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    quinta-feira, 23 de maio de 2013

    Lei Rouanet














    ************


    IdiomaAugusto de PiabetáEnviar











    Lei Rouanet
    Augusto de Piabetá 22/05/2013 23:12:50
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    Blog
    Reinaldo Azevedo

    Análises políticas em um dos blogs mais acessados do Brasil

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    Lei Rouanet

    22/05/2013
    às 21:38
    A arte brasileira é dependente do crack fornecido pelo estado. Ou: Uma questão envolvendo Gerald Thomas e Zé Celso. Ou ainda: Vamos privatizar Zé Celso!
    Abaixo, Gerald Thomas. O que ele faz aí? Vamos ver.

    Esquerda, direita e centro; pobres, ricos e remediados, corintianos, palmeirenses e torcedores da Portuguesa (existem!); flamenguistas, vascaínos e fanáticos pelo América; gays, héteros e depende-da-hora… Sem distinção, vai crescendo a legião dos que acham que o estado tem de lhes fornecer tudo, até nas questões mais pessoais, mais íntimas: camisinha, anticoncepcional, pílula do dia seguinte e, quem sabe?, aborto grátis para o caso de ter batido aquela preguiça nas fases anteriores, e aquilo ter encontrado “aquila” sem as devidas precauções…
    Mais ainda: toda a conversa sobre descriminação das drogas, desde a mais xucra até a mais aparentemente sofisticada, como a de FHC, parte do princípio de que o vício do indivíduo é um problema do estado. O gosto e o gozo, ah, esses não! Consumir vira um direito individual; tratar os dependentes se torna um problema estatal. Estamos nos tornando o país do gozo privado e da socialização da conta. E todo mundo é coitado! Todo mundo é necessitado! Todo mundo é pedinte!
    E os artistas, com honrosas exceções, são, a gente tem a impressão, os mais coitados de todos. A indústria do entretenimento está acabando no Brasil. Virou uma repartição pública. Antes da Lei Rouanet, por exemplo, peças ficavam anos em cartaz, com sessões a partir de terça-feira; aos sábados, costumava haver duas. As matinês eram ou para a turma que queria chegar mais cedo em casa ou para os que tinham outro programa — uma festa, um jantar, o amor… Isso acabou. Os produtores se penduraram na Lei Rouanet. A rigor, a meia-entrada (olhem o estado aí fingindo que universitário, no Brasil, é pobre, o que é uma mentira asquerosa!) não lhes deixa muitas alternativas, a menos que elevem de tal sorte o valor do ingresso que a meia valha por aquilo que seria uma inteira.
    O sujeito pode gastar dinheiro com todos os “Is” da Apple, mas acha inaceitável pagar uma entrada inteira no teatro… O formato do antigo patrocínio quase desapareceu. É mais fácil apelar ao cartório estatal: pega a graninha da Lei Rouanet, mantém uma peça em cartaz por uns três meses, com sessões de quinta a domingo e acabou! Há nisso tudo desperdício de tempo, de talento, de trabalho… O resultado é constrangedor: nunca houve tanto apoio oficial à cultura, e os espetáculos, não obstante, nunca ficaram tão pouco tempo em cartaz.
    A arte brasileira é dependente do crack fornecido pelo estado. Aliás, os brasileiros, com raras exceções, se tornaram dependentes químicos da boa vontade estatal — que custa o futuro do país.
    Gerald e Zé Celso
    Meu amigo Gerald Thomas gerou um quiproquó danado. E, felizmente, por boníssimos motivos. Qual foi o busílis? Rodolfo Garcia Vazquez, diretor do grupo “Os Satyros”, se indignou com o fato de o Teatro Oficina não ter sido contemplado com verbas da Lei do Fomento. Gerald escreveu no Facebook (em azul):
    Ze Celso tem tudo: um mega-espaço! É um “carro conversível” da Lina Bo Bardi. Fez espetáculos que queria. Teve os longos elencos, usou dezenas de atores que trabalharam de graça (e amo o Zé ! don’t get me wrong). Conseguiu MILHÕES da Petrobras pra editar seus DVDs (que eu apresentei aqui em NY) e CERTAMENTE NAO PRECISA TIRAR $$ DE GRUPOS NOVOS com grana destinada pelo projeto do FOMENTO porra! CHAMA “FOMENTO” justamente para incentivar companhias novas, grupos novos, ideias novas de pessoas que não têm e não sabem entrar nesse complexo sistema de protecionismo! Vamos dar uma chance a ELES e ver sangue novo! (respondo a uma indignação do Rodolfo Garcia Vásques ! Sorry por discordar. Mas o Satyros merece muito mais, já que vcs montaram escola etc! E não sugaram tudo pra vodka em nome do “evoé” que evoou e sumiu!
