014 12:34 PM PDT
Só se zomba de um mal ou de um defeito. Ora, quando um mal é grande deve ser tomado a sério e não se tornar objeto de divertimento. Se, porém, vira motivo lúdico ou simples ocasião de risos (de onde a irrisão e a zombaria tomam o nome), é que o mal é tido como pouco importante. Ora, o mal pode ser apreciado como pequeno sob dois aspectos: em si mesmo ou em relação à pessoa. Quando alguém se diverte e ri do mal de outrem, porque esse mal é em si de pouca monta, só comete um pecado venial e leve, em seu gênero. Quando, porém, é considerado pequeno em razão da pessoa, como se costuma fazer com as faltas das crianças ou dos simplórios, então fazer de alguém objeto de divertimento e irrisão, vem a ser um desprezo total do outro. Este parece merecer tão pouca estima, que só se olha para os males dele para transformá-los em gracejos ridículos. Zombar dessa forma é pecado mortal, e mais grave do que a contumélia (injúria, insulto) que é também feita às claras. Na contumélia, com efeito, o mal de outrem é pelo menos tomado a sério, enquanto que o zombador o leva em brincadeira. Dá mostras de maior desprezo e de maior desonra.
Sob este aspecto, a zombaria será pecado grave; e tanto mais grave quanto a pessoa de quem se zomba tem direito a maior respeito. O mais grave será, portanto, zombar de Deus e das coisas divinas, como proclama o livro de Isaías (37, 23). "A quem afrontaste e insultaste? Contra quem levantaste a tua voz e ergueste os teus olhos?" E responde. "Contra o Santo de Israel." Em segundo lugar, vem a zombaria contra os pais. Por isso, se diz nos Provérbios (30, 17): "O olho que escarnece o pai e despreza a obediência à mãe, que os corvos do arroio o perfurem e o devorem os filhotes da águia." Enfim, zombar dos justos constitui ainda uma falta grave, porque a honra é a recompensa da virtude. E, assim, Jó se queixa de que "a integridade do justo seja objeto de zombaria". De fato, essa zombaria é extremamente perniciosa, pois impede os homens de bem agir. É o que declara Gregório: "Há aqueles que, apenas vêem surgir o bem realizado por outrem, se apressam em arrancá-lo por suas zombarias destruidoras".
Fonte: http://sumateologica.wordpress.com/
Posted: 05 Apr 2014 12:30 PM PDT
Cinco bons Motivos para não usar mais Calças!
Bom, alem dos artigos que já citamos de que a Calça "feminina" fere a Modéstia, e também outros artigos que tratam do tema, como a notificação do Cardeal Siri, que condena o uso de roupas masculinas sendo usada por mulheres, e ainda citações de Santos, como São Padre Pio de Pietrelcina, Modéstia e Padre Pio, dentre outros, vamos citar agora nesse artigo, outros bons motivos para você mulher, não usar mais calças. Além de deixar a mulher masculinizada, imodesta (por que a grande maioria são colantes), também fazem muito mal à sua saúde.
Existem duas maneiras que as Mulheres usam calças hoje:
- Coladas: Fazem mal à tua saúde, como vamos citar algumas comprovações neste artigo. Além de serem indecentes, pois mostram o corpo: Coxas, glúteos, e regiões genitais.
- Folgadas: Algumas pessoas dizem que assim a mulher fica modesta, e eu digo: DEPENDE. Mesmo folgadas, elas delineiam os glúteos, se assim não fosse não seriam calças. E se for cobrir com uma outra peça? Você consegue imaginar uma calça folgada com um blusão por cima que coisa feia pareceria! Pareceria uma mulher vestida de homem, e é realmente o que é.
O que fazemos então é usar saias e vestidos modestos, nos deixam mais graciosas, femininas, além de serem "roupa de mulher". É o mais correto, aqui você encontra algumas instruções do Padre Daniel. P. Pinheiro do IBP sobre a os padrões das vestimentas femininas.
