Nome: L.
Religião: católico
Estado: BA – Bahia

Corpo da mensagem:

Paz de Cristo!
Minha dúvida é sobre os evangelhos. Sobre autenticidade,veracidade, integridade…Parece que os "grandes nomes" dos estudos bíblicos hoje são protestantes, e me parece que a maioria deles defendem "Idéias" contrarias ao ensinamentos da Igreja referentes a: autenticidade, veracidade e integridade dos evangelhos…Por que tantos "especialistas"são contra o ensino tradicional da Igreja? e do lado católico, quem são os "grandes" especialistas?

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REPOSTA

Prezado Lucas, primeiramente gostaríamos de lhe agradecer pela confiança depositada em nosso Apostolado para a elucidação deste seu questionamento e de também pedirmos perdão pela demora do envio do mesmo, pedimos vossa compreensão feito que recebemos várias perguntas ao longo de nossos serviços. Bom meu caro colega, sua dúvida é bastante interessante e iremos discorrê-la ao longo deste esclarecimento.

CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA

"A Igreja defende firmemente que os quatro Evangelhos, cuja historicidade afirma sem exitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a eterna salvação deles, até ao dia que foi elevado" (§ 126).

SANTO AGOSTINHO

"Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você."

CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA DEI VERBUM, SOBRE A REVELAÇÃO DIVINA

"A santa mãe Igreja firme e constantemente creu e crê que os quatro mencionados Evangelhos, cuja historicidade afirma sem hesitação, transmitem fielmente aquilo que Jesus, Filho de Deus, ao viver entre os homens, realmente fez e ensinou para a salvação deles, até o dia em que foi elevado" (§ 19)

Caro Lucas como o assunto é bastante extenso iremos nos ater ao mais específico de sua dúvida correndo o risco de deixar algumas outras informações (que não irão interferir diretamente na integridade e veracidade que iremos passar) pelo fato de termos que resumir ao máximo para seu entendimento.

1. Autenticidade, Veracidade e Integralidade dos Evangelhos

Como sabemos, o Novo Testamento é composto de 27 breves escritos gregos . Chama,os de "Evangelhos"  a quatro deles, porque cada um narra o evangelho, isto é, as Boas Novas de que Deus se revelou por meio de Nosso Senhor Jesus Cristo para a Redenção da humanidade. Esses quatro documentos relatam os ditos e feitos de Cristo, mas dificilmente podem ser designados como biografias no sentido moderno do termo.

Os três primeiros evangelhos (aqueles de acordo com Mateus, Marcos e Lucas) são designados de "Evangelhos sinóticos", em virtude de certos elementos comuns que os unificam. Dos vinte e sete livros, interessa-nos sobretudo os cinco primeiros (juntando com os três já mencionados o Evangelho de São João e também Atos dos Apóstolos) que foram produzidos em forma de narrativa, ainda que os demais, em particular as epístolas paulinas, sejam também importantes para este propósito, pois há neles alusões históricas ou porque, em certa medida, ajudam a esclarecer os evangelhos e Atos.

1.1 As Datas históricas

Vamos tratar disto processualmente para que o entendimento seja de forma eficaz. Há um consenso de que a crucificação de Cristo tenha ocorrido em torno de 30 d.C. Conforme Lucas 3.1, o ministério de João Batista, que precedeu imediatamente ao início do ministério público de Jesus, data do "décimo quinto ano de Tibério César". Portanto, Tibério tornou-se Imperador em agosto de 14 d.C. e segundo o método de contagem corrente na Síria – provavelmente adotado por Lucas – o décimo quinto ano começou em setembro ou outubro de 27 d.C. O quarto evangelho menciona mais três páscoas desde então; de acordo com outras bases, a terceira dela seria a páscoa de 30 d.C., período em que provavelmente ocorreu a crucificação. Nessa época, também, sabemos através de outras fontes que Pilatos era Governador da Judéia; que Herodes Antipas era o Tetrarca da Galiléia; e que Caifás era o suo sacerdote judeu. O novo testamente estava completo, ou substancialmente completo, por volta do ano 100 d.C., sendo que a maioria dos livros já existia cerca de 20 a 40 anos dessa data. Em nosso País a maior parte dos estudiosos modernos desse assunto atribui as seguintes datas aproximadas para a produção dos quatro evangelhos: Mateus, c. 84-90; Marcos, c. 65; Lucas, c. 80-85; João, c. 90-100.