    Gerald Thomas (indignado!)

    Voltei
    Como discordar de Thomas? Notem bem: as pessoas têm o direito de cultuar Zé Celso (foto acima), de considerá-lo um guru, o fundador de um novo paganismo, o sacerdote ou sacerdotisa de uma nova era dionisíaca, escolham aí. Pouco me importa também que ficar pelada e pelado em suas montagens tenha se transformado em categoria estética ou de pensamento. Escrevi uma vez na revista BRAVO!, depois de ver o espetáculo “Cacilda!”, que ele continuava a ter laivos de encenador genial. O chato é que, do nada, aparecia um bando de gente se masturbando num palco elevado. Pra quê? Sei lá. Pra nada, acho eu. O Zé deve ter ficado com vontade de ver aquilo. “A masturbação te incomoda, Reinaldo?” Não, ué. Se feita no palco, no entanto, busco um propósito estético, como buscaria se a pessoa comesse um filé com fritas e tomasse um suco de laranja. O Zé faça o que quiser desde que haja gente disposta a financiá-lo.
    Ocorre que ele virou uma espécie de autodeclarado patrimônio nacional. Ou mais precisamente: virou um “bem cultural” tombado em vida — não o Oficina, mas ele. Tenho vontade de começar uma campanha em favor da privatização de Zé Celso, com leilão público e tudo.
    Assim, parece óbvio que o veteraníssimo e financiadíssimo José Celso Martinez Corrêa, tornado uma lenda sobretudo por si mesmo, não receba mesmo um prêmio de fomento, né? Gerald, que sempre se encarrega de arrumar o dinheiro para os espetáculos que monta (em vez de avançar na nossa carteira), falou a coisa certa.
    Reação
    Para ler mais a respeito, visitem o blog de Thomas. Não! Zé Celso não gostou da crítica. Pensam que ele entrou no mérito da crítica feita? Que nada! Preferiu o caminho do coitadismo; preferiu nos fazer sentir culpados, deixando claro o quanto nós, os brasileiros, lhe devemos. Leiam trecho (em vermelho). Volto em seguida.
    (…)
    “Gerald não tem noção do que está falando? É uma injustiça absurda receber uma porrada dessas como se eu fosse um corrupto. Trabalhei junto com outros artistas há dez anos para a implementação da Lei do Fomento, mas só me beneficiei dela uma única vez. Eu tenho 52 anos de Oficina, sou um homem que não tem propriedades, seguro-saúde, uso táxi porque sou cardíaco. Vivo modestamente e apenas com o dinheiro da Anistia. Hoje sou um homem que vive às custas do fato de ter sido torturado. É esse dinheiro, os R$ 9 mil por mês da Anistia, que paga as minhas contas, os meus remédios para o coração. E que ainda uso para tocar uma coisa ou outra no Oficina.”
    Para o diretor do Oficina, Thomas “está completamente equivocado”. Ele afirma que o Teatro Oficina se beneficiou uma única vez de verbas (R$ 300 mil) públicas destinadas pela Lei do Fomento, no ano de 2002. O montante foi usado, à época, para a criação da primeira parte da trilogia “Os sertões”, inspirada na obra homônima de Euclides da Cunha. Hoje em dia, as atividades do Teatro Oficina são patrocinadas pela Petrobras, que destina anualmente R$ 1 milhão ao grupo.
    “Tentei diversas outras vezes o Fomento, mas nunca fui contemplado. Tentei porque temos custos altíssimos. O dinheiro da Petrobras paga um terço das nossas despesas. Somos 60 atores, uma sede com funcionários.”
    Em um comentário posterior, mas na sequência da mesma publicação, Thomas escreve: “Isso é um escândalo. Essas pessoas têm décadas de teatro. Ainda não são autossuficientes?”
    Zé Celso diz que não, e conta, por exemplo, que teve de encerrar prematuramente a temporada da última montagem da companhia — a peça “Akordes”, que estreou no Teatro Oficina em 2012 — por falta de recursos.