A Calça além de imodesta, masculina, também prejudica a Saúde da Mulher.
1. Calças justas demais elevam a temperatura nas partes íntimas da mulher, o que ocasiona em muitos casos em Corrimento vaginal. Com a umidade e a temperatura alta, a região genital torna-se propícia ao desenvolvimento de fungos e bactérias que podem causar doenças como a candidíase. "Apesar de não ser grave, a candidíase é uma urgência para a mulher, pois incomoda demais", observa o dr. Vladimir Taborda, ginecologista do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.
2. Calças apertadas podem dificultar o retorno do sangue venoso, que passa muito tempo nos membros inferiores. Essas roupas geram compressões, ao longo da perna e na região abdominal, sem uma graduação adequada, aumentando a chance de ter varizes por exemplo. Ou quem já tem de piorar o quadro. Outra consequência da falta de circulação sanguínea é a Lipodistrofia ginóide (popularmente chamada de celulite).
3. Usar calças muito apertadas, pode provocar também dores nas Costas: Faça você mesmo o teste, e compare, marcando suas sensações por dois dias seguidos. Num, use uma combinação bem justa e, no outro, escolha um modelo que deixe seu corpo bem à vontade como um vestido. A diferença é notável: vestindo peças que restringem seus movimentos, você é obrigado a sobrecarregar os músculos e as vértebras para realizar atividades que, normalmente, nem exigiriam tanto esforço. Com o quadril comprimido, sua coluna sofre para dar suporte aos movimentos.
4. Aquela sensação de formigamento ou queimação na coxa pode indicar danos nos nervos, um resultado das calças coladas. O nome médico da condição é meralgia parestésica, encontrada em inúmeras pacientes que usavam roupas extremamente apertadas. A condição causa sintomas como formigamento, entorpecimento e dor na lateral da coxa. A enfermidade ocorre quando o nervo que passa pela lateral da coxa é pressionado e sai da pélvis. Usar salto alto e calça skinny jeans pioram os sintomas, pois pressionam ainda mais a pélvis. Algumas mulheres descrevem a sensação como uma "flutuação" que as deixam fracas, segundo o DailyMail. Mulheres acima do peso que usaram calças apertadas por mais de 6 meses são as mais afetadas pelo problema. Sensações de queimação na coxa é uma sinalização de que as coisas não vão bem entre a sua calça e sua perna.
5. Calças apertadas deformam o corpo da mulher, ocasiona marcas que ficam para a vida toda. O tecido adiposo que deveria se distribuir de forma uniforme pelo corpo (abdômen, glúteos, quadril e coxas), acumulam-se apenas na parte lateral do abdômen, formando os famosos "pneus". Veja na Imagem abaixo:
Esse tipo de modelo de calça aperta linearmente uma área que deve ter liberdade para o crescimento. "Por exemplo, se uma menina de 11 anos comprar uma calça assim, e usar somente esse modelo até os 14 anos de idade, não terá no lugar do quadril um crescimento de forma correta, devida a pressão que ocorre sobre esta região." Afirma o alerta Cirurgião Plástico, Dr. Raul Gonzalez, um dos mais experientes cirurgiões de Remodelagem Glútea e de Próteses Corporais do país.
Bom como podemos ver, a calça jeans é inimiga das mulheres! Se você optou por mudar seu guarda-roupas parabéns! Fez a melhor escolha! Aqui damos algumas dicas para as meninas que estão começando agora o caminho da modéstia e quer renovar seu guarda-roupas. Acesse: Mudando o guarda-roupas.
Posted: 05 Apr 2014 12:12 PM PDT
São João da Cruz (1542-1591), carmelita descalço, doutor da Igreja
A Subida ao Carmelo, II, cap. 22
«Nunca nenhum homem falou assim!»
