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    quinta-feira, 5 de abril de 2012

    O Discurso de Brizola no comício do Largo da Prefeitura de Porto Alegre (1º de abril de 1964) durante o golpe do dia da mentira

    Bira e as Safadezas…

    Putarias, meditações, reinas e narrativas de um anarquista heterodoxo

    Arquivo da categoria: Crônicas políticas

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    Do destino e das circunstâncias…

    Estou chegando em uma fase em que o DDA parece estar sendo qualificado pelo "mal do alemão" (não o do camarada Valdir, mas do Alzheimer). Além de não lembrar às 4 h da tarde (em pleno e "frenético" expediente forense) do pedido singelo que a mulher fez às 7 h 30 min da manhã (do tipo: Bira, liga pro médico tal e marca uma consulta), sou capaz de cantarolar o mais surrado samba dos anos 1970 (do estilo "Dinheiro, pra que dinheiro"?) como se fosse inspiração musical inédita, com letra totalmente diversa, me achando um gênio!

    O que talvez justifique (assim mesmo, sem colocar o "talvez" entre vírgulas que, no meu caso, são completamente desnecessárias para o bom entendimento do texto) a minha ausência absoluta, nos últimos meses, deste blog que, por algum tempo, (opa! lembrei das vírgulas) foi o élan absoluto dos meus dias, assim como o era, lá pelos meus quinze anos, o meu diário.

    E, neste estado meio fora do mundo mentalmente organizado (de que, fisicamente, o zumbi aqui continua cumprindo fielmente, apesar da rebeldia recôndita e indômita, os seus deveres "familiares" e "profissionais"), volta e meia me vejo presa da mais cretina das reflexões (expressão que pra alguns coitados "lucidíssimos e racionais" peões da nossa pátria é coisa de falcatruas evangélicos), como a que acaba de me bater nos cornos, depois de 3 simples latinhas de suco de cevada fermentado no centro da capital do Rio Grande do Sul.

    É verdade que ela não foi produto espontâneo do líquido auto-introjetado, mas resultado da decisão que tomou o alemão Valdir de nos colocar, em pleno saguão do hotel "Elevado", a passear pela internet depois de alguma ingestão "venenosa".Assim, chegando até a página do blog, fiquei com o focinho bem à frente do blog da companheira K. e sua última matéria publicada no último dia 23, inspirando-me a escrever esta crônica bêbada.

    Mas, seja como for, vendo-me "suspenso", por qualquer razão, das rotinas desta hipnose metida à consciência que vivemos todos, dei-me por conta, exatamente da forma mais imbecil, que me vem  sendo bastante rotineira, do quanto todos nós, mesmo os mais fervorosos e raivosos revolucionários, somos o produto mal havido dos últimos seis mil anos de opressão e sacanagem sofisticada, que iniciada, sabe-se lá como, com a seleção dos animais domésticos mais eficientes, acabou por atingir o auge no adestramento da grande massa da humanidade.

    As necessidades de um esperto e pérfido dominador (e principalmente as de seu descendente igualmente pérfido, porém besta) fizeram com que os escravos de todo tipo (cuja coroação é a dos modernos peões assalariados) tenham desenvolvido capacidades específicas, que a ideologia teísta cristã do Ocidente chama de "vocações" (chamamentos irresistíveis e fascinantes), para o exercício de determinados trabalhos, a um tal ponto que a sua frustração é capaz de redundar na mais irremediável infelicidade para a pobre vítima interditada nos seus pendores.

    E aí me vejo eu, moldado para o discurso, verbal ou literário, identificado com a estética mais refinada e profunda, puto da vida por ter de levar meus dias envolto com os mais áridos problemas técnico-teóricos ou concretos (do tipo: preciso do meu alvará pra pagar a conta do buteco da esquina, dá um jeito de devolver logo este cálculo judicial) sem qualquer relação com aquilo que me dá tesão além de mulher e trago, quase endoidando, ou caducando, pela pressão natural que vinte e tantos anos de obrigatório e sisudo cumprimento de tarefas acaba por gerar.

    É bem verdade que a atual fase da pecuária humana (o capitalismo) me deu mais alguns pendores sofisticadíssimos e impróprios, como a mania da liberdade e da revolução (infelizes efeitos colaterais da opressão e da obediência inerte e besta), mas, tenham plena crença no que digo. Não fosse a maldição de ter de tentar sobreviver (e prover família) com as migalhas de alguns mil reais (tidas por privilégio neste país sul-americano que continua atirando esmolas oriundas do confisco tributário do produto do trabalho de seu povo como remédio à própria expropriação diariamente praticada pela burguesia lambe-cu nativa, lacaia da internacional), e quem sabe, se me permitissem exercer a minha "vocação" literária, talvez eu estivesse manso e bem acomodado com uma existência pequeno-burguesa, daquelas que permite se curtir um gre-nal, para quem gosta, no radinho de pilha (sei que ninguém sabe mais que diabo é este, mas continuo a tê-lo como referência) na tarde de domingo, ou a uma tertúlia como os vizinhos, familiares e amigos, na frente de casa, ao som de um sambinha qualquer no fim da noite (não da madrugada boêmia e folgazã).

    Mas, tendo de contar cada infeliz moeda que me vêm às mãos como produto do sofrimento sem graça e medíocre que me é imposto pelo capitalismo local, acaba não restando muita coisa, até por uma questão de sobrevivência mental, do que me opor, me revoltar, cada vez mais, da forma mais radical e absoluta ao domínio completamente irracional e injustificado, da burguesada sobre os bilhões de trabalhadores deste planeta, ainda que esta rebeldia não tenha outro possível fruto do que a ampliação da precariedade vivida, como resultado da natural represália dos sócios pequeno-burgueses que atendem pelo nome de patrões no próprio poder público.

    Em resumo, a própria especialização da escravidão assalariada acaba por criar a paixão profissional frustrada e esta frustração, ao se aliar à miséria material, nos reconduz, ironicamente, ao estado natural de rebeldia e inconformidade com tudo quanto não é o prazer genuíno e o bem estar de que gozam os animais em plena natureza.

    Ubirajara Passos

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    O Discurso de Brizola no comício do Largo da Prefeitura de Porto Alegre (1º de abril de 1964) durante o golpe do dia da mentira

    Após o comício da Central do Brasil, em 13 de março de 1964, a direita brasileira lacaia, aliada do imperialismo norte-americano, alarmada com a possibilidade de ver o início da derrogação de seus privilégios, se unificaria, da UDN lacerdista ao PSD de Tancredo e Juscelino, contando com o apoio dos generais fascistas formados na ideologia da Escola Superior de Guerra e na convivência com as forças yankees na Itália, no final da Segunda Guerra Mundial, acelerando suas ações em direção ao golpe militar que, depondo João Goulart, acabaria por impor uma ditadura de mais de vinte anos, cujo saldo, além das mortes e das perseguições, e do atraso social, se perpetua até hoje, na miséria, na fome e na violência quotidiana, no apodrecimento da consciência da massa de nossa população e na presença, no poder federal,  de ilustres canastrões corruptos atuantes naquela ditadura, como José Sarney, dono absoluto de um latifúndio que atende pelo nome de Estado do Maranhão.

    Em 19 de março, meio milhão de equivocados – ou nem tanto – (inclusive o futuro Presidente da República do Partido dos "Trabalhadores", o eminente Inácio dos Nove Dedos), liderados por ilustres beatas raivosas e assexuadas (a própria imagem concreta da peste emocional materializada na defesa de sua expressão política, o fascismo), e patrocinados pela burguesia nacional e multinacional, tomaria as ruas de São Paulo, exigindo aos brados histéricos a deposição de Jango e a prisão de Brizola, rosários febrilmente manipulados nas garras, na "Marcha da Família com Deus pelo Brasil e a Liberdade". Criava-se assim o pretexto de massas civis pretensamente descontentes , como se faria uma década após no Chile de Pinochet, para derrubar um governo popular, eleito legalmente por maioria e que contava, à data de sua deposição, com a aprovação de ampla maioria do povo brasileiro, segundo a própria imprensa da época.

    Cinco dias mais tarde cria-se o pretexto da quebra da hierarquia militar, e do descontentamento dos generais e almirantes, em torno do apoio de Jango ao que os golpistas caracterizavam como a subversão dos comandos subalternos das forças armados (sargentes e marinheiros), que haviam se organizado em associações próprias (verdadeiros sindicatos) em defesa de seus direitos políticos (muitos haviam sido eleitos para cargos parlamentares e sido impedidos de assumir por decisão do STF, que corroborava a absurda inelegibilidade prevista da Constituição de 1946 para soldados e comandantes imediatos da tropa, abaixo do oficialato), trabalhistas (o salário dos marinheiros, por exemplo, era inferior ao das empregadas domésticas) e das reformas de base defendidas pela Frente de Mobilização Popular, liderada por Leonel Brizola e integrada por organizações populares como o Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e União Nacional dos Estudantes (UNE), além de numerosos sindicatos e confederações nacionais de trabalhadores (entre eles, metalúrgicos e trabalhadores rurais), bem como pela extrema esquerda do PTB, PSB e PCB, pelo grupo político do governador pernambucano Miguel Arraes e as Ligas Camponesas do Nordeste, liderados pelo deputado socialista Francisco Julião.

