Artigo publicado a pedido de nosso amigo e colaborador , Daniel Marques.
Ao terminar de assistir a entrevista com o Dr. Luiz Roberto Barroso (advogado que representa a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Saúde, a parte que entrou com a ação no STF sobre os bebês anencefálicos) e o Dr. Rodolfo Nunes (professor da faculdade de ciências médicas da UERJ) me fiz as seguintes perguntas: O que vale mais? A posição de um médico ou de um advogado para analisar as dimensões científicas da anencefalia? Segundo o médico, anencefalia não é ausência de cérebro, mas de uma parte deste. Não é, em todos casos, ausência de consciência, mas há casos de interação e relação interpessoal. Não é sinal de morte imediata. Há casos de sobrevida.
O grande problema é que estamos numa sociedade que não sabe lidar com a questão do sofrimento e da morte. E de pessoas despreparadas para acompanhar as mães neste momento de dor e sofrimento.
Diante da tragédia a solução é a eliminação. Transferimos para a vida real a dinâmica do Big Brother. E manipulam a linguagem para adormecer as consciências. O Bebê se transforma em simples feto. O aborto em "antecipação terapêutica de parto". Sem contar as mentiras como: em 100% dos casos não há possibilidade de vida extra-uterina.
E o mais interessante é a confusão filosófica. Afirmam que não é um aborto, pois este seria a eliminação da potencialidade de vida extra-uterina. Meu caro, potencialidade de vida está mais do que comprovada que há. O que pode ocorrer é uma baixa probabilidade de vida extra-uterina. E com certeza, não saberá nunca se um bebê anencefálico a terá, se eu o aborto antes. Contra facta, non sunt argumenta (Contra os fatos, não há argumentos). Como podem falar de uma potencialidade de vida extra-uterina, se esta já está em ato na intra-uterina?
Diante desta manipulação da linguagem e de falácias lógicas, os defensores do aborto infringem um sofrimento maior ainda à mãe, transmitindo a idéia de que carrega em seu ventre um defunto e não uma ser humano que pode ser amado e cujo valor não se reduz a quanto tempo poderá viver.
Isto sim é intolerância e injustiça. E voltamos à questão central relacionada ao tema do aborto. O que é o ser humano? Melhor ainda, quem é o ser humano? Sou apenas a soma de dores e alegrias? Sou apenas uma manifestação externa de uma vida consciente? Sou o que produzo? Meu valor se identifica com aquilo que eu posso contribuir à sociedade?
Considero que só podemos sentir dor e alegria; manifestar nossa consciência; produzir e contribuir porque antes de tudo SOU uma pessoa humana. Em definitiva, porque SOMOS, AGIMOS e SENTIMOS e não o contrário.
Deixar-se conduzir por essa inversão de valores levam a consequencias nefastas que vemos diariamente estampadas nas capas dos jornais. Pois se meu SER, se reduz a meu AGIR, então justifica-se a eliminação não apenas dos embriões e bebês com anencefalia, mas do mendigo e morador de rua, pois estes não "produzem", dos enfermos, idosos e dos doentes mentais.
Uma coisa é querer utilizar a inteligência e tecnologia para melhorar a vida e condições da sociedade humana. Outra coisa é a eugenia, onde manifesta-se uma mentalidade de que existem seres humanos inferiores, subespécies que podem ser instrumentalizadas, exploradas e eliminadas.
Estamos às portas de um novo nazismo através de uma eugenia genética de massa, de uma sociedade que está tão deformada pelo consumismo (capitalista) e materialismo (comunista) que reduzimos um filho a um mero produto de gosto e consumo pessoal, e não o vemos mais como um presente e dom que transforma a vida daqueles que o acolhem e abrem novos horizontes para um amor mais pleno, verdadeiro e profundo.
O que mais me chama a atenção é que depois não entendemos e achamos um absurdo quando vemos jovens incendiados mendigos. Isto ocorre porque estamos fazendo um esforço cultural para borrar a lógica natural de nossa natureza humana. Em nome de um suposto "bem", comentemos um mal maior, lançando pressupostos culturais para a sociedade que a conduzirá a autodestruição.
Pensemos nos problemas com a fauna, flora e habit natural. Vamos fazer Rio +20, +30, +40 e quantos quiserem e não resolveremos o problema. Como será possível uma sociedade que respeite a natureza, enquanto motivamos o desrespeito ao próprio ser humano? Os fundamentos e solução para uma ecologia da natureza, está em primeiro lugar na promoção de uma real e verdadeira ecologia do ser humano.
