Rodrigo Constantino
O povo quer mudança. Mesmo?
O verdadeiro plebiscito
O pessimismo de Vargas Llosa
A lição de Anderson Silva
Os ventos mudaram a direção
Posted: 07 Jul 2013 05:22 PM PDT
Rodrigo Constantino
Poucos articulistas contrários ao governo têm adotado postura mais cética diante das manifestações que tomaram as ruas brasileiras. Guilherme Fiúza é um deles, e tem utilizado seu espaço no GLOBO e na Época para jogar duchas de água fria naqueles mais encantados com os protestos que derrubaram a aprovação de Dilma. Esquecem-se de que Lula pode voltar com isso.
Em sua coluna dessa semana na Época, Fiúza faz troça com essa esquizofrenia popular, que critica "tudo isso que está aí", mas na hora de responder em quem votaria, dá Lula no primeiro turno. Lula, o nome da "mudança". É para rir ou chorar? Escreve Fiúza:
A revolta das ruas produziu um milagre. Não as votações espasmódicas do Congresso Nacional, nem a revogação de aumentos das tarifas de ônibus. Esses foram atos oportunistas, que logo sumirão na poeira da história, embora tenham sido celebrados como vitórias revolucionárias. O milagre também não foi a reação do governo Dilma Rousseff, que propôs ao país um plebiscito para reformar a política. Outros governantes já usaram alegorias para embaçar o debate. Como a alegoria de Dilma é especialmente fajuta, não será comentada neste espaço. O milagre da onda de passeatas foi a reabilitação dele - o filho do Brasil, o homem e o mito, Luiz Inácio Lula da Silva.
Como compreender isso? Não faz o menor sentido! E isso, justamente, deveria ser um alerta importante aos que celebram de forma muito precipitada o "despertar" do povo brasileiro, que passou a ter consciência política da noite para o dia. O escritor continua:
A maioria do eleitorado deve estar escondendo alguma informação bombástica. Devem ter algum segredo, guardado a sete chaves, sobre o novo Lula. Diferentemente do velho, esse aí não deve ter nada a ver com Dilma, Guido Mantega, Gilberto Carvalho, José Dirceu, enfim, a turma que estourou as contas nacionais para bancar o populismo perdulário.
Não, nada disso. O novo Lula - esse que a voz do povo descobriu e não quer nos contar - é um administrador moderno, implacável com o fisiologismo. Um Lula que jamais daria agências reguladoras de presente a Rosemary Noronha, para ela brincar de polícia e ladrão com os companheiros (é bem verdade que a polícia só chegou ao final da brincadeira). Esse Lula, que hoje seria eleito para desenguiçar a economia brasileira, sabe que politizar e vampirizar uma Anac compromete o serviço da aviação. O povo foi às ruas por melhores serviços de transportes, e o novo Lula não faria como o velho Lula - aquele que transformou as agências do setor num anexo do PT e seus comparsas. Jamais.
Quando Dilma era candidata, Lula foi bem claro perante os eleitores: Dilma é ele, ele é Dilma. A presidente escuta ele antes de decisões importantes, despacha com seu mentor, uma espécie de governante de facto. Como que a impopularidade de Dilma não gruda em Lula? São mistérios do Brasil. Algo realmente espantoso. O povo fala em mudanças nas ruas. E depois diz que votaria... nele, no Lula, o responsável maior por "tudo isso que está aí". Piada? Só se for de mau gosto...
Posted: 07 Jul 2013 04:02 PM PDT
Rodrigo Constantino
Tenho dito que um dos grandes problemas de plebiscito, além dessa questão da "democracia direta" descambar quase sempre para demagogia e populismo, é que quem controla as perguntas controla boa parte do processo. A forma de perguntar faz diferença, assim como o que é perguntado.
Por isso gostei da provocação da revista VEJA, que preparou seu próprio plebiscito, sugerido para o governo. Seguem as dez questões recomendadas:
1. Os brasileiros trabalham cinco meses do ano só para pagar impostos e agora o governo quer que paguemos também todas as campanhas eleitorais dos políticos? Você concorda?
2. Se bem gasto, o dinheiro dos impostos seria mais do que suficiente para prover de educação, saúde e segurança os brasileiros. No entanto, a população tem de pagar uma segunda vez por escolas privadas, médicos e segurança. Você concorda?
3. Você concorda em proibir o uso de jatinhos da FAB por políticos e autoridades e, com o dinheiro economizado, investir na melhoria do transporte coletivo urbano e na saúde?
4. Aos 16 anos, um(a) brasileiro(a) já pode votar e se casar. Caso ele(a) cometa crimes bárbaros, deve ser julgado(a) como se fosse uma criança?
5. Você concorda que Brasília deveria abandonar a galáxia distante onde está e voltar para o Brasil?
6. Você concorda que deveria acabar a alegação de "réu primário", uma vez que isso beneficia quem mata pela primeira vez, mesmo que de maneira cruel e sem chance de defesa para a vítima?