    Em 26 de março, especificamente, os marinheiros e fuzileiros navais, sob a liderança do "cabo" (marinheiro de segunda classe) Anselmo (que mais tarde se apurou ser um agente infiltrado do aparelho de conspiração institucional yankee, a CIA), realizam um ato comemorativo ao segundo aniversário da fundação de sua associação, por José Anselmo então presidida, com uma visita à Petrobrás, proibida pelo almirantado (cúpula dirigente da Marinha de Guerra), de que resulta a prisão dos participantes. Em reação à repressão, reúnem-se no Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro, além dos marinheiros, trabalhadores liderados pelo CGT e sargentos e soldados das demais forças armadas, muito dos quais, enviados pelo comando do Exército para prender os "revoltosos", aderem ao movimento. Entre eles se encontrava o comandante do corpo de fuzileiros navais, o Almirante nacionalista Aragão, que para lá havia se deslocado a fim de parlamentar com a massa mobilizada.

    No dia seguinte o sindicato é  sitiado por tropas do Exército, levantando-se o sítio em razão da resistência dos presentes no prédio e em 27 de março, Jango, vindo de Brasília, se dirige à antiga sede da presidência da república na ex-capital, o Palácio das Laranjeiras, e determina a libertação dos marinheiros presos e a demissão do Ministro da Marinha, Sílvio Mota, responsável pelas prisões, que é substituído nacionalista e reformista Paulo Mário. O resultado é o repúdio do oficialato conservador e golpista, expresso em manifesto do "Clube Naval" no dia 28. Estava criado, definitivamente o pretexto legalista e hierárquico para depor o presidente que "desmoralizava" os austeros e sérios chefes das forças armadas, "defendendo baderneiros", que se cristalizaria dois depois, na noite de 30 de  de março, após o discurso de Jango no automóvel clube, em ato realizado pela Associação dos Sargentos, nos quais o presidente da República defenderia ferozmente as reformas de base e denunciaria o golpe em marcha.

    Algumas horas após, na madrugada de 31 de março, em conluio com o governador udenista (banqueiro que usufruiria lautamente das benesses da futura ditadura) Magalhães Pinto (e com o apoio dos governadores de São Paulo, Ademar de Barros, Rio Grande do Sul, Ildo Meneghetti, ambos do PSD, e do histérico fascista Carlos Lacerda, governador da Guanabara, da UDN) o folclórico general auto-intitulado de "Vaca Fardada", Olímpio Mourão Filho lançaria um manifesto golpista, dirigindo suas tropas de Minas, Juiz de Fora, para o Rio de Janeiro, onde Castelo Branco (incrivelmente chefe do Estado Maior das Forças Armadas) conspirava abertamente para depor o governo federal. As tropas enviadas pelo Ministro da Guerra para combatê-lo aderem ao golpe (por ordem de seu comandante, ainda que muitos soldados e sargentos desertem para resistir), bem como as do "compadre" de Jango, Amaury Kruel, sediadas em São Paulo.

    Jango se desloca para Brasília, não encontrado meios de lá resistir e, na noite de 1º de abril, se dirige para Porto Alegre, onde Brizola, juntamente com o Comandante do III Exército, General Ladário Telles, organiza a resistência ao golpe, reeditando a Cadeia da Legalidade, baseada agora na Prefeitura Municipal de Porto Alegre, governada pelo trabalhista Sereno Chaise, e na Rádio Farroupilha, a qual realizará, na noite daquele dia, o último comício do regime democrático e em que Brizola proferirá o discurso que a seguir transcrevo, a partir de gravação de áudio da época, reproduzida no Site do Correio do Povo, de Porto Alegre, neste ano, por ocasião da comemoração dos 50 anos do Movimento da Legalidade de 1961:

    "Ainda não correu  bala! Ainda não se deu um tiro! Os gorilas têm vencido até agora e progredido como aqueles que são hábeis jogadores de xadrez, com seus punhos de renda. Mas, de agora em diante, nós iremos ver quem realmente tem fibra e tem raça. Na hora de correr bala, na hora do cheiro de pólvora, nós iremos ver a covardia dos traidores e dos golpistas. Neste momento, entra em cadeia, em conexão com a Rede Gaúcha da Legalidade a Rádio Nacional de Brasília e centenas de emissoras pelo Brasil afora. 

    Gorilas, gorilinhas e micos de toda espécie! Golpistas e traidores! Agora é que nós vamos ver quem é que tem banha para gastar! Mas a nossa resposta, a resposta do povo gaúcho,  a resposta do povo gaúcho ao tartufo Ademar de Barras, de Barros vai ser a bala! Nós agora é que arrecém vamos começar a luta. Até agora ela esteve se realizando como um tabuleiro de num… num tabuleiro de xadrez. Agora é que nós vamos pôr à prova,  vamos comprovar a covardia destes traidores do povo e da pátria. 

    Atenção, trabalhadores de São Paulo! Atenção, trabalhadores da Guanabara, trabalhadores do Nordeste e de Minas Gerais. A nossa palavra , a partir de hoje, é a greve geral dos trabalhadores. Somente na área do III Exército e onde atuem as forças que lutam ao lado do povo e dos nossos direitos é que os trabalhadores devem redobrar as suas atividades. Nós, neste momento, já recebemos a comunicação que no Estado da Guanabara parou tudo! Greve geral no Rio de Janeiro. Pararam as barcas. Pararam os trens da Central e da Leopoldina. Amanhã irão parar os metalúrgicos, os serviços de transporte, o DPT e as comunicações. Amanhã, greve geral na Guanabara. E nós, aqui, nos dirigimos ao operariado paulista, aos trabalhadores de São Paulo, aos trabalhadores da Petrobrás, da refinaria, da refinaria do Cubatão. Parem! Greve dos trabalhadores de São Paulo, para defender o próprio direito de greve das classes trabalhadoras!

     Nós, como afirmamos, não tomamos a iniciativa da violência. Nós não começamos a violência. Foram eles que começaram. Pois agora eles irão tê-la. A resposta do povo gaúcho à insurreição golpista, à violência contra os nossos direitos e liberdades , meus patrícios e irmãos, será, primeiro, a ajuda às tropas do III Exército, da 5ª Zona Aérea e da Brigada Militar. Segundo, organização de corpos provisórios para aglutinação do elemento civil, sua organização para participação na luta ao lado das gloriosas forças legalistas do III Exército e da Brigada Militar. Nós, desde já, conclamamos aos nosso chefes e dirigentes do interior: passem a reunir companheiros, centenas, milhares de companheiros para serem selecionados e organizados para a grande marcha que haveremos de realizar, ao lado de nossos irmãos de todos os recantos da pátria, para a conquista das reformas e para a libertação do povo brasileiro da espoliação do capitalismo internacional. 

    Pedimos ao povo gaúcho e ao povo brasileiro que acompanhe as transmissões da Rede da Legalidade que estamos fazendo de Porto Alegre. E aos tartufos, aos traidores, aos golpistas, aos gorilas, nós daqui declaramos, a eles declaramos que eles não perdem por esperar, não perdem por esperar. Eles irão prestar contas ao povo brasileiro pelos crimes que estão cometendo contra a Constituição, contra os direitos e conquistas democráticas do nosso povo. E a eles nos queremos dizer: conosco não pegam estas mistificações, esta onda que aí fazem de que nós somos subversivos, que somos anarquistas, que somos extremistas, que somos comunistas, isso e aquilo. A eles nós queremos dizer: vermelho é o sangue de gaúcho e de brasileiro que corre nas nossas veias. 

    Nós diremos  ainda, meus patrícios e irmãos, que devemos, de agora em diante, agir com firmeza e energia, sem perder a nossa cabeça e a nossa se… a nossa serenidade. Precisamos agir com firmeza e energia, mas com serenidade e confiança. Eu quero vos dizer que o meu lugar, povo gaúcho, é aqui convosco, é aqui ao vosso lado, para as lutas, as glórias e os sofrimentos do nosso povo, que caminha, que anda, que vai, incoercivelmente, progredindo, avançando em busca de sua libertação e da realização de uma sociedade justa, humana e verdadeiramente cristã, dentro das nossas fronteiras. 

