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    quarta-feira, 27 de junho de 2012

    Se é uma ceia, pra que se importar com os elementos?


    Veritas Fidei
    Aqui será dita a verdade sobre as seitas e que "extra Ecclesiam nulla salus". Muito embora as obras de misericórdia espirituais incluam ensinar os que não sabem e a correção fraterna, sei que muitos não verão isso como uma obra de caridade. Mas o é. E faço minhas as palavras do glorioso apóstolo dos gentios: "Ergo inimicus vobis factus sum verum dicens vobis?" “Fiz-me acaso vosso inimigo, dizendo a verdade?” Gl 4,16




    Posted on sexta-feira, 22 de junho de 2012

    Olhando um blog de uma amiga minha, calvinista, tive duas reações: uma delas de alegria, pois sei que ela só postou o que escreveu por saber que o sacramento da Eucaristia não pode ser tratado de qualquer forma e a outra reação (pois visitei não só o blog dela, mas também de mais dois pastores conhecidos de nós duas) foi de uma surpresa, como direi, quase ironia. Já que - hoje - sei que é um contrassenso todo esse "zelo" pelo sacramento per se, se você tem uma visão protestante - seja de que matiz for: luterana (consubstanciação), calvinista (presença espiritual) ou zwingliana (que aquilo é somente um símbolo). Por que é um contrassenso? Simples: a partir do momento que você deixa de crer na Presença Real de N. Senhor nos elementos da Eucaristia, pouco importará se vc a celebra com Coca-Cola e bijou, com suco de uva e pão de forma da padaria, com vinho e pão sem fermento. Tanto faz. Afinal, ainda que se partisse da ideia de Lutero (a consubstanciação), não teria nexo esse escrúpulo de consciência.


    Porque, veja, mesmo a posição de Lutero, que é a CONsubstanciação, a saber, que ali, JUNTO, AO MESMO TEMPO (daí o prefixo CON) com a substancia dos elementos da ceia, Cristo se faz presente. Veja, não se transforma a substância dos elementos, antes eles crêem que Cristo se faz presente JUNTO com a substancia própria dos elementos. Daí o nome "consubstanciação). Mas isso é durante o momento da cerimônia. Acabou tudo, não tem mais Presença Real ali. É só e unicamente enquanto DURAR o culto deles, a cerimônia. Ponto.

    A visão calvinista dá um meio termo entre a visão luterana e a de Zwínglio (predominante hoje no meio evangélico). Vejam o que fala Calvino:

    "De antemão já chamamos a atenção para o seguinte: que somos conduzidos das coisas corpóreas que se apresentam no sacramento, por meio de certa analogia, às coisas espirituais. Assim, quando o pão nos é dado como símbolo do corpo de Cristo, imediatamente se deve imaginar esta similitude: como o pão nutre, sustenta, conserva a vida de nosso corpo, assim o corpo de Cristo é o alimento único para revigorar e vivificar a alma. Quando vemos o vinho proposto como símbolo do sangue, deve-se ter em mente quais benefícios o vinho traz ao corpo, para que refli- tamos que os mesmos nos são espiritualmente conferidos pelo sangue de Cristo, a saber, alimentar, restaurar, fortalecer, alegrar." Institutas 4, XVII, 3

    Veja que, ainda que ele esteja falando do que os calvinistas tomam como a "presença espiritual", aquilo acaba não sendo nada mais que uma visão melhor da tese de Zwínglio, já que ele recorre o tempo todo às analogias: o pão nos é dado como símbolo do Corpo de Cristo assim como o pão nutre e sustenta o Corpo, o Corpo de Cristo é o único alimento para revigorar a alma. Oras. Isso não é crer que Cristo está presente nos elementos. É, nada mais, nada menos que uma forma estilosa de divergir de Zwínglio.

    Vejam o modo como ele fala da Presença Real de Nosso Senhor nas espécies consagradas:

    "a presença de Cristo no sacramento de modo nenhum deve ser sonhado como o configuraram os artífices da cúria romana, como se o corpo de Cristo fosse contido em uma presença local, para ser tocado pelas mãos, triturado pelos dentes, tragado pela boca" Idem, XVII, 12

    Os "artífices da Cúria Romana"? Acaso Calvino ignoraria Justino de Roma ou Agostinho?

