Dignidade humana e cristã da procriação
"A dignidade humana e cristã da procriação não consiste num "produto", mas no seu vínculo com o acto conjugal, expressão do amor dos cônjuges, da sua união não só biológica, mas também espiritual", disse o Papa aos membros da Pontifícia Academia para a Vida, recebidos em audiência na manhã de 25 de Fevereiro, por ocasião da sua XVIII assembleia geral.
Senhores Cardeais
venerados Irmãos
no Episcopado e no Sacerdócio
prezados irmãos e irmãs
É-me grato encontrar-me convosco por ocasião dos trabalhos da XVIII Assembleia Geral da Pontifícia Academia para a Vida. Saúdo-vos e agradeço-vos a todos o serviço generoso em defesa e a favor da vida, de modo particular ao Presidente, D. Ignacio Carrasco de Paula, as palavras que me dirigiu também em vosso nome. O delineamento que conferistes aos vossos trabalhos manifesta a confiança que a Igreja sempre depositou nas possibilidades da razão humana e num trabalho científico rigorosamente conduzido, que tenham sempre presente o aspecto moral. O tema por vós escolhido este ano: "Diagnóstico e terapia da infertilidade", além de ter uma relevância humana e social, possui um valor científico peculiar e expressa a possibilidade concreta de um diálogo fecundo entre dimensão ética e pesquisa biomédica. Com efeito, diante do problema da infertilidade do casal, quisestes evocar e considerar atentamente a dimensão moral, procurando os caminhos para uma avaliação diagnóstica correcta e uma terapia que corrija as causas da infertilidade. Esta abordagem nasce do desejo não só de oferecer um filho ao casal, mas de restituir aos esposos a sua fertilidade e toda a dignidade de ser responsáveis pelas próprias opções procriativas, para serem colaboradores de Deus na geração de um novo ser humano. A procura de um diagnóstico e de uma terapia representa a abordagem cientificamente mais correcta da questão da infertilidade, mas também a mais respeitadora da humanidade integral dos interessados. Com efeito, a união do homem e da mulher naquela comunidade de amor e de vida, que é o matrimónio, constitui o único "lugar" digno para a chamada à existência de um novo ser humano, que é sempre um dom.
Portanto, desejo encorajar a honestidade intelectual do vosso trabalho, expressão de uma ciência que mantém vivo o seu espírito de busca da verdade, ao serviço do bem autêntico do homem, e que evita o risco de ser uma prática meramente funcional. Com efeito, a dignidade humana e cristã da procriação não consiste num "produto", mas no seu vínculo com o acto conjugal, expressão do amor dos cônjuges, da sua união não apenas biológica, mas também espiritual. A este propósito, a Instrução Donum vitae recorda-nos que, "pela sua estrutura íntima, enquanto une os esposos com um vínculo profundíssimo, torna-os aptos para a geração de novas vidas, segundo leis inscritas no próprio ser do homem e da mulher" (n. 126). Por conseguinte, as legítimas aspirações genitoriais do casal que se encontra numa condição de infertilidade devem obter, com a ajuda da ciência, uma resposta que respeite plenamente a sua dignidade de pessoas e de esposos. A humildade e a minuciosidade com que aprofundais estas problemáticas, consideradas obsoletas por alguns dos vossos colegas, diante do fascínio da tecnologia da fecundação artificial, merece encorajamento e apoio. Por ocasião do X aniversário da Encíclica Fides et ratio, eu recordava que "o lucro fácil ou, pior ainda, a arrogância de se substituir ao Criador desempenha às vezes um papel determinante. Esta é uma fórmula de hybris da razão, que pode assumir características perigosas para a própria humanidade" (Discurso aos participantes no Congresso internacional promovido pela Pontifícia Universidade Lateranense, 16 de Outubro de 2008: AAS 100 [2008], 788-789). Efectivamente, o cientismo e a lógica do lucro parecem hoje dominar o campo da infertilidade e da procriação humana, chegando a limitar também muitas outras áreas de investigação.
A Igreja presta grande atenção ao sofrimento dos casais com infertilidade, interessa-se por eles e, precisamente por isso, encoraja a pesquisa médica. Todavia, a ciência nem sempre é capaz de corresponder aos desejos de numerosos casais. Então, gostaria de recordar aos esposos que vivem a condição da infertilidade, que isto não faz malograr a sua vocação matrimonial. Pela sua própria vocação baptismal e matrimonial, os cônjuges são sempre chamados a colaborar com Deus na criação de uma humanidade nova. Com efeito, a vocação ao amor é uma vocação ao dom de si, e esta é uma possibilidade que nenhuma condição orgânica pode impedir. Portanto, onde a ciência não encontra uma resposta, a resposta que doa luz provém de Cristo.