    Porto Alegre é um lugar histórico e, hoje, é o centro, novamente, da resistência. O Governo do Estado parece que até já abandonou a sua sede. Segundo se informa, segundo, segundo se informa, o Governador já anda lá por Uruguaiana. Outros dizem que foi se esconder na praia do Quintão. Outros, ainda, informam que está em baixo de uma cama, em algum lugar, aqui mesmo por Porto Alegre. Mas o mais certo é imaginarmos que o seu paradouro deve ser em algum lugar próximo da fronteira argentina ou da fronteira do Uruguai, para fugir da justiça do povo gaúcho, porque ele lançou um manifesto traindo a consciência democrática do nosso povo. 

    Porto Alegre é um lugar histórico, Porto Alegre é um lugar histórico, e eu, há muito tempo que eu venho dizendo que os destinos deste país, a chamada crise brasileira, vai, ía e vai ter a sua solução exatamente aqui em Porto Alegre.

     

    Eu peço a todos que permaneçam atentos, porque possivelmente ainda hoje tenhamos as mais importantes e decisivas informações a prestar ao povo gaúcho e ao povo brasileiro sobre a crise político-militar, esta guerrinha sem tiros que até agora assistimos, que aí estamos vendo se desenvolver pelo país. 

    Nós teremos possivelmente importantes informações. E a nossa palavra de ordem, neste momento, ao povo gaúcho e ao povo brasileiro é a luta e a resistência contra o golpismo, contra a ditadura disfarçada das oligarquias e das minorias dominantes e reacionárias de nosso país! 

    Luta e resistência! Nós não nos conformaremos! E nós, por isso, esperamos que o nosso Presidente não nos tire das mãos, nem das suas, nem das nossas, a bandeira da defesa da ordem democrática. Que não passe por sua cabeça, como ele próprio reafirmou, nenhuma idéia de renúncia. Porque nós queremos permanecer coerentes pelos nossos direitos para conquistar o direito de novos avanços em nossa caminhada em busca da libertação social e econômica. 

    Quanto a nós, ele sabe, quanto a nós povo brasileiro, é essa a nossa posição. Se for difícil o caminho, não tem importância. Vitória sem luta é a conquista de uma glória sem honra. E, para nós patriotas e brasileiros, nessa cruzada em defesa dos nossos direitos , a nossa sorte está lançada. Mais vale perder a vida que perder a razão de viver! 

    Deixo-vos, meus patrícios e irmãos, o meu abraço, a minha confiança. E volto a insistir com a minha palavra. Com a minha palavra ao… aos nossos irmãos sargentos, para que eles tome as suas iniciativas: passe a mão nestes gorilas! Prendam-nos, deponham-nos em nome do povo brasileiro e em nome da própria Constituição. 

    E eu, daqui, quero enviar uma mensagem ao valoroso Comandante do Corpo de Fuzileiros Navais, ao Almirante Aragão. Para dizer a ele que o povo gaúcho está esperando dele, e acreditamos que o faça, só mesmo que obstáculos intransponíveis existam em sua frente, que nós esperamos daquele grande soldado, e de sua corporação, a imediata iniciativa da prisão do verdugo Carlos Lacerda. 

     Lacerda,  Lacerda é um homem periculoso. É um contraventor e um criminoso. Ele está ao lado do golpe e nós esperamos que o nosso companheiro Aragão, com os seus fuzileiros navais, deite a mão naquele criminoso para julgamento, para a justiça que clama o povo brasileiro! 

    Ao ínclito e valoroso, ao ínclito e valoroso, ao bravo General Oromar Osório, daqui enviamos a nossa mensagem mensagem: nós entregamos ao grande e valoroso  General Oromar Osório, o traidor Amaury Kruel, para ele fazer justiça em nome do povo brasileiro. O bravo General Osório deve estar marchando em direção a São Paulo. E a ele nós entregamos o traidor Amaury Kruel para que ele, com os seus soldados, seus sargentos e seus oficiais, tome a iniciativa de ajustar contas com aquele que quebrou o seu juramento, a sua palavra, a própria dignidade, as tradições de dignidade do povo gaúcho. 

    Aos meus conterrâneos do Rio Grande, gaúchos e gaúchos de todas as gerações, à valorosa e inconfundível população porto-alegrense, quero dizer, nesse momento, da minha confiança, do meu apreço, quanto a vossa dedicação, o vosso valor, o vosso heroísmo e a vossa lealdade. E, quanto a mim, podem também ter a segurança e a certeza que o meu lugar  é exatamente aqui convosco, aqui ao vosso lado."

    Na manhã seguinte, 2 de abril, após o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, implementar o golpe de Estado, em plena sessão do Congresso Nacional, daquela madrugada, iniciada às 11 h do dia dos bobos, (declarando vaga a presidência da República, sob o pretexto completamente falacioso e inverídico de que Jango havia abandonado o território nacional, e empossando seu colega golpista e lacaio dos generais gorilas, o presidente da Câmara dos Deputados Ranieri Mazzili na Presidência da República – como fantoche, pois o poder passa a ser exercido pelo comando da "revolução", dirigido por Costa e Silva, no Ministério da Guerra, no Rio de Janeiro), Jango, sabedor da presença de uma força tarefa de fuzileiros navais yankees postada nas águas territoriais brasileiras, em frente a Vitória (capital do Espírito Santo), pronta a apoiar militarmente os golpistas, após longa reunião com Brizola, líderes trabalhistas e generais do III Exército, renuncia implicitamente, negando-se a resistir, e dirigindo-se a São Borja e, surpreso com a repressão, ao exílio na Argentina.

    A cadeia da Legalidade é encerrada, na tarde de 2 de abril, com melancólico discurso de Sereno Chaise, que transmite a recomendação de Brizola aos companheiros de coragem e serenidade diante do fato consumado.Frustrados e desmotivados pela desistência do líder institucional, o Presidente da República, os militantes nacionalistas e populares desarticulariam as greves gerais e outros atos de resistência iniciados, debaixo da feroz repressão do novo regime, bem como as forças militares legalistas e nacionalistas de Oromar Osório e do Almirante Aragão não implementariam os atos reclamados no discurso de Leonel Brizola que, após permanecer por mais de um mês na clandestinidade, percorrendo o interior do Rio Grande do Sul e do Brasil, se exilaria no Uruguai, de lá tentando, nos primeiros anos, organizar a guerrilha para deposição dos militantes capachos do imperialismo e implementação da revolução de caráter popular nacionalista e depois se veria confinado ao interior do país, até ser expulso pela ditadura uruguaia em 1977, e, passando pelos Estados e Portugal, retornar, como grande líder do trabalhismo brasileiro, em 1979, em plena "abertura democrática" do ditador João Figueiredo.

    Ubirajara Passos

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    "Nem tudo está perdido!"

     

    Texto que escrevi, de improviso, na tarde  do início do IV Congresso dos Servidores do Judiciário do Rio Grande do Sul (IV Conseju), antes de sair de casa, a partir de minhas experiências com a minha filha Isadora (que cumprimentou 3 anos no dia 1.º de setembro e que aproveito para homenagear com a foto mais recente, do último 20 de setembro – feriado estadual da Revolução Farroupilha no Rio Grande do Sul):

    Ver a própria imagem refletidanum ser humano real, de carne e osso, em uma versão mais jovem. Isto é que é, verdadeiramente, um mistério. Não a possibilidade remota de improvável de perpetuar-se em sucessivos avatares de milhares de reencarnações. O mistério que engendra, na matéria viva e pulsante, um conjunto de manifestações mentais tão semalhantes às nossas, principalmente na parte operacional das emoções, mas tão distintas quanto às possibilidades do espírito humano.

    Muito mais do que saber-se o resultado de reproduções variadas de pares de programas biológicos distintos que resultaram na conformação da consciência extra-corporal e em especializações cada vez mais refinadas de um protótipo original, realizando no concreto as potencialidades apenas entrevistas nos primeiros indivíduos, o entusiasmante mesmo é se constatar o quanto os nossos hábitos de comportamento são capazes de refletir-se naquele corpinho, já nos primeiros dias fora do ventre materno, independentemente de qualquer influência mimética ou condicionante resultante da repetição dos dias.

    É fantástico, nos parâmetros estreitos de uma identidade que ainda se define pela noção de apropriação e territorialidade (esta a mais antiga, mãe da anterior, surgida da necessidade de sobrevîvência num mundo hostil e precário, animado na permanente competição entre iguais e na possibilidade do engolimento literal dos menos aptos pelos mais organizados), ver esta hereditariedade confirmatória de nossas precariedades e erros orgulhosos de si.

    O mais prazeroso, arrebatante, entretanto, é darmos com aquele serzinho de apenas dois anos de idade tomando ares de autonomia, pretendendo vestir o próprio tênis ou carregar a nossa mala (com um ar voluntarioso e contrafeito à nossa enternecida e, inevitavelmente,  autoritária superproteção), e dizendo: "Deixa eu! Agora é eu! Eu posso!".

