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Novo Papa terá desafio de lidar com perseguição religiosa na China
Governo alerta que Pontífice não deve tentar interferir em assuntos internos em nome da religião
No país, fiéis se dividem entre paróquias oficiais e clandestinas; número de clérigos está em declínio
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CLAUDIA SARMENTO (EMAIL)
Publicado: 4/03/13 - 7h00
Atualizado: 4/03/13 - 7h00
Saída furtiva. Católicos deixam a igreja após missa em Pequim: China e Vaticano não mantêm laços diplomáticos desde 1951, após a vitória da revolução encabeçada por Mao Tsé-Tung MARK RALSTON / AFP/19-2-2013
TÓQUIO — A fé católica na China representa um dos grandes desafios do próximo Papa. No país, onde não há liberdade religiosa, o catolicismo - assim como outras religiões cristãs - deve se submeter ao controle do Estado comunista, que só permite a existência da Associação Patriótica Católica, uma instituição independente da Santa Sé. O Vaticano calcula o número de católicos chineses entre oito e 12 milhões. Para rezar e celebrar ritos sem a presença de clérigos ligados ao governo, os fiéis buscam as paróquias clandestinas, muitas vezes perseguidas e fechadas. O pontificado de Bento XVI não conseguiu avanços nas tentativas de aproximação.
Os dois lados vivem um embate. O Vaticano não aceita os bispos nomeados por Pequim, que, por sua vez, rejeita a autoridade do Papa para escolher os líderes católicos. Não interessa à ditadura chinesa a influência de nenhuma religião, muito menos uma igreja que teve papel importante na queda do comunismo no Leste da Europa, durante o papado de João Paulo II.
No ano passado, o bispo auxiliar de Xangai, Thaddeus Ma Daqin, renunciou a seu posto na Associação Patriótica Católica por não concordar com a supremacia do governo ateísta sobre o Vaticano. O caso agravou a tensão entre a China e a Cúria Romana, e grupos católicos têm denunciado uma pressão cada vez maior por parte do regime.
Em seu último relatório sobre a situação dos direitos humanos no mundo, divulgado em fevereiro, a Human Rights Watch (HRW) protestou contra a contínua perseguição religiosa na China. Os abusos não se limitam à minoria católica, mas a punição a Ma foi citada como exemplo de repressão: “O governo municipal de Xangai suspendeu indefinidamente as aulas no seminário católico da cidade em represália à decisão de Ma Daqin. Ma está sob prisão domiciliar desde sua renúncia”, disse a organização. Segundo a HRW, “o governo fiscaliza as atividades, os funcionários e os registros financeiros das entidades”. Tudo é controlado.
- Não há base para um diálogo efetivo entre as duas partes. O novo Papa deve ter coragem e fé suficientes para protestar contra qualquer tipo de perseguição, incluindo a do Partido Comunista chinês - afirma Mark Chan, analista da ChinaAid, ONG cristã que faz campanha pela liberdade religiosa na China.
Em seu único pronunciamento sobre a renúncia de Bento XVI, o governo chinês - que também tem agora um novo comandante, Xi Jinping - alertou que o futuro Papa não deve interferir em assuntos internos em nome da religião. O Ministério das Relações Exteriores disse esperar “sinceridade e flexibilidade do próximo Pontífice” e exigiu ainda que o Estado católico rompa relações com Taiwan, cuja independência não é aceita por Pequim.
China e Vaticano não mantêm laços diplomáticos desde 1951, depois que todos os missionários foram expulsos, com a vitória da revolução encabeçada por Mao Tsé-Tung. No início do Pontificado de Bento XVI, parecia haver campo para uma negociação, com conversas informais sendo realizadas e convites para visitas de ambas as partes. Em 2007, o Papa divulgou uma carta dizendo-se “aberto a um diálogo sereno e construtivo com as autoridades chinesas para encontrar uma solução para os problemas enfrentados pela comunidade católica no país”. Em 2010, no entanto, o tom de enfrentamento voltou a prevalecer quando o reverendo Joseph Guo Jincai foi nomeado bispo da cidade de Chengde sem autorização da Santa Sé, que ameaçou excomungá-lo. A ditadura teria obrigado outros religiosos a participar da cerimônia de ordenação de Jincai, enfurecendo a Igreja Católica.
Os milhões de fiéis chineses se dividem entre as paróquias oficiais, que têm seus sermões vigiados pelo governo, e as igrejas não registradas, que funcionam às escondidas, mantendo a lealdade ao Papa. Organizações católicas dizem que pelo menos dez padres foram presos nos últimos anos e várias igrejas clandestinas, fechadas. O número de clérigos vem caindo no país.
- Eles enfrentam muitas dificuldades, porque a Igreja Católica é uma instituição orientada pelo clero. Isso representa sua força, mas é também uma fraqueza, pois os fiéis não têm liberdade suficiente para agir e protestar em nome da Igreja, como os protestantes têm feito em voz alta - acredita Chan.
A Ásia tem pelo menos um nome na lista dos papáveis, saído das Filipinas, o único país do continente de maioria católica: o popular Luis Antonio Tagle, arcebispo de Manila.
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