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As sete lições da primeira viagem do Papa Francisco
Enviado por: "Vicente" luviga@gmail.com vicentegargiulo
Qui, 1 de Ago de 2013 8:57 am
http://www.ihu.unisinos. br/noticias/ 522376-as- sete-licoes- da-primeira- viagem-do- papa-francisco
Quinta, 01 de agosto de 2013
As sete lições da primeira viagem do Papa Francisco
Dado o carisma desse argentino, não havia muitas dúvidas sobre o sucesso
da primeira viagem do Papa Bergoglio, para a Jornada Mundial da
Juventude, mas, aos 76 anos, esse "jovem" papa -- cinco meses de
pontificado no dia 13 de agosto -- superou com sucesso essa prova.
A análise é do vaticanista Jean-Marie Guénois, do jornal Le Figaro, em
artigo publicado no sítio Vatican Insider, 29-07-2013. A tradução é de
Moisés Sbardelotto.
Eis o texto.
1) O "nascimento" e a decolagem de um pontificado
Para o Vaticano, a primeira viagem ao exterior do Papa Francisco foi um
sucesso para além de toda expectativa. Dado o carisma desse argentino,
não havia muitas dúvidas sobre o sucesso, mas, aos 76 anos, esse "jovem"
papa -- cinco meses de pontificado no dia 13 de agosto -- superou com
sucesso essa prova, resultado nada evidente para um neófito, como foi o
caso do tímido Bento XVI durante a Jornada Mundial da Juventude de Colônia.
Foi para ele, além disso, um duplo exercício: uma primeira viagem ao seu
continente de origem e uma Jornada Mundial da Juventude bastante
turbulenta, durante a qual o papa teve que demonstrar a sua habilidade
com jovens que poderiam ser seus netos. Esse sucesso projeta o
pontificado de uma certa maneira em uma órbita internacional, que
anteriormente havia sido alcançada virtualmente, através das mídias, mas
que ainda não tinha sido testado pelo fogo da ação.
Aqueles que, dentro da Cúria Romana, não admitem os modos às vezes
rigorosos, muitas vezes obstinados, desse papa latino-americano, terão
que se curvar diante do verdadeira decolagem desse pontificado. Uma
espécie de nascimento que teve origem não tanto no dia 13 de março de
2013, da urna da Capela Sistina que continha os 115 votos cardinalícios,
mas sim, simbolicamente, desse semana ultralatina.
A cada hora ele vibrava como se fosse uma segunda eleição: os católicos
da América do Sul são 40% dos católicos de todo o mundo. E todos eles
apoiam verdadeiramente o "seu" papa.
2) Um programa e uma visão finalmente claros para a Igreja Católica
Pode até ser um truque de jesuíta, mas é preciso admitir que o Papa
Francisco conseguiu, até agora, trazer entusiasmo até mesmo fora da
Igreja, tranquilizando a ala progressista -- hoje em extinção e presente
apenas na faixa etária entre os 60 e os 70 anos -- e jogando na
inquietação os católicos mais metódicos, clássicos, que haviam se
sentido tão confortáveis com Bento XVI, não apreciando minimamente as
provocações de Francisco acerca dos "cristãos engomados".
Agora as coisas foram esclarecidas, durante dois grandes discursos
proferidos um no sábado, junto à Igreja brasileira, e outro no domingo,
junto à Igreja latina.
Esses textos fundadores valem uma encíclica. Aqueles que tomarem o tempo
de lê-los, encontrarão exposta, finalmente, de maneira totalmente
articulada, a "política" eclesiástica do Papa Francisco que, com efeito,
nunca antes havia sido "legível".
A sua visão parecia confusa por causa da avalanche das frases de efeito,
muitas vezes ácidas, sobre o estado da Igreja e dos cristãos, tiradas
das suas homilias da manhã e dos seus discursos no Vaticano.
Os dois discursos proferidos no Rio, portanto, são fundadores.
Com cerca de uma dezena de páginas cada um, redigidos de próprio punho,
eles mostram como, por exemplo, a vontade da "sinodalidade" do papa --
termo eclesiástico que descreve um governo da Igreja menos centralizado,
baseado em um concílio de bispos ou cardeais em torno do papa -- não é a
expressão de um progressismo galopante, mas sim de um reequilíbrio de um
excesso de poder clericalizante da Cúria Romana durante esses últimos
dez anos.
Os católicos escrupulosos, na dúvida, poderão ficar tranquilos com a
plena catolicidade desse religioso ao ler essas suas palavras. Ele é um
jesuíta de destacada sensibilidade social, mas que ainda vem da velha
escola.
3) Confirmação da influência do papa e do carisma de Francisco
Uma coisa é pregar entre os braços reconfortantes do mundo fechado na
Praça de São Pedro; outra é, ao invés, tomar o microfone ao vivo do
prefeito da cidade para falar diante de três milhões de pessoas no Rio,
segundo a estimativa do domingo, para a missa de encerramento da Jornada
Mundial da Juventude. E, sobretudo, conseguir verdadeiramente fazer
passar a mensagem.