Deus poderia dizer-nos: «O meu Filho é toda a minha Palavra, toda a minha resposta; Ele é a visão plena e toda a revelação. Respondi-vos totalmente, disse-vos tudo e tudo vos manifestei, revelei-vos tudo dando-vo-lo por irmão, companheiro, mestre, herança e recompensa […]: "Este é o meu filho muito amado em quem pus todo o meu enlevo: escutai-o" (Mt 17,5) […].
Portanto, se desejas escutar da minha boca uma palavra de consolação, olha para o meu Filho, que Me obedeceu e que, por amor, Se entregou à humilhação e à aflição, e verás o que Ele te responde. Se desejas que Eu te explique as coisas ocultas e os acontecimentos misteriosos, basta que fixes os teus olhos nele e nele encontrarás encerrados os mistérios mais profundos, a sabedoria e as maravilhas de Deus, como diz o meu apóstolo: Nele, que é o Filho de Deus, "estão escondidos todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento" (Col 2,3). Esses tesouros de sabedoria serão para ti mais sublimes, mais doces e mais úteis que tudo o que pudesses aprender noutros lados. Por isso é que o mesmo apóstolo se gloriava "de não saber outra coisa a não ser Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado" (1Cor 2,2). Se procuras ter visões ou revelações, sejam elas divinas, sejam corpóreas, olha também para Ele enquanto homem e encontrarás muito mais do que julgas possível, porque o apóstolo Paulo também disse: "é nele que habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Col 2,9).»
Por isso, não convém voltar a interrogar a Deus como antigamente e já nem é necessário que Ele fale […]: não há, nem nunca haverá, mais nenhuma verdade de fé a revelar.
Posted: 04 Apr 2014 11:30 PM PDT
A MORTIFICAÇÃO
Pe. Garrigou-Lagrange, O.P.,
Les Trois Ages de la Vie Intérieure
Sobre a mortificação cristã, notemos, em primeiro lugar, duas tendências extremas e errôneas: de um lado o naturalismo prático que é tão frequente e no que caíram os quietistas, e de outro lado, a orgulhosa austeridade jansenista, que está muito afastada do proceder do amor de Deus. A verdade se ergue como o cume em meio desses dois extremos, que representam os desvios contrários dos erros.
O Naturalismo Prático, na Ação e na Inanição
O naturalismo prático, que é a negação do espírito de fé na conduta da vida, continuamente tende a renascer em formas mais ou menos acentuadas, como a poucos anos pudemos ver no americanismo e no modernismo. Em muitas obras que apareceram nesta época, se menosprezava a mortificação e os votos religiosos, nos que se pretendia ver, não uma libertação que favorecia ao voo da vida interior, mas como um impedimento para o apostolado. Diziam-nos: "Porque falar tanto de mortificação sendo o cristianismo uma doutrina de vida? De renuncia se o cristianismo deve assimilar-se toda atividade humana em vez de destruí-la? De obediência se o cristianismo é uma doutrina de liberdade? Essas virtudes passivas, continuavam, não tem maior importância senão para os espíritos negativos, incapazes de empreender coisa alguma e sem outra fortaleza que a da inercia."
Por que, seguem dizendo, desprezar nossa atividade natural? Não é boa nossa natureza? Não procede de Deus e está inclinada a ama-Lo sobre todas as coisas? Nossas mesmas paixões, movimentos de nossa sensibilidade, desejo e aversão, gozo ou tristeza, não são boas nem más; são o que nossa intenção põe nelas. Trata-se de energias que é preciso utilizar e não é lícito anulá-las, mas as devemos moderar e regular. Esta é a doutrina de Santo Tomás, muito diferente, acrescenta-se, de tantos autores de espiritualidade e muito pouco em consonância com o que diz o capítulo da Imitação, III, c. LIV, a respeito dos 'diversos movimentos da natureza e da graça'."
