Rodrigo Constantino
Carta ao jovem brasileiro
O culpado
O gigante adormecido
Lobão detona na Flip
Carta ao jovem brasileiro
Posted: 06 Jul 2013 05:40 PM PDT
Dr. José Nazar *
Dirijo-me a você, jovem brasileiro, não sem correr o risco de ser chamado de ingênuo, de alguém ultrapassado, de um desses que não percebe o que está se passando.
Insisto, desejo lhe dizer algo que julgo de extrema importância: frente à esse momento de turbulência política e econômica vivida por nosso País peço-lhe, meu caro jovem: Acredite! Acredite que é possível uma democracia mais saudável, ética, com valores morais e não moralista, preconceituosa. Ter ideais é próprio do jovem mas, devo lhe prevenir, todo ideal – seja ele uma ideologia política, religiosa ou outra qualquer -, é enganador. Apesar disso, é próprio da juventude se sustentar nos ideais porque eles são a centelha de liberdade da transição da família para o mundo adulto.
Hoje, como em toda história de mudança, você é aquele que clama pelo novo, pela verdade, pela queda do conformismo. Você, meu caro jovem, nos desperta do sono alienado de quem não acredita mais em mudanças. Portanto, jovem, cabe a você a responsabilidade de renovar as esperanças adormecidas em nossa comodidade cotidiana, nossa desesperança por lutar por um Brasil mais justo, que começa com o exemplo de políticos mais dignos de nos representar.
Mudanças virão pela frente, passo a passo, mas alguma coisa certamente já se encontra em andamento. Não é comum alguém se dirigir a um jovem através de uma carta. Sei que você, como tantos outros, receberá essa mensagem com um certo ar de desconfiança. Afinal, sempre há aproveitadores de ocasião para fazer valer suas ideias mirabolantes e perversas, mal intencionadas, no bojo de um movimento justo e sinceramente engajado na direção de uma verdadeira mudança para o País. Acredite, você é o operador das mudanças necessárias para o que está aí! Acredite, mas não se deixe cooptar pelas forças, oportunistas, que querem se aproveitar da legitimidade de um movimento para impor velhas decisões cujo único intuito é a manutenção do poder pelo poder. Reivindiquem um verdadeiro discurso político e não se deixem conduzir pela politicagem barata que, afinal, custa caro para todos, ricos e pobres, jovens e velhos: o preço de uma estagnação social, econômica, política e, porque não, do desejo de cada um.
Se você olhar nos olhos de seus pais verá que estão sem brilho, tomados de um certo medo do que está por vir, cansados de promessas jamais realizadas, oprimidos por impostos cuja razão – serviços – não são justificáveis. A angústia deles é o espelho da situação incompreensível em que se encontra um País que, sob o olhar estrangeiro, teria sido "a bola da vez". No entanto, o País continua com sua velha política autoritária de infantilizar seu povo, supondo que sabe o que ele precisa, ao invés de perguntar a todos os segmentos sociais, e não somente a um, suas reais e legítimas aspirações. Afinal, não se constrói uma nação apenas distribuindo a renda amealhada com os duros impostos injustificáveis, pagos com o suor do trabalho de muitos. Todos querem um Brasil mais justo porém, este Brasil não pode ser desenhado com as canetadas irresponsáveis daqueles que julgam que o sangue do povo é a boa tinta para seus decretos!
Jovem, queira um País habitado por seres de desejo e não, infantilizados por bolsas que não resolvem a bagagem de miséria, desigualdade, etc., de séculos. É sabido que essas abominações só se resolvem com educação, saúde e serviços de qualidade, mesmo que isso não dê votos à curto prazo. Um país não se constrói quatro, oito, doze anos de governo, mas num projeto contínuo de insistência nos valores de base de uma democracia verdadeiramente voltada para as vozes das ruas onde, afinal, circula o povo.
As crianças que vivem pelas ruas sabem muito bem a importância desse espaço de visibilidade. As ruas margeiam o que está estabelecido e, portanto, são o verdadeiro celeiro de mudanças na medida em que, em seu território, todos e tudo circula.