    “Não pudemos sair do nosso espaço, apresentar a peça em outras cidades, e a temporada acabou porque não tínhamos dinheiro para pagar os atores”, diz o diretor. “As pessoas têm as suas vidas e suas contas, não puderam continuar, foram embora, eu entendo. Mas aí vem o Gerald e joga em cima de mim uma acusação dessas? Ele deveria estar do meu lado, se indignar e cobrar das empresas e do estado o fato de um grupo como o Oficina ainda hoje não ter garantia de poder trabalhar permanentemente. Deveria estar lutando para que os investimentos públicos e privados em teatro aumentassem, que essa Lei do Fomento crescesse. Mas não. Ele não faz ideia dos custos que temos para manter uma sede. Nó somos heróis, cara, manter uma companhia por 52 anos no Brasil não é para qualquer um. Deveríamos estar numa situação melhor, mas temos dificuldade de ganhar patrocínios porque nossos espetáculos são libertários. Tocam em questões políticas, sexuais, não seguem a cartilha dominante. E disso nós não iremos abdicar”.
    Em julho, o Oficina recebe uma nova leva do patrocínio da Petrobras, que servirá à produção do novo espetáculo do grupo: a peça “Cacilda!!! Glória no TBC”, a terceira parte de uma tetralogia dedicada à atriz Cacilda Becker.
    Voltei
    Ufa!
    Lá no muito antigamente, artistas faziam arte inclusive como forma de contestação; sentiam-se, como é mesmo?, marginas e heróis. Até eram bons tempos comparados aos de hoje. Depois procuraram se estruturar para responder por suas próprias produções — afinal, a arte tem de ser livre, não é? Virgílio, por exemplo, foi um poeta patrocinado. Mas ele reproduzia, com brilho ímpar, a visão do establishment do Império Romano. Zé Celso aspira à marginalidade gloriosa e ao heroísmo com martírio, mas financiado com dinheiro público. Acredita que o estado, que ele combate, e que o capitalismo, que ele repudia, têm a obrigação de financiar suas utopias.
    Não têm, não! Nem um nem outro. A arte brasileira precisa se libertar do crack do dinheiro público.
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: arte, estado, Gerald Thomas, José Celso Martinez Corrêa, Lei Rouanet
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    27 COMENTÁRIOS
    02/08/2011
    às 16:14
    Ainda os privilégios da Família Lula da Silva, a nova aristocracia brasileira, e os bocós que não sabem distinguir questão pública de vida privada
    Há dezenas, centenas talvez, de protestos porque publiquei aqui o vídeo, que está no YouTube, com a festa dos 15 anos de Bia Lula, a neta do “Cara”, atriz — amadora, segundo se sabe — cujo grupo de teatro conquistou o direito de captar R$ 300 mil pela Lei Rouanet. A Oi, a quem Lula prestou tão relevantes serviços, e a empresa sempre lhe soube ser grata, já se apresentou. A mamata foi garantida pelo Ministério da Cultura, cuja titular é Ana de Hollanda. É a velha aristocracia de esquerda garantindo benefícios à nova.
    Vivemos este estado de coisas, em que os ladrões reivindicam o direito de assaltar os cofres públicos em nome do bem comum, porque devem ser raros os países a juntar tantos bananas. Aquela indagação feita por Juan Arias, o correspondente do El País, ainda está insuficientemente respondida: “Por que os brasileiros não se indignam?” Já ensaiei algumas respostas a sério. Talvez a verdade esteja no sarcasmo. Porque adoramos ter um nhonhô com o chicote na mão, dando ordens.
    O sistema indica a origem de algumas visitas ao blog. Vi lá que veio um monte de gente do site “Amigos do Presidente Lula”, ou coisa assim. Espero que seja ao menos gente a soldo, que ganha uns trocos para fazer esse trabalho. Torram o saco: “Ah, você mistura tudo; trata-se de vida privada”. Quem mantém, ou permite que se mantenha, “vida privada” no YouTube quer que ela seja pública. Isso só para começar a conversa.
    Não sabendo qual é a contribuição de Bia Lula à estética, tenho mais do que o direito — tenho é o dever — de saber por que o seu grupo mereceu a graça de Ana de Hollanda e vai fazer o seu “trabalho” com o meu dinheiro. E então pus a festa no ar. Ali está esboçado um padrão, um entendimento, por assim dizer, da “arte”. Como tudo está exposto para toda gente, esses deslumbrados reivindicam a força do exemplo. Ao divulgar a sua obra, em certa medida, eu cumpro a sua vontade. Mas não sou obrigado a gostar do que vejo.
