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    quarta-feira, 9 de maio de 2012

    Pobreza e injustiça favorecem a escravidão


    L'OSSERVATORE ROMANO

    Vatican

    Cidade do Vaticano, 9 de Maio de 2012.
    O cardeal Turkson sobre o tráfico de seres humanos

    Pobreza e injustiça
    favorecem a escravidão

    As cifras são chocantes. Não obstante lutas e guerras históricas e apesar de há mais de um século o direito internacional, enriquecido por dezenas de acordos e declarações a nível mundial, ter banido qualquer forma de escravidão e de tráfico de seres humanos, ainda hoje se contam milhões e milhões de vítimas deste fenómeno dramático. Não é por acaso que o comércio de seres humanos é considerado a segunda actividade criminal mais rentável a nível mundial, depois do tráfico ilegal das armas.
    E enquanto se continuam a assinar declarações de princípio «todos os dias – observa o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, presidente do Pontifício Conselho «Justiça e Paz» – homens, mulheres e menores vivem em condições semelhantes às da escravidão. São comprados e vendidos como mercadoria. A sua dignidade intrínseca é espezinhada por criminais sem escrúpulos, que se enriquecem através do comércio dos seus semelhantes ou da sua exploração».
    A denúncia do purpurado chegou durante a conferência internacional sobre o tráfico de seres humanos que – organizada pelo dicastério Vaticano em colaboração com a repartição para as políticas migratórias da Conferência episcopal católica da Inglaterra e Gales – se realizou em Roma na terça-feira, 8 de Maio.
    Objectivo dos trabalhos era frisar a importante contribuição que a Igreja pode oferecer à comunidade internacional na luta contra esta horrível chaga, graças à rede constituída por mais de um bilião de católicos espalhados no mundo.
    Explicando o sentido da atenção da Igreja em relação ao fenómeno, o cardeal Turkson ressaltou em primeiro lugar o facto de que «as leis nacionais e os acordos internacionais, mesmo sendo necessários, sozinhos não podem derrotar estes males que afligem a humanidade. A promoção dos direitos fundamentais da pessoa, de cada pessoa, é uma tarefa que exige, em primeiro lugar, a conversão dos corações. Poderíamos dizer, citando quanto escreveu Bento XVI sobre o desenvolvimento, que a protecção dos direitos humanos é impossível sem homens rectos, que vivam firmemente nas suas consciências o apelo ao bem comum». Isto significa que os esforços finalizados à protecção das vítimas e à perseguição dos responsáveis pelo tráfico devem ser completados «por uma abordagem holística, na qual uma componente importante é garantir uma educação autêntica da população, especialmente dos grupos mais vulneráveis».
    O cardeal presidente do Iustitia et Pax não deixou de chamar a atenção dos participantes para quantos, em primeira pessoa, sofrem por causa deste tráfico ignóbil, isto é, as vítimas. Não é suficiente libertá-las da condição de exploração às quais estão sumetidas – disse – mas é preciso também acompanhá-las ao longo do caminho da reabilitação e da reintegração. Outro tema proposto pelo purpurado à atenção dos participantes foi o ambiente no qual amadurecem estes comportamentos criminosos. «Ao alargar a perspectiva – disse a este respeito – é necessário que todas as pessoas de boa vontade se comprometam por construir uma ordem social internacional mais justa, a fim de que a pobreza e o subdesenvolvimento deixem de ser um terreno fértil no qual os traficantes encontram potenciais vítimas».
    E é este o terreno no qual a obra da Igreja pode ser mais frutuosa. «Graças à sua presença em todas as partes do mundo e ao seu serviço a cada pessoa – explicou o presidente do Pontifício Conselho – a Igreja está comprometida na prevenção e no cuidado pastoral das vítimas de tráfico a vários níveis, universal e local, institucional e «in loco». Profundamente convicta da igual dignidade de todas as pessoas, ela não deixa de se comprometer para que esta dignidade intrínseca seja reconhecida e garantida em todas as circunstâncias, a fim de que já não haja escravo nem livre, mas todos sejam um em Jesus Cristo».
    Portanto, a mensagem final é que não devemos desanimar diante do sofrimento de uma parte tão grande da humanidade. Aliás – concluiu – «é preciso recordar que ao lado de quantos procuram enriquecer-se explorando as vidas de outros, existe outra humanidade, feita de homens e mulheres, cidadãos e líderes, que todos os dias, com papéis e competências diferentes, consagram as próprias vidas à luta contra a chaga do tráfico de seres humanos». São estas pessoas que devemos apoiar a fim de derrotar uma das chagas mais horríveis da humanidade contemporânea.
     
    9 de Maio de 2012
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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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