Claro está que ao falar assim contra o autor da Imitação, deixava um pouco no esquecimento essas palavras do Salvador: "Em verdade vos digo, se o grão de trigo, depois de caído na terra, não morre, fica infecundo; porém, se morre, produz muito fruto. O que ama sua alma a perderá; mas o que a aborrece neste mundo, a conserva para a vida eterna" (Jo XII, 24).
Diziam também: "Por que combater tanto o próprio juízo, a própria vontade? Isso equivale a reduzir-se a um estado de servidão que destrói toda iniciativa, e faz perder o contato com o mundo, que não devemos desprezar, mas melhorar". Porém, ao falar assim, não caía no esquecimento o sentido preciso que os verdadeiros tratadistas de espiritualidade deram à "vontade própria", que sempre significou a vontade não conforme a vontade de Deus?
Nesta objeção formulada pelo americanismo e depois repetida pelo modernismo (1), a verdade vem habilmente mesclada com a mentira e o erro; até se invoca a autoridade de Santo Tomás e com frequência se repete esse princípio do grande Doutor: "A graça não destrói a natureza, antes, a aperfeiçoa"; os movimentos da natureza não são tão desregrados, se afirma como sustenta o autor da Imitação, e é necessário o total desenvolvimento da natureza dirigida pela graça.
E como falta o verdadeiro espírito de fé, se falseia o princípio de Santo Tomás que se invoca. Fala este da natureza como tal, no sentido filosófico da palavra; da natureza no que tem de essencial e bom, que é obra de Deus, e não da natureza decaída e ferida, tal como esta de fato, como consequências do pecado original e nossos pecados pessoais, mais ou menos deformada por nossos egoísmos, às vezes inconsciente, por nossos desejos desordenados e nossa soberba. Refere-se igualmente Santo Tomás às paixões ou emoções como tais, e não enquanto estão desordenadas, quando se afirma que são forças que devem utilizar-se; mas para tirar proveito delas, preciso mortificar o que em tais há de desordenado; e não basta dissimulá-lo e regulá-lo, mas é necessário fazer morrer totalmente.
Estes e outros equívocos semelhantes não tardam em produzir suas consequências. Por seus frutos se conhece a árvore; e querendo agradar excessivamente o mundo, em vez de convertê-lo, esses apóstolos de novo estilo, que foram os modernistas, deixaram-se perverter por ele.
E assim eles desconheceram as consequências do pecado original; ouvindo-os falar, dir-se-ia que o homem nasce bom e perfeito, como sustentavam os pelagianos e mais tarde Jean Jacques Rousseau.
Eles esqueceram a gravidade do pecado mortal como ofensa feita a Deus, e só o consideraram com uma desordem que dana o homem. Em consequência, tiraram a importância e a gravidade do pecado do espírito: incredulidade, presunção e orgulho. Dir-se-ia que a falta mais grave é abster-se das obras sociais; e como consequência, a vida puramente contemplativa era considerada como coisa quase inútil ou como ocupação de inúteis ou incapazes.
O mesmo Deus quis replicar a esta objeção pela canonização de Santa Teresinha do Menino Jesus e pela extraordinária irradiação desta alma contemplativa.
Desconhecia-se igualmente a infinita elevação de nosso fim sobrenatural: Deus autor da graça. E em vez de falar de vida eterna e de visão beatífica, se falava de um vago ideal moral com aparência de religião, no qual desaparece a radical oposição entre o céu e o inferno.
Esquecia-se, enfim, que o instrumento que Nosso Senhor quis empregar para salvar o mundo foi a Cruz.
A nova doutrina, em todas as suas consequências deixava entrever seu princípio e fundamento: o naturalismo prático, não o espírito de Deus senão o da natureza, negação do sobrenatural, se não teórica, ao menos na conduta da vida. Essa negação foi formulada várias vezes na época do modernismo: a mortificação não é essencial ao cristianismo. Porém, que outra coisa é a mortificação senão a penitência? E não é essa necessária ao cristão? Como então poderia ter escrito São Paulo: "Trazemos sempre em nosso corpo, por todas as partes, a mortificação de Jesus, a fim de que a vida de Jesus se manifeste também em nossos corpos" (II Cor. IV, 10)?