Desejo encorajar todos vós aqui reunidos para estes dias de estudo e que às vezes trabalhais num contexto médico-científico onde a dimensão da verdade permanece ofuscada: continuai pelo caminho empreendido, de uma ciência intelectualmente honesta e fascinada pela busca contínua do bem do homem. No vosso percurso intelectual não desdenheis o diálogo com a fé. Dirijo-vos o apelo urgente, lançado na Encíclica Deus caritas est: "Para poder agir rectamente, a razão deve ser continuamente purificada porque a sua cegueira ética, derivada da prevalência do interesse e do poder que a deslumbram, é um perigo nunca totalmente eliminável [...] A fé permite à razão realizar melhor a sua missão e ver mais claramente o que lhe é próprio" (n. 28).
Por outro lado, precisamente a matriz cultural criada pelo cristianismo - radicada na afirmação da existência da Verdade e da inteligibilidade da realidade, à luz da Suma Verdade - digo a matriz cultural, tornou possível na Europa da Idade Média o desenvolvimento do saber científico moderno, saber que nas culturas precedentes tinha permanecido só em embrião.
Ilustres cientistas e todos vós, membros da Academia comprometidos na promoção da vida e da dignidade da pessoa humana, tende sempre presente também o papel cultural fundamental que desempenhais na sociedade e a influência que tendes na formação da opinião pública. O meu predecessor, beato João Paulo II recordava que, "precisamente porque "sabem mais", os cientistas são chamados a "servir mais"" (Discurso à Pontíficia Academia das Ciências, 11 de Novembro de 2002: AAS 95 [2003], 206). As pessoas têm confiança em vós que servis a vida, tem confiança no vosso compromisso a favor de quantos precisam de alívio e esperança. Nunca cedais à tentação de tratar o bem das pessoas, reduzindo-o a um mero problema técnico! A indiferença da consciência em relação à verdade e ao bem representa uma ameaça perigosa para um progresso científico autêntico.
Gostaria de concluir, renovando os bons votos que o Concílio Vaticano II dirige aos homens de pensamento e de ciência: "Felizes os que, possuindo a verdade, continuam a procurá-la, a fim de a renovar, de a aprofundar e de a transmitir aos outros" (Mensagem aos homens de pensamento e de ciência, 8 de Dezembro de 1965: AAS 58 [1966], 12). É com estes bons votos que vos concedo, a todos vós aqui presentes e a todos os vossos entes queridos, a Bênção apostólica. Obrigado!
(©L'Osservatore Romano - 3 de Março de 2012)
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Também com a caridade se realiza a nova evangelização
"A nova evangelização exige grande abertura de espírito e disponibilidade sábia em relação a todos. Neste sentido, insere-se bem a rede de intervenções assistenciais que vós realizais, todos os dias, a favor de quantos se encontram em necessidade", afirmou o Papa aos sócios do Círculo de São Pedro recebidos em audiência a 24 de Fevereiro, para a entrega do óbolo, por ocasião da festa patronal da cátedra do príncipe dos Apóstolos.
Estimados Sóciosdo Círculo de São Pedro
Estou feliz por vos receber neste encontro que tem lugar na proximidade da Festa da Cátedra de São Pedro, circunstância que vos oferece a ocasião para manifestar a fidelidade peculiar à Sé Apostólica que, desde sempre, distingue o vosso benemérito Círculo. Saúdo-vos todos com profunda cordialidade. Saúdo o Presidente-Geral, Duque Leopoldo Torlonia, e agradeço-lhe as amáveis e devotas palavras que quis dirigir-me, interpretando os sentimentos de todos vós, e saúdo também o Assistente eclesiástico.
Há pouco demos início ao caminho quaresmal e, como recordei na minha recente Mensagem (cf. L'Osservatore Romano, 8 de Fevereiro de 2012, pág. 8), este Tempo litúrgico convida-nos a meditar sobre o âmago da vida cristã: a caridade. A Quaresma é um tempo propício a fim de que, com a ajuda da Palavra de Deus e dos Sacramentos, nos renovemos na fé e no amor, a nível tanto pessoal como comunitário. Trata-se de um percurso caracterizado pela oração e a partilha, pelo silêncio e jejum, à espera de viver o júbilo pascal. A Carta aos Hebreus exorta-nos com estas palavras: "Prestemos atenção uns aos outros, para nos estimularmos reciprocamente na caridade e nas boas obras" (Hb 10, 24).