    Nota à margem – Os que vêm com aquele papinho de que gostavam do meu blog até ontem, mas, depois daquele post, não mais, respondo: a porta da rua é a serventia da casa. Há blogueiros implorando por leitores. É claro que gosto de ser muito lido, mas jamais deixarei de dizer o que penso porque “não pega bem”. Os “meus” leitores de fato sabem que não lhes puxo o saco, dizendo apenas coisas com as quais concordam. Às vezes, discordam de mim. É do jogo. Não sou populista. Não disputa eleição. Não sou candidato a blogueiro simpático do ano. Quem gosta fica aqui; quem não gosta vai embora. Ocorre que os que vêm com essa besteira não são nem leitores nem admiradores do blog.

    Pobrismo
    Escrevi nesta manhã que o “oprimido” que chega ao poder e continua a falar a “linguagem do oprimido” é só um fascista. Alguns bobalhões tentaram acusar meu preconceito; eu estaria mangando da cafonice da festa — e, pois, “do povo”, que seria também daquele jeito: cafona. Um: a família Lula da Silva não representa os brasileiros; ele foi eleito (e seu mandato já terminou, embora não pareça); ela não foi. Dois: “povo” uma ova! A festa é brega, mas é rica, conforme demonstra uma fartura de fotos, disponíveis a quem quiser ver. Está na Internet, diga-se (aqui), para que seja vista. Até os rótulos da Coca-Cola traziam o nome da garota.
    Os idiotas não me venham com a tese da natural humildade que simbolizaria o povo brasileiro. Que humildade? Que pobreza? Lula é político desde 1975, quando assumiu a direção de um sindicato. Tornou-se, por excelência, o burguês do capital alheio. Se ele próprio ou a família não souberam se aproveitar de determinados bens culturais que talvez traduzam com mais complexidade os matizes do ser humano — vale dizer: o que presta —, não foi por falta de oportunidade. Há muito ele e a família vivem como NÃO VIVE boa parte dos ricos brasileiros, que têm de zelar, sim, pelos negócios, ou a vaca vai para o brejo. São poucos os que vivem do puro “rentismo ” (se me permitem a palavra) ou da simples usura. Lula, o burguesão do capital alheio, este, sim, é um usurário da esperança. E cobra muito caro por isso — inclusive institucionalmente.
    Sim, senhores! O ambiente em que floresce essa nova aristocracia é relevante porque ele nos diz muito do nosso presente e do nosso futuro. A concessão da autorização para a captação pela Lei Rouanet é mais uma evidência de que Lula transmite privilégios à sua descendência, como se não bastasse a grana da Oi na Gamecorp, de Lulinha, ou os passaportes diplomáticos concedidos a seus familiares.
    Houve exageros nos comentários, e eu procurei cortá-los. Se escapou algum, volto lá e excluo. Aliás, não cheguei a publicar a metade do que foi enviado. Alguns ainda se indignam, sim, e isso é bom sinal. MAS É PRECISO TER MEDIDA NAS COISAS, E RENOVO O APELO NESSE SENTIDO. Dizer, no entanto, o que esse caras fizeram e fazem do que lhes concedeu, vá lá, o destino é mais do um direito; trata-se de uma obrigação. Sobretudo porque estão por aí, abusando de privilégios. A festança foi tornada pública de vários modos e em várias linguagens. Tudo posto na Internet para deleite das massas. Não recorri aos métodos do News of the World… A propósito: escrevi que só faltara um poema de Gabriel Chalita para abrilhantar a festa. Se houve poema, não sei, mas o “poeta” estava lá, como revelam as fotos. O evento deve render o seu 9.763º livro…

    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Bia Lula, Lei Rouanet, Lula
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    213 COMENTÁRIOS
    01/08/2011
    às 17:53
    A Família Lula e a Lei Rouanet: com todo o respeito, “vida privada” uma ova!!!
    Se há sujeito que faz a devida distinção entre as esferas pública e privada, este alguém sou eu. Alguns leitores estão reclamando do vídeo abaixo, que traz a atriz Bia Lula e os seus numa festa. “Pô, diz respeito apenas à família…” Huummm… Trata-se de um vídeo-propaganda, que está no YouTube, devidamente editado para encantar. Não recebi uma fita clandestina de alguém infiltrado no evento, não!
    Uma das personagens principais da festa é simplesmente a figura PÚBLICA mais conhecida do Brasil. Reitero: não é de hoje que sei da existência do vídeo. Apesar do que vai acima, deixei pra lá. Agora não. O LEITOR TEM O DIREITO DE SABER MAIS SOBRE ESTA NASCENTE ESTRELA DO TEATRO, QUE ESTRÉIA COM O BENEFÍCIO DA LEI ROUANET, GARANTIDA PELA IRMÃ DO CHICO BUARQUE, COM O NOSSO DINHEIRO.