Embora seja novo para essas coisas, o Papa Francisco não demonstrou
nenhum tipo de insegurança ou hesitação particulares. Mostrou-se sempre
à vontade e feliz com esse contato direto com a multidão.
Aonde quer que tenha se dirigido, fosse encontro oficial, favela, igreja
ou diante dos milhares de jovens, pôde-se constatar o efeito do carisma
muito particular desse papa. A sua simplicidade e a sua vontade de
buscar absolutamente o contato com todos conquista os corações: homem ou
mulher na rua, ou, como no sábado de manhã na Catedral do Rio, bispos
comovidos até as lágrimas...
Nele o Vaticano, que no início deste 2013, buscava "gerir" os seus
problemas de comunicação, encontrou um poderoso vetor midiático. Esse
carisma totalmente genuíno, objetivamente confirmado por essa viagem, é
acompanhado por uma influência cada vez maior. A empresa Burson
Marsteller acaba de publicar um estudo realizado sobre a conta do
Twitter de 505 chefes de Estado, de governo e de outros ministros de 153
países. O presidente Obama continua sendo o líder mundial mais seguido
no Twitter, com mais de 33 milhões de seguidores. Mas Papa Francisco,
com mais de 7 milhões de seguidores, ainda tem uma grande influência.
As mensagens de Francisco são, de fato, quatro vezes mais "retuitados",
ou seja, difundidos, do que os de Obama.
4) Nenhum ataque contra a sexualidade, mas sim a vontade de construir
uma Igreja que "reaquece o coração"
Essa viagem, com o seu público variado, mostrou o grande senso pastoral
desse arcebispo que se tornou papa, mas que sempre quis continuar
estando o mais próximo possível das paróquias.
São muitos os exemplos que podem ser citados para as suas intervenções.
Ele fala muitas vezes como um simples sacerdote, discute os fundamentos
de um catolicismo do povo, reza o Ângelus, confessa, celebra a adoração
eucarística, dá esmolas...
Não só em nível teórico, mas sim como meio concreto para alimentar uma
vida espiritual.
Ao contrário de Bento XVI, que era um verdadeiro mestre da teologia, uma
espécie de instituto politécnico da mensagem católica, imbatível nas
respostas e um verdadeiro ponto de referência para muitos intelectuais
católicos, Francisco é um engenheiro químico que passou pelo severo
crivo da formação jesuíta. É muito mais concreto. Ele quer continuar no
centro da atividade.
Ele tem o ânimo do engenheiro desenvolvedor, com uma competência inata
para o "marketing". Sempre busca, influenciado pela sua cultura muito
americana, a melhor maneira de apresentar a Igreja e Cristo; sem
concessões sobre os dogmas, mas sem nunca colocar a carroça na frente
dos bois. Ele está ansioso para ir para as margens, para as periferias.
Não para "recolher pessoas", mas porque esse homem de Deus está
convencido de que a missão da Igreja -- como afirmou com extrema força
no sábado e no domingo -- é principalmente junto daqueles que
abandonaram a Igreja ou que nunca entraram nela. Assim se explica a
prioridade dada no sábado, com os bispos brasileiros, ao discurso de uma
Igreja que saiba "reaquecer" o coração do ser humano.
A questão moral da sexualidade, tantas vezes criticada, não foi
levantada, ao invés, nem sequer uma vez pelo Papa Francisco durante esta
Jornada Mundial da Juventude. Não que ela seja secundária na sua mente,
mas não é, segundo ele, uma prioridade, pois impediria que se
compreendesse a verdadeira essência da mensagem cristã.
Essa é uma reflexão realmente profunda.
5) Essa viagem e a difícil gestão da mudança na Igreja
Essa primeira viagem ao exterior do Papa Francisco se desenvolveu em um
momento de grande tensão no Vaticano. Antes da partida, houve o
escândalo envolvendo o monsenhor Battista Ricca, um dos homens de
confiança do papa, escolhido para pilotar a reforma do banco do
Vaticano. Foi dado a conhecer o seu passado homossexual. Estranhamente,
as informações relacionadas a esse bispo nunca haviam sido levadas à
atenção do papa.
À espera da verificação, essas informações, no entanto, chegaram à
imprensa. E não por acaso. Quis-se deliberadamente visar a enfraquecer o
impulso da reforma do banco do Vaticano desejada pelo papa, mas também a
reforma desejada da Cúria Romana e programada para este ano, que parece
que será muito drástica.