    Vejam Justino:

    “Está comida nós a chamamos Eucaristia... nós não recebemos essas espécies como pão comum ou como bebida comum; mas como Cristo Jesus nosso Salvador, assim também ensinamos que o alimento consagrado pela Palavra da oração que vem dele, de que a carne e o sangue são, transformação, Carne e Sangue daquele Jesus Encarnado” (São Justino Presbítero, I Apologia, cap. 66 cerca de 148-155 d.C.).

    E Sto. Agostinho dizia, no século IV:

    “Ninguém coma daquela carne sem primeiro tê-la adorado...”

    Entendo. E eles eram "artífices da cúria romana". Sei... Não, ele não ignorava esses santos homens, mas se ele fosse ser franco e honesto em relação à patrística, não teria sido o João Calvino que ora conhecemos, antes teria permanecido católico.

    Porque estou fazendo toda essa digressão e mostrando a posição deles? Para que vocês entendam o meu assombro ao ler esse texto dessa querida amiga:

    "vi no meu Facebook uma notícia sobre evento da Fraternidade Teológica Latino-Americana, em Belo Horizonte. Era sobre a ceia, com fotos estranhas: em vez do pão, duas bandejas, uma com limão fatiado e outra com quadradinhos marrons. Dizia a legenda: "Compartilhamos o amargo e o doce da vida simbolizados pelo limão e pelo doce de leite."

    Não sei se algum dos participantes conseguiu perceber ou intuir isto, mas a mudança inserção de outros elementos à ceia, aos quais foi atribuído outro simbolismo, perverteu tudo. A ceia é o sacramento instituído pelo próprio Jesus Cristo para lembrarmos que só estamos vivos porque nos alimentamos dele, ou seja, do corpo e do sangue que ele entregou em sacrifício vicário por nós." A ceia acridoce

    Veja: ela teria TOTAL razão em se indignar se partisse de uma visão sacramental não relativista como a protestante. Porque, oras, se aqueles elementos simbolizam realidades eternas como falou Calvino, porque precisam ser NECESSARIAMENTE pão e vinho? Porque, raios, não podem outros elementos se prestarem a simbolizar essas coisas?

    Ah, como ela e outro pastor falaram, ninguém poderia alterar os elementos da Eucaristia? Really? But.... eles mesmos o fazem! Não usam vinho, mas suco de uva. Não usam pão ázimo (sem fermento), antes compram qualquer pão que tenha na padaria ou no mercado. Eu já soube até de um ministro que celebrou com suco de abacaxi (por não ter vinho e/ou suco de uva)!


    Aí encontrei um texto de uma terceira pessoa - outro pastor protestante - que, ao responder objeções que levantaram nesse debate (veja: o debate foi todo entre protestantes!), ele fala assim sobre o que coloco e que outros também colocaram [mudar por mudar os elementos eles já o fazem]:


    "2ª Objeção – Se não se pode alterar os elementos instituídos por Cristo, com que autoridade a maioria das igrejas usa pão fermentado ao invés do pão asmo e suco de uva no lugar do vinho?

    Se formos seguir este argumento de modo rigoroso, a Ceia não poderá repetir-se jamais. Teremos que produzir pão asmo (ou ázimo) com o mesmo trigo daquela época e o vinho com a exata fermentação daquela região, sem qualquer adição de componentes químicos, tão comuns nos vinhos de hoje. Certamente Jesus, ao instituir um sacramento que duraria séculos e que chegaria até aos confins do mundo, não foi específico desta forma. Ele instituiu simplesmente pão e vinho.

