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    quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

    Aos participantes da Plenária do Pontifício Conselho "Cor Unum" (19 de janeiro de 2013)

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    Aos participantes da Plenária do Pontifício Conselho "Cor Unum" (19 de janeiro de 2013)

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    Aos participantes da Plenária do Pontifício Conselho "Cor Unum" (19 de janeiro de 2013)


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    DISCURSO DO PAPA BENTO XVI
    AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA PLENÁRIA DO PONTIFÍCIO CONSELHO COR UNUM

    Sala do Consitório
    Sábado, 19 de Janeiro de 2013


    Queridos amigos
    É com carinho e alegria que vos dou as boas-vindas, por ocasião da Assembleia Plenária do Pontifício Conselho Cor Unum. Agradeço ao Presidente, Cardeal Robert Sarah, as suas palavras e dirijo a minha saudação cordial a cada um de vós, estendendo-a idealmente a todos aqueles que trabalham ao serviço da caridade da Igreja. Com o recente Motu proprioIntima Ecclesiae natura desejei reiterar o sentido eclesial da vossa actividade. O vosso testemunho pode abrir a porta da fé a numerosas pessoas que procuram o amor de Cristo. Assim, durante este Ano da fé o tema «Caridade, nova ética e antropologia cristã», que vós enfrentais, reflecte o nexo urgente entre amor e verdade ou, se preferirmos, entre fé e caridade. Com efeito, todo o ethos cristão recebe o seu sentido da fé como «encontro» com o amor de Cristo, que oferece um novo horizonte e imprime à vida o rumo decisivo (cf. Encíclica Deus caritas est, 1). O amor cristão encontra fundamento e forma na fé. Encontrando Deus e experimentando o seu amor, aprendemos «a viver não mais para nós mesmos, mas para Ele e, com Ele, para os outros» (ibid., n. 33).
    A partir desta relação dinâmica entre fé e caridade, gostaria de meditar sobre um ponto, que eu definiria como a dimensão profética que a fé instila na caridade. Com efeito, a adesão crente ao Evangelho imprime à caridade a sua forma tipicamente cristã e constitui o seu princípio de discernimento. O cristão, de modo particular aquele que trabalha nos organismos de caridade, deve deixar-se orientar pelos princípios da fé, mediante a qual nós aderimos ao «ponto de vista de Deus», ao seu desígnio sobre nós (cf. EncíclicaCaritas in veritate, 1). Este novo olhar sobre o mundo e sobre o homem, oferecido pela fé, fornece também o critério correcto de avaliação das expressões de caridade, no contexto contemporâneo.
    Em cada época, quando o homem não procurou tal desígnio, permaneceu vítima de tentações culturais que acabaram por torná-lo escravo. Ao longo dos últimos séculos, as ideologias que exaltavam o culto da nação, da raça e da classe social revelaram-se verdadeiras idolatrias; e o mesmo podemos dizer acerca do capitalismo selvagem, com o seu culto do lucro, do qual derivaram crises, desigualdades e miséria. Hoje em dia, compartilha-se cada vez mais um sentir comum a propósito da dignidade inalienável de cada ser humano e da responsabilidade recíproca e interdependente em relação a ele; e isto em vantagem da verdadeira civilização, a civilização do amor. Por outro lado, infelizmente, também o nosso tempo conhece sombras que ofuscam o desígnio de Deus. Refiro-me acima de tudo a uma trágica redução antropológica, que volta a propor o antigo materialismo hedonista, mas ao qual se acrescenta um «prometeísmo tecnológico». Da união entre uma visão materialista do homem e o grande desenvolvimento da tecnologia sobressai uma antropologia no fundo ateia. Ela pressupõe que o homem se reduza a funções autónomas, a mente ao cérebro, e a história humana a um destino de auto-realização. Tudo isto, prescindindo de Deus, da dimensão propriamente espiritual e do horizonte ultraterreno. Na perspectiva de um homem desprovido da sua alma e portanto de uma relação pessoal com o Criador, aquilo que é possível do ponto de vista técnico torna-se moralmente lícito, todas as experiências são aceitáveis, todas as políticas demográficas permitidas, todas as manipulações legitimadas. Com efeito, a insídia mais temível desta corrente de pensamento é a absolutização do homem: o homem quer ser ab-solutus, isto é, desvinculado de qualquer laço e de qualquer constituição natural. Ele pretende ser independente e pensa que a felicidade se encontra unicamente na afirmação de si mesmo. «O homem contesta a sua própria natureza... Agora existe apenas o homem em abstracto, que em seguida escolhe para si, autonomamente, algo como sua natureza» (Discurso à Cúria romana, 21 de Dezembro de 2012). Trata-se de uma negação radical da criaturalidade e da filialidade do homem, que acaba numa solidão dramática.
    Por este motivo, a fé e o discernimento cristão sadio induzem-nos a prestar uma atenção profética a esta ética problemática e à mentalidade que lhe está subentendida. A justa colaboração com instâncias internacionais no campo do desenvolvimento e da promoção humana não deve fazer-nos fechar os olhos diante destas ideologias graves, e os Pastores da Igreja — a qual é «coluna e sustentáculo da verdade» (1 Tm 3, 15) — têm o dever de alertar contra estas derivas tanto os fiéis católicos como qualquer pessoa de boa vontade e de razão recta. Com efeito, trata-se de uma deriva negativa para o homem, não obstante se disfarce de bons sentimentos, no sinal de um progresso hipotético, ou de supostos direitos ou ainda de um presumível humanismo. Perante esta redução antropológica, que tarefa compete a cada cristão, e de modo particular a vós, que estais comprometidos em actividades caritativas e, portanto, em relação directa com muitos outros agentes sociais? Sem dúvida, temos que exercer uma vigilância crítica e, às vezes, recusar financiamentos e colaborações que, directa ou indirectamente, favorecem obras e programas em contraste com a antropologia cristã. Mas, positivamente, a Igreja está sempre comprometida em promover o homem segundo o desígnio de Deus, na sua dignidade integral, no respeito pela sua dúplice dimensão vertical e horizontal. Para isto tende também a obra de desenvolvimento dos organismos eclesiais. Com efeito, a visão cristã do homem constitui um grande sim à dignidade da pessoa, chamada à comunhão íntima com Deus, uma comunhão filial, humilde e confiante. O ser humano não é um indivíduo separado, nem um um elemento anónimo no meio da colectividade, mas sim uma pessoa singular e irrepetível, intrinsecamente ordenada para o relacionamento e para a socialidade. Por isso, a Igreja reitera o seu grande sim à dignidade e à beleza do matrimónio, como expressão de aliança fiel e fecunda entre um homem e uma mulher, e o seu não a filosofias como aquela do gender se motiva, pelo facto de que a reciprocidade entre masculino e feminino expressa a beleza da natureza desejada pelo Criador.
    Estimados amigos, agradeço-vos o compromisso em benefício do homem, na fidelidade à sua dignidade autêntica. Diante destes desafios epocais, nós sabemos que a resposta é o encontro com Cristo. Nele o homem pode realizar plenamente o seu bem pessoal e o bem comum. Encorajo-vos a prosseguir com espírito alegre e generoso enquanto, de coração, vos concedo a minha Bênção Apostólica.

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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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