    Quando nos bate, ríspida e imprevisível, esta atitude à cara, podemos ter certeza, observando algo tão carregado de sentimentalismo e expectativas ou justificativas, no nosso imaginário, como o próprio filhote: A humanidade ainda tem jeito! A maioria dos indivíduos ainda há, logo, logo,de aprender a dizer NÃO! a toda opressão, a toda imposição unilateral, limitante e infelicitante, de regras e saberes, o mais vezes, sustentada sob o mais vil e hipócrita egocentrismo sádico erigido em pretenso, arrogante, e terrivelmente enojante, nauseante mesmo, dogma "científico" – aparentemente neutro e racional (e, em razão da aparências, mais perigoso e difícil de ser vencido), mas profundamente enraizado nos piores instintos, filhos do sobressalto e da miséria inomináveis. Resultantes da precariedade  que resume a vida a uma "sobrevivência" – infame, insulsa e raivosa – cujo único élan é a raiva incontida e espumante, a disposição destrutiva absoluta contra tudo que semelha um mínimo de gentileza, conforto, liberdade e criatividade, e até mesmo de agressividade sadia e redentora.

    E desta negação contundente, convicta (e mergulhada, apesar de sua força e dureza, na ternura e na alegria de viver e compartilhar) há de nascer um novo mundo, prenhe e pleno de prazer, liberdade, inspiração e criatividade, em que não mais seremos galhos secos e indistintos jogados à fornalha dos apetites minoritários, mas o próprio vento, forte e indomável, compondo uma sinfonia de absoluta e enigmática beleza nos encontros e desencontros de  nossas vontades e inferências.

    Ubirajara Passos

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    "Curtura" livresca

    Não sou dado a divulgar reclamações ou denúncias de consumidor, embora algum colega já me tenha solicitado algumas no passado, afinal este blog não é uma filial do Procon (sistema jurídico-assistencial de defesa dos consumidores, nos termos da lei específica vigente no Brasil), e tem objetivos políticos e culturais revolucionários bem mais amplos e profundos que a discussão específica e localizada da picuinha do dia (ao menos que ela se revista de um caráter exemplar, cuja repercussão o justifique).

    Muito menos sou um elitista, um destes pretensos eruditos ou empolados desiludidos com a "decadência" da cultura e do ensino nacionais  – que, não sendo nunca grande coisa (inclusive na rede privada) com raríssimas exceções, já teria ultrapassado o Japão e se ido rumo ao centro da galáxia, caso estivesse, como se afirma, desde os tempos da colônia, em movimento descensional.

    Mas tendo, pessoalmente, ido com meu enteado Erick, na tarde do último sábado, a uma livraria de porte de Gravataí ( cujo nome não citarei para não fazer propaganda), destas que deixa à disposição dos leitores até mesmo um recanto entre as estantes, com uma cadeira de vime, para que possa saborear tranquilamente alguns de seus volumes, resolvi correr os títulos, apesar da crônica crise financeira, que me permite, no máximo namorá-los à distância, sem deles nunca tomar posse.

    E, em mais um episódio da série "balconista de farmácia" organiza estante de livros, dei, no escaninho reservado à literatura estrangeira, com o título Olympia (sem o nome do autor na lombada). E desconfiei, um tanto incrédulo, se tratar do romance do gaúcho, filho de imigrantes alemães do norte do Rio Grande do Sul, Fausto Wolff, combativo e irreverente escritor e jornalista, brizolista como eu, e um dos principais redatores do Pasquim (jornal combativo/satírico de oposição à ditadura militar fascista de 1964), falecido há uns 3 anos. Romance que, aliás, tenho na minha biblioteca, em casa, e com o qual muito me diverti, em meio à conturbada suspensão (a primeira, a remunerada) que sofri de meu cargo no judiciário gaúcho, como "punição" ao uso da liberdade de expressão em matéria publicada neste blog, que versava sobre as irracionalidades do disciplinamento dos estagiários daquele poder.

    Não quis acreditar, mas logo tive de me convencer de que o funcionário encarregado de municiar os armários do estabelecimento deveria ter um péssimo treinamento ou experiência classificatória. Pois, pegando o livro em mãos, pude ver que era exatamente o que pensava. O pobre Fausto Wolff, com um nome tão incomum para os fãs do Big Brother ou do Pânico na TV, e um maldito sobrenome germânico, acabara, pelas mãos de um trabalhador inábil (embora pensante, o que se prova pela analogia imperfeita), na companhia de Virgínia, a genial e depressiva escritora inglesa (que o meu caro classificador deve supor ser yankee) de sobrenome semelhante (Woolf), e de um extraordinário, mas terrivelmente pessimista e denso, Franz Kafka (que não tem nenhuma relação com a antiga Cafiaspirina ou a Alka Seltzer, advirto, desde já, ao aprendiz de feiticeiro de livraria provinciana).

    Mas tudo bem. Errar é humano (e como!) e vai que o sujeito que cometeu o engano estava com uma enorme dor de cabeça (e tinha acabado de ingerir uma Alka Seltzer, analgésico cuja pronúncia do nome deve dar resultado contrário, piorando a coisa e transformando em enxaqueca, dependendo da habilidade linguística do usuário) ou simplesmente tivera um lapso, destes que acometem a todo momento nossos mais honrados, democráticos e justos políticos, como José Sarney ou Lula, fazendo-os cometer deslizes infelizes como o esquema do mensalão e outras tantas banalidades.

    Teimoso que sou, entretanto, rumei para a estante de literatura espírita, esperando não encontrar coisa semelhante àquela com  que o Carlão deparou-se, estes tempos, na livraria da UCS, e desabei de vez, no meu recalcitrante otimismo. Vistoso e chamativo, me olhava daquela prateleira um exemplar de "A Casa dos Espíritos", da chilena Isabel Allende, romance histórico sobre a ditadura militar de Pinochet, que virou até filme hollywoodiano no final do século passado. Espíritos, aliás, se é que existem, devem estar é "puxando os pés" do responsável pela localização do dito livro na estante, que, se for importunado por Machado de Assis ou Castro Alves (dois de meus ídolos literários da juventude), pelo menos terá a chance de aprender alguma coisa de literatura.

    Seja como for, definitivamente, ou os gerentes de livraria andam muito ocupados com os estoques de brinquedos eletrônicos e badulaques chiques semelhantes (cujo preço salgado só permite sejam adquiridos pelos filhos da burguesia iletrada), que costumam abarrotar seus ambientes, para se ocupar de algo tão comezinho e secundário como a classificação de livros, ou os percalços do mercado de trabalho, e a avassaladora rotatividade do emprego resultante das exigências de lucro da nossa "culta" e voraz classe dominante, fez com que uma leva enorme de atendentes de tabacaria, auxiliares de açougueiro, contabilistas, estatísticos e, provavelmente, muitos economistas, políticos ou torneiros mecânicos  desempregados (vocações estas três últimas que frequentemente se encontram reunidas no mesmo proverbial indivíduo), estejam se empregando, por falta de melhor colocação,  justamente nas nossas livrarias.

    Ubirajara Passos

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    O discurso de Brizola no comício da Central do Brasil (13 de março de 1964)

    Sexta-feira, 13 de março de 1964. Um ano, dois meses e 10 dias após o plebiscito que garantiu a devolução de seus plenos poderes como chefe de governo, o Presidente da República João Goulart, finalmente se convence de que a conciliação com os partidos da direita "progressista" (especialmente o PSD de Juscelino e Tancredo, com que o PTB mantinha aliança desde a morte de Getúlio Vargas) se tornara incompatível com o nacionalismo e a defesa dos interesses dos trabalhadores. E toma  definitivamentre o lado das forças populares e anti-imperialistas, assinando, no maior comício da história do Brasil, até então, junto à Estação Ferroviária Central do Brasil, os atos legais que regulamentavam a remessa de lucros das empresas multinacionais ao estrangeiro, desapropriavam as refinarias privadas de petróleo e desapropriavam os latifúndios situados ao longo das rodovias federais, criando a Supra (Superintendência Nacional da Reforma Agrária).

    Junto a Jango e à massa de trabalhadores radicalizados no movimento pelas reformas de base (a reforma agrária, a reforma urbana e universitária, entre outras), se encontram no palanque as lideranças da UNE (União Nacional dos Estudantes, ironicamente representada por seu então presidente, José Serra), do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), do PSB (Partido Socialista Brasileiro), do clandestino Partido Comunista Brasileiro, da Comando Geral dos Trabalhadores (CGT) e, principalmente, da Frente de Mobilização Popular. Falam, entre outras lideranças  da FMP, o governador de Pernambuco Miguel Arraes, do Partido Social Trabalhista (PST), o deputado do PSB Francisco Julião, líder das Ligas Camponesas, e o grande líder da frente, que era o deputado federal  do PTB pelo Estado da Guanabara Leonel Brizola.

