Mito fracassado, mas sangrento A esquerda brasileira tanto usou e abusou da figura barbuda e desgrenhada de Che Guevara, banalizada em camisetas, panfletos, revistas e um pouco por toda parte, que a tornou desbotada Quem, hoje em dia, vendo na rua um moleque ou uma moleca (perdoem-me o neologismo) revestido da estampa do falecido guerrilheiro Che Guevara, julgaria que o rapaz ou a moça é um revolucionário, sedento do sangue da burguesia? Ninguém. Ele ou ela pode estar usando aquela camiseta porque a ganhou na saída de uma igreja de orientação progressista, ou porque a comprou bem baratinha num brechó, mas nem sabe bem de quem se trata. Usá-la-ia igualmente se fosse a foto de um rinoceronte ou de Papai Noel. À força de ser utilizado como garoto-propaganda da esquerda, a imagem do Che perdeu, para o público em geral, o significado revolucionário que lhe quiseram impingir. A esquerda latino-americana encontra-se muito vazia de símbolos. O velho e cambaleante Fidel não convence ninguém e parece que anda mal das pernas... Suas longas barbas tornaram-se inúteis como emblema revolucionário, e a esta altura dos acontecimentos ficaria ridículo se ele as raspasse. Insiste-se em modelos fracassados Por falta de opção, muitos esquerdistas carregaram a nota no Che Guevara. Mas exageraram. E, como dizia Talleyrand, todo exagero é insignificante. Cá e lá, porém, surgem tentativas de reavivar Che Guevara como ícone galvanizador das combalidas fibras esquerdistas. Sem muito sucesso. Uma dessas tentativas mais recentes, alardeada pela imprensa, foi o filme brasileiro Diários de Motocicleta. Não obstante esse fracasso dos Freis Bettos — e outros não-freis — em ressuscitar o mito do guerrilheiro, não deixa de ser verdade que Guevara foi realmente um representante autêntico da esquerda mais sanguinária. Se o mito tivesse obtido sucesso, o Brasil poderia estar hoje imerso numa guerra civil sangrenta. Tais são os rumos para os quais nos quer conduzir certa esquerda... * * * Alguns dados interessantes a respeito do Che foram publicados na revista americana Slate, em artigo de Paul Berman reproduzidos na "Folha de S. Paulo" (10-10-04). Vale a pena conhecer. Boinas cubanas | "O culto a Ernesto Che Guevara é um episódio da indiferença moral de nossos tempos. Che foi um totalitário. Ele não realizou nada, a não ser o desastre. [...] Era defensor ferrenho da facção de linha-dura, pró-soviética. [...] Che presidiu os primeiros pelotões de fuzilamento da Revolução Cubana. Ele fundou o sistema dos chamados campos de trabalho de Cuba. [...]"Ser morto e fazer com que muitas outras pessoas fossem mortas era algo de importância capital na imaginação de Che. No célebre ensaio no qual lançou seu chamado retumbante por 'dois, três, muitos Vietnãs', [...] compôs várias frases assustadoras: 'O ódio como elemento da luta; ódio inabalável pelo inimigo, que impele o ser humano para além de suas limitações naturais, transformando-o numa máquina de matar, eficaz, violenta, seletiva e a sangue frio. É isso o que nossos soldados precisam se tornar'. Ele foi morto na Bolívia em 1967, liderando um movimento guerrilheiro que não conseguiu recrutar um único camponês boliviano. [...] "Che foi inimigo da liberdade, mas foi erguido em símbolo da liberdade. Ele ajudou a criar um sistema social injusto em Cuba, mas foi erguido em símbolo da justiça social. Ele representava a rigidez antiga do pensamento latino-americano em versão marxista-leninista, e foi celebrado como livre-pensador e rebelde". E-mail do autor: cidalencastro@catolicismo.com.br |
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