    Uma única palestra do avô garantiria os R$ 300 mil. Duas pagariam todo o custo do espetáculo. Dinheiro não falta aos Lula da Silva. Basta fazer as contas para constatar que o Apedeuta é o mais novo milionário do Brasil. Por que jogar essa conta nas costas dos brasileiros? Será que devemos isso também ao Babalorixá de Banânia?

    A única justificativa razoável – e, ainda assim, eu sou contra esse tipo de incentivo – seria a chamada contribuição estética, né? Não consta que a tal montagem de “A Megera Domada” esteja destinada a ser um marco do teatro brasileiro. Considerando a idade da moça, acho que ela deveria ralar um pouco mais, né?, como fazem todos os jovens atores e atrizes. Da forma como saiu o benefício, parece-me tratar-se de um privilégio aristocrático, digno mesmo da princesa que ela simula ser na sua festa de 15 anos.
    Podem ficar tranqüilos. Eu sempre pondero muito bem os limites entre o público e o privado. O Ministério da Cultura cancele a autorização politicamente pornográfica para a produção captar R$ 300 mil pela Lei Rouanet, e eu nunca mais toco no assunto. Mas isso não vai acontecer porque essa gente não tem limites.
    Está claro, ou preciso desenhar?
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Bia Lula, Lei Rouanet
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    106 COMENTÁRIOS
    01/08/2011
    às 14:31
    O Brasil de Luan Santana gera emprego, riqueza e benefícios sociais; o dos Buarque de Holanda bate a carteira dos pobres com a Lei Rouanet
    É o fim da picada que a netinha de Lula consiga autorização do Ministério da Cultura para captar R$ 300 mil para montar a “A Megera Domada”. A concessão nada tem a ver com Shakespeare. O que conta é o sobrenome desta grande atriz. É a cultura posta sob o tacão da esquerdalha chique dos Buarque de Holanda (no caso de Ana, “de Hollanda”) e companhia, com a conivência dos “críticos” dos segundos cadernos. O que o “povo brasileiro”, em nome de quem falam, ganhou até agora com a Lei Rouanet?
    Luan Santana, o ídolo sertanejo-pop, é um dos maiores vendedores de CDs e DVDs do país (num tempo em que esses produtos estão em declínio do mundo!), faz uma média de 4 shows por semana, reúne perto de um milhão de pessoas por mês, emprega 80 pessoas fixas e mobilizou nada menos de 800 para gravar um DVD, numa megaprodução como nunca houve no país, segundo dados do programa “Profissão Repórter”, da Globo. Ele tem 20 anos. Que eu saiba, não pega dinheiro da Lei Rouanet. Ao contrário: a renda de seus CDs e DVDs vai para obras assistenciais. Já fez doações milionárias para o Hospital do Câncer de Barretos e de Campo Grande, sua cidade-natal.
    Isso quer dizer que o Brasil de Luan Santana gera riqueza, empregos e distribui benefícios; o dos Buarque de Holanda mete a mão no bolso dos brasileiros na suposição de que os pobres, os desdentados e os sem-escola têm a obrigação de financiar suas metáforas. Aí vem o bobalhão e diz: “Ah, mas o que Luan faz não é arte…” Não chega a ser uma prioridade deste blog, mas talvez fosse o caso de fazer um concurso de metáforas, metonímias e alegorias para a gente saber quem ganharia o concurso de cretinismo. Esse troféu Luan não levaria… Música é diversão, entretenimento. O debate sobre a qualidade pode ser feito, sim, segundo o gênero de cada um — de preferência, sem o financiamento do estado.
    Com um pouco mais de esforço, dá até para arriscar alguma sociologia. Boa parte dos cantores pop-sertanejos vem da região Centro-Oeste, do interior do Brasil, em suma, as áreas que mais crescem e que têm sustentado a economia. Há, para sintetizar, os brasileiros que geram riquezas, das quais saem os impostos que financiam tanto os serviços de que são carentes os pobres como a farra, e há o Brasil que “chupinha” (não tem no dicionário; vem de “chupim”) quem trabalha, vendendo-nos a preço de ouro suas metáforas vagabundas e sua preguiça.
