gabrieleamorthPe. Gabriele Amorth

- Falei neste capítulo, embora apenas de maneira introdutória, sobre curadores e paranoterapeutas para tratar de outra grande dificuldade. Um obstáculo à libertação é dado pelo fato de que não se ama suficientemente a Igreja. Acontece até que, quem se dirige a um exorcista, nem sequer pensa que vai se encontrar com um homem da Igreja, que age em nome da Igreja. Acontece muitas vezes que age como se fosse falar com um curador, atribuindo a ele um poder pessoal que nada tem a ver com a fé. É um problema muito importante que atinge provavelmente o ponto crucial da crise religiosa do nosso tempo.

Transcrevo o pensamento do cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI (Cf. Rapporto sulla fede, Ed. Paoline, 1985, p. 45), expresso com estupenda clareza na entrevista feita por Vittorio Messori. É um daqueles livros que não nos cansammos de reler.

Pergunta: "Portanto, crise. Mas, onde é que, na sua opinião, está o principal ponto de ruptura, a fresta que se vai alargando até ameaçar a estabilidade do edifício inteiro da fé católica?".


Resposta: "Não há dúvidas: o alarme estava centrado, antes de tudo, na crise do conceito de Igreja, na eclesiologia. Aqui é que está a origem de boa parte dos equívocos e dos erros propriamente ditos, que insidiam tanto a teologia como a opinião pública católica".

Perguntaram ao padre Cândido, no decorrer de uma entrevista:

- Não se sente só? O que vai à sua alma quando exorciza?

Ele respondeu com toda a naturalidade:

- É como quando celebro a Missa, embora sejam duas coisas diferentes. A disposição interior é a mesma: estou realizando um ministério que não está ligado à minha pessoa, mas ao meu sacerdócio; ligado ao mandato de Jesus: "Expulsai os demônios". É uma ação da Igreja, a que é Igreja militante.

Por isso nós, os exorcistas, temos de fazer o esforço de voltar a falar da Igreja, de fazer com que se ame a Igreja, de fazer com que as pessoas que vêm até nós não nos procurem como um homem dotado de poderes taumatúrgicos; mas compreendam que somos apenas ministros de Deus que, através da Igreja, fomos encarregados de exercer um ministério especial a favor dela. Uma das disposições que mais faz falta àqueles que solicitam a atuação dos exorcistas, é o amor à Igreja, a confiança na Igreja, independentemente de qualquer personalismo. É por isso que, depois, não obtêm nenhum fruto; alguns andam de um exorcista para outro, fazendo acusações (fulano não vale nada; sicrano não sabe nada...) e não percebem que, se não tiverem fé na Igreja, nem tiverem a consciência de que se dirigem a um sacerdote que age em nome da Igreja, o melhor seria ficarem em casa.

Fonte: Novos Relatos de Um Exorcista.