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27/07/2013 - 23:47
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Religião
Multidão acampa nas areias da praia e transforma o bairro turístico em uma gigantesca vigília, estimulada pelas palavras do papa e ávida pelo último encontro com Francisco, na missa de encerramento, na manhã deste domingo
Cecília Ritto, Pâmela Oliveira e Carolina Farina
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- Francisco foi recebido por 3 milhões de pessoas em Copacabana neste sábado, segundo a organização da JMJ - Maria Luiza Mesquita/Agência O Dia
Depois de ouvir o papa Francisco convocar os jovens a “sair para a rua, como Jesus”, seria muito querer que a multidão de peregrinos deixasse o grande acampamento nas areias de Copacabana para, daqui a algumas horas, retornar ao posto – correndo o risco de ficar mais longe do palco. A 28ª Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2013) virou o Rio de cabeça para baixo, mas também será lembrada eternamente por espalhar pelas ruas um colorido alegre, uma juventude pacífica que em nada lembra os quase 2 milhões de eufóricos turistas do réveillon, ou a massa balouçante do Carnaval de rua. Primeiro, porque superou as duas maiores festas da cidade: foram 3 milhões os fiéis que se posicionaram diante do altar e dos telões para assistir, pela penúltima vez, ao discurso do pontífice que criou no Brasil a “papamania”.
A movimentação que começou às 7h, com a improvisada peregrinação da Central do Brasil a Copacabana, num percurso de 9,5 quilômetros, se estendeu ao longo de todo o dia, continuando até mesmo quando os depoimentos de católicos escolhidos já ecoavam no sistema de som. As levas de peregrinos transformaram Copacabana em um camping gigantesco. Com sacos de dormir embaixo do braço ou pendurado nas mochilas, os jovens instalavam-se pacífica e ordeiramente onde pudessem estender os colchões, para permanecer até a manhã deste domingo. A vigília foi um dos momentos mais aguardados pelos fiéis. Seria inútil recomendar, aos jovens preparados para dormir no longínquo Campus Fidei, em Guaratiba, que retornassem para casa para não sofrer com desconforto ou insegurança. A rigor, todos devem permanecer acordados, rezando, cantando e aproveitando para celebrar a fé na última noite da jornada – mas é claro que, depois da caminhada e das emoções de um dia cheio, muitos vão dormir e se abrigar do vento gélido que sopra sobre o bairro. Alguns, é verdade, em nova companhia.
As duas pistas da Avenida Atlântica e a areia ficaram lotadas de peregrinos mesmo depois do encerramento da celebração. Os que chegaram mais cedo conseguiram lugar perto do palco, onde o papa Francisco celebrará missa às 10h para encerrar a JMJ. Quem só alcançou Copacabana pela tarde, por volta das 13h, ficou para ‘a turma do fundão’, e acompanhou o evento pelos telões espalhados na orla. Há desde papelões até colchões de casal infláveis espalhados pela Atlântica e pela praia, compondo um tapete que faz com que, de noite, pouco se veja da areia e do asfalto.
Na areia, os próprios católicos demarcaram seus lugares fazendo montes de areia em torno dos sacos de dormir. No asfalto, dormem lado a lado, sob as barracas dos quiosques e restaurantes e na portaria dos prédios luxuosos da beira-mar. Caminhar é uma das tarefas mais difíceis na noite deste sábado em Copacabana. Perde apenas para as longas filas formadas nos poucos banheiros ao longo da Atlântica. Nada, no entanto, que desanime o peregrino às vésperas do fim da JMJ.
De touca, luvas e edredom, Aline Nunes, moradora de Campo Grande, de 23 anos, estava com os amigos no calçadão. Distante do palco, longe da areia, mas feliz em participar da vigília. “Estávamos no caminho de Guaratiba. Viemos peregrinando, mas não conseguimos pegar o kit peregrino porque a fila era longa. Mas o pessoal, no caminho, nos deu biscoitos e bebida. Não dá para chegar até a praia. Pelo menos estamos perto do banheiro”, brinca.