Em meados do século passado, uma influente escola de pensamento afirmava, com plena segurança, que alguns dos mais importantes livros do Novo Testamento, incluindo os evangelhos e Atos, não existiam antes da terceira década do segundo século da era cristã. Essa conclusão era mais produto de pressupostos filosóficos do que de evidências históricas. Já naquela época havia evidências históricas suficientes para demonstrar quão destituídas de fundamento eram essas teorias; evidências que inclusive Lightoot, Tischendorf, Tregelles e outros demonstraram em seus escritos. Hoje, porém, o número de evidências existentes é bem maior e mais conclusivo, de modo que não há como negar, de forma sensata, que a maioria dos documentos neotestamentários foi escrita no primeiro século, não importando quais sejam nossos pressupostos filosóficos.

Hoje existem aproximadamente 4.000 manuscritos gregos do Novo Testamento inteiros ou em parte. Os melhores e mais importantes desses manuscritos remontam a meados do quarto século (350 d.C.). Os dois mais importantes são: Códice Vaticano, o principal tesouro da Biblioteca do Vaticano em Roma; e o famoso Código Sinaítico, adquirido pelo Governo Britânico. Há na Inglaterra outros manuscritos antigos de grande importância: o Códice Alexandrino, também no Museu Britânico, datado do quinto século; e o Códice de Beza, na Biblioteca da Universidade de Cambridge, escrito no quinto ou sexto século, manuscrito que contém os evangelhos e Atos em grego e em latim. Vamos a alguns dados:

Conhecem-se cerca de 5236 manuscritos do texto original grego do Novo Testamento, comprovados como autênticos pelos especialistas. Estão assim distribuídos: 81 papiros; 266 códices maiúsculos; 2754 códices minúsculos e 2135 lecionários.

a) Os papiros são os mais antigos testemunhos o texto do Novo Testamento. Estão assim distribuídos pelo mundo:

Número

Conteúdo

Local

Data (Séc.)

p1

Evangelhos

Filadélfia(USA)

III

p2

Evangelhos

Florença

VI

p3

Evangelhos

Viena (Áustria)

VI/VII

p4

Evangelhos

Paris

III

p5

Evangelhos

Londres

III

p6

Evangelhos

Estrasburgo

IV

p7

Atos

Berlim

IV

b) Os códices unciais são verdadeiros livros de grande formato, escritos em caracteres maiúsculos (unciais). Uncial vem de "uncia", polegada em latim. Eis a relação de alguns deles:

Códice

Conteúdo

Local

Data (Séc.)

Aleph 01 (Sinaítico)

N.T.

Londres

IV

A 02 (Alexandrino)

N.T.

Londres

V

B 03 (Vaticano)

N.T. (menos Ap.)

Roma

IV

C 04 (Efrém rescrito)

N.T.

Paris

V

D 05 (Beza)

Evangelhos

Atos

Cambridge

VI

D 06 (Claromantono)

Paulo

Paris

VI

Talvez fosse necessário – para apreciarmos melhor a riqueza do Novo Testamento em matéria de evidência manuscritológica – comparar seus manuscritos com o material textual de outros escritos antigos. Por exemplo, existem vários manuscritos da obra De Bello Gallico, de César (escrito entre 58 e 50 a.C.), mas apenas nove ou dez dentre eles estão em bom estado, e o mais antigo data de cerca de 900 anos após a era de César. Dos 142 livros da História Romana, de Lívio (59 a.C. a 17 d.C.), sobrevivem apenas 35. Dentre eles, conhecemos não mais que vinte manuscritos razoavelmente importantes e apenas um, que contém meros fragmentos dos Livros III-VI, e que é de data tão antiga quanto o quarto século. Dos quatorze livros de Histórias, de Tácito (c. 100 d.C.), restam apenas quatro e meio; dos dezesseis livros de seus Anais, restam dez completos e dois em fragmentos. O texto dessas partes remanescentes destas duas grandes duas obras históricas depende inteiramente de dois manuscritos, um do século IX e outra do século XI. Os manuscritos subsistentes das obras menores de Tácito (Dialogus de Oratoribus, Agricola, Germania) provém todos de um códice do décimo século. A História de Tucídides (c. 460-400 a.C.) chegou até nós a partir de oito manuscritos, o mais antigo deles data de c. 900 d.C., e de uns poucos fragmentos de papiro, datados por volta do começo da era cristã. O mesmo se dá com a História, de Heródoto (c. 480-425 a.C.). Entretanto, nenhum estudioso dos clássicos darias ouvidos à tese de que a autenticidade de Heródoto ou Tucídides é duvidosa pelo fato de seus manuscritos mais antigos, e que ainda são usados por nós, datarem de mais de 1300 anos após a escrita dos originais. Vamos a mais alguns dados especificado em relação à esse paralelo:

Escritor

Época do escritor

Tempo decorrido entre

o escritor e a primeira cópia de suas obras.

