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sábado, 21 de setembro de 2013
Há algumas semanas, a página “Meu professor de História Mentiu pra mim” publicou uma imagem na qual afirmava que a inquisição foi um “marco civilizatório na Idade Média”. Mais do que prontamente, a súcia de apedeutas, sequelados e retardados em geral fez coro em gargalhada histriônica. Como os idiotas úteis jamais se deram ao trabalho de abrir um livro de verdade, naturalmente estranham uma afirmação tão destoante do conteúdo que eles absorveram nas cartilhas marxistas, que o méqui chama de livros didáticos. Qualquer pessoa que tenha tido acesso à historiografia que apresenta a Inquisição com acuidade histórica e livre de ideologia não poderá se furtar à conclusão de que essa, além de se basear em fontes primárias, se reflete em uma narrativa muito mais coerente do que os "istoriadores” que apenas recorrem a falácias de pensamento, facilmente desmontáveis por qualquer um que tenha mais de um neurônio funcionando, para denegrir a imagem da Inquisição. Quem quer que tenha acesso ao trabalho historiográfico que nega a forma como o senso comum retrata a Inquisição, percebe imediatamente o quão a História foi deturpada para caber dentro das necessidades ideológicas da mentalidade revolucionária. No Brasil, contudo, o méqui segue a política de restringir o acesso apenas a versões historiográficas que atendam aos interesses ideológicos da esquerda. Isso faz com que seja criado um contingente de analfabetos funcionais que se pensam intelectuais, não por acreditarem que sabem muito, mas por terem sidos convencidos de que o que precisam saber para ser intelectuais é um arremedo de cultura composto de meia dúzia de clichês. Por ter sofrido lavagem cerebral desde a mais tenra idade, o brasileiro médio toma o falso como verdadeiro e ri com desdém diante de quem proclama a verdade, a qual ele ignora completamente. O objetivo desse texto é apresentar de forma rápida e objetiva a Inquisição que não aparece nos livros do méqui, assim teremos um material de referência, curto, que poderá ser usado para esfregar no focinho dos animais esquerdistas toda vez que começarem com a cantilena de “os crimes da Inquisição”.
- Uma das diversas imagens criadas pelas páginas esquerdistas, moderadas por analfabetos funcionais, para fazer chacota da afirmação de que a Inquisição foi um marco civilizatório.
Para entendermos o que de fato foi a Inquisição, precisamos retroceder no tempo até um pouco antes de seu início, afinal uma das ferramentas de deturpação mais utilizadas pela historiografia marxista é fazer ignorar o contexto histórico do assunto sobre o qual ela pretende formar uma “openeão”. No ano 476, os bárbaros invadiram a Europa, transformando esse continente em um mosaico de povos incivilizados, que além de terem destruído todas as instituições romanas, passaram a brigar entre si. A Europa se tornou um gigantesco campo de batalha. No meio desse Armagedom, a Igreja Católica foi a única Instituição que ficou de pé. A Igreja sustentou o ocidente, pois salvaguardou de diversas formas o conhecimento civilizacional e, com base nesse legado, fez um trabalho de ACULTURAÇÃO da massa bárbara, composta de alanos, ostrogodos, visigodos, francos, hunos, suevos, entre outros. Dessa maneira, a Igreja Católica foi a grande responsável pelo surgimento, durante a Idade Média, de uma Europa pacificada e unificada em torno de um mesmo ideal. Esse é o motivo pelo qual a mentalidade do homem comum medieval era tão profundamente religiosa (cristã), ele devia à Igreja Católica a paz necessária para prosperar, INCLUSIVE materialmente. Ao contrário do que conta a historiografia marxista, a Idade Média foi uma época de luzes, marcada por grandes avanços em muitos campos do conhecimento: filosofia, ciência, artes, etc. Esse avanço foi fruto do cristianismo, que salvaguardou o legado da antiguidade clássica e estabeleceu a cultura que serviu de lastro para ordem social, sem a qual não seria possível gerar o progresso (obs.: antes de prosseguir na leitura desse texto, certifique-se de que você compreendeu o grau de Importância da Igreja Católica para a época medieval).