    Mas e quanto ao suco de uva? Não deveria ser apenas vinho? Ora vinho e suco de uva não são, ambos, fruto da videira? Na instituição da Ceia, Cristo disse: "... porque isto é o meu sangue, o sangue da nova aliança, derramado em favor de muitos, para remissão de pecados. E digo-vos que, desta hora em diante, não beberei deste fruto da videira..." Mt 26.28,29

    O erro, portanto, não está em utilizar-se de variações dentro da mesma categoria, mas em trocar o elemento instituído. Em outras palavras, o pão pode ser fermentado, ázimo, artesanal, de forma, integral, etc, desde que não desconfigure o sentido de pão que temos ao ler as Escrituras (pão asmo). O fruto da videira pode ser fermentado ou não, desde que seja fruto da videira." Ceia Acridoce - Objeções


    Bom, vamos por partes aí. Para começar, ele tenta dizer que é impossível reproduzir as mesmíssimas condições da época de Cristo e dos apóstolos, muito embora não esteja isso no centro da questão. Mas, para tentar defender o ponto deles e ao mesmo tempo não serem acusados, da mesma forma que acusam os demais de mudarem os elementos, ele precisa tentar estabelecer uma distinção. A distinção existe, mas não é como ele pensa. Vejamos:

    1- O pão DEVE ser ázimo (sem fermento). Deve mesmo, mas você pode perguntar o porquê disso. Veja: nas Escrituras o fermento é sempre tomado como símbolo do pecado, pois o fermento adultera e contamina toda a massa. E o pecado age da mesma forma nas nossas vidas. O uso do fermento era proibido durante a comemoração da Páscoa para os judeus, data em que comemoravam a libertação do cativeiro egípcio (o Novo Testamento traça um paralelo entre esse cativeiro egípcio e o pecado também!). Disse Deus aos israelitas:

    “Comereis pão sem fermento durante sete dias. Logo ao primeiro dia tirareis de vossas casas o fermento, pois todo o que comer pão fermentado, desde o primeiro dia até o sétimo, será cortado de Israel." (Êxodo 12,15)


    "Durante sete dias não haverá fermento em vossas casas: se alguém comer pão fermentado, será cortado da assembléia de Israel, quer se trate de estrangeiro ou natural do país." (Êxodo 12,19)

    E tem mais: os judeus não podiam oferecer ofertas para sacrifício a Deus com fermento (cf Lv 2,11). Ah, mas isso é o Antigo Testamento, você dirá. Não. Essa correlação do fermento com coisas como pecado, corrupção etc perpassa o Novo Testamento também. Jesus adverte contra o fermento (falsos ensinos) dos fariseus e saduceus em S. Mt. 16,12. S. Paulo, disse que aqueles que os tentavam dissuadir a voltar à prática da lei mosaica espalhavam o fermeneto entre eles (novamente sinônimo de falsos ensinos), confira isso em Gl 5,4-9. Por isso tudo, não é de modo algum uma "escolha" deles o pão ser ázimo, fermentado etc., como advoga o reverendo. De modo algum.

    2- O vinho também deve ser fermentado por meios NATURAIS e não com fermentos químicos. Pois é a fermentação externa e química que tem o paralelo com o pecado nas Escrituras como vimos. E de modo algum pode ser somente suco de uva, já que suco de uva também o existia na época de Nosso Senhor e não foi o elemento usado por Ele.

    E, sendo que o que foi instituído era pão ázimo e vinho, eles não tem o direito de trocar por pão de forma e suco de uva. Simples assim.


    O que essa amiga minha se escandaliza - e com razão - é de alterarem o que N. Senhor instituiu. Masss, o grande problema é que isso não é algo "isolado", antes o protestantismo faz isso há tempos com o sacramento da Eucaristia. Aliás, uma das maiores questio disputatio no tempo dos reformadores FOI JUSTAMENTE esse ponto, oras. Daí que a partir do momento em que eu tenho X visão, vc a Z e o outro a Y, mas todos "comungamos" do mesmo sacramento tem coisa errada. Os sacramentos não são um brinquedo para cada um fazer do modo como pensa melhor e tampouco coisas de menor importância.

    O que há de católico nela se escandaliza com a profanação do que N. Senhor ordenou, mas o que é hilário é a indignação partir de uma pessoa protestante, que parte de uma visão relativista dos sacramentos. Pena.
    This entry was posted in Calvinistas,Eucaristia,Luteranos,Presença Real,sacramentos by Juliana F. Ribeiro Lima.
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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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