    Brizola, como governador de seu estado natal, o Rio Grande do Sul (1959-1963) havia se tornado o grande baluarte do nacionalismo de esquerda, ao desapropriar duas grandes multinacionais, a IT&T (telefônica) e a Bond and Share (energia elétrica). E, com sua rebeldia intemerata e audaz, havia garantido a posse do Vice-Presidente da República João Goulart na titularidade do cargo, vetada pelos ministros militares fascistas e pró-imperialistas de Jânio Quadros, quando da renúncia deste em agosto de 1961.

    Utilizando-se da estrutura legal do governo do Estado, Brizola, com o apoio da Brigada Militar e da massa popular (que se mantinha informada através das ondas da Rádio Guaíba, instalada nos porões do Palácio Piratini, de onde Brizola proferia seus discursos), havia feito uma verdadeira revolução contra o golpe que se preparava então, epsiódio que se tornou conhecido como a Campanha da Legalidade.

    Agora era o mais radical e inconformado dos líderes populares que reclamavam reformas na sociedade capazes de dar um mínimo de dignidade às massas populares (e que, se implementadas, teriam criado as condições mínimas para um avanço futuro rumo ao socialismo). Neste comício proferiria o discurso que reproduzimos abaixo, publicado no órgão de imprensa da FMP, o jornal  Panfleto – o jornal do homem da rua – , de 16 de março de 1964, n.º 5 (páginas 2 e 3)

    "Este é um encontro do povo com o governo. Encontro com esta multidão e com os milhões que, através dos seus rádios, do recesso de seus lares, estão presentes não apenas para aplaudir, mas para dialogar com o governo.  Se fosse apenas para aplaudir, não seríamos um povo independente, mas um rebanho de ovelhas. O povo está aqui para clamar, para reivindicar, para exigir e para declarar sua inconformidade com a situação que estamos vivendo.

    Saudamos o governo pelo seu gesto democrático. Porque é realmente democrático um governante descer para o diálogo com o povo.  E estamos certos de que o presidente não veio, nesta noite, apenas para falar, mas para ouvir e para ceder ao povo brasileiro. Para ceder a esta pressão – é a voz que vem da fonte de todo o poder, é a pressão popular, a que com honra, um governante deve se submeter. 

    Quero citar e aplaudir estes dois atos que devem deflagrar um processo de transformação em nosso país: o decreta a Supra e o decreto de expropriação das refinarias de petróleo.

    Povo e governo, num país como o nosso, devem formar uma unidade.  Unidade esta que já existiu em agosto de 1961, quando o povo praticamente de fuzil na mão, repeliu o golpismo que nos ameaçava e garantiu os nossos direitos. Unidade, esta, que já existiu no plebiscito de janeiro de 1963, quando mais de dez milhões de brasileiros exigiram o fim da conciliação do parlamentarismo e a realização imediata das reformas.

    Quando uma multidão se reúne como nesta noite, isto significa um grito do nos caminhos da sua libertação. Em verdade, se conseguirmos hoje a  restauração daquela unidade, o presidente poderá retornar, através da manifestação do povo, às origens de seu governo. E, para isso, será suficiente que ponha fim à política de conciliação e organize um governo realmente democrático, popular e nacionalista. 

    Pode ser que, neste momento, a minha palavra esteja sendo impugnada. Podem julgar que as minhas credenciais não sejam suficientes. Mas o meu lugar é ao lado do povo, interpretando suas aspirações, e por isso, aqui estou como um dos seus autênticos representantes.

    Mas quero perguntar ao povo: querem que continue a política de conciliação ou preferem um governo nacionalista e popular? Aos que desejam  um governo nacionalista e popular que levantem as mãos.

    Chegamos a um impasse na vida do nosso país.  O povo brasileiro já não suporta mais suas atuais condições de vida.  Hoje, até as liberdades  democráticas estão ameaçadas.  Vimos isso em Belo Horizonte, em São Paulo e no Rio Grande do Sul, onde um governo reacionário está queimando os ranchos dos camponeses.   O que se passa no estado da Guanabara é uma prova dessa ameaça, pois a Guanabara é governada por um energúmeno.  Tanto isso é verdade que o próprio presidente da República, para falar em praça pública, precisou mobilizar as valorosas Forças Armadas.

    Não podemos continuar nesta situação.  O povo está exigindo uma saída.  Mas o povo olha para um dos poderes da República, que é o Congresso Nacional, e ele diz NÃO, porque é um poder controlado por uma maioria de latifundiários, reacionários, privilegiados e de ibadianos.  É um Congresso que não dará nada mais ao povo brasileiro.  O atual Congresso não mais se identifica com as aspirações do nosso povo.  A verdade é que, como está, a situação não pode continuar.  E aqui vai a palavra de quem deseja apenas uma saída  para o trágico impasse a que chegamos.  A palavra de quem apenas quer ver o país livre da espoliação internacional como está escrito na CartaTestamento de Getúlio Vargas.


    E o Executivo? Os poderes da República, até agora, com suas perplexidades, sua inoperância e seus antagonismos, não decidem.  Por que não conferir a decisão ao povo brasileiro?  O povo é a fonte de todo poder.  Portanto, a única saída pacífica é fazer com que a decisão volte ao povo através de uma Constituinte, com a eleição de  um congresso popular, de que participem os trabalhadores, os camponeses, os sargentos e oficiais nacionalistas, homens públicos autênticos, e do qual sejam eliminadas as velhas raposas da política tradicional.

    Dirão que isto é ilegal.  Dirão que isto é subversivo.  Dirão que isto é inconstitucional.  Por que, então, não resolvem a dúvida através de um plebiscito?

    Verão que o povo votará pela derrogação do atual Congresso.  

    Dirão que isso é continuísmo. Mas já ouvi pessoalmente do presidente da República a sua palavra assegurando que, se fosse decidida nesse país a realização de eleições para uma Constituinte, sem a participação dos grupos econômicos e da imprensa alienada, mas com o voto dos analfabetos, dos soldados e cabos, e com uma imprensa democratizada, o presidente encerraria o seu mandato.

    A partir destes dois atos – assinatura do decreto da SUPRA e do que encampa as refinarias particulares – desencadear-se-á, por esse país, a violência. Devemos, pois, organizar-nos para defendermos nossos direitos.  Não aceitaremos qualquer golpe, venha ele de onde vier.  O problema é de mais liberdade para o povo, pois quanto mais liberdade o povo tiver maior supremacia exercerá sobre as minorias dominantes e reacionárias que se associaram ao processo de espoliação de nosso país. O nosso caminho é pacífico, mas saberemos responder à violência com a violência.  

    O nosso presidente que se decida a caminhar conosco e terá o povo ao seu lado.  Quem tem o povo ao seu lado nada tem a temer.

    Dezessete dias depois os capachos do imperialismo americano, sob as lideranças histéricas e conservadoras de Carlos Lacerda UDN (governador do Estado da Guanabara), de deputados do PSD, dos governadores Ademar de Barros (São Paulo), Magalhães Pintos (Minas Gerais) e Ildo Meneghetti (Rio Grande do Sul), iniciariam o golpe militar, através do general Olímpio Mourão Filho, o auto-denominado "Vaca Fardada" , que derrubaria Jango do poder na madrugada de 2 de abril, inaugurando o Brasil da pobreza extrema, da corrupção escancarada e assumida e da deformação ideológica e mental do povo sob a influência da mídia eletrônica, que vivemos até nossos dias, hoje, ironicamente sob a direção de uma ex-guerrilheira que se opunha à ditadura entreguista e fascista então estabelecida, a Presidente Dilma Rouseff.

    Ubirajara Passos

     

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    Tratado Geral dos Bordéis (CAPÍTULO 2: DEFINIÇÃO DISTINTIVA)

    O bordel é, portanto, um local onde se trepa, fode, namora, furunfa, troca o óleo, se fornica, prevarica,  se copula, faz-se amor, cobre, empurra, transa, se acasala, ou, simplesmente, se faz sexo, destinando-se à satisfação do tesão, da lascívia, da lubricidade, ao êxtase, ao clímax, ao acme, enfim, ao gozo, embora este muitas vezes não ocorra, e, em sua grande maioria, esteja garantido, seja prerrogativa ou consequência filosoficamente necessária de apenas um dos parceiros ou classe ou gênero de participantes da atividade.

    Mas não um lugar qualquer, sem nenhum preparo ou qualificação específicos. Sob o ponto de vista da essência do labor ou lazer que o caracterizam, não necessita, obrigatoriamente, de determinada qualificação física, como a existência de paredes (do pau-a-pique à alvenaria, à divisória de aglomerado ou mesmo ao metal), mas tão somente, e fundamentalmente, que seja destinado à tal atividade.