Contudo, desde os primeiros séculos do cristianismo, havia alguns DISSIDENTES da Igreja Católica, pessoas que tinham ganhado preeminência social dentro do seio da própria Igreja, mas que a partir de dado momento passavam a pregar ensinamentos estranhos ao corpo de ensinamentos da Igreja, traindo assim a instituição que tinha lhes possibilitado a posição de destaque que ocupavam na sociedade (e consequentemente a autoridade de que gozavam para que seus pensamentos fossem ouvidos). Essas pessoas fundavam seitas e, assim, suas ideias ganhavam vida própria após arrebanhar um determinado número de seguidores. Tais ideias resistiam até mesmo à morte de quem primeiro as pregou, ganhando popularidade e se constituindo em um corpo doutrinário que, apesar de nascido de dentro da Igreja, era independente e contrário ao corpo doutrinário cristão que lhes deu origem. Essas seitas eram chamadas de “hereges”. A historiografia marxista praticada no Brasil atualmente repete os dogmas da historiografia iluminista e ensina que “a Igreja queimava na fogueira quem se recusasse a aceitar a fé cristã”, reduzindo a questão da heresia a uma mera “intolerância religiosa” ou “excesso de dogmatismo”. É impossível entender o que de fato foi a Inquisição, sem compreender o que eram na verdade as seitas hereges. Para fazê-lo, usaremos como exemplo a principal seita que foi combatida pela Igreja Católica: os cátaros. Essa seita pregava a crença na coexistência de dois deuses, um bom (o criador das coisas espirituais) e um mau (o criador das coisas materiais). Algum inadvertido que pense com a mentalidade de hoje pode imaginar que negar o cristianismo e optar por uma crença dessa era uma mera questão individual, que devemos respeitar a religião dos outros e blá blá blá; principalmente se estivermos falando de algum sequelado pelo paulofreirismo, completamente convencido (coitado!) da aleivosia de que “tudo no mundo é uma questão de 'openeão'". Mas o que de fato aconteceu foi bem diferente desse devaneio esquerdista idiota. Tais seitas pregavam que, uma vez que o mundo material era uma criação do deus mau, ENTÃO tudo que fortalecesse o mundo material deveria ser COMBATIDO. Vejam só de que maneira eles faziam isso; prestem atenção para entender de que forma ser um herege era muito diferente de ter gnomos de louça e cristais energizados no quarto: na qualidade de seita, eles se organizavam em grupos de ação para depredar fazendas, queimar plantações, destruir benfeitorias, instrumentos agrários e por aí vai. Como se pode ver, não era meramente uma questão de crença diferente, mas do que essa crença diferente provocava no mundo prático: os cátaros eram uma espécie de MST da Idade Média.
Como não fosse suficiente, tem mais. Enquanto de um lado o cristianismo pregava que a vida tinha valor em si mesma, por ser uma criação divina, e que precisava ser defendida a todo custo, os cátaros diziam que a carne aprisionava o espírito. Assim, na "openeão" deles, as mulheres que engravidavam estavam aprisionando na matéria espíritos que antes eram livres e, com o intuito de impedir esse aprisionamento, eles, com todo altruísmo possível, praticavam a “liberdade de expressão de sua 'openeão'” ASSASSINANDO MULHERES GRÁVIDAS. É mole? Essas eram as ideias que estavam se espalhando na Europa como um incêndio e, caso não fossem debeladas, por certo levariam ao total colapso da civilização ocidental, conforme afirma o historiador PROTESTANTE Henry C. Lea: “(assim) era a crença cuja rápida difusão encheu a Igreja de um terror PLENAMENTE JUSTIFICADO. Se o catarismo se tornasse dominante, ou pelo menos igual ao catolicismo, não há dúvida de que sua influência teria sido desastrosa. Por mais horror que nos possam inspirar os meios empregados para combatê-la, por mais piedade que devemos sentir por aqueles que morreram vítimas de suas convicções, reconhecendo sem hesitar que, nas circunstâncias, a causa da ortodoxia era a da CIVILIZAÇÃO E DO PROGRESSO".