Atmosfera... há fortes resistências internas no Vaticano, que se opõem
de forma passiva às ações do bispo de Roma. Mas Papa Francisco está
trabalhando incansavelmente nesse caso. No Rio, ele consagrou parte do
seu dia de terça-feira, teoricamente dedicado ao seu repouso, a essa
questão, na companhia do cardeal Maradiaga, de Honduras, encarregado de
coordenar a comissão dos oito cardeais de quatro partes diferentes do
mundo que estão trabalhando nessa minirrevolução.
Todos os líderes de empresa sabem que liderar uma mudança é certamente
uma das ações mais delicadas exigidas pelo marketing. Com mais razão em
uma instituição como o Vaticano, onde o protocolo e os hábitos estão
cimentados em uma cultura quase "irreformável" .
Francisco se encontra enfrentando esse problema, mas os reticentes do
Vaticano terão que fazer as contas com o sucesso desse movimento, que
vai reforçar ainda mais a sua autoridade depois de ter superado essas
provas.
6) A fórmula JMJ está confirmada, mas, para a Igreja, o desafio com os
jovens ainda não está concluído
Houve dúvidas, no início do pontificado de Bento XVI, sobre a
continuidade da JMJ, que havia sido criada sob medida por e para João
Paulo II. Bento XVI, o místico, tinha acrescentado alguns toques
pessoais seus, tornando, por exemplo, a noite do sábado à noite muito
mais espiritual, insistindo na adoração eucarística.
Alguns se perguntavam, porém, que futuro poderia ter a longo prazo esses
imensos encontros internacionais, dos quais o Rio é a 28ª edição. Depois
dessa edição de 2013 e da evidente adequação do Papa Francisco para esse
tipo de encontros, a próxima JMJ será realizada em 2016, na Cracóvia,
Polônia. E haverá outras a seguir.
As JMJs não resolvem definitivamente, porém, o problema que diz respeito
à maior parte dos jovens e a Igreja Católica. O exemplo mais evidente é
o Brasil, onde os fiéis da Igreja Católica envelhecem, enquanto os da
Igreja Evangélica estão cada vez mais jovens, como demonstra a "Marcha
para Jesus", que é organizada por eles todos os anos no Rio de Janeiro.
Por outro lado, os testemunhos absolutamente comoventes dos jovens
brasileiros durante a vigília do sábado à noite mostram como é
considerável o potencial da Igreja Católica quando um papa -- como fez
João Paulo II, de forma espetacular -- consegue conquistar o entusiasmo
dos jovens.
Dito isto, o campo para se trabalhar é vasto. O ex-cardeal Bergoglio
sabe disso muito bem, melhor do que qualquer um dos seus antecessores;
ele conhece a realidade concreta em que trabalha uma Igreja local às
presas com o mundo atual.
É justamente a partir dessa sua compreensão que brota a energia que ele
emprega para tocar os corações.
7) Uma energia pessoal incrível e o desprezo pela sua segurança
Durante toda a viagem, com os seus 76 anos, o Papa Francisco provou
possuir uma energia fora do comum.
Sempre intelectualmente muito presente, muito móvel fisicamente, de
humor excelente, sério quando necessário, mas brincalhão todas as vezes
em que a oportunidade se apresentava, ele surpreendeu a sua comitiva
pela sua força e pela sua "inexaurível energia" .
Todo o mundo agora se pergunta se ele será capaz de manter este ritmo...
Ele anunciou que não se concederá férias, para passar o verão
trabalhando no Vaticano. Nenhum dos seus predecessores jamais tinha
feito isso.
No Santuário de Aparecida, marcou um encontro com os fiéis em 2017,
quando completará 80 anos.
Alguns se perguntam se Francisco, assim como Bento XVI, também decidirá
renunciar ao seu cargo, quando não tiver mais as forças necessárias para
levá-lo adiante. Esse homem, eleito pelos seus pares cardeais para, é
preciso admitir, fazer o "trabalho sujo" da reforma da Cúria, realmente
não tem nada a perder e nada a provar.
Assim, ele não poupa as suas energias, levando-se em conta a sua idade,
e sabe que o seu tempo é limitado.
Pudemos verificar essa sua atitude de dom total de si mesmo, sem medida
nem precaução, durante a viagem, com relação à questão da sua segurança
pessoal. Na segunda-feira à noite, na sua chegada, um erro no percurso
em uma rua muito movimentada do Rio ameaçou acabar muito mal para ele.
Especialmente porque ele se movia com um papamóvel leve ou com um
pequeno Fiat Idea de série, fabricado no Brasil.
O Vaticano não quis constranger o governo brasileiro, responsável por
essa inédita e incrível gafe, mas a questão da segurança passiva do papa
foi levantada, visto que esse carro tão modesto e baixo não assegurava
nenhuma segurança. Durante todo o resto da semana, o papa rejeitou a
utilização de uma viatura de segurança.
Na segunda-feira, no momento auge do ataque da multidão, Francisco
ordenou que os vidros permanecessem abaixados, para poder melhor
cumprimentar as pessoas...
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