Virgílio

19 aC

350 anos

Tito Lívio

17 dC

500 anos

Horácio

8 aC

900 anos

Júlio César

44 aC

900 anos

Córnélio Nepos

32 aC

1 200 anos

Platão

347 aC

1 300 anos

Tucídides

395 aC

1 300 anos

Eurípedes

407 aC

1 600 anos

Quão diferente é porém, é a situação do Novo Testamento nesse aspecto! Além dos dois excelentes manuscritos do quarto século, já aludidos, e que são os mais antigos dos milhares hoje conhecidos, existem consideráveis fragmentos de porções de livros do Novo Testamento em papiros, e que datam de 100 a 200 anos antes. Os papiros Bíblicos de Chester Beatty, cuja a existência se fez pública em 1931, consistem de porções de onze códices em papiro, três dos quais tem a maioria dos escritos neotestamentários. Um deles contendo os quatro evangelhos e Atos como já vimos acima, que pertence à primeira metade do terceiro século, e junto com eles vários outros relatos que nesse paralelo ajudam a evidenciar a autenticidade, integralidade e veracidade dos Evangelhos.

1.2 O Testemunho dos Pais Apostólicos

Outro tipo de evidência está nos escritos dos Pais Apostólicos que escreveram entre 90 e 160 d.C. Em seus trabalhos encontramos evidências que demonstram sua familiaridade com a maioria dos livros do Novo Testamento. Em três dessas obras, escritas por volta de 100 d.C. – a "Epístola de Barnabé", talvez oriunda de Alexandria; o Didaquê ou "Ensino dos doze Apóstolos", produzido na Síria ou na Palestina; e a carta escrita à Igreja de Corinto pelo bispo Clemente de Roma, por volta do ano 96 d.C. – encontramos certas citações da tradição comum dos evangelhos sinóticos, de Atos, Romanos, 1Coríntios, Efésios, Tito, Hebreus e 1Pedro e possíveis citações de outros livros do Novo Testamento. Nas cartas que Inácio, bispo de Antioquia, escreveu durante a jornada para o martírio em Roma em 115 d.C., há citações razoavelmente identificáveis de Mateus, João, Romanos, 1 e 2Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, 1 e 2Timóteo, Tito, e possíveis alusões a Marcos, Lucas, Atos, Colossenses, 2Tessalonicenses, Filemon, Hebreus e 1Pedro. Vamos a alguns relatos:

- Evangelho de Mateus - No ano 130 o Bispo Pápias, de Hierápolis na Frígia, região da Ásia Menor, que foi uma das primeiras a ser evangelizada pelos Apóstolos, fala do Evangelho de São Mateus dizendo: "Mateus, por sua parte, pôs em ordem os dizeres na língua hebraica, e cada um depois os traduziu como pode" (Eusébio, História da Igreja III, 39,16);

- Outro testemunho importante sobre o Evangelho de Mateus é dado por Santo Irineu (†200), do segundo século. Ele foi discípulo do grande bispo S. Policarpo de Esmirna, que foi discípulo de S. João evangelista. S. Irineu na sua obra contra os hereges gnósticos, fala do Evangelho de Mateus, dizendo: "Mateus compôs o Evangelho para os hebreus na sua língua, enquanto Pedro e Paulo em Roma pregavam o Evangelho e fundavam a Igreja." (Adv. Haereses II, 1,1);

- Evangelho de São Marcos - É também o Bispo de Hierápolis, Pápias (†130) que dá o primeiro testemunho do Evangelho de Marcos, conforme escreve Eusébio: "Marcos, intérprete de Pedro, escreveu com exatidão, mas sem ordem, tudo aquilo que recordava das palavras e das ações do Senhor; não tinha ouvido nem seguido o Senhor, mas, mais tarde...., Pedro. Ora, como Pedro ensinava, adaptando-se às várias necessidades dos ouvintes, sem se preocupar em oferecer composição ordenada das sentenças do Senhor, Marcos não nos enganou escrevendo conforme recordava; tinha somente esta preocupação, nada negligenciar do que tinha ouvido, e nada dizer de falso" (Eusébio, História da Igreja, III, 39,15);