Por causa disso, os senhores feudais e reis já haviam percebido que, de um lado as seitas heréticas com suas crenças obscurantistas e suas ações criminosas perturbavam e lançavam terror sobre toda a vida social, do outro lado o lastro estabelecido pela cultura advinda do cristianismo favorecia a ordem social, e consequentemente o progresso geral da sociedade. Assim, MUITO ANTES do estabelecimento da Inquisição, o poder secular já havia determinado que a heresia fosse considerada CRIME CIVIL e, consequentemente, já havia estipulado penas para esse tipo de prática. Além disso, a disseminação de tais crenças era prejudicial para o conjunto da sociedade, mas, PRINCIPALMENTE, para a camada mais pobre da população, que era quem menos podia se defender se um grupo de loucos invadisse uma vila com o singelo objetivo de expressar sua "openeão" destruindo o fruto de anos de trabalho e matando suas esposas grávidas. Dessa forma, mesmo com o poder secular agindo para cercear a heresia, com o passar do tempo, foi se tornando cada vez mais comum que o povo não mais esperasse a ação do poder instituído, mas fizesse justiça com as próprias mãos, para reprimir prontamente o avanço de tais seitas. Estabeleceu-se assim, a prática comum na Idade Média de que a população revoltada punisse por conta própria os praticantes das heresias. Repetindo: TUDO ISSO JÁ ACONTECIA ANTES DO ESTABELECIMENTO DA INQUISIÇÃO.
Ao mesmo tempo, em que essas insurreições populares contra hereges aconteciam, disputas de terras entre os senhores feudais eram comuns na Idade Média, e eles perceberam que poderiam utilizar como instrumento de batalha, nessas disputas, a turba ensandecida e disposta a fazer justiça com as próprias mãos. Para tal, os senhores feudais começaram a acusar seus inimigos de serem “hereges” apenas com o objetivo de lhes destruir a reputação. Muitas injustiças estavam sendo cometidas. Muitos eram acusados por poderosos de cometer heresias, mas não tinham nenhuma ligação com as seitas hereges, e mesmo assim acabavam morrendo nas mãos do povo, cujos humores haviam sido ardilosamente inflamados por acusações falsas. Vendo toda essa bagunça, a Igreja Católica decidiu intervir para estancar os julgamentos sumários e o derramamento de sangue de inocentes.
Para facilitar, vou recapitular o que foi dito até aqui: de um lado, o Catolicismo ao disseminar uma mentalidade voltada para valores transcendentes, trouxe paz e prosperidade para Europa. De outro, essa mentalidade voltada para valores transcendentes deixava o povo europeu suscetível a “falsos profetas”, uma parte significativa da população dava crédito às ideias hereges, que deturpavam os ensinamentos da Igreja causando confusão e desordem social. A Igreja sabia que a heresia era, de certa forma, um efeito colateral da própria Igreja, sobretudo porque os fundadores das seitas eram ex-membros do clero (dissidentes), portanto precisava assumir sua parte na responsabilidade de combatê-la. Em especial porque o combate às heresias feito pelas autoridades civis estabelecidas era corrupto e cometia injustiças, quando não acontecia o pior, que eram os linchamentos populares.
