Rodrigo Constantino
- Desapropriação em Guaratiba
- Scheinkman culpa governo por economia travada
- O mal de Bresser-Pereira
- Pondé em Miami
Posted: 29 Jul 2013 08:22 PM PDT
Fonte: O GLOBO
Rodrigo Constantino
Deu no GLOBO: Paes anuncia para esta terça-feira decreto de desapropriação em Guaratiba
- O prefeito Eduardo Paes anunciou em coletiva de imprensa nesta segunda-feira (27/7) que publicará nesta terça o decreto de desapropriação do terreno onde foi montado o Campus Fidei, em Guaratiba. O loteamento foi prometido pela Igreja Católica, e idealizado numa conversa entre o prefeito e o arcebispo do Rio, dom Orani Tempesta, para ocupar o lugar onde ocorreriam os eventos de vigília e missa de envio no encerramento da Jornada Mundial da Juventude (JMJ). O prefeito defendeu a organização do evento, afirmando que a Igreja tinha todas as licenças ambientais, tanto do estado quanto do município, para a realização dos trabalhos de terraplanagem que foram realizados.
Mas eis o trecho que mais chamou a minha atenção:
Apesar de anunciar a desapropriação, Paes insistiu em afirmar que não sabe a quem pertence o terreno. Ele admitiu que a região também precisa de uma legislação urbanística nova, o chamado Plano de Estruturação Urbana (PEU), cujas discussões devem ser agilizadas nos próximos meses.
Tentando entender a coisa toda: o evento da igreja "mica" na área previamente organizada pois a prefeitura não contou com a possibilidade de chuva; a revolta é geral pela desorganização e incompetência; o governo cria, então, uma cortina de fumaça, com a notícia de que vai usar a área para criar um bairro popular novo; para dar continuidade ao anúncio, agora a prefeitura avisa que vai desapropriar o terreno; e, como se não bastasse isso, diz que nem sabe quem é o seu proprietário!
Como a prefeitura não sabe o proprietário do terreno é um mistério para mim. Será que ignora isso na hora de cobrar os impostos? Mas, do ponto de vista liberal, o que preocupa mesmo é essa flexibilização do direito de propriedade no Brasil. Os governos concentram poder demasiado para simplesmente "invadir, pilhar, tomar o que é nosso", como dizia a letra da música do RPM.
Em nome de um bem coletivista qualquer, o governo se sente no direito de expropriar propriedade particular. Esse tipo de coisa ameaça esta que é a principal instituição do capitalismo. Acabamos com a propriedade privada de jure, mas nem sempre de fato. A insegurança que isso gera é enorme.
Nos Estados Unidos, durante o auge das ferrovias, o governo expropriou muitas terras para fins "nobres". As ferrovias estatais acabaram falidas. Enquanto isso, empresários construíam suas próprias ferrovias, algumas transnacionais, e como não contavam com a prerrogativa estatal de simplesmente decretar a expropriação, tiveram que comprar as terras demandadas. Muitas dessas ferrovias foram bem-sucedidas.
Quando escuto que o governo vai expropriar uma propriedade, tombar outra, ou impor um Apac que impede reformas modernizantes em prédios velhos, tudo sempre em nome do bem-geral, confesso que tenho calafrios. E quando vejo isso com o objetivo de construir um novo bairro popular do zero, penso em Ayn Rand e tenho ainda mais calafrios.
É muito poder concentrado em governantes que se arrogam uma sabedoria que simplesmente não possuem. E quem paga a conta somos todos nós, os proprietários à mercê desses governantes. Afinal, de quem é a propriedade?
Posted: 29 Jul 2013 11:24 AM PDT
Rodrigo Constantino
Em entrevista para a Folha, o economista José Alexandre Scheinkman coloca a culpa de nossa economia travada na incompetência e na ideologia equivocada do governo. Seguem alguns trechos relevantes:
Sim, e essas empresas melhoram ao se tornar formais. Mas, como há um tamanho máximo de faturamento para ficar dentro das faixas de tributação no Brasil, há um desestímulo na busca por crescimento por parte dessas empresas e isso prejudica a eficiência da economia.
O ideal seria diminuir os impostos para as firmas maiores e trazê-las mais perto das outras.Há os casos de proteção setorial. As pessoas esquecem que a política setorial dificulta a vida das indústrias que usam o insumo do setor protegido. Elas acabam não podendo se tornar tão eficientes quanto as de países que têm acesso ao mesmo insumo a preço relativamente menor.
Um amigo meu diz --e eu concordo-- que um dos grandes problemas do governo brasileiro é a incompetência. Eu não consigo explicar isso por malevolência, por um pensamento de que o governo quer um país atrasado.
Às vezes as políticas são extremamente prejudiciais ao país por incompetência --por exemplo, quando o governo controla o preço da gasolina. Isso levou ao aumento do congestionamento e da poluição e prejudicou uma das poucas tecnologias importantes criadas no Brasil, a da indústria do etanol.
