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    quinta-feira, 24 de maio de 2012

    Yves Klein em voo com santa Rita


    L'OSSERVATORE ROMANO

    Cultura

    Cidade do Vaticano, 24 de Maio de 2012.
    O artista francês dedicou toda a sua actividade artística à mulher de Cácia da qual se celebra a memória litúrgica a 22 de Maio

    Yves Klein
    em voo com santa Rita

    Nicolas Poussin, «A transladação milagrosa de santa Rita» (1633)O dia 22 de Maio é a festa de santa Rita: uma santa popular, sobretudo pelo seu poder milagroso muito conhecido. Poucos sabem que a ela era particularmente ligado um dos mais importantes artistas contemporâneos, Yves Klein. O pintor francês ofereceu-lhe um maravilhoso ex-voto – uma caixa de plexiglas com pigmentos dourados, rosa e azul, que contém uma cartela enrolada na qual Klein declara que dedica toda a sua actividade artística à santa – porque se sentia particularmente ligado a ela. Provavelmente não só porque numa pequena igreja de Nice, perto da casa da sua família de origem, estava exposta à devoção uma imagem da célebre santa, mas porque se sentia fascinado pelo poder milagroso associado a um voo nocturno.
    Para o pintor, deslumbrado pelo azul e pela ideia de voar – como demonstra o facto de que se fez fotografar na tentativa de voar de uma janela nos arredores de Paris – a santa com efeito constituia uma referência sacra particularmente congenial.
    De facto, a santa deve ter apreciado a homenagem do artista porque, depois de algumas décadas do seu desaparecimento precoce, a casa da qual Klein levantou voo foi vendida, e naquele terreno foi construída uma igreja dedicada exactamente a santa Rita, à primeira vista sem relação alguma com a vicissitude do pintor. Mas que por detrás da busca artística de Klein houvesse uma forte tensão espiritual compreende-se pelo seu percurso original, uma evolução rumo ao imaterial, à arquitectura do ar, sentida através de uma sensibilidade impalpável. A este conhecimento do imaterial Klein chega através da cor, sobretudo do azul: «fiquei admirado em Assis – escreveu na basílica de são Francisco – com os afrescos escrupulosamente monocromáticos, uniformes e azuis que penso se podem atribuir a Giotto».
    Trata-se de um percurso que o próprio Klein explica bem nos escritos reunidos no volume Verso l'immateriale dell'arte (Milão, O barra O, 2009), no qual revela o sentido profundo das suas escolhas, desde a fase monocromática até à busca daquele azul particular que terá o seu nome, até a ceder a zonas pictóricas imateriais: O ex-voto do artista francês«agora quero superar a arte, superar a sensibilidade, superar a vida, quero alcançar o vazio». Um vazio que procurará alcançar com a sua tentativa de voo: «Sou o pintor do espaço. Não um abstracto, ao contrário, um figurativo e realista. Sejamos honestos, para pintar o espaço, tenho o dever de ir in loco, a este mesmo espaço».
    Portanto, Klein faz-nos ler a profundidade escondida por detrás das vestes aparentemente prosaicas de uma santa muito popular, faz-nos entender algo do mistério que está na base da vicissitude de cada santo.
      Lucetta Scaraffia
    22 de Maio de 2012
    [palavras-chave: Santos e beatos]
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