É dentro desse cenário que surge a instituição criada pela Igreja Católica Apostólica Romana, em 1231, pelo Papa Gregório XI, para VERIFICAR se aquele contra quem pesava uma acusação era de fato praticante e disseminador de heresias. Tal instituição foi chamada de INQUISIÇÃO. A Inquisição não aplicava nenhuma pena, mas SOMENTE decidia se o acusado estava de fato envolvido com heresia e, nesse caso, o entregava para que o poder civil secular aplicasse as penas que já haviam sido estabelecidas ANTES do surgimento da Inquisição. Repetindo: o objetivo da Inquisição era apenas dar uma oportunidade de julgamento processual a pessoas que, de outra forma, teriam sido mortas nas mãos de populares praticando linchamentos, ou nas mãos de reis e nobres que se utilizavam do expediente de fazer falsas acusações de heresia para eliminar seus opositores. Repetindo mais uma vez: a partir do estabelecimento da Inquisição, o povo não podia mais ser inflamado para fazer justiça com as próprias mãos, porque estava determinado que um comitê de especialistas estudaria as acusações com distanciamento e parcimônia a fim de verificar se eram procedentes ou não. É por isso que é possível afirmar sem a menor hesitação que: “A INQUISIÇÃO FOI UM MARCO CIVILIZACIONAL NA IDADE MÉDIA”. A partir do momento em que a Inquisição é estabelecida, as massas estão desautorizadas a praticar justiça sumária e os nobres não mais podiam praticar acusações falsas para conseguir objetivos obscuros. Vejam o que diz Césare Cantu, em seu História Universal (Tomo 11, Capítulo 6): "O tribunal da Inquisição pode ser considerado um VERDADEIRO PROGRESSO, porque se substituía as matanças mais ou menos gerais e os tribunais sem direito de defesa. Este tribunal admoestava por duas vezes antes de empreender qualquer devassa e ordenava a prisão só de hereges obstinados e dos relapsos (aqueles que não voltavam atrás na heresia, preferiam morrer a se arrepender), aceitava o arrependimento e contentava-se com castigos MORAIS, o que lhe permitiu salvar muitas pessoas que os tribunais ordinários teriam condenando”. Alguém que se disponha a provar que uma instituição desse tipo é ruim não passa de um canalha movido por má fé e está apenas se utilizando do expediente de tratar os fatos a torniquete para fazê-los servir à sua ideologia nefasta. Deturpar na cabeça do povão inculto, cuja mentalidade foi deformada pelo méqui, o que de fato foi a Inquisição é apenas mais uma das várias de ferramentas utilizadas pelo marxismo cultural para impingir mentiras contra a Igreja.
Mas voltemos à Inquisição: como era um tribunal, eventualmente podem ter ocorrido falhas. Ainda hoje, por mais que se criem mecanismos judiciais para impedir que a ação jurídica vitime inocentes, há casos de pessoas que cumprem pena (até mesmo pagando com a vida) e mais tarde fica provado que foram condenadas indevidamente. Quanto mais na Idade Média, quando ainda não existia nenhuma das modernas técnicas da ciência forense! Contudo, na Inquisição, o rigor para considerar alguém herege era altíssimo (vamos ver isso mais detalhadamente adiante), além do que, na grande maioria dos casos, aplicava-se penas alternativas, como a responsabilidade de cuidar de um pobre, o confisco dos bens, o exílio ou a peregrinação. Foram pouquíssimas as condenações com pena capital. As próprias práticas que tais seitas pregavam para seus membros, como por exemplo a “endura”, ceifaram muito mais vidas de hereges do que toda a atividade inquisitorial (a “endura” nada mais era do uma heresia que consistia no suicídio por envenenamento, jejum ilimitado, ingestão de vidro moído, abertura das veias durante o banho e até a morte por pneumonia adquirida de propósito). Isso posto, é preciso destacar o fato de que a maior parte das condenações indevidas e das atrocidades que o senso comum usualmente atribui à Inquisição aconteceu na chamada Inquisição Espanhola, que foi um capitulo à parte dentro da História da Inquisição. Ao contrário da Inquisição Medieval (criada para combater as seitas hereges, como os cátaros) e da Inquisição Romana (criada para combater o protestantismo), a Inquisição Espanhola NÃO foi uma ideia da Igreja. Como, então, surgiu a Inquisição Espanhola? A Península Ibérica esteve por sete séculos sob domínio dos muçulmanos, que a invadiram por volta do ano 700 e lá permaneceram até quase o século XVI. Após o casamento dos reis Fernando e Isabel de Castela e Aragão, católicos, a Espanha foi unificada e isso possibilitou que os espanhóis vencessem a última batalha contra os muçulmanos, travada no ano de 1492, em Granada. Para assegurar essa expulsão conseguida através da espada, era necessário dar continuidade ao trabalho fazendo agora uma expulsão cultural: os reis precisavam estabelecer o catolicismo pleno na Espanha.