Não imagino que o governo decidiu gerar essas consequências. Mas alguém teve a brilhante ideia de, entre aspas, controlar a inflação mantendo o preço da gasolina estável e não pensou nas consequências.Há uma questão também de ideologia. Há reformas que precisavam ser feitas, mas que não atendiam à ideologia do governo. Acho que agora o governo entendeu que precisa trazer mais investimento privado para áreas como ferrovias, portos etc.
Outro problema importante é a baixa taxa de poupança. Então, o governo cobra muito imposto, mas tem gastos enormes e pouca capacidade financeira para investir, além da falta de capacidade que eu já mencionei de competência do setor público.Excesso de intervencionismo econômico, altos impostos para permitir elevados gastos públicos, desconfiança com o livre mercado, protecionismo comercial, enfim, as mazelas de nossa economia são conhecidas, e foram intensificadas durante o governo Dilma. O Brasil precisa, mais que nunca, resgatar uma agenda de reformas liberais, reduzindo o papel estatal e ampliando o do mercado. Ou isso, ou continuaremos travados.
Posted: 29 Jul 2013 10:45 AM PDT
Rodrigo Constantino
Em sua coluna de hoje na Folha, Luiz Carlos Bresser-Pereira fala sobre a "banalidade do mal", tema ressuscitado pelo filme em cartaz sobre Hannah Arendt (que ainda não tive a oportunidade de ver). De fato, o grande mal é possível quando parece banal, e essa foi a sacada da filósofa. Como resume o colunista:
Em vez de simplesmente retratar Eichmann como o gênio do mal, como esperavam seus leitores, em vez de descrevê-lo como um homem violento e racista, ela o descreveu como um medíocre burocrata que cumpria ordens, um homem normal sem capacidade de avaliar o mal que praticava.
E faz então uma descoberta fundamental: identificou a banalidade do mal, o fato de que ele só se torna imenso quando se torna banal e, por isso, compartilhado por muitos.
Até aqui vamos bem. Mas eis que Bresser-Pereira resolve dar exemplos dessa "banalidade do mal" mais modernos. E aí ele sai pela tangente. Coloca o terrorismo islâmico ao lado da Guerra do Iraque e da guerra civil na Síria. Ele diz:
A partir dessa definição, saliento três manifestações maiores do mal neste início de século: o terrorismo islâmico contra inocentes, a Guerra do Iraque, e a guerra civil "pela democracia" na Síria. Nos três casos, vimos ou estamos vendo uma violência imensa contra seres humanos inocentes.
Não há nada que justifique as mortes causadas pelo terrorismo islâmico, assim como pela Guerra do Iraque, e pela guerra na Síria, apoiada pela Arábia Saudita e por potências ocidentais. Nos três casos, vemos a banalidade do mal.
Existem inúmeros motivos para se discordar da Guerra do Iraque. Mas colocá-la no mesmo barco do terrorismo islâmico é absurdo. Ignora-se que antes dessa guerra o país era dominado por uma cruel ditadura, que já havia banalizado o mal totalmente. Ignora-se que Saddam Hussein não cumpria os acordos firmados com a ONU de inspeção, e que o ditador financiava terroristas. Enfim, ignora-se completamente que derrubar um ditador sanguinário não pode ser comparado a explodir um prédio repleto de civis com o intuito deliberado de matá-los.
Mas a tática é conhecida. Ayn Rand foi perspicaz ao descrevê-la em seus livros. Quando você quer atacar sua sogra, você diz que repudia igualmente o veneno das cobras, a mordida do rato, e o sermão da sogra. O alvo fica evidente. O mesmo faz a esquerda sempre: há críticas a serem feitas contra o socialismo, o nazismo e o capitalismo. O que se quer com isso? Difamar o capitalismo, claro!
Como nada nesse mundo é perfeito, tudo será passível de crítica sempre. Quem tenta jogar no mesmo saco coisas tão diferentes por conta disso, parece ter um alvo específico. Ninguém é perfeito, logo... o estuprador, o pedófilo e o sujeito que mentiu para a mulher são todos "pecadores". Quem se quer condenar com esse tipo de discurso?
Espero ter deixado claro que colocar a Guerra do Iraque ao lado dos ataques terroristas islâmicos e o que se passa na Síria só pode ter uma intenção: atacar a Guerra do Iraque e seu principal responsável, o governo americano. Bush e Osama bin Laden acabam retratados como igualmente terríveis. Não faz o menor sentido.
Ao término do artigo, Bresser-Pereira ainda dá um deslize final:
O mal está, portanto, entre nós. Está nesses episódios, está nos crimes associados às drogas, está na violência e no desrespeito contra os pobres. Mas é difícil para nós nos indignarmos, porque esse mal é banal. Só quando ele deixa de sê-lo, e a sociedade se torna indignada, pode ele ser combatido e, em alguns casos, vencido.