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Ana de Hollanda, Lei Rouanet, Luan Santana
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    165 COMENTÁRIOS
    29/03/2011
    às 21:13
    Os “artistas” que cobram para nos salvar…
    Entendo a revolta dos “artistas” quando são comparados a trabalhadores comuns: quituteiras, caminhoneiros, jornalistas… Eles acham que, à diferença dessa gente toda, têm uma “mensagem”, “algo a dizer”; muitos acreditam mesmo que suas metáforas podem salvar o mundo. Imaginem: um caminhoneiro não seria ridículo a tal ponto. Ele, no máximo, considera importante transportar comida ou combustível daqui pra lá e de lá pra cá. Entende que fez uma escolha; que não está naquela atividade sob relho, que o Brasil não é responsável por sua opção profissional. Já alguns artistas…
    Os mais ousados na defesa da exceção moral costumam ser os cineastas – quanto menos público têm, mais gostam de incentivos. É uma questão de lógica. Já fez tempo, parte da categoria acredita ter mais do que uma mensagem: há quem esteja convicto de ter “a” resposta para os problemas brasileiros, fazendo-nos um generoso favor.
    Pois é… São cineastas porque querem, não é mesmo? São cantores porque querem. São atores porque querem. São livres para escolher o seu caminho. E, com efeito, também somos livres para consumir ou não o que produzem. Uma escolha, no entanto, não podemos fazer: deixar de pagar caro para que eles nos “salvem”!!!
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet
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    65 COMENTÁRIOS
    29/03/2011
    às 20:48
    Quando comparo Bethânia a uma quituteira, eu a estou elogiando, ora essa! Por que esse preconceito contra quem trabalha?
    Muitas almas sensíveis ficaram zangadas por que indaguei qual a diferença entre um contador, uma costureira, uma quituteira e um artista. Por que o preconceito? Eu estou entre aqueles que acreditam que o mundo precisa de Shakespeare e de usinas hidrelétricas, por exemplo. Se quero entender a alma humana, as usinas têm pouco a me ensinar; se preciso de luz — a física mesmo, não a metáfora —, o bardo pode pouco, a menos que eu bote fogo nos seus livros, o que eu não faria porque não sou um daqueles professores de extrema esquerda que tomam a praça de vez em quando… Cada uma dessas profissões tem a sua função social.
    Se alguém tem fome, aquela do corpo, chame a quituteira. E há, admito, quem sacie a fome do espírito com Maria Bethânia. Eu sou contra a estatização das quituteiras e das Bethânias, sem juízo de valor. Pouco importa se músicas e quitutes são bons ou ruins, uma coisa é certa: o estado não tem de arcar com o custo de produção nem de uma coisa nem de outra.
    Os cantores e cineastas deveriam ter vergonha de reivindicar uma exceção moral!
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet, Maria Bethania
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    79 COMENTÁRIOS
    28/03/2011
    às 15:34
    Ser “artista” é moral, social e economicamente superior a ser quituteira, costureira ou contador?
    Artistas escolhem uma profissão, como qualquer pessoa, e têm de arcar com os ricos inerentes à opção que fizeram. A “arte” não é um bem público superior à contabilidade ou à produção de sorvetes. Cada coisa tem a sua utilidade e função, não é mesmo? Empreendedores dos mais diversos setores recorrem a empréstimos bancários, alguns subsidiados, é verdade, para financiar seu sonho. Mas há uma diferença: têm de prestar contas por isso.
    A costureira e quituteira da favela aonde Bethania pretendia fazer chegar sua particularíssima escansão de versos podem pegar um dinheirinho em banco público, coisa pouca. Os juros são camaradas. Mas elas terão de fazer muita roupa ou vender muita coxinha para saldar a dívida e pegar um novo empréstimo, que vai servir para alavancar o seu negócio. Imaginem: um pobrezinho de um agricultor, quase com o pé no chão, também consegue uns trocos no Pronaf. O custo do dinheiro é bem inferior ao de banco privado, mas ele tem de arcar com a dívida!
    Os nossos artistas? Ah, não! Se eles querem fazer um show, logo apelam à Lei Rouanet, para que a produção saia a custo zero. Levam seus trinados ao público — ou sua “mensagem” — sem investir um tostão. Não são pessoas reles como quituteiras ou costureiras. Por isso boa parte puxa o saco do PT em eleições. Eles gostam de um estado forte, que possa financiá-los.
    É uma gente pidonha, mas orgulhosa! Eles acreditam estar, de fato, fazendo um sacrifício em defesa do Brasil. No auge de sua retórica condoreira, rivalizando com o seu conterrâneo Castro Alves em “Navio Negreiro”, Caetano impreca ao “Senhor Deus dos Desgraçados”:
    “Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza.”
    Nossa! Caetano, pelo visto, gostaria de ver “pretos de tão pobres” e “pobres de tão pretos” fazendo passeata em favor do direito que Bethânia tem de ser subsidiada… Endoidou de vez!
