ÚLTIMA CEIA !
Segundo a tradição judaica, todos os alimentos eram sagrados e envolviam ligações sagradas entre os que tomavam a mesma refeição, bem como entre eles e Deus.
Através da Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento, nós sabemos que a "Eucaristia" ou "acção de graças" a Deus era uma parte normal da vida das pessoas e fazia parte das refeições :
- "Libertados por Deus de grandes perigos, nós Lhe damos solenes graças porque é nosso defensor contra o rei". (2 Mac.1/11).
- "E tudo quanto fizerdes, por palavra ou por obra, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por Ele graças a Deus Pai". (Col.3/17).
Todos os antecedentes históricos e religiosos da Eucaristia Cristã estão fundados nas refeições sagradas dos judeus, durante as quais Deus é invocado e louvado pela Sua grande bondade, que (literalmente) sustenta todos os que se juntam à mesa.
O alimento e a refeição exprimem os providenciais cuidados do amor de Deus e a sua fidelidade à aliança feita com Israel.
O maná do deserto, as codornizes e a água do rochedo antecipam e exprimem a realidade mais claramente do cumprimento na pessoa de Jesus.
Ele é o "Sopro da vida".
A Sua Carne e o Seu Sangue são alimento e bebida :
- "Eu sou o pão da vida; o que vem a Mim jamais terá fome e o que acredita em Mim jamais lerá sede". (Jo.6/35).
Na Quinta-Feira à tarde Jesus reuniu-Se com os Doze Apóstolos "no andar de cima" de uma sala de visitas "mobilada" de alguém não identificado, (um homem com um bilha de água).( Mc.14/13; Lc.22/10).
Aí tomaram parte numa refeição comum que é conhecida na história como a "Ultima Ceia".
Mateus, Marcos e Lucas (os Sinópticos), indicam que era a tradicional ceia pascal.
João diz que foi "antes da festa da Páscoa" (Jo. 13/1).
Seja como for, Jesus deu a essa refeição um novo significado.
Foi a um alto nível no qual Jesus se reuniu com os Apóstolos para que depois da Sua morte esta ceia se tornasse um símbolo permanente da sua união com Ele; foi o princípio de uma acção que continuamente se havia de repetir como a "Ceia do Senhor".
No principio da refeição, segundo João (13/3-15), Jesus deu aos Seus discípulos um exemplo, para que não se tornassem mestres, mas servos dos outros :
- "Levantou-Se da mesa, tirou as vestes e, tomando uma toalha, colocou-a à cinta. Depois, deitou água numa bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que pusera à cinta". (Jo. 13/4-5).
Depois acrescentou :
- "Compreendeis o que vos fiz? [...] Ora, se Eu vos lavei os pés, sendo Senhor e Mestre, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo, para que, como Eu vos fiz, façais vós também". (Jo.13/12-15).
A porção de alimento que havia de ser o centro do culto Cristão, é apresentada por Mateus, Marcos e Lucas.
A certa altura da ceia, Jesus tomou o pão sem fermento, deu graças a Deus, partiu-o e deu-o aos Seus discípulos, dizendo :
- "Isto é o meu corpo"(Mt.26/26; Mc. 14/22).
Depois tomou o cálice com o vinho, deu graças e deu a beber aos Seus discípulos dizendo:
- "Este é o meu sangue, o sangue da Aliança, que vai ser derramado por muitos, para remissão dos pecados".(Mt.26/27-28; Mc. 14/23).
Jesus antecipou na Ceia, a oblação livre da Sua vida, como nos lembra o Catecismo da Igreja Católica :
610. - Jesus fez a manifestação suprema da oblação livre de Si mesmo na refeição que tomou com os doze Apóstolos, na "noite em que foi entregue"(l Cor. 11/23). Na véspera da sua Paixão, quando ainda era livre, Jesus fez desta Última Ceia com os Apóstolos o memorial da sua oblação voluntária ao Pai para a salvação dos homens : "Isto é o meu Corpo, que vai ser entregue por vós"(Lc.22/19). "Isto é o meu 'Sangue de Aliança', que vai ser derramado por uma multidão, para remissão dos pecados". (Mt.26/28).
611. - A Eucaristia, que neste momento instituiu, será o "memorial" (l Cor.11/25) do seu sacrifício. Jesus incluiu os Apóstolos na sua própria oferenda e pediu-lhes que a perpetuassem.
Desse modo, instituiu os Apóstolos como sacerdotes da Nova Aliança :
-"Eu consagro-me por eles, para que também eles sejam consagrados na verdade" (Jo.17/19).
Ao falar do "Sangue da Aliança" Jesus referia-Se à cena do Monte Sinai em que Deus concluiu a Aliança com o povo de Israel :
- "Este é o sangue da aliança que o Senhor concluiu convosco mediante todas estas palavras". (Êx.24/8).
E Jesus concluiu :
- "Em verdade vos digo : Já não beberei do produto da vinha até àquele dia em que o hei-de beber de novo no reino de Deus". (Mc. 14/25).
Jesus preparou assim os Apóstolos para a celebração da Eucaristia que se havia de continuar a celebrar no futuro como nos lembra ainda o Catecismo da Igreja Católica :
1403. - Na Última Ceia, o próprio Senhor chamou a atenção dos seus discípulos para o cumprimento da Páscoa no Reino de Deus : "Eu vos digo que não beberei mais deste fruto da videira, até ao dia em que beberei convosco o vinho no Reino de meu Pai" (Mt.26/29). Sempre que a Igreja celebra a Eucaristia, lembra-se desta promessa, e o seu olhar volta-se para "Aquele que vem" (Ap. 1/4). Na sua oração, ela clama pela sua vinda : "Maranatha" (l Cor.16/22), "Vem, Senhor Jesus '"(Ap.22/20), "que a Tua graça venha e que este mundo passe!" (Didaké 10/16).