Sob outra nova capa, o naturalismo prático fez sua aparição entre os quietistas, na época de Molinos, no século XVII. Foi um naturalismo, não de ação, como no americanismo, senão de inação. Pretendia Molinos que "querer obrar, é uma ofensa feita a Deus, que quer obrar, só, em nós" (2). Deixando de obrar, sustentava, a alma se aniquila e volta a seu princípio, e, neste estado, Deus, só, vive e reina com ela (3). Assim chega-se ao naturalismo prático por um caminho contrário ao do americanismo que exalta a atividade natural.
Molinos deduzia de seu principio que a alma não deve realizar atos de conhecimento ou de amor de Deus (4); nem pensar no céu ou no inferno, nem refletir sobre seus atos, nem sobre seus defeitos (5); o exame de consciência ficava assim suprimido. Acrescentava Molinos que tampouco deve a alma desejar sua própria perfeição, nem a salvação (6); nem pedir a Deus coisa alguma determinada (7), se não que se abandonar a Ele, para que faça nela, sem ela, sua divina vontade. E dizia, enfim: "A alma não tem necessidade de resistir positivamente às tentações (8); a cruz voluntária da mortificação é uma carga pesada e inútil, da qual temos que nos desembaraçar" (9).
Recomendava permanecer, na oração, em uma fé obscura, em um repouso em que se deve esquecer todo o pensamento preciso, relativo à Humanidade de Jesus, ou mesmo as Perfeições divinas, a Santíssima Trindade; e permanecer nesta quietude sem produzir ato algum. "Nisto consiste", dizia ele, "a contemplação adquirida, na qual é preciso permanecer toda a vida, se Deus não o eleva a contemplação infusa" (10).
Na realidade, esta contemplação, assim adquirida por cessação de todo ato, não era outra coisa que uma piedosa sonolência, mais sonolenta que piedosa, da que certos quietistas nunca queriam sair, nem mesmo para ajoelhar-se na elevação durante a Missa. Assim permaneciam em sua pretendida união com Deus, que confundiam com uma augusta forma do nada. Tal estado faz pensar mais em um nirvana dos budistas que na união transformante e comunicativa dos santos.
Daí se vê que a contemplação adquirida, que Molinos aconselhava a todos, era uma passividade, não infusa, senão adquirida voluntariamente mediante a cessação de toda atividade. O mesmo atribuía a esta pretendida contemplação adquirida coisas que não são verdade e suprimia com um único golpe toda a ascética e a prática das virtudes, considerada pela Tradição como a verdadeira disposição para a contemplação infusa e união com Deus. Também pretendia que "a distinção das três vias: purgativa, iluminativa e unitiva, é o maior absurdo que se tenha dito na mística; já que, explicava, só há um caminho para todos igual, o caminho interior" (11).
Tal supressão da mortificação conduzia às mais profundas desordens, até chegar a dizer Molinos que as tentações do demônio são sempre úteis, mesmo quando nos arrastam a atos desonestos; e que nem mesmo nestes casos é preciso fazer atos das virtudes contrárias, mas há que resignar-se, já que tais coisas revelam nosso nada e pobreza (12). Só que Molinos, em lugar de chegar, por este caminho, ao menosprezo de si mesmo pelo reconhecimento da própria culpabilidade, pretendia chegar à impecabilidade (13), e a morte mística; singular impecabilidade que se conciliava com todas as desordens (14).
Tão lamentável doutrina é uma caricatura da mística Tradicional, que fica radicalmente falseada em todos os seus princípios. E com o pretexto de evitar a atividade natural que o naturalismo de ação exalta, degenera aqui no naturalismo prático da preguiça e da inação. Era, por outro caminho, a supressão da ascética, do exercício das virtudes e da mortificação (15).