7. Você aceita ceder aos caciques dos partidos políticos seu direito de escolher o candidato em quem votar?
8. Você concorda que deveriam ser fechadas as embaixadas brasileiras na Coreia do Norte, Cuba, Azerbaijão, Mali, Timo-Leste, Guiné Equatorial, São Cristóvão e Névis, Santa Lúcia, Botsuana, Nepal, Barbados e em outros países sem a menor expressão, e o dinheiro gasto com elas investido nos hospitais públicos brasileiros?
9. Você concorda que quem recebe dinheiro do governo federal poderia ter o direito de se declarar impedido de votar por óbvio conflito de interesses?
10. O governo tem 39 ministérios e nenhum deles resolveu sequer um problema relevante do Brasil. Você fecharia a maioria deles?
Esse plebiscito sim, seria um sonho! Mas sabemos que não passa de mera ficção, pois o governo jamais vai perguntar ao povo tais coisas, por motivos óbvios. Por essas e outras é que não devemos aplaudir, em hipótese alguma, um plebiscito, especialmente coordenado pelo governo petista. Tal plebiscito visa apenas a concentrar ainda mais poder no PT e seus caciques. Xô, plebiscito!
PS: As sugestões da VEJA dariam um ótimo foco para os protestos vagos, difusos, cacofônicos que tomaram as ruas do país...
Posted: 07 Jul 2013 09:23 AM PDT
Rodrigo Constantino
Passei meu fim de semana na agradável companhia de Mario Vargas Llosa. Ou nem tão agradável assim. É que seu último livro, "A civilização do espetáculo", é obra de alguém um tanto rabugento. Não posso alegar surpresa, pois já tinha lido a resenha de Jerônimo Teixeira na VEJA, assim como o artigo de João Pereira Coutinho na Folha.
Sem dúvida se trata de um Mario Vargas Llosa mais pessimista, cansado com a degradação cultural de nossa época. David Hume fez um alerta importante, porém: "O hábito de culpar o presente e admirar o passado está profundamente arraigado na natureza".
Devemos ter cuidado para não exagerar na dose do pessimismo, idealizando um passado inexistente. Como mostram Jerônimo e Coutinho, nem tudo é espetáculo na atualidade. Há coisas muito boas, decentes, refinadas, sofisticadas, sendo produzidas por aí, que apenas não ganham as manchetes e capas de jornais.
Dito isso, considero o alerta pessimista feito por Vargas Llosa bastante pertinente sim. Entendo perfeitamente sua decepção diante da "pós-modernidade". O zeitgeist é esse mesmo: vivemos na época em que os idiotas pululam, controlam tudo em nome da "democratização" de todas as áreas e do combate ao "preconceito".
Mataram os critérios minimamente objetivos de julgamento estético. Tomar consciência do problema, relatado de forma exacerbada pelo Prêmio Nobel, consiste no primeiro passo para se evitar o pior, ou para mantermos um pingo de sanidade individual frente à massificação da "cultura". Como diz Vargas Llosa:
A ingênua ideia de que, através da educação, se pode transmitir cultura à totalidade da sociedade está destruindo a "alta cultura", pois a única maneira de conseguir essa democratização universal da cultura é empobrecendo-a, tornando-a cada dia mais superficial.
Na era pós-moderna, tudo é horizontal, não pode mais existir hierarquia. Com isso, a linha divisória que separava superior e inferior desaparece. Não existe mais civilização e primitivismo atrasado, pois tudo se confunde, é errado afirmar a superioridade de um frente ao outro. "A derrocada dessas distinções é agora o fato mais característicos da atualidade cultural".
Vargas Llosa, velho defensor da democracia liberal e da economia de mercado, tenta evitar o tipo de ataque marxista à "sociedade do espetáculo", como aquele feito por Guy Debord. Para ele, o fenômeno é cultural antes de tudo, não um epifenômeno da vida econômica e social. Mas o escritor peruano não consegue evitar duras críticas ao mercado globalizado que, ao universalizar tudo, contribui para massificar tudo.
Aqui discordo um pouco, pois a globalização permite o contato com inúmeras culturas diferentes, que ajuda a enriquecer quem está aberto a elas, sem recusar valores minimamente objetivos. Mas o alerta tem seu ponto, e merece ser citado:
A indústria cinematográfica, sobretudo a partir de Hollywood, "globaliza" os filmes, levando-os a todos os países, e, em cada país, a todas as camadas sociais, pois, tal como os discos e a televisão, os filmes são acessíveis a todos, não exigindo, para sua fruição, formação intelectual especializada de tipo nenhum. Esse processo se acelerou com a revolução cibernética, a criação das redes sociais e a universalização da internet.
Esse tipo de fenômeno, segundo Vargas Llosa, representa um sério obstáculo à criação de indivíduos independentes, capazes de julgar por conta própria o que apreciam e admiram. Considero essa visão pessimista demais, ao tratar todos como cães de Pavlov diante da tentação midiática. Mas não dá para negar que muitos sucumbem a isso sim.
