É de aconselhar que se leia primeiro toda a Liturgia da Palavra.
3º DOMINGO COMUM - ANO C !
O Espírito do Senhor está sobre Mim...
A Liturgia da Palavra deste 3º Domingo Comum – C, vem-nos comunicar que nós somos uma Comunidade de Escuta.
O Cristianismo é Revelação.
Deus revela-Se e comunica-Se ao homem histórico.
Essa Revelação-Comunhão torna-se presente na história através do sinal da Palavra (palavra e gesto) cujo cerne é Jesus de Nazaré, a Palavra de Deus viva e encarnada.
Não é tanto o esforço que o homem faz para atingir e reconhecer a Deus, mas sim o acto de Deus que se dá e se une ao homem.
Pelo nosso Baptismo entrámos na Comunidade da Igreja, uma Igreja que fala e ensina e, tornámo-nos, desde logo, membros de uma Comunidade que escuta em ordem à nossa própria conversão.
Aceitar o apelo de Cristo pela voz da Igreja, à conversão, apelo sempre renovado, é condição para pertencer ao Seu Reino.
A 1ª Leitura é do Livro de Neemias, e diz-nos que após a reconstrução de Jerusalém, levada a efeito depois do regresso do Cativeiro da Babilónia, a nova existência de Israel inaugura-se com uma Assembleia Santa, na qual é proclamada especialmente a Palavra de Deus.
Esdras investido duma missão de magistério, lê com autoridade, interpreta e promulga a Palavra.
- "Desde manhãzinha até ao meio-dia, fez a leitura do livro, no largo fronteiro à Porta das Águas, diante de homens e mulheres, e de todos os que eram capazes de compreender".(1ª Leitura).
A Palavra de Deus «viva e eficaz», que convoca e reúne os homens, até que venha o Verbo integrá-los no Seu Corpo, exige uma resposta do homem, exige uma Comunidade que escute.
Por isso o povo presta-lhe o assentimento da inteligência e a adesão da vontade, renovando a Aliança feita com Deus «força» do Seu Povo, fonte da sua alegria, prestando atenção às Suas Palavras, como proclama o Salmo Responsorial :
-"As vossas palavras, Senhor, são espírito e vida".
Na 2ª Leitura, S. Paulo, partindo da imagem do corpo humano, dotado de muitos membros, mostra aos Coríntios, e hoje também a toda a Comunidade da Igreja como, na variedade de funções e ministérios, existentes na Igreja, brilha a sua unidade substancial.
-"Na verdade, foi num só espírito que todos nós fomos baptizados, para constituirmos um só corpo, Judeus ou Gregos, escravos ou homens livres. E a todos foi dado beber um único Espírito".(2ª Leitura).
É o Espírito Santo, «em Quem fomos baptizados», que nos unifica em Comunidade de escuta, pondo-nos em comunhão uns com os outros, e nos dá, ao mesmo tempo, a cada um, uma personalidade própria, insubstituível e intransmissível, com uma missão específica no Corpo Místico.
Ele é, na verdade, a Alma da Igreja.
O Evangelho é de S. Lucas e o autor começa por nos dar a razão do seu Evangelho e depois apresenta-nos Cristo como o Enviado e esperado de todo o Seu Povo, sob a acção do Espírito Santo, para libertar os povos, os cegos e oprimidos, instaurando a «Graça do Todo Poderoso».
- «O Espírito do Senhor está sobre Mim, porque Ele Me ungiu. Enviou-Me a anunciar a Boa Nova aos pobres, a proclamar a libertação aos cativos e a vista aos cegos, a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável do Senhor».(Evangelho).
A presença e a pregação de Jesus na sinagoga de Nazaré significam a realização da salvação anunciada nas Escrituras.
Jesus leu em Isaías, palavras que se referiam a Ele mesmo.
Palavras que mostram que o diálogo que Deus iniciou com a criação e manteve ao longo dos séculos com o Povo eleito, atingiu com Jesus o seu momento culminante.
Cada página do Evangelho não é palavra morta mas sim palavra viva, em que Deus nos diz o que é preciso realizar no dia de hoje, porque o Evangelho é sempre actual.
O Evangelho não narra apenas a vida de Jesus, mas também é uma evocação da vida de cada um de nós, porque nos contém e nos envolve.
Por isso a Liturgia da Palavra não é uma simples lição de moral, nem a afirmação da esperança escatológica recebida dos profetas; mas proclama o cumprimento do desígnio de Deus no hoje da vida da Assembleia.
Não se contempla aí um passado desaparecido, nem se imagina um futuro extraordinário, mas vive-se o tempo presente como lugar privilegiado da vinda do Senhor.
Portanto, não se procura aplicar aos factos vividos pelos membros da Assembleia um ou outro texto inspirado, mas indicar que o acontecimento vivido hoje pelos homens e pelos cristãos revela o desígnio de Deus que se realiza em Cristo.
O Antigo e o Novo Testamento tornam-se actuais, próximos, se não ficarmos presos à letra morta.
Mais cedo ou mais tarde descobriremos que podemos dizer a cada página :
- "Aqui fala-se de nós; nós somos os apóstolos no mar; encontramo-nos precisamemnte como Jesus no caminho do Calvário..."
Assim, através da palavra de Deus, vamos lentamente descobrindo como é a nossa vida aos olhos dele, isto é, na sua dimensão profunda...
A palavra que vem de Deus possui a força e a eficácia de Deus.
Interpela, provoca, consola, cria comunhão e salva, das mais diversas maneiras, conforme os momentos e as formas; todo o acto de pregação é uma glorificação de Deus e um acontecimento sociológico para os homens.
Hoje também a Palavra quer tornar-se carne para a nossa vida.
Jesus falou e a Comunidade ouviu e recebeu a Sua Mensagem, dentro do plano da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica :
713. – Os traços do Messias são revelados sobretudo nos cânticos do Servo(Is.42,1-9). Estes cânticos anunciam o sentido da Paixão de Jesus, indicando assim a maneira como Ele derramará o Espírito Santo para dar vida à multidão : não a partir do exterior, mas assumindo a nossa «condição de servos»(Filip.2,7). Tomando sobre Si a nossa morte, Ele pode comunicar-nos o seu Espírito de vida.
714. – É por isso que Cristo inaugura o anúncio da Boa Nova, apropriando-Se deste passo de Isaías(Lc.4,18-19) :
O Espírito do Senhor está sobre Mim,
Porque o Senhor Me ungiu.
Enviou-Me a anunciar a Boa Nova aos infelizes,
A tratar os corações torturados,
A proclamar a emancipação aos cativos
E a liberdade aos prisioneiros,
E a promulgar um ano de graça do Senhor.
O Senhor enviou-Me.. a anunciar a Boa Nova ....
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Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]