A Páscoa é geralmente uma ocasião festiva, o maior tesouro litúrgico do ano.
Todavia, esta noite foi caracterizada por acontecimentos muito sombrios : Jesus falou da Sua próxima morte, num tão horrível como cristalino momento, anunciando que um dos presentes naquela sala e naquela refeição pascal, O havia de trair, O havia de entregar.
Como todos começassem a perguntar quem seria Jesus respondeu, dizendo a João :
- "É aquele a quem Eu der o bocado que vou molhar". E molhando o bocado, deu-o a Judas Iscariotes".(Jo.13/26).
Mas os discípulos não podiam compreender, a não ser João, que diz que "entrou nele Satanás" e Jesus disse então a Judas :
- "O que tens afazer, fá-lo depressa, sem demora".(Jo. 13/27).
Ainda aqui os discípulos não entenderam, pensando que Jesus tinha encarregado Judas de comprar alguma coisa para a festa, porque ele era o tesoureiro do grupo.
E depois de algumas recomendações como esta : - "É por isto que todos saberão que sois Meus discípulos: Se vos amardes uns aos outros. (Jo. 13/35), ainda Jesus anunciou a negação de Pedro, apesar de ele ter dito que daria a vida por Ele.
Jesus confirmou-o mas acrescentou :
- "Em verdade, em verdade te digo ; Não cantará o galo sem tu Me teres negado por três vezes". (Jo. ï 3/38).
Por fim, segundo S. João, Jesus levantou os olhos ao Céu e orou pelos Apóstolos .
E depois da "Última Ceia", Jesus foi orar para o Jardim de Getsemani, onde Judas O havia de entregar.
O pão e o vinho, tornados Corpo e Sangue de Jesus na Última Ceia, não nos podem comunicar o seu poder salvífico e a sua mensagem redentora sem a referência à morte salvífica e redentora de Cristo na cruz.
O partir do pão antecipa a violência da morte de Jesus - o alimento é simultaneamente "alimento e sacrifício" que nos concedem uma nova vida.
Esta nova vida é libertação não apenas de um cativeiro temporal, mas mais profundamente de um cativeiro do pecado.
Diz ainda o Catecismo da Igreja Católica, citando a Constituição do Concílio Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia :
1323. - "O nosso Salvador instituiu na Última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e Sangue, para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até voltar, o sacrifício da Cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua Morte e Ressurreição : sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura" (SC 47).
No Judaísmo as vítimas eram queimadas e consumidas e, por essa acção, o povo estava unido à própria oblação e a Deus que a aceitava; mas para Jesus e os Seus discípulos, a união do Sacerdote e da Vítima é mais do que uma simples união, é uma íntima incorporação na nova vida, de que a outra era apenas uma sombra .
Não se pode falar da Última Ceia como um acontecimento histórico, simbólico e memorial do passado.
Mais do que isso, a Última Ceia - Morte e Ressurreição de Jesus - é um acontecimento universal que transcende o tempo e é sempre presente em cada sucessiva geração, através das mesmas palavras e obras de Jesus ; a Eucaristia é o nosso contacto com Cristo transformado e ressuscitado; é o nosso contacto físico com um "novo mundo", com "uma nova criação" na Pessoa do Senhor, Jesus Cristo Ressuscitado, cujo Corpo e Sangue estão agora presentes sob as espécies do pão e do vinho.
A Eucaristia é o nosso ponto de contacto com a plena realidade de um mundo transformado que recebeu o corpo de Maria na Assunção e que há-de receber todos os que vivem na amizade de Deus.
A Páscoa Judaica recebeu um sentido novo e definitivo, dando lugar à Nova Páscoa, como nos diz o Catecismo da Igreja Católica :
1340. - Celebrando a Última Ceia com os Apóstolos, no decorrer das refeição pascal, Jesus deu o seu sentido definitivo à Páscoa judaica. Com efeito, a passagem de Jesus para o Pai, por sua Morte e Ressurreição - a Páscoa nova - é antecipada na Ceia e celebrada na Eucaristia, que cumpre a Páscoa judaica e antecipa a Páscoa final da Igreja na glória do Reino.
Temas Relativos : Cenáculo. Eucaristia. Lava-Pés. Mandamento Novo. Missa Ceia do Senhor. Mistério Pascal. Quinta-Feira Santa. Sacerdócio. Tríduo Pascal.
catolicosacaminho-unsubscribe@yahoogroups.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Postcommunio Súmpsimus. Dómine, sacridona mystérii, humíliter deprécantes, ut, quae in tui commemoratiónem nos fácere praecepísti, in nostrae profíciant infirmitátis auxílium: Qui vivis.
"RECUAR DIANTE DO INIMIGO, OU CALAR-SE QUANDO DE TODA PARTE SE ERGUE TANTO ALARIDO CONTRA A VERDADE, É PRÓPRIO DE HOMEM COVARDE OU DE QUEM VACILA NO FUNDAMENTO DE SUA CRENÇA. QUALQUER DESTAS COISAS É VERGONHOSA EM SI; É INJURIOSA A DEUS; É INCOMPATÍVEL COM A SALVAÇÃO TANTO DOS INDIVÍDUOS, COMO DA SOCIEDADE, E SÓ É VANTAJOSA AOS INIMIGOS DA FÉ, PORQUE NADA ESTIMULA TANTO A AUDÁCIA DOS MAUS, COMO A PUSILANIMIDADE DOS BONS" –
[PAPA LEÃO XIII , ENCÍCLICA SAPIENTIAE CHRISTIANAE , DE 10 DE JANEIRO DE 1890]