Talvez para a grande maioria, o bom passa a ser confundido com aquilo que é mais vendido, e sucesso passa a significar apenas boas vendas comerciais. "O único valor existente é agora o fixado pelo mercado", constata o escritor, confundindo-se com um típico crítico de esquerda.
A "civilização do espetáculo" seria marcada pela busca incessante por diversão e distração. Literatura light, fácil, rápida, exigindo o mínimo de esforço intelectual e ao mesmo tempo causando no leitor a impressão de que ele é moderno, de vanguarda, revolucionário. Movimentos de massa que "desindividualizam" o indivíduo, perdido em meio ao clima tribal, como parte da horda primitiva.
Drogas cada vez mais consumidas na busca por prazeres momentâneos, livrando o indivíduo de preocupação e responsabilidade, reflexão e introspecção, "atividades eminentemente intelectuais que parecem enfadonhas à cultura volúvel e lúdica".
Proliferação de seitas moderninhas que visam à substituição das antigas e milenares religiões, ofertando conforto imediato e fugas espontâneas às angústias da vida. Humor banal como entretenimento: "Na civilização do espetáculo, o cômico é rei". A transformação dos próprios intelectuais em "bufões" se quiserem, de alguma maneira, ainda influenciar o rumo das ideias em sua sociedade.
O estímulo exagerado de imagens: "Hoje vivemos a primazia das imagens sobre as ideias". A superficialidade dos slogans das redes sociais. Políticos que cada vez mais só trabalham sua forma, em vez do conteúdo. A frivolidade valoriza mais a aparência que a essência. Banalização do sexo, transformação do erótico em pornografia vulgarizada. Revista Caras como ícone da modernidade, onde a fofoca sobre os famosos importa mais do que informação de fato. O próprio jornalismo alimentando essas paixões baixas do ser humano, de forma totalmente sensacionalista e mórbida.
É muito pessimismo para um domingo, eu sei. Nem tudo é assim como diz Vargas Llosa. Mas me parece inegável que ele tem um ponto, e que faz bem em expor seu alerta. Muitas pessoas com maior sensibilidade e independência acabam optando pelo autoexílio, pelo ostracismo autoimposto, pelo silêncio. E isso só deixa mais espaço para os idiotas.
Por isso considero legítimo o ataque do escritor à "civilização do espetáculo", uma vez que é sempre bom lembrar que "a vida não só é diversão, mas também drama, dor, mistério e frustração". Poucos querem ser lembrados disso atualmente, na era do Prozac...
Posted: 07 Jul 2013 06:30 AM PDT
Fonte: O GLOBO
Rodrigo Constantino
Que decepção! Fiquei acordado até tarde neste sábado para ver a luta mais esperada da noite: Anderson Silva x Chris Wiedman. E tudo se acabou rapidamente, após excessiva provocação e palhaçada por parte do brasileiro.
Qual lição essa luta passa para o outro campo de batalha, a política? Para os petistas, defensores do cinturão, a clara ideia de que não devem brincar com o inimigo. E eles parecem ter absorvido a mensagem.
A presidente Dilma vai se reunir com blogueiros, para "reatar o relacionamento". Sakamoto, motivo de piada nas redes sociais, será um deles. Os representantes do governo mal tentam usar eufemismos: a tática é escancarada mesmo, e significa soltar verbas para blogueiros chapa-branca. É o governo comprando apoio nas redes sociais, para tentar levantar sua péssima reputação.
Os tucanos deveriam compreender a lição também. Até porque em 2005 cometeram o mesmo erro. Acharam que o mensalão tinha nocauteado o oponente, e ficaram dançando no ringue, achando que bastava aguardar o outro sangrar até cair duro. Deu no que deu. O diagnóstico foi precipitado demais, o moribundo se reergueu e derrotou o favorito.
Desta vez os golpes vieram das ruas, da economia, e a presidente Dilma, defendendo seu cinturão, caiu no chão. Sua aprovação desabou 30 pontos! O que vão fazer os tucanos? Aguardar a possibilidade de recuperação da oponente? Rebolar diante dele? Oferecer a face, chamar para um direto no rosto, sorrindo? Vai dar uma de Anderson Silva, e brincar com o desafiante?
Claro que o PSDB não deve fazer o jogo sujo do PT. Mas isso não quer dizer que ele não possa atacar mais, com seriedade, determinação, dentro das regras do jogo. O PT usa golpes baixos, dedo no olho, cotovelada na nuca. Usa a máquina estatal para comprar apoio de "jornalista" vendido. Cabe ao PSDB reagir, expor aos juízes os abusos do oponente, e partir para cima, "cair dentro" e tentar finalizar a luta logo de uma vez.
Se ficar sambando na frente do inimigo, achando que será moleza vencê-lo, vai acabar levando um direto de esquerda e desmontar no chão. E o público, com toda razão, ficará achando que o lutador quis perder, entregar de bandeja a vitória ao outro. Reajam, tucanos!
Posted: 07 Jul 2013 05:28 AM PDT
Meu novo vídeo-coluna para O GLOBO, sobre o cenário político-econômico brasileiro.
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