    O que exclui necessariamente os cantos obscuros de salões de bailes, os banheiros de boates chiques ou rodoviárias, os bancos de praças e de estação de metrô, os depósitos de fábricas, ou mesas de escritórios, as salas de visitas de velhos sobrados (habitadas por jovens casais em pleno rala e rola, enquanto os proprietários, e genitores, dormem), conventos e seminários (ainda que lá, muitas vezes seja a atividade predominante) bem como os gabinetes dos palácios, onde se fode, muitas vezes com grande contumácia as/os auxiliares e amantes (e todo o tempo, o povo),  em razão das características próprias de seus frequentadores, mas cujo afã principal, para o qual foram projetados,  não é a lida da volúpia.

    O bordel é, portanto, um local exclusivamente destinado ao sexo, seja um prédio, barraco, rancho, pavilhão (que não se destine a cultos neo-pentecostais, até porque seus pastores normalmente fodem as fiéis na própria casa ou na do corno), terreira (que não de umbanda, embora não se exclua a possibilidade de algum exu ou pomba-gira vir a transar com a assistência), sala (desde que não seja gabinete de presidente de multinacional, político ou escritório de profissional liberal, onde, em pé, no sofá, ou na mesa, muitas vezes acaba por praticar-se a sacanagem bem mais proveitosa e interessante do que aquelas que se costuma fazer em tais lugares com o povo, os trabalhadores ou clientes).

    Mas não a qualquer forma de sexo. Nele não se vêem as fodas sem imaginação  dos quartos de casados, nem, necessariamente, o glamour romântico de namorados no sofás das salas ou quartos de móteis (local este que, embora destinado tão somente ao sexo, e muitas vezes à putaria bordelística, admite qualquer modalidade de trepada).  O bordel é o lugar onde o sexo, com raras exceções, é praticado com todos os requintes de posições e formas de prazer, sem as limitações insossas impostas pela moral pequeno-burguesa, e com a inspiração mais exclusiva e genuína de simplesmente se alcançar a mais incrível volúpia no encontro dos corpos em carne e osso.

    É um requisito essencial, portanto, que nele a putaria se passe de forma concreta, envolvendo todos os parceiros. O que elimina os punhetódromos, velhos e decadentes cinemas pornográficos, casas de streap tease e paper wieu, bem como locais virtuais como a internet, ou a literatura. No bordel o sexo é ao vivo, a cores e inclui necessariamente o quente e arfante, entusiasmante roçar dos corpos, especialmente de caralhos, bucetas, tetas e bundas, nas mais diversas formas possíveis de usufruto comum do corpo humano (não existindo, nesta instituição, caso estatisticamente significante de zoofilia) destinado ao prazer.

    Mas, acima de tudo, o bordel é um lugar onde se pratica sexo em troca de dinheiro!

     

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    Carta aberta ao senhor da guerra Barack Obama

    Sou anarquista e, consequentemente, não creio na legitimidade de qualquer Estado, porque este necessariamente se alicerça no uso da força, da qual, técnica e formalmente, detém o monopólio para impor sua "soberania", ou seja, a opressão sacralizada de governantes nominais sobre a massa dos povos, em defesa dos sádicos apetites das classes dominantes.

    Mas, libertário em meio a um mundo dominado por governos e organizado verticalmente pela distinção do ser humano em classes (a que se arroga o mando e oprime e a que se submete e cumpre a função de objeto da outra), não tenho como ser indiferente às condições limitadas de maior ou menor dignidade e liberdade das multidões trabalhadoras nos diferentes estados.

    E é com verdadeira e sagrada indignação (porém sem ingenuidade, nem surpresa) que assisto a onda da incipiente revolta popular democrática da "Primavera Árabe" ser usada como pretexto para o exercício cínico e torpe da investida imperialista em um país soberano, com governo constitucionalmente estabelecido (ainda que, pelos padrões "ocidentais", haja dúvidas quanto à sua natureza democrática ou ditatorial).

    É de conhecimento público inconteste, desde décadas, que a Líbia de Muamar Kadhafi foi sempre um bastião na África do Norte do nacionalismo árabe (e de um idiossincrático "socialismo islâmico), e um dos grandes promotores e financiadores da oposição árabe "terrorista" ao imperialismo capitalista internacional. E, portanto, um dos principais inimigos dos Estados Unidos da América e seus aliados (entenda-se, da burguesia multinacional). Mal ou bem, ditadura ou não, o regime líbio, ao que se pode conhecer no Ocidente, com as informações distorcidas e filtradas que a imprensa globalizada, dominada pelo capital nos permite, garante ao seu povo um mínimo de dignidade, um estado de bem-estar social bem diverso da grande maioria das nações vítimas do neo-colonialismo informal, como o Brasil. E, como Cuba, é um exemplo inconveniente que os senhores da guerra "ocidentais" sempre pretenderam extirpar da face do planeta.

     

    Assim, é cruel e ridículo que a imprensa internacional, a serviço de seus patrões, confunda a oposição armada líbia (que parece ser formada em boa parte por apaniguados de senhores feudais locais) com as revoltas populares egípcia, tunisiana ou iemenita, e que Europa e Estados Unidos, do alto de sua arrogância, intervenham em seu território, sob a exigência de que o governo líbio não se defenda contra seu avanço.

    Mas é mais terrível e inaceitável ainda que o senhor da guerra Barack Obama, negro norte-americano (descendente de africanos) de confissão e nome muçulmano, sob o pretexto infantil e insustentável da proteção à vida dos civis (vítimas da "repressão governamental" – na verdade das consequencias inevitáveis da guerra civil), tenha tomado a inicitiva (ainda no solo do meu país, o Brasil, onde se jactava de grande defensor dos direitos humanos) de desencadear o bombardeio aéreo indiscrimando sobre o país, chacinando estes mesmo civis, africanos e muçulmanos, vítimas das disputas de governos e guerrilheiros, com uma chuva de mísseis inominável.

    

    Não se admite (ainda mais se conhecendo as verdadeiras razões políticas e econômicas, notadamente a sanha pelos recursos petrolíferos) que uma nação constituída, membro reconhecido das Nações Unidas tanto quanto Estados Unidos, Inglaterra, Alemanha ou França) sofra a intervenção de qualquer outra em sua política interna. Que dirá que seu povo, já encurralado em meio ao tiroteio das forças políticas internas, se veja, vítima, sem defesa, das bombas imperialistas, pagando com sua vida o luxo sádico do senhores da economia internacional.

    Do massacre "humanitário" perpetrado por Sua Excelência, o senhor presidente de uma "nação livre", que preza a sua declaração de independência, mas escraviza os demais povos, não lhes permitindo a autonomia para resolver os próprios problemas, restará nada mais que uma Líbia dilacerada em novas e infindáveis guerras civis entre senhores feudais, como na antiga Iugoslávia após a morte do Marechal Tito, e, sobretudo, o saldo do sangue milhares de vidas inocentes, cujo clamor não tem a menor chance de chegar aos nossos ouvidos, mas há de ecoar para sempre na consciência do discípulo de Martin Luther King (se é que a possui), o negro muçulmano Barack Obama.

    Ubirajara Passos

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    Os retiros de Jesus Cristo

    Calma que não entrei em crise, nem me tornei, às vésperas do carnaval, boêmio encarcerado no casamento, um beato arrependido. Isto nem as orações de todos os crentes que já passaram por este blog me esconjurado, ou preocupados em me converter, pela simples menção a "Satanás", conseguirão.

    Mas o fato é que justamente o cárcere da vida familiar (mulher, dois enteados, a minha filha Isadora que é a parte doce e apaixonante da "prisão") não tem me permitido fugir da rotina de permanente exposição pública ou doméstica e desaparecer da frente de todos, "tirar um tempo para mim mesmo" e pensar com meus botões. O que é enlouquecedor para um portador de DDA. Especialmente para mim que, além de minhas pretensões artísticas e intelectualóides (literárias e políticas, ínclusive as póeticas) passei boa parte da minha juventude "viajando" (sóbrio, sem sequer uma cerveja à mão) sozinho, nas tardes modorrentas e nas madrugadas silenciosas da casa paterna, em Gravataí, ou nas dunas desertas da Nova Nordeste, na praia gaúcha de Mariluz.

    Nestas ocasiões eu simplesmente construía e destruía mundos de ficção inteiros (muitos envolvendo histórias políticas em mundos paralelos, ou nem tanto) e perpassava por todos os escaninhos de imaginação, meditação e filosofia possíveis. Este diálogo interno, essencial para mim, era muito mais real do que o quotidiano e a vidinha concreta em casa, na rua ou na escola, e nele, certamente, se construiu muito mais do que penso hoje (e de boa parte das minhas atitudes, apesar das "limitações" auto-consentidas como o casamento formal) do que na prática escolar ou política.