Prezados amigos, tanto hoje como ontem, o testemunho da caridade toca de modo particular o coração dos homens; a nova evangelização, especialmente numa cidade cosmopolita como Roma, exige grande abertura de espírito e disponibilidade sábia em relação a todos. Neste sentido, insere-se bem a rede de intervenções assistenciais que vós realizais, todos os dias, a favor de quantos se encontram em necessidade. Apraz-me recordar a obra generosa que levais a cabo nas Cozinhas, no Asilo nocturno, na Casa de família, no Centro polifuncional, assim como o testemunho silencioso, mas mais eloquente do que nunca, que ofereceis a favor dos doentes e dos seus familiares no Hospice Fondazione Roma, sem esquecer o compromisso missionário no Laos e as adopções à distância.
Sabemos que a autenticidade da nossa fidelidade ao Evangelho se verifica também com base na atenção e na solicitude concreta que nos esforçamos por manifestar em relação ao próximo, especialmente pelos mais frágeis e marginalizados. A atenção ao próximo exige que se deseje o seu bem, sob todos os aspectos: físico, moral e espiritual. Embora a cultura contemporânea dê a impressão de ter perdido o sentido do bem e do mal, é preciso reiterar vigorosamente que o bem existe e vence. Então, a responsabilidade pelo próximo significa querer e fazer o bem ao outro, desejando que ele se abra à lógica do bem; interessar-se pelo irmão significa abrir os olhos para as suas necessidades, ultrapassando a dureza de coração que nos torna cegos para os sofrimentos de outrem. Assim, o serviço caritativo torna-se uma forma privilegiada de evangelização, à luz do ensinamento de Jesus, que considerará como feito a si mesmo aquilo que tivermos feito aos nossos irmãos, especialmente a quantos entre eles forem pequeninos e esquecidos (cfr. Mt 25, 40). É necessário hamonizar o nosso coração com o Coração de Cristo, a fim de que o apoio amoroso oferecido ao próximo se traduza em participação e partilha consciente dos seus sofrimentos e das suas esperanças, tornando deste modo visível, por um lado a misericórdia infinita de Deus por todos os homens, a qual brilha na Face de Cristo, e por outro a nossa fé nele. O encontro com o outro e o abrir o coração às suas necessidades são ocasião de salvação e bem-aventurança.
Estimados componentes do Círculo de São Pedro, como todos os anos, hoje viestes oferecer-me o óbolo para a caridade do Papa, que recolhestes das paróquias de Roma. Ele representa uma ajuda concreta dedicada ao Sucessor de Pedro, para que possa responder aos inúmeros pedidos que lhe chegam de todas as partes do mundo, de modo especial dos países mais pobres. Agradeço-vos de coração toda a actividade que levais a cabo generosamente e com espírito de sacrifício e que nasce da vossa fé, da relação com o Senhor, cultivado dia após dia. Fé, caridade e testemunho continuem a ser as linhas-guia do vosso apostolado. Além disso, como não recordar a vossa presença durante as Celebrações litúrgicas na Basílica de São Pedro? Ela honra-se ainda em maior medida, enquanto através dela manifestais com a dedicação constante e a fidelidade devota que vos unem à Sé do Apóstolo Pedro. O Senhor vos recompense por isto e derrame todas as bênçãos sobre o vosso Círculo; ajude cada um de vós a realizar a própria vocação cristã em família, no trabalho e no interior da vossa Associação. Caros amigos, ao renovar o meu apreço pelo serviço que prestais à Igreja, confio-vos, juntamente com as vossas famílias, à salvaguarda materna da Virgem Maria, Salus Populi Romani, e dos vossos Santos Padroeiros. Por minha vez, asseguro a recordação da oração por vós, por quantos colaboram convosco nas várias iniciativas e por aqueles que encontrais no vosso apostolado quotidiano, enquanto concedo com afecto a todos vós uma especial Bênção Apostólica.
(©L'Osservatore Romano - 3 de Março de 2012)
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1. | Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele. | |
2. | Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo: | |
3. | Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus! | |
4. | Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados! | |
5. | Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra! | |
6. | Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados! | |
7. | Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia! | |
8. | Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus! | |
9. | Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus! | |
10. | Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus! | |
11. | Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim. | |
12. | Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós. |
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