Os jovens estão sempre um passo à frente de seus pais, porque precisam cavar seu lugar nas instituições vigentes. Por isso, não têm compromisso com os aparelhos que vigoram e, também por isso, têm mais vigor para brigar pelo justo.
* Psiquiatra e psicanalista (Escola Lacaniana de Psicanálise)
O culpado
Posted: 06 Jul 2013 12:50 PM PDT
Rodrigo Constantino
Em artigo publicado hoje no Estadão, o jurista Miguel Reale Júnior apontou o verdadeiro culpado por "tudo isso que está aí": Lula! O advogado diz:
Lula, o Macunaíma, tergiversador, que ora se disse traído pelos mensaleiros, ora passou a mão na cabeça dos aloprados, é o responsável pelo clima deliquescente em que está imerso o Brasil. Fortalece-se, agora, a reação à esperteza como um valor: pede-se moralidade e as pesquisas eleitorais mostram dobrar o número de indecisos, começar a queda de Lula e surgir a figura de Joaquim Barbosa, homem probo, franco, alheio a malabarismos malandros.
O exemplo vem de cima. Após tanto tempo de salvo-conduto que Lula gozou com infindáveis escândalos vindo à tona, o clima de anomia se instalou no país. Esse tipo de coisa acaba se espalhando para a sociedade como um todo. Claro que Lula não inventou a corrupção, mas nunca antes da história deste país ela ficou tão escancarada com o líder máximo do governo totalmente blindado da sujeira. O efeito Teflon se esgotou. Reale diz:
Deve-se ao julgamento do mensalão e ao ressurgimento da inflação a disseminação da revolta diante da situação moral e econômica do País. Atos de protesto reúnem diversos descontentes, sem propósitos idênticos, próximos apenas no inconformismo. Há um estado de anomia, de negação de legitimidade dos Poderes instituídos que leva a atender à chamada ao protesto como forma de expressar a descrença nos canais formais de representação da vontade popular: partidos, Congresso e governo.
Outro fator importante foi o contraste entre a situação real, cada vez manos favorável, e o discurso ufanista, propagandista, enganoso do governo. Enquanto o povo sentia a dor da inflação crescente, do caos urbano, o governo repetia que tudo estava incrivelmente fantástico. Em algum momento a dissonância cognitiva cessa. Reale aborda a questão:
A anomia decorre da frustração em vista da impossibilidade de satisfação das expectativas criadas de realização pessoal. Prometeu-se o acesso ao consumo, pela concessão de crédito e graças ao aumento salarial, alimentando desejos já exasperados pela propaganda, mas a inflação e o endividamento desfazem a promessa. Prometeu-se democracia como probidade e surge o mensalão. Prometeram-se condições dignas de vida com eficiente atendimento no transporte, na saúde, na educação, mas a realidade revela só o descaso dos donos do poder.
A reação do governo até aqui tem sido errática, populista ou aproveitadora. Reale apresenta uma agenda alternativa:
A agenda imediata poderia ser: diminuição do número de ministérios, redução drástica dos cargos em comissão na administração direta e nas empresas estatais, nomeação de técnicos para diretores dessas empresas, desaparelhamento do Estado, registro dos cabos eleitorais remunerados, dotação de meios para a Justiça e o Ministério Público Eleitoral fiscalizarem e reprimirem o uso de caixa 2 nas campanhas, proibição de fornecedoras e prestadoras de serviço ao governo contribuírem para campanhas eleitorais, assegurar verbas fixas para emendas parlamentares sem troca de voto por liberação de meios. Quebram-se fontes da corrupção e pode vir a seriedade.
