Pontifical
Council for the Pastoral Care of Migrants and Itinerant People
People on the Move
N°
94, April 2004, pp. 239-241
Jornadas da Pastoral das Migrações – 2003 (Portugal)
Encontro Nacional dos Secretariados Diocesanos
da Pastoral das Migrações/Mobilidade
(SDPM)
Tema:A mobilidade Humana no país vista a partir das regiões autónomas
No ano em que se celebram os 50 anos da chegada dos primeiros Portugueses ao
Canadá e o 25° aniversário do documento pontifício “Igreja e deslocações
humanas”, estiveram reunidos, na cidade do Funchal, de 14 a 18 de Julho de
2003, representantes de 18 dioceses do País. Participaram como intervenientes:
missionários portugueses a trabalhar na África do Sul, Canadá e Venezuela,
Igreja Ortodoxa representada por um sacerdote ucraniano do Patriarcado de
Constantinopla, Centro das Comunidades Madeirenses, Associação Protectora dos
Pobres da Madeira, Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e Centro de Apoio aos
Repatriados Açoreanos.
Os participantes constataram que:
- Comunidades portuguesas no estrangeiro continuam a requerer, por parte
do Estado e da Igreja, um olhar mais atento e solidário no apoio aos novos
problemas com que se debatem actualmente, muitos devido á situação de grande
instabilidade política e social que terá inevitáveis consequências no nosso
país.
- ao contrário do que acontece no Continente, onde se nota uma certa
indiferença e silêncio quanto à Emigração, verifica-se, que as Regiões
Autónomas continuam a ser um “observatório” permanente da Mobilidade pois
é aqui que têm acontecido os mais significativos gestos de solidariedade,
nomeadamente para com as comunidades da África do Sul, Canadá e Venezuela.
- quanto ao fenómeno do regresso tem vindo a aumentar o número de
portugueses que se refugiam em Portugal devido à insegurança das suas pessoas
e bens. Por sua vez, tendo diminuído os repatriados (categoria social de
cidadania incerta) persistem dificuldades de integração social e profissional.
- continua o fluxo de emigração sazonal, sobretudo de gente jovem, onde
acontecem situações preocupantes e desconhecidas que requerem cada vez
mais uma intervenção concertada das entidades consulares e da Igreja.
- tendo a Igreja, com a sua rede nacional de acção sócio-caritativa,
sido pioneira no acolhimento, apoio social de emergência e ensino da língua,
reconhecemos que, pelas necessidades sentidas e exigências que nos são
colocadas diariamente pelos próprios imigrantes, é este o momento de passar à
formação específica de agentes pastorais e ao real envolvimento daqueles na
evangelização, com vista à integração eclesial.
- continua lamentavelmente, a existir, a vários níveis: exploração de
trabalhadores, “servidão” de mulheres em casas de diversão nocturna,
cidadãos regularizados a nível dos impostos e da Segurança Social, mas
impedidos de obter a autorização de residência; redes de angariação que
actuam em plena impunidade por inoperância da fiscalização; aumento de
situações de xenofobia e racismo; surgimento de novas seitas; situações
familiares penosas por dificuldade no reagrupamento familiar; estudantes
estrangeiros em situação de precariedade.
Por isso, os participantes propõem que:
- a Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM) actue junto das
Comunidades Portuguesas em ordem à auscultação da realidade, à formação
permanente do clero e de leigos, comprometidos, de modo especial na Venezuela,
Canadá, Bermudas e África do Sul: comunidades dinâmicas constituídas,
sobretudo, por madeirenses e açoreanos.
- quanto aos trabalhadores sazonais, especialmente na Europa, se estreitem
os laços com algumas entidades consulares onde estão a ocorrer situações
irregulares devido à insuficiente informação e incapacidade de uma imediata
resposta.
- para fazer face às situações que colocam os imigrantes em risco de
vida e situação de vulnerabilidade causada pela persistente impunidade de
alguns empregadores e “intermediários”, reconhece-se a oportunidade da
recente entrada em vigor da “Convenção da ONU para a Protecção dos
direitos dos trabalhadores migrantes e membros das suas famílias”, esperando-se a sua ratificação por parte de Portugal.
- à semelhança das condições, de âmbito diocesano e nacional, criadas
para o apoio espiritual e pastoral dos imigrantes cristãos de Leste, com vista
a uma evangelização inculturada e participada por todos, sugerimos que sejam,
em situação de paridade, concedidas as mesmas para as comunidades Brasileira e
Africana.
- diante da situação gravosa de Portugueses que perderam a Nacionalidade e
de estrangeiros em Portugal que não a conseguem adquirir, acompanhamos com
expectativa o actual debate político sobre as alterações à Lei da
Nacionalidade - L 37/81 de 03 de Outubro.
- que a Comunicação Social, ao abordar a problemática migratória não
continue a estigmatizar pessoas e comunidades, mas revele também o que há de
positivo e enriquecedor no encontro entre culturas.
- continuar a encorajar a reestruturação dos Secretariados diocesanos e
melhorar a articulação dos mesmos com outrasorganizações da Sociedade
Civil, de modo a que, a resposta da Igreja seja mais adequada às
necessidades actuais das comunidades migrantes.
Funchal, 16.07.2003
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