Assim, os reis de Espanha EXIGIRAM do Papa que ele autorizasse a abertura de uma nova Inquisição. O Papa não quis autorizar, justamente porque sabia que uma Inquisição realizada longe de Roma não teria nenhum controle por parte da Igreja Católica, e permitiria que os reis fizessem o que bem entendessem em nome da Inquisição, como de fato aconteceu (Há casos de terem se aproveitado da Inquisição, somente para tomar os bens dos acusados). Mas então, se sabia disso, por que o Papa autorizou a Inquisição Espanhola? Simplesmente porque o rei Fernando ameaçou o Papa dizendo que se não autorizasse a abertura da Inquisição Espanhola, ele separaria a Espanha da Igreja Católica (ou seja, de uma forma ou de outra, o rei faria o que quisesse). Nessa época, a Espanha era o maior polo católico do mundo. A Igreja Católica já tinha perdido a Alemanha para o protestantismo, que também avançava na Inglaterra, na Escandinávia, na Bélgica, e na Holanda. Se o Papa aceitasse perder a Espanha, poderia simplesmente ter sido o fim da Igreja Católica. Entre dois males, o que fazer? Diante desse dilema, o Papa finalmente optou pelo mal menor e, a contragosto, autorizou a tal Inquisição Espanhola, uma Inquisição que foi MUITO MENOS eclesiástica do que civil. O único aspecto que une a Inquisição Espanhola às duas inquisições anteriores era o nome. Para começo de conversa, ao contrário das anteriores, a Inquisição Espanhola não foi estabelecida para julgar dissidentes da Igreja, mas para combater outras crenças: o islamismo e o judaísmo, o que por si só a diferencia completamente do contexto da Inquisição Medieval, que foi quando começou a Inquisição. Claro que tais “detalhes” históricos foram completamente ignorados quando a propaganda iluminista decidiu usar a Inquisição Espanhola para manchar a imagem da Igreja Católica.
Os legados da Inquisição
Conforme foi demonstrado, acusar os procedimentos do tribunal eclesiástico de ser rudimentares é um grande anacronismo. A Inquisição não inaugurou nenhum dos procedimentos que hoje pululam no senso comum ao lado das alegações de "atrocidade!". A acusação anônima, a prática de tortura, as penas de morte, todos eram comumente utilizados pela autoridade civil DA ÉPOCA. E cada um deles pode ser explicado também por uma contingência da época. Por exemplo, penas de morte eram muito mais comuns do que são hoje, simplesmente porque era inexistente o moderno aparato de penitenciárias. Além de inexistente, tal aparato era simplesmente IMPOSSÍVEL para a organização social da época. Por causa disso, a mentalidade de então era que os crimes deveriam ser sempre punidos com severidade máxima, o que, se por um lado choca nossa sensibilidade moderna quando comparamos os procedimentos medievais com os atuais, por outro tal mentalidade na prática gerava uma baixíssima incidência criminal, se comparada com a realidade atual. Assim, é possível afirmar que, à luz da verdade, em qualquer comparação que se faça entre a atividade inquisitorial e a prática da autoridade civil secular da época, notar-se-á que o cuidado nos procedimentos no sentido de evitar injustiças e no sentido de ser piedoso com o ente humano era muito maior dentro da Inquisição do que na prática da autoridade civil secular. Por exemplo, com relação às prisões católicas, devemos esquecer a mitologia de que eram masmorras horrendas, frias e insalubres. Claro que havia problemas, pessoas chegavam a ficar doentes e até morrer nas cadeias, mas se comparadas às cadeias civis da época, possuíam instalações mais limpas, iluminadas, ventiladas, espaçosas e seguras. A alimentação também se dava de forma regular, havendo a possibilidade de o prisioneiro receber comida e demais suprimentos de seus parentes, sendo que os mais pobres tinham suas despesas pagas pelo próprio tribunal. Além disto, muitas cadeias da Inquisição possuíam divisões que separavam os homens das mulheres.