    Há, sim, Caetano! Milhares, talvez milhões, de brasileiros tiveram a coragem de dizer: “Chega de mamata!” Bethania teve autorização para captar R$ 5,5 milhões em pouco mais de cinco anos. Quanto ela pegou efetivamente, isso não sei. Mas deixaria a quituteira morta de inveja. Com uma diferença apreciável: aquela depende de seu produto ser aceito no mercado, ou se estoura. Bethania — e todos os outros financiados — não!
    Isso explica, Leãozinho, o fato de os quitutes serem hoje, no Brasil, melhores do que as músicas da MPB.
    A chave, rapaz, é uma só: os donos do dinheiro privado fazem com ele o que lhes der na telha desde que a lei não proíba. Com o dinheiro público, a história é outra. Existe uma lei de incentivo à cultura. Essa lei tem uma finalidade: fomentar a cultura brasileira. Seu objetivo não é criar uma casta de fidalgos que passarão a trabalhar com risco zero!

    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet
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    186 COMENTÁRIOS
    28/03/2011
    às 14:57
    Na fase terminal da tal MPB, quem é grato a quem?
    No texto publicado no Globo de domingo, Caetano afirma: “Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras.” Levar poesia à favela, sem dúvida, é uma ação meritória. O que ele não diz é que isso seria feito com o dinheiro dos próprios favelados. Em todo o mundo, artistas são gratos a quem financia o espetáculo: o público. Por aqui, dado o sotaque de Caetano, deveria ser o contrário. Não dá! A facilidade para conseguir capilé oficial fez essa gente endoidar.
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet
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    53 COMENTÁRIOS
    28/03/2011
    às 14:36
    Epitáfio para a MPB
    “Meus heróis morreram de overdose de dinheiro público/
    Os amigos do Chico estão no poder…”
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet
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    59 COMENTÁRIOS
    28/03/2011
    às 4:55
    Caetano Veloso diz não querer dançar comigo “nem morta”! Um beijinho, então, nem pensar! Amadureça, meu senhor! Debata como um rapaz!
    É triste o que está a acontecer com alguns dos chamados “ícones” da MPB: vinte e cinco anos de democratização os conduziram à obsolescência! Isso não deixa de ter seu lado bom! Nunca mais chamaremos ninguém de “ícone”. Acho correto recuperarmos o sentido original da palavra, que remete ao sagrado, o que não é o caso dessa gente — nem dessa turma nem de ninguém. Havia mesmo uma disfunção na política brasileira: artistas eram confundidos com pensadores; letristas, com poetas; metáfora, com solução administrativa. A ditadura lhes facultava falar por símbolos, o que deixava entrever a suspeita de sublime e pensamento superior. Na democracia, podem falar com clareza. É um deus-nos-acuda! Quantos de nós não imaginávamos que Chico Buarque, por exemplo, tivesse um bom Brasil na cachola? Sempre que lhe foi dado escolher um país como exemplo de sua “luta”, ele nos exibiu Cuba e seus assassinos.
    Quem faltava à polêmica da Lei Rouanet? Aquele que não falta a nenhuma polêmica, procedimento com que, de certo modo, recauchuta a própria obra: Caetano Veloso! Nesse caso, ele vem com menos dendê e mais fúria porque também está defendendo a irmã. Louvo-lhe o amor fraterno e, uma vez mais, lamento o entendimento que tem da República. Fala como um aristocrata, um fidalgo, um defensor de privilégios.
    Sabem qual é o grande e fundamental babado no Brasil? O desrespeito à propriedade privada! Como? Qual é a tese, Reinaldo? O dinheiro público — e renúncia fiscal é dinheiro público —, no Brasil, é considerado de ninguém ou, no máximo, “do governo”, como se governos produzissem bens e, portanto, valor. É mentira! Ele vive do que arrecada — e, pois, do confisco de uma parte da produção, prerrogativa que lhe facultamos em nome do bem comum. Deve ser usado para financiar operações que, se entregues às iniciativas privadas (no plural mesmo!), gerariam uma confusão dos diabos. Num caso escandaloso de inversão da finalidade, o dinheiro que aceitamos ser público é usado, com freqüência, para financiar operações privadas — e não só de artistas. Curiosamente, e o caso da Vale está aí como evidência escandalosa, a propriedade privada é expropriada de seus direitos em nome do chamado “interesse público”: o governo Dilma quer Roger Agnelli fora da direção da empresa porque ele teria pensado apenas no bem dos acionistas, ignorando supostas necessidades do Brasil…
    Se o dinheiro da Lei Rouanet fosse privado, ninguém teria de torrar a paciência de Bethania ou de Caetano Veloso. Cada um faz com a sua grana o que bem entender, excetuando-se as práticas que os códigos legais consideram criminosas. Ninguém teria de se meter! Mas não é! Se a Vale fosse uma estatal, dentro do que a lei prevê, o governo direcionaria livremente suas estratégias. Mas não é! Qual é a melancólica constatação? Um país que desrespeita a propriedade privada também não vê motivos para respeitar a propriedade pública: o privado passa a ser do estado, e o que é do estado passa a ser de ninguém — ou dos espertalhões que se organizarem com mais eficiência. Essa é a questão de fundo!
