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Blog Carmadélio
Postado em 6 de outubro de 2013 por Carmadélio
- Doutrinação e demonização
O marxismo e suas variações constituem as principais ferramentas conceituais que os alunos brasileiros aprendem nas escolas de todo o país. O domínio cultural é tão expressivo que mesmo os professores não identificados com essa corrente ideológica –e até aqueles que lhe são contrários– acabam, sem perceber, utilizando interpretações tributárias dela.
Quando o ferramental marxista não dá conta de uma questão, quando dados questionam ou refutam a tese geral, a questão e os dados simplesmente desaparecem. E é por isso que muitos autores são desconhecidos no Brasil.
Nada pode romper a harmoniosa narrativa maniqueísta. Assim, a velha luta do bem contra o mal ganha novas roupagens: o país explorador e o explorado, o patrão e o trabalhador, o rico e o pobre, o agronegócio e a agricultura familiar.
Nessa narrativa, o produtor rural é apresentado fundamentalmente como um latifundiário que explora os trabalhadores –em alguns casos em regime de escravidão– e que produz alimentos para exportação deixando o povo passar fome.
O pequeno agricultor, chamado de campesino quando visto com bons olhos, é apenas uma vítima em potencial, dizem, pois logo venderá sua propriedade para o cultivo da monocultura.
Com a causa ambiental absorvida pelo marxismo cultural, o inimigo do presente também inviabiliza o futuro. O agricultor é a versão rural da elite urbana.
Essa imagem não aparece de modo claro, direto, mas emerge do emaranhado de afirmações, insinuações e lacunas que devem ser preenchidas pelos alunos.
Se o estudante procurar “MST” no Brasil Escola, um dos mais famosos sites de conteúdo educacional, ele encontrará o seguinte trecho em um artigo: “E o que dizer da bancada ruralista no Congresso, lutando com unhas e dentes para defender seus afilhados? Por acaso este não é um comportamento antiético e imoral, vindo de que vem?”.
O site Brasil Escola figura entre os 300 mais acessados no Brasil, de acordo com a Alexa (serviço de medição de acessos).
A absurda frase do Brasil Escola não é exceção. Na coleção de livros didáticos “Nova História Crítica”, a mais vendida do país –só o MEC comprou mais de 10 milhões de livros–, o autor Mario Schmidt escreveu o seguinte: “Desde a colonização, quase todas as terras estão nas mãos de uma minoria de latifundiários, latifúndio-monocultor e escravista… Os latifundiários reagem com brutalidade às invasões. Contratam capangas que em várias ocasiões já perderam o controle e mandaram bala nos sem-terra”.
O geógrafo e professor José William Vesentini escreveu que “a produtividade agrícola só aumenta nas culturas de exportação, ocasionando fome”. Tal frase contraria fatos e dados elementares, mas é a síntese do autor de “Brasil Sociedade e Espaço”, o renomado livro didático de geografia.
Vesentini argumenta que a modernização da agricultura só ocorre em setores exportadores, o que, a seu ver, diminui a produção dos principais itens que compõem a alimentação dos brasileiros como feijão, arroz, milho, batata e mandioca. O autor entende que disso surgiria o seguinte paradoxo: o Brasil vive abundância produtiva e fome quase generalizada. Consequência, segundo o autor, da concentração fundiária.
Infelizmente Vesentini e Schmidt retratam, com precisão, um conjunto de ideias dominante que aparece, inclusive, no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que avalia e direciona os alunas.
Em uma questão do Enem, por exemplo, o estudante deveria interpretar a “fala” de um “ruralista” imaginado pelo proponente: “A minha propriedade foi conseguida com muito sacrifício pelos meus antepassados. Não admito invasão. Essa gente não sabe de nada. Estão sendo manipulados pelos comunistas. Minha resposta será à bala”. Mais claro impossível.
Eis a mentalidade que está sendo gestada no país, inculcando preconceito e ignorância nos nossos jovens. E tudo com dinheiro público, dos contribuintes. É essa a educação que queremos?
Autor: Kátia Abreu, colunista da Folha de São Paulo
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