FÉ SEM OBRAS
A EUCARISTIA E A ECLESIOLOGIA. (25)
Seguindo o ensinamento de S. Tomás de Aquino, a Eucaristia não é uma aproximação individualista a Deus em Cristo, mas uma Páscoa da Igreja.
Tal como todos os outros sacramentos, ela está enraizada na vida da Igreja.
Este é precisamente o valor importante da Eucaristia, a sua última aspiração, res tantum, é a unidade da Igreja.
Isto atinge a sua finalidade (negativamente), afastando a nossa inclinação para o pecado e (positivamente), dando-nos uma vida divina e eterna.
A imortalidade é-nos dada pelo Senhor Ressuscitado cujo corpo se tornou um "espírito vivificante" através da sua ressurreição.
Assim, com S. Tomás de Aquino, nós vimos a causa da nossa morte para o pecado na morte de Jesus, e a nossa divinização e ressurreição, causada pela ressurreição de Jesus.
Este ensinamento foi repetidamente apresentado igualmente pelos Padres do Oriente e do Ocidente, pelos Padres da Alexandria e da Antioquia, pelos Padres gregos e latinos.
Ele está no coração de toda a Tradição e tem sido renovado por toda a convergência ecuménica do tempo presente.
Neste contexto, a Eucaristia está no coração de toda a Igreja
A Eucaristia "faz" a Igreja porque ela aplica a salvação (soteriologia) de Cristo merecida pela sua paixão e morte no seu "primeiro momento da salvação", dando uma vida divina e eterna.
Neste "segundo momento", a comunhão com o Pai em Cristo e no Espírito Santo está no coração de toda a Redenção.
Através desta união com a Trindade em Cristo os membros da Igreja estão unidos uns aos outros (pelo Espírito) como membros do Corpo de Cristo.
Assim a Eucaristia torna-se o sinal da unidade.
Mas esta unidade não é apenas entre os cristãos vivos; é também uma unidade entre todos aqueles que antes viveram (e que vivem para sempre) em comunhão com os santos.
Na Lirurgia eucarística o céu e a terra estão unidos num hino universal de louvor e de acção de graças.
Na nossa cultura há uma certa dificuldade para apreciar a Liturgia, porque há uma certa dificuldade em apreciar a arte.
Para muitos, a arte é uma perda de tempo, e o mesmo se diga dos desportos, numa apreciação de valores em ordem ao bem comum.
Todavia as artes como os desportos são também importantes para o melhoramento do nosso mundo e das ciências. (Devemos dizer que os desportos – se não lhe derem uma importância exagerada – têm uma tarefa importante a desempenhar).
A música, a poesia e as artes têm uma missão purificadora, nem sempre devidamente apreciada.
Assim é também com a Liturgia; todavia há muito mais em relação à Liturgia do que à estética.
A Liturgia é o culto do povo e é tão necessária ao espírito humano como o canto para os pássaros e a vida ao ar livre para os animais.
Num mundo que está ego-centrado e voltado só para os valores materiais e apetitosos, o louvor e a adoração são uma perda de tempo.
Mas os Religiosos que vivem em contacto com a natureza, podem apreciar a ligação entre o louvor a Deus e a vivência no mundo dos homens, como uma respiração necessária.
Meditando sobre a Eucaristia nós podemos começar a compreender o mundo numa perspectiva de Deus, dum Deus que louvou o mundo e a todos nós desde toda a eternidade.
Foi por isso que Deus enviou Jesus que nos amou "até ao fim".
- "Antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a Sua hora de passar deste mundo para o Pai, Ele que amara os seus que estavam no mundo, levou até ao extremo o Seu amor por eles".(Jo.13,1).
Ele deixou-nos o memorial do Seu amor, para que nós saibamos quanto Ele nos amou e como nós devemos também amar os outros.
A Eucaristia é o hino do universo, é o Filho de Deus numa oração eterna ao Pai em nosso nome e convidando a juntar-se a Ele toda a criação numa magnífica Sinfonia de Deus.
Nós temos a oportunidade de nos juntarmos em coro, ou simplesmente ignorar a música, mas não o podemos fazer isentos de uma final punição.
Nós fomos chamados, e recebemos talentos para um cântico de louvor, e havemos de ser chamados a dar contas do que fizemos com os nossos talentos.
Assim vamos compreendendo que não podemos ficar apenas abrigados à sombra da fé, mas que devemos traduzir em obras aquilo em que acreditamos.
Nascimento
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