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REVISTAS
| Música Cantar com fé O sucesso do padre-cantor Fábio de Melo, o artista que mais vende discos no país atualmente, reafirma a força da música religiosa – católica e evangélica. Um mercado que não conhece crise Marcelo Marthe e Sérgio Martins
Semanas atrás, uma plateia composta na maioria por mulheres lotou por duas noites o Canecão, a casa de shows mais tradicional do Rio de Janeiro. Elas estavam ali para assistir à gravação de um DVD do maior fenômeno musical surgido no Brasil ultimamente: o padre-cantor Fábio de Melo. Lançado no fim do ano passado, seu CD Vida bateu nas 542 000 unidades comercializadas em menos de 100 dias (agora, já está perto das 600 000). Com isso, Melo tornou-se o número 1 em vendagem de discos no país em 2008. Ficou à frente do padre Marcelo Rossi, que ocupou o topo do ranking em 2006 e 2007 e caminhava para repetir o feito com os volumes 1 e 2 de seu álbum ao vivo Paz Sim, Violência Não – até ser atropelado pelo colega de batina. Enquanto a indústria fonográfica laica se encontra estagnada, esse mercado – tanto em sua vertente católica quanto na evangélica – desconhece a crise. E, aos poucos, demole o muro que o separa das paradas. Esse processo começou com a ascensão do padre Marcelo, há coisa de dez anos. E teve outro lance importante em 2007, quando a cantora Aline Barros – o maior fenômeno da música evangélica, com 3 milhões de CDs e DVDs vendidos – emplacou uma faixa numa novela das 8 da Globo. A canção Recomeçar serviria apenas de tema do núcleo evangélico do folhetim Duas Caras. Mas repercutiu tanto que passou a ser tocada até em emissoras de rádio nada religiosas. A Globo agora vai atacar na outra frente: já anunciou que o próximo folhetim das 7, Caras & Bocas, de Walcyr Carrasco, terá na trilha uma música do padre Fábio de Melo (o noveleiro, aliás, é grande amigo do religioso).
No lado evangélico, há mais dois artistas que atravessaram fronteiras: Regis Danese e Soraya Moraes. Ex-vocalista de apoio do grupo de pagode Só pra Contrariar, Danese é autor de Faz um Milagre em Mim, canção que está tocando em rádios populares e até foi incorporada ao repertório de artistas católicos. "Gosto de levar a palavra de Cristo a quem ainda não se converteu", diz ele. Soraya, por sua vez, foi o destaque brasileiro do Grammy Latino, no ano passado. Ganhou em categorias específicas de seu mercado, como na de melhor álbum de música cristã – mas também bateu concorrentes seculares como Vanessa da Mata, Jorge Vercilo e Djavan na de melhor canção brasileira, com a faixa Som da Chuva (em que roga: "Deixa Tua glória encher este lugar / Deixa o céu descer sobre nós"). O fenômeno Fábio Melo leva essa aproximação com o universo mundano a um extremo inédito. Marcelo Rossi, o fenômeno da cantoria católica que o Brasil conhecia até então, só sobe ao palco de batina e usa a música e a dança para dar colorido às suas missas. "Não me exponho sem batina. Se o assédio com ela já é grande, imagine sem", diz. Melo vai na direção contrária: não gosta de parecer padre, na acepção tradicional. Bem-apessoado e vaidoso, só usa roupas de grife e cuida da beleza. Cultiva, enfim, uma imagem de homem atraente. Musicalmente, também está a anos-luz da "aeróbica de Jesus" do padre Marcelo, pois tem a pretensão de fazer MPB refinada. O espetáculo no Canecão contou com uma banda de vinte músicos e teve cenografia de superprodução. Na casa de shows carioca, boa parte das fãs recitava de cor suas letras poético-religiosas e entoava com ele covers de artistas conhecidos – como Pai, de Fábio Jr. Algumas, mais atiradas, lançavam ao padre gracejos como "olha para mim" e "gostoso".
Seria injusto, contudo, creditar o sucesso do padre apenas à sua imagem de bonitão ou à embalagem moderna de sua música. Melo é um religioso articulado, que cativa os fiéis com sermões que traduzem conceitos teológicos e filosóficos em imagens simples. Ele também faz sucesso como autor de livros de autoajuda. Um de seus títulos, Quem Me Roubou de Mim?, totaliza 250 000 exemplares comercializados e tem frequentado a lista dos mais vendidos de VEJA. Outro deles, Mulheres de Aço e de Flores – em que lança um olhar delicado sobre as aflições femininas – já passou dos 80 000. "Estudei muito, pois não queria virar um padre de mídia banal", afirma. Melo estourou agora graças a um acordo de distribuição de sua gravadora, a LGK, com a Som Livre, braço musical da Globo – o que lhe proporciona spots publicitários na emissora. Mas ele é prova de que um artista religioso pode sobreviver mesmo se entrincheirado em seu meio. O padre está na estrada lá se vão treze anos, sempre com vendagens acima dos 25 000 discos. Isso porque o mercado católico – e mais ainda o evangélico – se autossustenta. A Paulinas-Comep, a maior gravadora católica do país, lançou 28 títulos e cresceu 10% em 2008. Os selos evangélicos também seguem com ótima saúde. O circuito de shows é intenso. Os católicos têm os Hallels, encontros que mesclam catequese e música e atraem mais de 100 000 jovens, em cidades como Franca e Brasília. Em Fortaleza, há o Halleluyah, realizado nas mesmas datas da maior micareta da capital cearense, que tem alcançado público comparável ao dela. Há, ainda, as "cristotecas", raves de música eletrônica católica. No lado evangélico, não faltam eventos de grande porte. Festivais como o Louvorzão, realizado no Rio de Janeiro, chegam a reunir 150 000 jovens.
Cientes de que a música é uma ferramenta crucial para agregar novas almas a seus rebanhos, não é de hoje que os dois lados travam uma disputa peculiar nesse campo. Isso levou a uma maior profissionalização e à diversificação de estilos – do pop ao heavy metal, do axé ao rap. Mirando-se no mercado de música gospel americano, os evangélicos se destacaram antes nisso. A principal banda de rock dessa área, o Oficina G3, já tem vinte anos de carreira. A produção musical católica é antiga, mas demorou mais a se diversificar. O primeiro sacerdote a se aventurar numa carreira musical foi o padre Zezinho – aquele que cantava em missas munido de violão e pandeiro, para estranheza dos fiéis da década de 70. "Todas as religiões devem investir pesado na música. Ela é o chantilly do bolo da vida", diz o padre, hoje com 67 anos e 118 discos gravados. Só nos anos 80 o pop chegou à Igreja. O ritmo se acelerou para valer na década seguinte, com a ascensão do movimento carismático e suas missas festivas – de que os padres-cantores e demais artistas atuais são tributários diretos. Mas, mesmo para um estudioso como Samuel Araújo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, a intensidade que o flerte dos católicos com o profano vem atingindo impressiona. "Um padre com imagem sexualizada é algo espantoso. O que virá a seguir?", pergunta Araújo. Nem Deus sabe.
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]