Os elementos contingentes e efêmeros devem ser tratados como contingências e efemeridades. Contudo, não deve-se esquecer que as coisas essenciais, devem ser tratadas também como tais. E o que deve regê-las não é um consenso arbitrário da maioria, mas um esforço comum de buscar a verdade das coisas.
A defesa da vida não é uma questão religiosa, nem ética ou moral. A vida humana é o fundamento para a religião, para a ética e para a moral. E independente de suas condições físicas, o embrião e o bebê anencefálico é uma pessoa humana com plenos direitos.
Nesta questão, não corremos o risco de defender um tipo encarniçamento ou obstinação terapêutica. Ao contrário, obstinação há naqueles que fecham os olhos para a realidade.
Compadecer não é eliminar a todo custo e a qualquer preço o sofrimento, mas é acompanhar até o final àquele que necessita de nossos ombros e sentir como própria a dor do meu próximo, para que juntos caminhemos para uma solução digna.
Posso até conceder "algo" de espaço àqueles que dizem que não existe um consenso entre os médicos e cientistas. Sem problemas. Mas, na dúvida vamos jogar roleta russa com vidas humanas?
E mesmo que em todos os casos, coisa que não é verdade, um bebê anencefálico morresse, isto não tiraria sua condição de ser humano. Pois, como afirmado anteriormente, nosso ser e valor enquanto pessoa não se reduz ao número de batidas que dá o coração, ou a quantidade de ar que passa pelos pulmões e muito menos quantos bolas de futebol eu produzo numa fábrica perdida na China. O valor da pessoa está sobretudo em sua capacidade de amar. E amar é também deixar-se amar. Isto podem fazer muito bem, tanto os embriões e como os bebês anencefálicos.
Mas este amor só é possível se existe a consciência de que um filho não é apenas um objeto de consumo, mas um ser humano. E as mães que passam por essa situação sabem muito bem disso. Naturalmente elas conversam com seus filhos que estão no ventre, e percebem que há algum tipo de interação e cria-se um vinculo de amor e carinho. Então, chega um médico ou abortista e diz para essa mãe que na verdade o filho dela já está morto, ou que carrega um condenado a morte em seu ventre, e que vai ser um deformado, sem nenhuma qualidade de vida e que ainda tem o perigo de matar a própria mãe. E recomenda a elas a não conversarem mais com os bebês, a não chamarem pelo nome, para não criar "falsos vínculos" com um enfermo terminal, cujo o óbito é dando antes que lhe dêem a chance de lutar pela própria vida.
É um convite deliberado a não amar. Com isto, não quero amenizar e nem diminuir os riscos reais que possam existir. Contudo, a situação seria outra se essa mãe se encontrassem com pessoas que realmente compadeçam de seu sofrimento.
Bem vindos a uma cultura onde a realidade se reduz a um jogo de cálculos e disputa de forças. Onde é mais fácil colocar os mais indefesos no paredão e eliminá-los do que ajudar a nossos irmãos a empreender a difícil arte e missão de amar até o extremo, apesar de que todas as circunstâncias indiquem o contrário.
O ser humano é muito mais do que a soma de prazeres e sofrimentos. E o amor é muito mais do que um simples objeto de consumo, ou de troca. É entrega generosa de si mesmo. E quando é puro, o primeiro beneficiado no amor é a pessoa que ama, por mais limitada e indefesa seja a pessoa amada.
É uma pena que neste Big Brother da vida real, nem coerentes com suas próprias regras eles são. Pois se assim fossem, esta questão consideraria que a grande maioria do povo seria contra e não delegaria uma decisão tão importante a um grupo de pessoas, cuja a maioria é colocada (não elegida) por um único partido.
Mais uma vez vemos a manifestação clara de que uma sociedade regida pelo relativismo pode até fazer pose de que é tolerante, mas o que acontece é que sem a verdade é a força (seja física, institucional, moral, espiritual) que impera. Fica mais claro que vivemos numa democracia apenas de imagem, e que em realidade estamos imersos numa verdadeira DITADURA do RELATIVISMO. A verdade das coisas, através de um esforço sincero e conjunto de encontrá-la, ainda continua sendo o melhor juiz supremo e imparcial da vida, que não é um show, mas é "reality".
Daniel MarquesMestre em Filosofia da Ciência e da LinguagemMaster em Ciência e FéCriador da página: www.facebook.com/cienciafecultura
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