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    sábado, 14 de abril de 2012

    HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS NO RITO DE BEATIFICAÇÃO DE MADRE MARIA DO MONTE CARMELO

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    CONGREGAÇÃO PARA AS CAUSAS DOS SANTOS

    HOMILIA DO CARDEAL JOSÉ SARAIVA MARTINS
    NO RITO DE BEATIFICAÇÃO DE MADRE MARIA
    DO MONTE CARMELO

    • Antequera (Espanha), 6 de Maio de 2007


    • Excelentíssimos Senhores Bispos e Irmãos no sacerdócio,
    • Religiosas Franciscanas dos Sagrados Corações,
    • distintas Autoridades,
    • irmãs e irmãos em Nosso Senhor Jesus Cristo!

    Por encargo e delegação do Papa Bento XVI, tive a honra de tornar público o documento mediante o qual o Santo Padre declara Beata a Madre Carmen del Niño Jesús González Ramos e agora encontramo-nos reunidos nesta celebração eucarística para dar graças a Deus e partilhar a alegria pela beatificação.

    1. No Evangelho deste V domingo de Páscoa ouvimos: "Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como Eu vos amei, vós também vos deveis amar uns aos outros" (Jo 13, 34-35). São palavras de Jesus, pronunciadas aos seus discípulos depois de lhes ter lavado os pés na última ceia imediatamente antes da sua Paixão, que revivemos há um mês, na Quinta-Feira Santa.

    O Senhor fala de um novo mandamento. Que quer dizer novo? Não significa que até então era desconhecido. O próprio Jesus tinha recordado àquele chefe do povo que amar a Deus e ao próximo era o mandamento maior da Lei antiga (cf. Mc 12, 28-31). Então, qual é o sentido de novo? Encontramos a novidade em dois aspectos.

    Em primeiro lugar, porque Jesus Cristo assinala uma nova medida. Até então dissera: amarás ao próximo como a ti mesmo. Agora o Senhor indica que nos devemos amar como Ele nos amou. Ele amou a todos sem excepção, justos e pecadores, por todos os homens e por todas as mulheres deu a sua vida e morreu na Cruz. Perdoou até os que o haviam condenado injustamente e rezou por eles: "Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem" (Lc 23, 34). Devemos amar o próximo como Deus nos ama, com o amor que recebemos do próprio Deus, amor que fez de nós filhos seus (cf. Jo 3, 1).

    É também um mandamento novo e este é o segundo aspecto a que me referia porque o amor a Deus e ao próximo não é mais um mandamento, mas é o mandamento fundamental, o que resume e contém em si todos os outros.

    2. Na segunda leitura desta Santa Missa ouvimos as palavras de São João no Apocalipse: "vi um céu novo e uma nova terra". Deus realizou por si só a criação, mas precisa de nós para a nova criação, a civilização do amor da qual tantas vezes falaram os Papas recentes: uma civilização do amor na qual se respeita a vida desde a concepção até ao seu fim natural; uma civilização do amor na qual a família, fundada no matrimónio uno e indissolúvel, seja o lugar amável e luminoso querido pelo Senhor; uma civilização do amor que estimula à verdade e à justiça e impregna a sociedade, as suas instituições e as relações de todos os homens.

    A primeira leitura desta Santa Missa dos Actos dos Apóstolos narra-nos como São Paulo e São Barnabé, depois de terem percorrido várias regiões e cidades, regressam a Antioquia e reúnem os cristãos para os informar sobre "a missão que lhes tinha sido confiada... e para lhes contar o que Deus tinha feito através deles e como abrira aos gentios as portas da fé". A missão recebida levou São Paulo e São Barnabé a viajar incansavelmente para difundir a mensagem de Jesus Cristo, mas não seria suficiente se nos limitássemos a contemplar admirados o seu exemplo sem nos darmos conta de que também nós todos, sem excepção recebemos com o baptismo a missão não só de praticar pessoalmente o mandamento do amor, mas também de o propagar à nossa volta. Deus não nos pede que nos desloquemos do nosso ambiente nem que abandonemos o nosso trabalho, mas que cada um de nós, onde quer que nos encontremos, difundamos com o exemplo da nossa vida quotidiana e com as palavras o tesouro de amor que recebemos.

    3. Os textos sagrados mostraram-nos como o amor ao próximo deve ser a bússola da nossa vida. Esse ensinamento deve ser aplicado às circunstâncias em que nos encontramos habitualmente, porque é esse não podemos duvidar o âmbito concreto no qual a devemos realizar.
    Ao fazê-lo, devemos ter presente o modelo feito vida na nova Beata, Madre Carmen del Niño Jesús, porque ela, nos diversos momentos da sua existência na terra, amou a Deus e a todas as pessoas com o amor de Jesus Cristo.

    Desde os anos da sua infância e juventude a Beata Carmen pratica uma intensa vida de piedade. A fonte inesgotável da qual aprende a viver o mandamento novo é a Eucaristia. Aproxima-se diariamente para receber a Sagrada Comunhão, o que não era frequente na época. Nela radica a sua força. "O coração eucarístico de Jesus, cheio de amor no Sacrário" como se expressa o Beato Bispo González ensina-lhe a verdadeira entrega. Por isso ela pode afirmar: "Os sofrimentos desta vida parecem nada, comparados com a honra de poder receber diariamente Jesus Sacramentado".
    Amor a Deus e amor ao próximo são o âmbito da sua vida real. "Ninguém leva tão a sério a vida real como o santo" (Romano Guardini, "O Senhor", VI, IX).