    Maior influência no meu imaginário e em meus trejeitos ideológicos e "artísticos" só mesmo as leituras aleatórias (que incluíam de detalhes poucos explorados em manuais de História editados nos anos 1930 às origens dos idiomas latinos em velhas gramáticas dos anos 1940 e 1950, todos da biblioteca de meu pai, que surrupiei ainda piá), nas madrugadas adentro.

    Ou mesmo assistindo velhos clássicos hollywoodianos legendados, do tempo em que a Globo, por exemplo, levava ao ar o "Cineclube" (creio que este era o nome) às sextas-feiras no final da noite (ocasião em que assisti, lá por 1987, todos os grandes filmes de Chaplin, incluindo a Corrida do Ouro, The Kid, Luzes da Ribalta, Tempos Modernos e o Grande Ditador).

    Mas foi a nostalgia dos tempos em que podia ruminar horas comigo mesmo em êxtase intelectual que me trouxe à baila o que, embora muito pouco divulgado, era um hábito corrente do arquétipo ocidental do "salvador", o Cristo, que encontramos frequentemente no texto dos evangelhos.

    Volta e meia, Yeshua (seu nome judeu), enchia o saco dos discípulos, e segundo os evangelistas, se afastava para montes e campinas desertos a reinar, ou meditar, consigo mesmo. O que a Bíblia não menciona, mas me parece mais ou menos óbvio, é que, nestas ocasiões, ele se escondia não somente da ignorância proverbial de seus apóstolos e discípulos (que, volta e meia, se supunham participantes do Big Brother e começavam a disputar entre si quem era o mais querido do Mestre ou quem expulsava mais demônios do couro das prostitutas palestinas – sabe-se lá com que método!), mas mesmo de Deus e o Diabo (o último com D maiúsculo, sim, que, na mitologia cristã, ocupa o verdadeiro lugar de opositor equivalente do primeiro).

    E aposto que, ao invés de ensaiar seus sermões, se preocupar com a cruficação de que provavelmente derivaria sua pregação anarco-religiosa, ou procurar a verdade absoluta e profunda do tudo, ele simplesmente "viajava" e criava algum poema de pé quebrado do vôo de qualquer passarinho fugidio e da torrente de qualquer nascente em meio à rocha árida. Quando não ficava por lá, evidentemente, simplesmente escutando a voz do vento, sem atinar em mais nada, num verdadeiro nirvana búdico espontâneo e heterodoxo.

    Eu ía acabar a crônica por aqui, e cheguei a publicá-la, instantes atrás, sem estes últimos parágrafos que vos cansam os olhos, ó caros leitores entediados por este cronista nostálgico e metido a besta. Mas não me aguentei e resolvi trazer um grão de realidade rouca e barulhenta das ruas para a conclusão. Junto com uma recomendação aos leitores.

    Não se esqueça, companheiro, mesmo quando tens a chance de viajar de forma totalmente livre com a tua mente ao pé de uma cachaça na roda de amigos (ou só com o melhor amigo), que é uma outra forma de introversão criativa, sempre que possível, nem que seja sentado no vaso sanitário, reserve uns minutos para pensar e fantasiar qualquer besteira descompromissada.

    Isto, além de preservar a "saúde" mental, é uma profilaxia perfeita contra o condicionamento de nosso pensamento e sua escravização aos conceitos pré-fabricados da mídia, da tradição cultural e do costume. Não é por acaso que os patrões de todo tipo (do budegueiro da esquina ao acionista da maior multinacional financeira) procuram "ocupar" permanentemente (até nas "horas livres") a mente da peonada. É  para que ela não tenha tempo de imaginar outra vida, menos servil e brutal e mais livre e prazerosa – e, consequentemente, contrária às necessidades das classes dominantes, de existência de uma horda de bestas de carga humanas a seu serviço!

    Ubirajara Passos

     

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    (A)pelação à beira-mar!

    A história não se passou no último veraneio, mas num modorrento final de feriadão, na segunda-feira, 20 de setembro (data em que a gauchada do Rio Grande do Sul comemora a sua data nacional, o início da Revolução Farroupilha).

    Peruca, Nenê (o primo mais novo do Peruca) e Kadu, entediados, bojecantes e babões, respectivamente na ordem inversa, não suportavam mais o mormaço pré-primaveril da provinciana cidade grande de Gravataí, onde até os mosquitos se deixavam infectar pela doença do sono e, tontos, perdiam o rumo do vôo e, em meio a uma espiral desusada, acabavam por topar entre si, na cabeçada, indo ao chão (quando não caíam, moles, na boca do Peruca, evidentemente).

    Afinal, na pretensiosa sede do único complexo automobilístico do extremo sul do Brasil, não acontecia nada de novo há mais de 14 anos, quando a petezada fascista, analfabeta e petulante derrotara a dinastia peemedebista lambe-cu da (formalmente) extinta ditadura pós-1964, assumindo a prefeitura, após quase trinta anos de dominação, que tivera apenas algumas  interrupções (uma no início dos anos 1970, quando o partido da ditadura, a Arena, assumira o poder e outra no final dos anos 1980, quando o trabalhismo não vendido, governara, através de um popular prefeito do PDT). Desde então os petistas eram os novos "coronéis absolutos da cidade", perpetuando-se mandato após mandato.

    Mas a turma do Peruca não meditava sobre tais injunções políticas. Sabia apenas que a única coisa digna de admiração na cidade inchada, que conservava os maneirismos de sonolenta vilinha colonial, era a piada que explicava o seu nome, atribuindo-o a uma furibunda matrona do início do século XX, que, dando com a pudica filhinha a boquetear o namorado em plena praça do quiosque, se esbagaçou gritando pra guria: "o que é isto minha filha?" E, recebendo a resposta cretina ("nada mãe, tô só arrumando a gravata dele!), arrematou: "gravat'aí, minha filha?"

    – Ô meu, não tem nada pra fazer nesta merda!

    – Vamo tomá um goró, Peruca burro! – disparou Kadu.

    – Mas aqui não tem graça, nem o Bira bebe mais. Agora que casou, nem no Lucy Bar vai mais o homem – contestou Nenê, concluindo – Vamo pra praia, pra Tramandaí, que lá que é legal. Marzão, brisinha  boa pra se refrescar e ainda uma dúzia de loiras gostosas pra gente admirar enquanto mergulha na loira da garrafa! Vamo lá seus tontos!

    O Peruca preferia ficar em casa e chamar o Dente Hugo com uns DVDs pornôs piratas, que loira boa de ver é aquela que trepa com quatro ao mesmo tempo e ainda dá risada. Kadu, louco pra encher a cara em qualquer buteco, achava muita mão de obra comprar fardos de cerveja e gelo, acomodar no cooler e andar 100 km free way afora só pra curtir uma praiazinha. Ambos não atinavam com a reais intenções de Nenê, mas, depois de muito xaropice, se deixaram convencer.

    E, plena tarde de mar e sol, ali se encontravam, junto à barra do Tramandaí (a praia mais fudida da cidade, onde a caganeira urbana corre solta pelo rio, e do rio para o Atlântico), enchendo as guampas de caipira e cerveja, com aquele olhar estranho que nos torna vesgos de uma hora para outra, quando deram com aquela trupe de gatinhas gostosas (uma das quais era funcionária da promotoria em Cachoeirinha, conhecidíssima dos três e alvo da paixão platônica do Nenê).

    Agora sim, podia se chamar aquele monte de areia salpicado de bosta de praia. Trataram logo de gastar os últimos cobres em martinis, keep coolers e sorvetes, que as gatas eram manhosas e não estavam muito a fim de papo furado, mas tinham, segundo elas, um tesão imenso por garotões alegres e endinheirados, e estavam loucas por umas bebidinhas e guloseimas.

    Consumido o estoque do improvisado pic nic, bem como o dinheiro e a paciência do trio, que não conseguia dar nem uma bolinadinha nas safadas (toda vez que se aproximavam, eram repelidos com um recatado risinho e um "depois, meu amor", primeiro quero curtir o frescor do mar), apareceram uns sujeitos musculosos e mal encarados, boné de aba virada, pinta de aviãozinho de favela (uma tigrada braba, como os descreveu o Peruca) e deram de mão nas pudicas senhoritas, que foram se amassar com eles atrás de umas dunas.

