É de aconselhar que se leia primeiro toda a Liturgia da Palavra.
28º DOMINGO COMUM - ANO B !
"Bom Mestre que hei-de fazer
para alcançar a Vida Eterna" ?
A Liturgia da Palavra deste 28º Domingo Comum – B, coloca-nos perante dois conceitos aparentemente contraditórios, o da riqueza e da disponibilidade de bens, em favor dos pobres num gesto de comprometimento e partilha.
Deus não tem preferências.
Todos os homens, independentemente da sua posição social, riqueza, religião ou cultura, são pertença do Seu Reino.
E são-no já aqui na terra.
Pelo que, sendo os pobres muitas vezes abandonados e esquecidos da sociedade, Ele se identificou com eles.
Aos ricos impôs-lhes uma justa distribuição de bens ; aos pobres, em espírito, chamou-os Bem-aventurados.
O caminho da salvação é o sofrimento e a cruz, a confiança inabalável em que os homens, tocados pelo Espírito de Deus, descobrirão para cada dia, o rumo certo da salvação comunitária, individual e universal.
A 1ª Leitura do Livro da Sabedoria, diz-nos que a verdadeira sabedoria, consiste na arte de se conduzir e governar os outros, e Salomão coloca-a acima de todas as riquezas.
Para além da compreensão dos acontecimentos, o sábio interpreta-os e relaciona-os uns com os outros, à luz de Deus.
- "Implorei e veio até mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos ceptros e aos tronos, e, comparada com ela, considerei a riqueza como nada". (1ª Leitura).
Em defesa dos interesses do povo, Salomão implora do Senhor, portanto, a sabedoria.
Cada um no seu trabalho, isoladamente ou em grupo, deve tentar descobrir o que o Senhor e os restantes membros do grupo esperam dele.
A ciência de Deus é fruto da Sua misericórdia que devemos receber com alegria, como proclama o Salmo Responsorial :
- "Enchei-nos da Vossa misericórdia, será ela a nossa alegria".
Na 2º Leitura S. Paulo diz aos Hebreus e hoje a cada um de nós, que a Palavra de Deus interpela o homem.
Não é droga que adormeça e não é alienante.
Pelo contrário desperta nas consciências as motivações mais profundas em ordem a uma recta condução.
- "É capaz de distinguir as intenções e os pensamentos do coração". (2ª Leitura).
Inquieta e obriga o homem a desinstalar-se, a mudar o rumo da sua vida.
A Palavra de Deus é viva e actuante – é Jesus Cristo, o Verbo Incarnado.
O Evangelho é de S. Marcos e apresenta-nos o diálogo de Jesus com o homem que de joelhos lhe perguntou .
- "Bom Mestre, que hei-de fazer para ter como herança a vida eterna ?" (Evangelho).
Era um homem com boas intenções e que cumpria os preceitos principais, mas, porque era rico e apegado à sua riqueza, tinha dificuldade de se desapegar e não se decidiu a seguir os conselhos de Jesus, para vender o que tinha e dar tudo aos pobres.
Daí a contradição aparente de que a riqueza, na sua maioria, não deixe livre a disponibilidade em favor dos pobres.
- «Quão difícil é, para os ricos, entrar no Reino dos Céus».
É que o apego aos bens do mundo gera a avareza e a avareza pode levar a praticar a injustiça. Em todo o caso, muito podem fazer pelos os pobres, os que possuem mais riquezas, ainda que não sejam capazes de dar tudo, e para esses, talvez seja possível ainda alcançar o Reino de Deus.
A riqueza, por si mesma, não é um mal; mas pode tornar-se um mal quando o homem coloca nela toda a sua segurança e faz dela o seu deus.
Pode certamente ser um símbolo de muitas "iniquidades"; mas é principalmente símbolo do trabalho humano que é por ela retribuído, e das esperanças humanas que ela pode realizar.
A riqueza, unida ao progresso pessoal do homem é, de certo ponto de vista, o símbolo actual e eficaz dos esforços passados e das esperanças futuras.
A riqueza adquirida honesta e legalmente, é garantia de melhor vida e condição favorável a uma partilha de fraternidade, que agrada a Deus e conforta o próximo.
Assim, a riqueza, torna-se um meio agradávei para se poder fazer o bem e, com espírito de caridade praticar as obras de misericórdia.
Na realidade, a pobreza, proposta também aos mais afortunados, não significa "dar tudo e ficar mesmo sem nada", mas comprometer-se com os menos afortunados, especialmente com os que não têm capacidade de se organizar, de se defender e de se libertar de situações degradantes da dignidade humana.
Comprometer-se cristãmente é partilhar as próprias riquezas segundo as suas possibilidades humanas e sociais e esforçar-se pela prática das condições de trabalho e do justo salário.
- "Os cristãos que participam activamente no actual desenvolvimento económico-social e lutam pela justiça e pela caridade, estejam convencidos de que podem contribuir muito para o bem-estar da humanidade e a paz do mundo. Nestas actividades, individual ou colectivamente, brilhem pelo exemplo. Tendo adquirido a competência e a experiência absolutamente indispensáveis no meio das actividades terrestres, observem a hierarquia dos valores, fiéis a Cristo e ao Evangelho, de tal modo que toda a sua vida, individual e social, seja impregnada do espírito das bem-aventuranças, destacando-se a pobreza".(GS 72).
A nossa grande preocupação deve ser a de que os bens materiais não sejam a causa da nossa ruína espiritual, mas nos ajudem a viver, segundo o plano da História da Salvação.
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Diz o Catecismo da Igreja Católica :
2052. - «Mestre, que hei-de fazer de bom para ter a vida eterna?». Ao jovem que Lhe fez esta pergunta, Jesus responde, primeiro, invocando a necessidade de reconhecer a Deus como o «único Bom», o Bem por excelência e a fonte de todo o bem. Depois declara-lhe : «Se queres entrar na vida observa os mandamentos». E cita ao seu interlocutor os mandamentos que dizem respeito ao amor do próximo : «Não matarás ; não cometerás adultério ; não furtarás ; não levantarás falso testemunho ; honra pai e mãe». Finalmente, reúne estes mandamentos numa fórmula positiva : «Amarás ao teu próximo como a ti mesmo»(Mt.19,16-19).
2053. – A esta primeira resposta vem juntar-se uma segunda : «Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá-os aos pobres, e terás um tesoiro nos Céus. Vem, depois, e segue-Me».(Mt.19,21). Esta resposta não anula a primeira. Seguir Jesus implica cumprir os mandamentos. A Lei não é abolida ; o homem é que é convidado a reencontrá-la na pessoa do seu mestre, em Quem ele encontra o seu perfeito cumprimento. Nos três Evangelhos Sinópticos, o apelo de Jesus dirigido ao jovem rico – de O seguir na obediência de discípulo e na observância dos preceitos - é acompanhado do apelo à pobreza e à castidade. Os conselhos evangélicos são inseparáveis dos mandamentos.
Vende tudo o que tens...e depois segue-Me. Retirou-se entristecido, pois tinha bens...
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