Foi por causa desse esforço, por parte da Igreja Católica (de evitar injustiças e ser piedoso com o ente humano) que foi possível deixar para o mundo, entre outros legados, grandes avanços jurídicos que seriam impensáveis até então. Após a queda do Império Romano, o modelo jurídico praticado na Europa estava mais próximo do que era adotado pelos povos bárbaros invasores do que do sofisticado Código de Leis, vigente na Civilização Romana. Na prática os reis e nobres tinham plenos poderes para julgar e condenar, como bem entendessem. Foi somente com o estabelecimento da Inquisição que foi adotado um sistema que remotamente se assemelhava ao que hoje chamamos de código processual. Desde a queda do Império Romano, foi a primeira vez na História que se pensou que um julgamento deve seguir um rito sistemático. Em que pese as imperfeições que possam ser apontadas, se compararmos os procedimentos da Inquisição com o sofisticado código processual moderno, estamos falando do progresso que há em passar da situação em que os julgamentos não possuíam NENHUM processo para a situação posterior em que HÁ um processo, por mais primitivo que fosse. E o processo praticado na Inquisição nem era tão primitivo assim. O Maleus Maleficarum, por exemplo, possuía todos os elementos de um manual de direito processual. Até a Inquisição, simplesmente não havia o conceito de que o julgamento tinha que seguir um rito.
Além disso, a Inquisição foi o primeiro tribunal da Europa a separar magistrado, acusação e defesa. Até essa época, todas essas funções eram exercidas por uma mesma pessoa, na quase totalidade das vezes um senhor feudal, que se auto imbuía do poder de julgar e condenar quem bem entendesse. Com a mentalidade que temos hoje, seria possível afirmar que as funções de promotor e juiz serem exercidas por membros da Igreja não era o ideal, mas isso seria ignorar o progresso em relação ao que era praticado como justiça até então. Também foi a partir da Inquisição que foi adotado o procedimento de registrar TODOS os autos do processo, o que limitava muito a ação do tribunal, além de instituir uma espécie de jurisprudência registrada. Tal procedimento já tinha sido adotado na época do Império Romano, mas somente na Inquisição foi praticado em caráter absoluto. A Inquisição também estabeleceu que um notário transcrevesse todos os debates. Foi estabelecido na Inquisição que os acusados não ficariam presos durante todo o inquérito, podendo recusar determinado juiz ou apelar para Roma contra alguma decisão do tribunal.
O legado mais importante da Inquisição é justamente o que é mais deturpado, diz respeito à questão da tortura. A despeito de todas as gravuras mostrando pessoas sendo torturadas pela Inquisição, é preciso compreender que não foi o Santo Ofício que estabeleceu a tortura, MUITO PELO CONTRÁRIO. O expediente do uso de tortura como ferramenta de confissão era considerado normal e era amplamente usado pelos tribunais seculares, ao passo em que foi muito raramente usado dentro da Inquisição. Ao todo, menos de 10% dos julgamentos envolveu a agonia física dos acusados. Dentro do contexto de que a tortura era considerada pela mentalidade da época como uma ferramenta válida para extrair uma confissão, o Papa Inocêncio IV instituiu algumas regras em relação à utilização desse procedimento: a proibição de que qualquer pessoa fosse torturada mais de uma vez, não era permitido que o método levasse à perda de um membro ou, ainda, que trouxesse risco de morte para quem recebia, sendo comum a presença de médicos para evitar maiores problemas, não poderia ultrapassar mais que alguns minutos. Estas normas nem sempre foram cumpridas, é verdade, mas o problema é que muitos historiadores iluministas/marxistas se utilizam do desvio para fazer entender que as autoridades eclesiásticas pregavam os abusos, o que é de uma desonestidade atroz. Há ainda as alegações sobre as famigeradas "máquinas de tortura" que estão em exposição em tantos museus da Europa e que fazem a alegria do departamento de marketing do History Channel, pois enchem os olhos da audiência dos pseudo-documentários realizados pelo canal. Sobre elas é preciso entender que ninguém que queira torturar um ser humano precisa de muito mais do que uma corda que o imobilize e um pedaço de vidro quebrado ou um chicote, que o infrinja dor. Se máquinas foram criadas para realizar a tortura, era exatamente porque se buscava de alguma forma mensurar e aplicar o sofrimento de forma gradual, controlando a intensidade do efeito o máximo possível. Além disso, as máquinas eram especialmente confeccionadas para que tivessem aparências assustadoras, buscando gerar o que se chamou de conspectu tormentorum, quando a mera vista dos instrumentos de tortura já provocava a confissão. Em dado momento da História da Inquisição, se estabeleceu que as confissões conseguidas através de tortura só seriam aceitas se no dia seguinte fossem confirmadas pelo acusado, do contrário as investigações continuariam, apesar de o réu permanecer preso. Posteriormente, foi estabelecido que nenhuma confissão conseguida através de tortura teria validade. Ou seja: se hoje a tortura não é mais considerada um instrumento justo de extração de confissão, ISSO É UM LEGADO DA INQUISIÇÃO!