Mas sabemos que isso não vai acontecer. A presidente Dilma é criatura de Lula. Foi ele quem a colocou no poder, e atrelou o resultado de sua gestão ao seu próprio nome. O sucesso de Dilma seria o sucesso de Lula, e o fracasso dela seria seu fracasso. Tivemos o fracasso. E agora não adianta Lula se fingir de morto, fugir para a Europa, ficar calado: ele é o grande culpado disso tudo. Suas impressões digitais estão em todas as cenas do crime. Quem pariu Mateus, que o embale!
O gigante adormecido
Posted: 06 Jul 2013 06:38 AM PDT
Rodrigo Constantino
Eu tenho adotado uma postura cética e crítica não só em relação as manifestações, como principalmente em relação ao clima que elas geraram nas ruas e nas redes sociais. Há quem até ontem só queria saber de novela e futebol, e de repente pensa que tudo será diferente pois o povo "acordou", e só quem está nas ruas está realmente fazendo algo para mudar "tudo isso que está aí".
Por isso me conforta quando vejo aqueles outros que, assim como eu, eram os mais críticos ao governo petista nos últimos anos, adotando a mesma postura cética, desconfiada, crítica. É o caso de Reinaldo Azevedo, Marco Antonio Villa e Guilherme Fiuza. Este, em sua coluna do GLOBO de hoje, toca em pontos muito importantes para justificar esse nosso ceticismo. Merece uma reflexão. Ele já começa assim:
O Brasil deu para dizer a si mesmo que mudou. Que nada mais será como antes das manifestações de rua, que agora vai. Que se os governantes e os políticos em geral não entenderem o recado das ruas, estão fritos. É um fanfarrão, esse Brasil.
Claro que algumas mudanças positivas podem ocorrer após essas manifestações. Mas não resta dúvida de que quem sonha com enormes mudanças, com fundamentais mudanças, irá se decepcionar. Eu caso grana nessa aposta! E digo isso pois o clima de cautela é crucial para impedir que essa esperança toda, mal-calibrada e pouco racional, volte-se contra o próprio povo, dificultando reformas necessárias, que serão lentas e graduais. Fiuza continua:
Qual é mesmo o recado das ruas? Vamos falar a verdade: ninguém sabe. Nem as ruas sabem. Ou melhor: não há recado. O gigante continua adormecido em berço esplêndido — o que se ouviu foi um ronco barulhento, misturado com palavras desconexas. Esse gigante fala dormindo.
Como eu tenho apontado, há uma tremenda cacofonia nas ruas, e as demandas são muito díspares. Alguns pedem mais gastos públicos, outros menos impostos, e outros ainda apelam para medidas populistas como "passe livre". O recado das ruas tem alvo: os políticos. Mas é muito vago, sem foco.
O fator econômico como catalisador das manifestações também é abordado por Fiuza:
Há alguns anos, a imprensa vem contando aos gritos o que está acontecendo com o gigante, sem que ele mova um músculo. E o que está acontecendo é devastadoramente simples: em uma década, o ciclo virtuoso do país foi jogado fora pela indústria do populismo. A crise das tarifas de ônibus (estopim dos revoltosos) é só uma unha do monstro: o descontrole inflacionário causado pelo derrame de dinheiro público. País rico é país com 40 ministérios.
O meu principal receio com tudo isso tem sido acerca da reação do governo. O que vai sair de concreto disso? Congelamento de preços? Mais gastos públicos? Plebiscito? Enfim, o clima criado pelas manifestações podem também servir como pretexto para uma agenda nefasta do governo. Fiuza toca no ponto:
Enquanto isso, a maquiagem das contas públicas vai bem, obrigado — com mais um truque contábil no incesto entre o BNDES e o Tesouro, para forjar superávit e legalizar a gastança. É pedra na vidraça do contribuinte, que nada ouve e nada vê. Deve estar na passeata, exigindo cidadania.
Pensando bem, foi o governo popular quem melhor entendeu o recado das ruas: os cães ladram e a caravana passa. Ou talvez: os revoltados passam e a quadrilha ladra.