    E ao crescer nela o amor a Jesus e a sua imitação nas diversas circunstâncias da vida, compreendeu a missão que Deus lhe confiava: aproximar de Jesus as almas que Ele colocou no seu caminho, contar as maravilhas do Senhor "que tanto nos ama", ensinar a descobri-lo e a amá-lo. E, ao mesmo tempo, enxugar as lágrimas dos pobres e enfermos dando-lhes ajuda e conforto; ocupando-se da educação das crianças e jovens, do cuidado dos enfermos e idosos, das jovens operárias, dos menores necessitados de cuidados.

    Juntamente com a Eucaristia, os Mistérios de Belém e o Calvário iluminam o caminho espiritual da nova Beata e marcam a sua entrega aos irmãos.

    A contemplação da pobreza e humildade do Divino Nascimento, ensina-a a fazer-se pequena, a não procurar grandezas materiais, a acolher com amor as crianças, principalmente as pobres, a fazer-lhes todo o bem que pode. "Vede nas crianças a presença do Menino Jesus", diz às suas irmãs.

    A Paixão do Senhor, a sua Morte redentora, é também uma força muito viva na Madre Carmen del Niño Jesús. A entrega suprema por amor da força para superar os longos e difíceis anos do seu matrimónio, e também os sofrimentos que teve que suportar como fundadora. Quando ela afirma que "a vida do Calvário é a mais segura e proveitosa para a alma", experimentou como o amor a Jesus Cristo, que sofre e morre para nos salvar, dá sentido ao silêncio e à paciência nas acusações e calúnias, ao perdão generoso, à doação de si, à docilidade constante à vontade de Deus.

    4. O Senhor elegeu Madre Carmen como instrumento para que fosse reflexo da habitação de Deus entre os homens, para enxugar as lágrimas, diminuir o pranto, confortar no sofrimento. Pelo espírito franciscano dispô-la a ser protadora de Paz e de Bem; pela devoção ao Coração de Jesus manso e humilde, estimulou-a a "manifestar a todos o amor que Deus nos tem" (cf. Constituições, 5); no Coração Imaculado de Maria ensinou-lhe "a atitude diante de Deus e da vida" (Ibid., 6). E inspirou-lhe a fundação de um Instituto religioso para que a sua missão continuasse no mundo além dos seus anos terrenos.

    Esta Obra, a Congregação das Irmãs Franciscanas dos Sagrados Corações, completa no próximo dia 8, depois de amanhã, 123 anos de existência. Nasceu em Maio, o "mês de Maria", a mais perfeita discípula de Jesus, a que melhor nos ensina "a conhecê-lo e a amá-lo, para podermos também nós tornar-nos capazes de verdadeiro amor e de ser fontes de água viva no meio de um mundo sequioso" (Bento XVI, Deus caritas est, 42). Também em Maio, esta terra venera com fervor Cristo Crucificado com o título de "Senhor da Saúde e das Águas".

    Há 123 anos esta cidade de Antequera recebe a bênção que Deus envia através da Madre Carmen e pode contar as obras que o Senhor faz por meio da Congregação em diversas regiões da Espanha e em vários países da América: República Dominicana, Nicarágua, Porto Rico, Uruguai e Venezuela.

    Sem dúvida "à vida dos Santos, não pertence somente a sua biografia terrena, mas também o seu viver e agir em Deus depois da morte. Nos Santos, torna-se óbvio como quem caminha para Deus não se afasta dos homens, antes pelo contrário torna-se-lhes verdadeiramente vizinho" (Ibid.).

    A Madre Carmen repetia: "Bendito seja Deus, que tanto nos ama", no sofrimento e na alegria. E a sua alma não queria ficar com esse tesouro só para ela. Por isso exclamava: "Quando olho para o céu, aumentam os meus desejos de ir pelo mundo fora ensinar as almas a conhecer e a amar Deus".

    Hoje, quem recebeu a influência do anseio da Madre Carmen, alegra-se por poder celebrar as obras grandes que Deus realizou por meio dela. Alegram-se ao experimentar que "não há nada mais formoso do que ter sido alcançado, surpreendido pelo Evangelho, por Cristo; nada há de mais bom do que conhecê-lo e comunicar ao próximo a amizade com ele" (Bento XVI, Missa de início de Pontificado (S.C. 84).

    A Madre Carmen levou a sério o amor de Deus e a missão para a qual Ele a enviou, porque obedeceu ao mandamento "Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei", o Senhor quis mostrar que é "dos seus", e concedeu muitas graças pela sua intercessão, entre elas a cura milagrosa de uma Irmã. Por isso, a nossa Santa Mãe Igreja no-la apresenta como modelo e nos oferece hoje a alegria desta solene Cerimónia Eucarística de Beatificação.

    A sua santidade seja exemplo para a nossa vida.




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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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