Os erros do quietismo demonstram que é possível o naturalismo prático daqueles que perderam a vida interior e o outro, bem distinto, dos que nunca o possuíram.
No extremo oposto do naturalismo prático, se encontra às vezes, embora seja coisa rara, a orgulhosa austeridade de um falso sobrenaturalismo, segundo se pode ver no jansenismo, e antes, em diversas manifestações de fanatismo, como entre os montanistas no século II e entre os flagelantes do século XII. Todas essas seitas perdem de vista o espírito de mortificação cristão, que não é soberba, mas de amor de Deus.
No século XVII, os jansenistas caíram em um pessimismo que uma alteração da ideia cristã da penitencia. Exageravam, como os primitivos protestantes, as consequências do pecado original, até o extremo de dizer que o homem não conservava o livre arbítrio, a liberdade de indiferença, mas somente a espontaneidade: e que todos os atos dos infiéis são pecado (16). Ensinava que "o homem deve fazer, durante toda sua vida, penitencia pelo pecado original" (17). Em consequência, retinham as almas, durante toda a vida, na via purgativa, e as afastava da comunhão, com a desculpa que não somos dignos de união tão íntima com Nosso Senhor; só poderiam ser admitidos a ela, aqueles que têm um puríssimo amor de Deus, sem limites nem misturas (18). Esqueciam que tal amor é precisamente o efeito da comunhão, quando esta vai acompanhada da luta generosa contra o que há em nós de desordenado. O jansenismo jamais chegou à liberdade interior e a paz (19).
É preciso, nesta, como em outras questões, evitar os erros opostos entre si: o naturalismo prático e a orgulhosa austeridade. A verdade se encontra entre esses dois extremos e muito acima deles, como um cume. Assim se vê com toda evidencia, se se considera, de uma parte, a elevação de nosso fim último e da caridade e, por outra, a gravidade do pecado mortal e suas consequências.
(Continua...)
(1) – Denzinger, Enchiridion, n. 1967 sq., 2104.
(2) - Denzinger, Enchiridion, n. 1221 sq.
(3) – Ibid., 1224 sq.
(4) - Ibid., 1226.
(5) - Ibid., 1227-1229, 1232.
(6) - Ibid., 1233 sq.
(7) - Ibid., 1234.
(8) - Ibid., 1257.
(9) - Ibid., 1258.
(10) – Denzinger, Ibid., 1243.
(11) - Ibid., 1246.
(12) - Ibid., 1257-1266.
(13) - Ibid., 1257-1286.
(14) – Cf. Denzinger, 1268: "Hujusmodi violentiae (daemonis) sunt médium magis proportionatum ad annihilandam animam et ad eam adveram transformationem et unionem perducedam"; n° 1268: "Melius est ea non confiteri; quia non sunt peccata, nec etiam venialia."
(15) Veja-se a respeito dessas aberrações dos quietistas, a obra de P. Dupon: Michel Molinos. De sua leitura se deduz que um dos principais erros do quietismo espanhol foi o considerar como adquirida, por próprio esforço da vontade (mediante a supressão dos atos), a oração de quietude, que, na realidade é infusa, como o prova Santa Teresa (IV Morada). Fingia-se assim a oração infusa antes de tê-la recebido, e se a desfigurava completamente suprimindo toda a ascese.
(16) Denzinger, n° 1094, 1291, 1298.
(17) Ibid., 1309: "Homo debet agere tota vita poenitentiam pro peccato originali.".
(18) Ibid., 1313: "Ascendi sunt a sacra communione, quibus nondum inest amor Dei purissimus et omnis mixtionis expers."
(19) Diz-se de Pascal que toda sua vida esteve pensando na santidade sem alcança-la jamais, por ter permanecido em presença de si mesmo em vez de estar na presença de Deus.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]