Para checar se o gigante estava dormindo mesmo, o estado-maior petista chamou um dos seus para ir até o ouvido dele e chamá-lo de otário, bem alto. Assim foi feito. Como primeira reação oficial às passeatas, Dilma escalou Aloizio Mercadante para dizer ao povo que ele ia ganhar um plebiscito. E que com esse plebiscito, ele, o povo, ia fazer a "reforma política" (o Santo Graal dos demagogos). Claro que o governo sabia que isso era uma troça, uma piada estilo "Porta dos fundos". Tanto que caprichou nos ingredientes.
Fora isso, há outro risco que já mencionei também: a volta de Lula. Não acho trivial, não sei se ele desfruta dessa popularidade toda, e há boatos de que sua saúde não permitiria uma volta ao poder. Mas se Dilma for triturada antes do tempo, pode ocorrer isso sim, pois sabemos que o PT fará de tudo para se manter no poder. Fiuza conclui:
O país se zangou, foi para as ruas, tuitou, gritou, quebrou e voltou para casa sem nem arranhar quem lhe faz mal. O projeto de privatização política do Estado, que corrói a sociedade e seu poder de compra, está incólume. A prova disso? A popularidade de Dilma caiu, mas quem surgiu nas pesquisas para 2014 vencendo a eleição no primeiro turno, e escolhido "o mais preparado para cuidar da economia nacional"? Ele mesmo: Luiz Inácio, a nova esperança brasileira.
Ora, senhor gigante: durma bem! Mas, por favor, ronque baixo. E pare de bloquear as ruas com seus espasmos inconscientes.
Lobão detona na Flip
Posted: 06 Jul 2013 06:00 AM PDT
Fonte: O GLOBO
Rodrigo Constantino
O cantor Lobão arrasou na Flip. Segundo reportagem do GLOBO, Lobão lotou o auditório, e depois disparou sua metralhadora giratória e irreverente. Sobre as novas regras do Ecad, Lobão disparou:
O MinC vai ser inflado com cargos de confiança. Esse projeto de lei é um golpe, não representa a classe, mais de 14 mil músicos são contra ele. Ninguém me pediu opinião, por exemplo. Todo mundo essa semana tirou foto com a Dilma Rousseff e o Renan Calheiros, essa lei vai ter volta, hein?
Confesso ainda não ter tido tempo para me aprofundar muito na questão, mas se Chico Buarque está de um lado, e Lobão do outro, eu já tenho quase certeza de qual será o meu lado, e ele terá som de guitarra elétrica. Inclusive, adianto que pedi a Lobão um artigo de sua autoria sobre o tema, para eu publicar no meu canal, e ele aceitou o pedido. Em breve...
No mais, a foto dos puxa-sacos com a presidente Dilma foi algo realmente patético. O rei Roberto Carlos, então, foi o mais ridículo de todos, ao se reunir sozinho com a "presidenta" para defender sua visão autoritária contra biografias não-autorizadas, as únicas que prestam (as autorizadas são instrumento de marketing pessoal).
Sobre as manifestações nas ruas do país, o perfeito "Manifesto do Nada na Terra do Nunca" (último livro do Lobão e que recomendo), Lobão fez um bom resumo do clima atual, a meu ver:
Fui muito criticado quando lancei meu livro, mas as manifestações são a verdadeira terra de ninguém na terra do nunca. O começo foi legal, agora o movimento parece mais a revista "Capricho", uma coisa "como fazer um penteado para conquistar o gatinho da manifestação". É um clima de micareta.
No livro, Lobão lembra que o rock era visto como produto importado do "império estadunidense", e por isso sofria preconceito e ataque por parte de nossos músicos da MPB, engajados em ideologias esquerdistas. Ele volta ao tema na entrevista:
Essa história de resistência à guitarra é a pura inveja do falo norte-americano. O ranço da MPB é ser desprovida de virilidade, é pau molengo. Quanto mais pau molengo, mais MPB.
É isso. Lobão merece o meu respeito, pois nesse meio musical, infelizmente, a mentalidade esquerdista é predominante. Por isso é importante ter alguém falando uma linguagem diferente para a garotada...
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