    Nenê estava simplesmente desconsolado. Se esvaia em lágrimas pela rejeição da amada e Peruca ameaçou até ir dar umas porradas naqueles tipos (afinal, a última vez que ficara sem absolutamente um puto no bolso foi quando deu com o famoso traveco violento que o assaltou no Bradesco). Mas Kadu, o mais "malandro e experiente" dos três pinguços desengonçados, tratou de acalmar e "trazer à lógica" os outros dois:

    – Mas o que é isto. Que choradeira braba! E que porrada coisa nenhuma! Tem  um jeito bem melhor da gente se vingar e divertir, na boa! Vamo estragá o namoro destes panacas. É só a gente tirá a bermuda e ir lá, no meio das dunas, corrê pelado!

    Nenê, magoado, mas ainda preocupado em fazer boa imagem para sua paixão, resistiu violentamente, mas, debaixo de porrada, arrancado o calção, foi arrastado junto.

    Peruca não teve a menor dúvida. Jegue embriagado, cujos últimos restos de sensatez e inteligência migraram além do cu, aderiu ao plano, entusiasmado.

    E foi assim que, naquela tarde de fim de feriado, a fria praia gaúcha se viu despertada pela agitação dos três branquelas sacudindo o instrumento e tropeçando uns nos outros (ocasião em que parece que o Peruca teve a chance de recordar "concretamente" de seu falecido amante traveco), aos gritos de olha aqui que coisa mais linda, enquanto os casais de patricinhas e maloqueiros corriam afoitos duna acima (interrompidos no doce ofício das preliminares menos sacanas)… Mas não por vergonha ou indignação, mas simplesmente para se mijar de rir e vaiar, enquanto os três anjos barrocos broxas (afirmação da preferida do Nenê) eram detidos e conduzidos "à vara" por uns quantos robustos brigadianos.

    Ubirajara Passos

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    O Milenarismo Revolucionário no Almanaque do Pensamento

    Há cerca de um ano publiquei extensa matéria neste blog, sobre a mudança de paradigma ideológico do quase secular Almanaque do Pensamento, nas previsões astrológicas gerais para o Mundo e o Brasil no ano de 2010. Referi mesmo o imenso entusiasmo que me tomou, e ao alemão Valdir, com as profecias de revirada revolucionária socialista e libertária gerais que haveriam de sacudir o planeta.

    E, com exceção da revolta popular anarquista que tomou as ruas da Grécia, e entusiasmando o país e sacudindo as mentes sobressaltadas da burguesia imperialista européia, acabamos por nos decepcionar com os prognósticos, que ou não se realizaram ou ficaram aquém do esperado.

    No nosso caso particular, e do Movimento Indignação, que lideramos, as mais vivas e pulsantes esperanças foram varridas por um vendaval de acomodação e conservadorismo e o resultado é que perdemos, desde abril de 2010 até o último janeiro três eleições sucessivas.

    Primeiro, concorremos a direção executiva do Sindjus-RS (Sindicato dos Servidores da Justiça do Estado do Rio Grande do Sul), obtendo apenas 22% dos votos. Depois, apoiamos a candidatura de nossa companheira Simone Nejar à deputada estadual na Assembléia Legislativa gaúcha, que lançamos como a candidata dos servidores, vinculada aos sofrimentos, necessidades e objetivos maiores deles. E a derrota foi mais ridícula ainda. Apenas 527 votos, que não reproduziram nem os concedidos à nossa chapa na eleição sindical.

    Por fim, nos incorporamos fortemente à campanha do desembargador gaúcho Rui Portanova, porta-voz aguerrido e combativo dos direitos humanos, especialmente dos segmentos, ainda hoje, discriminados e dominados, sob o pretexto da cor da pele, do gênero e da orientação sexual (negors, mulheres e homossexuais), pela sua indicação como Ministro do Supremo Tribunal Federal. E o que vimos, no início deste 2011, a sucessora desprezar  fascismo petista, Dona Dilma, a Renegadora de Coturno, desprezar o perfil e a luta do magistrado, em favor da conveniente identificação do escolhido com a Presidência da República.

    O Almanaque do Pensamento de 2011, entretanto, embora de forma mais comedida, continua na mesma linha do ano anterior, embora procure explicar a timidez da realidade em relação às expectativas criadas, especialmente no horóscopo para o Mundo:

    "Depois do dia 5 de abril, Neutno sai do signo de Aquário para entrarf em seu próprio signo, o de Peixes, onde ficará até 30 de março de 2025.

    Durante esses quatorze anos, mesmo com Urano gerando uma atividade mundial violenta até 2017, como já avisamos em 2010, Netuno revelará ideologias que já considerávamos definitivamente inexistentes. Ele reanimará opiniões e convicções religiosas, políticas ou sociais que se deparaão com líderes fanáticos e adeptos combativos para propô-las e, quando possível, impô-las.

    Por enquanto trata-se dos germes de uma revolução subterrânea em que o mundo tomará consciência da grandiosidade dos fatos vindouros dos quais não tomou conhecimento nos anos anteriores.

    Mas não devemos nos enganar, pois a fonte e a semente de grandes movimentos sempre acontecem na surdina. Quando eles vêm à tona é preciso combatê-los, aceitá-los ou resolvê-los na medida do possível."

    Muitos leitores dirão que se trata de mera desculpa para a folha ocorrida no número anterior do periódico anual. Mas a verdade pura e simples é que a continuidade da agitação da Grécia, ainda no final de 2010, e as recentes revoltas populares de massa na Tunísia e Egito (que não chegaram aos pés de uma revolução socialista, mas representaram um forte questionamento laico das pessoas comuns nunca visto no teocrático Oriente Médio), parecem confirmar as teses do dito Almanaque.

    Muito próximo do campo de atividade política do meu grupo sindical, vimos, inclusive, nos últimos tempos, a manifestação de um juiz batendo fortemente na necessidade de democratização na escolha da cúpula do Poder Judiciário Brasil como algo premente até para evitar o uso indevido das estruturas do poder em favor de privilegiados ligados à alta administração e a distorção das decisões nos tribunais em decorrência dos interesses sócio-econômicos das elites – texto que publicamos no blog do Movimento Indignação e representa um brado inimaginável até pouco tempo atrás, quando éramos, eu Valdir, Simone Nejar e outros companheiros punidos por manifestar nosso pensamento político interno, combater o nepotismo e a defender a decência do Judiciário do Extremo Sul do Brasil.

    Marco Longari/01.02.2011/AFP

    Aliás, falando em Brasil, o Almaque do Pensamento de 2011 não foca tanto a questão revolução, mas em um pequeno trecho lança um questionamento um tanto surpreendente, polêmico e enigmático, após outro de caráter mais ameno, mas igualmente revelador:

    "Ao passar para a casa IX, Saturno vai focalizar a educação superior e os assuntos judiciários: será que finalmente teremos uma reforma judiciária em nosso país? (…)

    Urano fará conjunção com Plutão, regente do Meio-do-céu e representante do poder executivo no mapa do Brasil, ainda em março: será possível haver um golpe de Estado em nosso país no ano que vem? Tudo é possível sob a batuta de Urano, o revolucionário, que costuma romper, cortar, eliminar sumariamente o que encontra pela frente."

    Fantasia, mera especulação ou resultado da intuição da mudança profunda de mentalidade que pode estar se processando no seio das massas trabalhadores do planeta, as previsões parecem continuar a refletir muito da realidade potencial que teremos pela frente. Nos resta a esperança de que em nosso país ela não se consubstancie na institucionalização formal do fascismo "cor-de-rosa" (que o vermelho desbotou há muito tempo) vigente.

    Ubirajara Passos

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    1.    Vendo aquelas multidões, Jesus subiu à montanha. Sentou-se e seus discípulos aproximaram-se dele.    
    2.    Então abriu a boca e lhes ensinava, dizendo:    
    3.    Bem-aventurados os que têm um coração de pobre, porque deles é o Reino dos céus!    
    4.    Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados!    
    5.    Bem-aventurados os mansos, porque possuirão a terra!    
    6.    Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados!    
    7.    Bem-aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia!    
    8.    Bem-aventurados os puros de coração, porque verão Deus!    
    9.    Bem-aventurados os pacíficos, porque serão chamados filhos de Deus!    
    10.    Bem-aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus!    
    11.    Bem-aventurados sereis quando vos caluniarem, quando vos perseguirem e disserem falsamente todo o mal contra vós por causa de mim.    
    12.    Alegrai-vos e exultai, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois assim perseguiram os profetas que vieram antes de vós.














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    Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim




    “Se não fosse a Santa Comunhão, eu estaria caindo continuamente. A única coisa que me sustenta é a Santa Comunhão. Dela tiro forças, nela está o meu vigor. Tenho medo da vida, nos dias em que não recebo a Santa Comunhão. Tenho medo de mim mesma. Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim. Do Sacrário tiro força, vigor, coragem e luz. Aí busco alívio nos momentos de aflição. Eu não saberia dar glória a Deus, se não tivesse a Eucaristia no meu coração.”



    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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