Outro grupo que saiu de Campo Grande, sentado no meio fio da rua Barata Ribeiro, esperava terminar a fala do papa para conseguir chegar perto do local da vigília. São venezuelanos que saíram às 10h do bairro, chegaram às 14h no centro e só pisaram em Copacabana às 19h. Demoraram porque, além de longe, carregavam as bagagens para voltarem ao seu país no domingo. “Triste chegar até aqui e ainda não ter visto a praia”, disse Clisbert Suárez, de 22 anos.
Para um grupo de costa-riquenhos, ainda em uma das vias transversais, o momento da vigília é o mais especial da Jornada: “É uma noite com Deus, de adoração”, explicou Marilyn Carrasquillo, de 42 anos. O grupo vendeu frangos no palito todos os domingos antes de vir para a JMJ para pagar a passagem ao Rio. “Há um ano esperamos este momento. Estamos preparados para cantar e rezar bastante”, diz Luz Emilia Velasquez, de 48 anos.
Afonso Rangel, 16 anos, saiu de Valença, na Bahia, com um grupo de 17 amigos. Com medo da chuva, os jovens não pretendiam dormir em Copacabana, mas durante a peregrinação mudaram de ideia. A solução foi juntar pedaços de papelão para improvisar um local para deitar na areia. “O papa Francisco é uma pessoa de hábitos simples. Concluímos que seria importante como católicos passarmos a noite em vigília com muito pouco. Acho que praticar a humildade vai ser bom para refletirmos sobre a vida. Muita gente passa por dificuldades maiores e dorme nas ruas sem qualquer conforto ou segurança e as pessoas sequer se incomodam”, disse o baiano.
As amigas Márcia Naves, 36 anos, e Darilene Martins, 30 anos, começaram a programar a vinda para o Rio em outubro. Moradoras de Goiás, elas compraram sacos de dormir, capas de chuvas e mantas para a vigília. Mas, animadas com a possibilidade de ver o santo papa no Centro do Rio, perderam a hora de ir para Copacabana. Elas acreditaram que conseguiriam voltar para Laranjeiras, na Zona Sul, onde estão hospedadas, antes de ir para Copacabana. Estavam erradas.
“Quando percebemos, estava tarde e Copacabana já estava enchendo. Então decidimos vir direto e tentar comprar colchonetes no caminho. O problema é que não encontramos. Os estoques acabaram em todas as lojas. Encontramos só as colchas”, contou a farmacêutica Márcia, que até às 20h esperava sentada na calçada de Copacabana. “Não conseguimos um lugar na praia. Se mais tarde as pessoas forem embora, a gente vai tentar ficar na areia”, disse Darilene.
Moradora do Espírito Santo, a aposentada Maria Valdiva Zaché, de 62 anos, também não conseguiu um lugar na areia. Ela, o filho Leonardo e outros 43 amigos montaram os sacos de dormir e estenderam os cobertores na calçada. Alojada em uma escola municipal em Campo Grande, na Zona Oeste do rio, Maria contou que o grupo decidiu enfrentar o frio e amanhecer em Copacabana para acompanhar a missa de encerramento celebrada pelo papa Francisco.
“A vigília é um dos momentos mais importantes da jornada. É um tempo voltado à reflexão e à oração. Convenci meu filho a vir comigo e acredito que estamos vivendo algo muito especial, que reforçará os nossos laços”, contou Maria, que saiu da Central do Brasil com o grupo e concluiu a peregrinação de 9,5 km. “Nunca imaginei que conseguiria caminhar por quase dez quilômetros”.
Um grupo de padres poloneses já se acomodava em seus colchonetes antes mesmo das apresentações musicais se encerrarem no palco principal. Além da música alta, eles ainda enfrentavam as pessoas que deixavam a praia, passando muitas vezes por cima de quem estava no chão. "Estamos tão cansados que tenho certeza que vamos dormir de qualquer maneira", disse um deles.
O que mudou na programação da JMJ
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Peregrinação
Os fiéis vão caminhar 9,5 quilômetros, entre a Central do Brasil, onde há espaço para concentração e a orla de Copacabana, onde será celebrada a missa final do evento. O esquema da peregrinação vai funcionar de 7h da manhã de sábado às 19h de domingo, com o fechamento de um eixo de vias que vai de parte da Avenida Presidente Vargas, da Avenida Rio Branco, do Aterro do Flamengo, Enseada de Botafogo, Túnel Novo e Av. Princesa Isabel, até a Av. Atlântica.
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