- O PARTIR DO PÃO...
- "Tomou, então, o pão e, depois de dar graças partiu-o...". (Lc.22,17).
A Liturgia da Palavra de hoje 5 de Abril e 2ª-Feira da 3ª Semana da Páscoa A, volta a falar-nos no milagre da Multiplicação dos pães, como protótipo da Eucaristia, e no significado do Partir do Pão.
Na sua Epístola aos Romanos, S. Paulo escreveu :
- "Rogo-vos, pois, irmãos, pela misericórdia de Deus, que ofereçais os vossos corpos como hóstia viva, santa e agradável a Deus; este é o culto racional que Lhe deveis prestar".(Ro.12,1).
Estas palavras lembram irresistivelmente as palavras de Jesus na Última Ceia :
- "Isto e o Meu corpo, que vai ser entregue por vós". (Lc.22,19).
Portanto, quando S. Paulo nos exorta a oferecer os nossos corpos como um sacrifício, é como se dissesse a cada um de nós :
- Tu, também, faz o que Jesus fez, tu, também, torna-te uma eucaristia para Deus !. Ele ofereceu-Se a Si mesmo a Deus como um sacrifício de suave odor; tu oferece-te a ti mesmo como um sacrifício vivo aceitável a Deus!
É o próprio Jesus, e não apenas o Apóstolo, que nos exorta a fazer isto.
Quando Jesus, logo após a instituição da Eucaristia, dissse : -"Fazei isto em Minha memória".(Lc.22,19), não disse apenas "fazei exactamente o que Eu fiz, repeti este mesmo ritual", mas as Suas palavras têm este sentidio: - "fazei essencialmente o que Eu fiz, oferecei os vossos corpos como sacrifício, como vistes que Eu fiz".
Foi, aliás, isto o que João escreveu :
- "Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também". (Jo.13,15).
Mas há ainda algo mais impressionante e mais apaixonante nas palavras de Jesus, como nos relata ainda S. Paulo :
- "...Como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, embora sejam muitos, constituem um só corpo, assim também Cristo.".(1 Cor.12,12).
É como se Jesus nos tivesse dito :
- "Deixai-Me oferecer ao Pai o Meu "corpo todo"; não deixeis que Eu Me Ofereça só a Mim próprio ! Portanto, completai o que ficou incompleto no meu oferecimento: fazei a minha alegria perfeita !.
Vamos, pois, considerar o momento da consagração da Eucaristia a uma nova luz, pelo que nós agora sabemos, segundo escreveu Santo Agostinho :
- "É também o nosso mistério que é celebrado no Altar".
Para verdadeiramente celebrar a Eucaristia, nós devemos também "fazer" o que Jesus "fez".
Mas o que é que Jesus fez naquela noite ?
Acima de tudo Jesus cumpriu ou realizou uma acção : partiu o Pão !
Todas os relatos do Novo Testamento a respeito da Instituição da Eucaristia, dão uma especial ênfase a esta acção, de tal maneira que a Eucaristia ficou conhecida primitvamente como "O partir do Pão".(fractio panis).
Talvez não tivéssemos ainda compreendido o sentido desta acção.
Porque é que Jesus "partiu o pão?"
Seria apenas para poder dar um pedaço dele a cada um dos Apóstolos ?
Certamente que não.
Esta acção, primariamente, teve um sentido sacrificial a ser consumado entre Jesus e o Pai, não significando apenas, partilhar, mas também "imolar".
O Pão era Ele; partindo o Pão, Jesus parte-Se a Si mesmo, no sentido do que disse Isaías do Servo Sofredor :
- "Foi castigado pelos nossos crimes, esmagado pelas nossas iniquidades, o castigo que nos salvou pesou sobre Ele, foram curados nas Suas chagas".(Is.53,5).
Uma criatura humana, que é todavia o eterno Filho de Deus, "parte-Se" a Si mesmo perante Deus e isso significa que "obedece até à morte", para reafirmar que os direitos de Deus foram violados pelo pecado, para proclamar que Deus é Deus, e isso diz tudo.
S. João apresenta-nos também o sentido do prtir do pão, no discurso na sinagoga de Cafarnaum, depois da Multiplicação dos pães e também depois dos discípulos de Emaús, que reconheceram Jesus no partir do pão :
-"A obra de Deus é esta : que acrediteis n'Aquele que Ele enviou".(Jo.6,29).
Seria impossível exprimir por palavras a essência do acto interior que acompanha a acção do "partir do Pão".
Parece desagradável e cruel visto que é o acto supremo de louvor e de ternura, que alguma vez foi feito ou que alguma vez se fará na terra.
Quando, na consagração, o celebrante toma nas suas mãos a hóstia delicada e frágil e repete as mesmas palavras "partiu o pão...", deve sentir-se envolvido nos mesmos sentimentos que encheram o coração de Jesus na quele momento : como Ele sujeitou completamente a Sua vontade humana ao Pai, ultrapassando toda a resitência e repetindo para si mesmo estas palavras da Escritura :
- "Não quiseste sacrifício nem oblação, mas preparaste-Me um corpo. Os holocaustos e sacrifícios pelo pecado não Te agradaram. Então Eu disse : Eis que venho como está escrito de Mim no livro para fazer, ó Deus, a Tua vontade".(Heb.10,5-7).
O que Jesus deu aos Seus discípulos para comer é o pão da Sua obediência e o Seu amor ao Pai.
Cada um de nós, portanto, deve entender que o que Jesus "fez" naquela noite, nós devemos também fazer, acima de tudo, que é "partir-nos a nós mesmos, isto é, colocarmos perante Deus os nossos scarifícios, rebeliões contra nós ou contra os outros, submeter a nossa vontade e dizer "sim" a tudo o que Deus nos pede.
E se asssim fizermos, estaremos sem dúvida a fazer da Eucaistia um verdadeiro meio de santificação.
Talvez este significado do "Partir do Pão", nem sempre esteja presente quando vamos comungar, pelo que a Comunhão nem sempre seja para alguns de nós um "Meio de santificação".
Vamos tentar recolher e sentir o verdadeiro significado do Partir do Pão, ao ritmo de uma vez por semana Quintas-Feiras como reflexo da Última Ceia em que Jesus Instituíu a Eucaristia e, pela primeira vez realizou o verdadeiro Partir do Pão.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]