- Evangelho de São Lucas - O Prólogo do Evangelho de S. Lucas, usado comumente no século II, dava testemunho deste Evangelho, ao dizer: "Lucas foi sírio de Antioquia, de profissão médica, discípulos dos apóstolos, mais tarde seguiu Paulo até a confissão (martírio) deste, servindo irrepreensivelmente o Senhor. Nunca teve esposa nem filhos; com oitenta e quatro anos morreu na Bitínia, cheio do Espírito Santo. Já tendo sido escritos os evangelhos de Mateus, na Bitínia, e de Marcos, na Itália, impelido pelo Espírito Santo, redigiu este Evangelho nas regiões da Acaia, dando a saber logo no início que os outros Evangelhos já haviam sido escritos";

- Evangelho de São João – é Santo Ireneu (†202) que dá o seu testemunho: "Enfim, João, o discípulo do Senhor, o mesmo que reclinou sobre o seu peito, publicou também o Evangelho quando de sua estadia em Éfeso. Ora, todos esses homens legaram a seguinte doutrina: ... Quem não lhes dá assentimento despreza os que tiveram parte com o Senhor, despreza o próprio Senhor, despreza enfim o Pai; e assim se condena a si mesmo, pois resiste e se opõe à sua salvação – e é o que fazem todos os hereges". (Contra as heresias);

1.3 Os Racionalistas

As evidências comprovam toda a veracidade dos evangelhos. As leituras variantes que provocam qualquer dúvida é, de fato, marcadamente pequena, e entre os críticos textuais não afetam nenhum ponto importante, seja em relação a fatos históricos, seja em relação a questões de fé e prática. Vamos a alguns dos relatos:

- O intervalo, portanto, entre as datas de composição original e a mais antiga evidência existente é tão pequena que pode ser praticamente negligenciada, e o último fundamento para qualquer dúvida de que as escrituras nos tenham chegado às mãos substancialmente como foram escritas já caíram por terra. Tanto a autenticidade como a integralidade geral dos livros do Novo Testamento podem ser consideradas como definitivamente estabelecidas. Frederic Kenyon (The Bible and Archaeology, 1940, p. 288ss.);

- Renan, racionalista da França, na sua obra "Vie de Jesus":  "Em suma, admito como autênticos os quatro Evangelhos canônicos";

- Harnack, racionalista alemão, foi obrigado a afirmar: "O caráter absolutamente único dos Evangelhos é, hoje em dia, universalmente reconhecido pela crítica" (Jesus Cristo é Deus ? José Antonio de Laburu, ed. Loyola, pág. 55);

- Streeter, grande crítico inglês afirmou que: "Os Evangelhos são, pela análise crítica, os que detém a mais privilegiada posição que existe"( idem);

- Os mais exigentes críticos do século XIX, Hort e Westcott, foram obrigados a afirmar:  "As sete oitavas partes do conteúdo verbal do Novo Testamento não admitem dúvida alguma. A última parte consiste, preliminarmente, em modificações na ordem das palavras ou em variantes sem significação. De fato, as variantes que atingem a substância do texto são tão poucas, que podem ser avaliadas em menos da milésima parte do texto" (idem pág. 56);

- Finalmente os racionalistas tiveram que reconhecer a veracidade histórica, científica, dos Evangelhos: "Trabalhamos 50 anos febrilmente para extrair pedras da cantaria que sirvam de pedestal à Igreja Católica?" (ibidem);

Enfim, os inimigos da fé, quiseram destruir os Evangelhos, e acabaram reconhecendo-os como os Livros mais autênticos, segundo a própria crítica racionalista.

Com isso caro Lucas finalizamos tal elucidação que ainda teria muita informação a respeito, porém que ficaria muito mais longo. Os verdadeiros estudiosos não renegam tais estudos, pelo contrário sempre o autenticaram, o que acontece de contrário são por pessoas ignorantes que buscam viabilizar suas conveniências a superficialidades ilusórias. Ficamos a disposição para qualquer outra informação que possa ter ficado ainda obscuro, feito que o assunto é bastante extenso. Contando sempre com as orações, que Deus vos abençoe e a Santíssima Virgem Maria o proteja.

In corde Iesu et Mariae,
Ivanildo Oliveira .
Apostolado Spiritus Paraclitus