O trecho por mim grifado diz tudo: quer dizer que a violência e o desrespeito contra os pobres é condenável e representa a "banalidade do mal", mas contra os mais ricos não? Roubar da classe média pode? Violentar uma moça de família abastada não tem problema? Nota-se a demagogia e o sensacionalismo, típicos da esquerda. O mal de Bresser-Pereira é (ser) seletivo.
Posted: 29 Jul 2013 08:10 AM PDT
Rodrigo Constantino
Em sua coluna de hoje, o filósofo Luiz Felipe Pondé fala da angústia do "eu", sempre em busca de satisfazer expectativas de terceiros. Pondé descasca essa tirania dos desejos na era moderna, esse "faz tudo" pelas aparências, os embustes dos programas de "autoconhecimento" à jato, enfim, ele aponta para vários sintomas de uma das principais doenças da modernidade.
Mas não quero falar disso. Quero pegar um trecho de seu texto mais profundo e focar em um aspecto bem mais raso e superficial. Receio que o bebê seja jogado fora junto com a água suja do banho. Eis a passagem em questão:
Outro dia, contemplava pessoas num aeroporto embarcando para os EUA com malas vazias para poder comprar um monte de coisas lá.
Que vergonha. É o tal do "eu" que faz isso. Ele precisa comprar, adquirir, sentir-se tendo vantagem em tudo. O "eu" sente um "frisson" num outlet baratinho em Miami. O mundo faz mais sentido quando ele economiza US$10. E o pior é que, neste mundo em que vivemos, faz mesmo sentido. Qualquer outra forma de sentido parece custar muito mais do que US$ 10.
Entendo perfeitamente o ponto do filósofo. Como morador da Barra da Tijuca há três décadas, posso atestar com inúmeros exemplos concretos a existência desse tipo de gente em abundância. São pessoas "bregas", como diz o próprio Pondé, que pensam ser possível preencher um vazio existencial com roupas de grife (muitas já ultrapassadas nos States) ou aparelhos tecnológicos de ponta. Não podem.
Dito isso, considero injusto jogar todos no mesmo saco. Quem é movido por isso, quem é "escravo" dessas paixões consumistas, quem, enfim, confunde seu próprio "eu" com a marca estampada em sua roupa ou seu celular, sem dúvida representa o alvo típico do ataque de Pondé. Trata-se não só de algo brega, como algo um tanto triste do ponto de vista existencial.
Mas nem todos que vão para Miami de malas vazias sofrem desse mal. É perfeitamente factível alguém ter outros interesses, outros valores, um pensamento mais denso e profundo sobre a vida, e ainda assim não gostar de rasgar dinheiro, ou pior, de deixar boa parte do que gasta nas mãos corruptas do nosso governo.
Fazer compras em Miami é apenas algo racional. Encontra-se de tudo a um preço bem menor. Em certos casos, para quem pretende comprar muita coisa, talvez um enxoval de casamento ou para o bebê, consegue economizar bastante dinheiro mesmo incluindo a passagem. Não estamos falando de US$ 10, mas de centenas de dólares.
Essa quantidade enorme de gente que viaja para Miami para fazer compras pode ser perfeitamente um indício do sintoma que Pondé aponta no texto, mas pode muito bem ser evidência de outra doença, mais prosaica, mais trivial: os preços absurdos dos mesmos produtos no Brasil, basicamente devido aos impostos escorchantes. Como diz um amigo meu, compro em Miami porque sou pobre; se fosse rico, comprava no Brasil mesmo.
Por fim, é preciso ter cuidado com intelectuais e filósofos que pairam acima desses desejos materialistas. Não é o caso do próprio Pondé, que volta e meia expõe a hipocrisia dessa gente, que finge gostar de filmes chatos iranianos enquanto assiste escondido a novela da Globo. São esquerdistas que condenam o consumismo do capitalismo portando uma bolsa da Louis Vitton, pois ninguém é de ferro.
Claro que os excessos consumistas devem ser condenados. Como eu disse, é muito triste alguém ser "escravo" de uma marca de roupa ou celular, tudo pelas aparências, pelos outros. É muito vazia, muito superficial, uma vida assim. Mas é perfeitamente normal usufruir dos produtos modernos, sem se deixar cegar por isso. Usá-los, e não ser usado por eles.
Para os que conseguem isso, nada melhor do que pagar um preço bem menor por eles, pois ninguém gosta de rasgar dinheiro, nem intelectuais. E para isso, nada melhor do que comprar em Miami, onde tudo é muito mais barato. De quebra, ainda há bons restaurantes. Convido Pondé para um bate-papo profundo no Nobu. Falaremos de Dostoievsky, Camus e Kafka, comeremos muito bem, e a conta será menor do que a de um restaurante mediano paulista. Que tal?
PS: Absurdo mesmo é o governo brasileiro insistir com um limite ridículo de US$ 500 por pessoa para trazer de fora, sendo que a polícia alfandegária está cada vez mais atenta, revirando até roupas das malas em busca de mais arrecadação com esses impostos indecentes.
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