Em suma, o Direito conseguiu evoluir MUITO por causa da Inquisição. Mas, então, como nasceu a deturpação da imagem da Inquisição? Tudo começou na propaganda iluminista que queria denegrir a Igreja Católica. Assim, a historiografia iluminista sempre segue a mesma técnica, que consiste em ignorar como as circunstâncias eram antes da Inquisição e apresentar o Santo Ofício como a entidade que instaurou tudo que era primitivo na Idade Média. Além disso, eles utilizam do método de apresentar apenas os casos de desvio e, assim, dão a entender que eram a regra (contudo, como a mentira tem perna curta, é possível encontrar confissões, mesmo dentro da bibliografia iluminista. Vejam o que diz a Enciclopédia Iluminista Francesa, de 1765: "Sem dúvida, imputaram-se a um tribunal, tão justamente detestado, excessos de horrores que ele nem sempre cometeu". Isso o méqui não mostra!). Alguém que tenha sido apresentado à Inquisição pela historiografia marxista, que mostra apenas os estudiosos iluministas que denegriam a Inquisição, imagina que antes dela o planeta era um paraíso idílico no qual reinavam o humanismo e a justiça perfeita, e a Igreja Católica foi a responsável pela introdução dos métodos que eles criticam como retrógrados, comparando-os não com o que de fato existia antes, mas com a situação atual, que é, na verdade, FILHA dos avanços da Inquisição. Como se vê, trata-se de um erro muito grave em historiografia, que se chama ANACRONISMO. Esse tipo de deturpação é muito comum quando os historiadores não são movidos por entender o que de fato aconteceu, mas sim usar uma representação do que aconteceu para endossar uma ideologia. Um caso clássico é a forma como Engels retrata a Revolução Industrial. Na versão dele, o mundo era um paraíso de prosperidade e riqueza, quando surgiu a terrível Revolução Industrial impondo restrições e carência às classes trabalhadoras, que nunca as tinham experimentado antes. É claro que isso é apenas um delírio, uma ficção, sem nenhum rigor historiográfico. Da mesma forma que no caso da Inquisição, não é possível entender a Revolução Industrial sem entender como o mundo era antes dela. Só para citar mais um exemplo de uso ideológico do anacronismo é a forma como a esquerda brasileira se refere aos "crimes da ditadura militar", ignorando completamente os crimes que vinham sendo cometidos pelos terroristas revolucionários e que foram, na verdade, aquilo que desencadeou a instauração do regime militar.
Esse texto é só um quebra-gelo, para introduzir ao assunto "Inquisição". Há ainda muitas informações que não foram incluídas para que o texto não ficasse ainda maior do que já ficou. Para comprovar a veracidade das informações que foram apresentadas aqui e para continuar a conhecer a verdadeira Inquisição, consulte a bibliografia abaixo.
- Diane Moczar, "Sete Mentiras sobre a Igreja Católica"
- Daniel-Rops, "A Igreja das Catedrais e das Cruzadas"
- Eric Voegelin, "Idade Média Tadia"
- Felipe Aquino, "Para Entender a Inquisição"
- Henry Kamen, "A Inquisição Espanhola"
- João Bernardino Gonzaga, ”A Inquisição em seu mundo”
- Rodney Stark, "A Vitória da Razão"
- Regine Pernoud, "Luz Sobre a Idade Média"
- Regine Pernoud, "O mito da Idade Média"
- Ronald L. Numbers, "Galileu na Prisão"
- Thomas Woods, "Como a Igreja Católica Construiu a Civilização Ocidental"
às 01:34
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