    Caetano resolveu usar a sua coluna no jornal O Globo para tratar do “caso Bethania”. E diz não querer dançar comigo, chamando-me, pois, para o arrasta-pé. E eu topo, claro! Sempre topo. Esse meu texto vale mais pelo que segue acima, que Caetano está se mostrando bem menos interessante do que eu próprio supunha. Mas vamos lá. Ele segue em vermelho; eu, em azul!
    Bethânia
    Não concebo por que o cara que aparece no YouTube ameaçando explodir o Ministério da Cultura com dinamite não é punido. O que há afinal? Será que consideram a corja que se expressa” na internet uma tribo indígena? Inimputável? E cadê a Abin, a PF, o MP? O MinC não é protegido contra ameaças? Podem dizer que espero punição porque o idiota xinga minha irmã. Pode ser. Mas o que me move é da natureza do que me fez reagir à ridícula campanha contra Chico ter ganho o prêmio de Livro do Ano. Aliás, a “Veja” (não, Reinaldo, não danço com você nem morta!) aderiu ao linchamento de Bethânia com a mesma gana. E olha que o André Petry, quando tentou me convencer a dar uma entrevista às páginas amarelas da revista marrom, me assegurou que os então novos diretores da publicação tinham decidido que esta não faria mais “jornalismo com o fígado” (era essa a autoimagem de seus colegas lá dentro). Exigi responder por escrito e com direito a rever o texto final. Petry aceitou (e me disse que seus novos chefes tinham aceito). Terminei não dando entrevista nenhuma, pois a revista achando um modo de me dizer um “não” que Petry não me dissera – e mostrando que queria continuar a “fazer jornalismo com o fígado”) logo publicou ofensa contra Zé Miguel, usando palavras minhas.
    Se não quer dançar “nem morta”, acho que não rola beijinho, certo? Que bom! Caetano é experiente no negócio das polêmicas. Atacar a VEJA, em casos assim, sempre rende — ele não lograria o seu intento xingando a Carta Capital, certo? Sua obsessão com a revista o faz ter, a cada hora, uma memória nova: trata-se de uma obra aberta, que vai crescendo e se modificando na medida do seu desagrado. É matéria psicanalítica! Eu nem sei de que vídeo ele fala. Eu, de qualquer modo, sou contra ameaças terroristas e, sobretudo, ações terroristas — e em qualquer tempo. Isso tem me custado caro!
    Nem VEJA nem eu aderimos a linchamento nenhum! A revista dedicou uma pequena matéria ao assunto e não se referiu apenas a Bethania. Eu escrevi vários textos sobre o tema e sempre deixei claro que sou contra a Lei Rouanet em si; o caso da irmã de Caetano se tornou emblemático, vamos convir, por causa dos valores envolvidos. O bom senso considerou excessivo que ela cobrasse R$ 600 mil para dirigir… Bethania em pílulas poéticas na Internet.
    A histeria contra Chico me levou a ler o romance de Edney Silvestre (que teria sido injustiçado pela premiação de “Leite derramado”). Silvestre é simpático, mas, sinceramente, o livro não tem condições sequer de se comparar a qualquer dos romances de Chico: vi o quão suspeita era a gritaria, até nesse pormenor. Igualmente suspeito é o modo como “Folha”, “Veja” e uma horda de internautas fingem ver o caso do blog de Bethânia. O que me vem à mente, em ambas as situações, é a desaforada frase obra-prima de Nietzsche: “É preciso defender os fortes contra os fracos.” Bethânia e Chico não foram alvejados por sua inépcia, mas por sua capacidade criativa.
    Trata-se de uma abordagem intelectual e historicamente desonesta. O juízo de valor que Caetano faz do livro de Edney Silvestre é, como todo juízo de valor, arbitrário. Direito dele! A crítica ao Prêmio Jabuti estava relacionada ao critério, QUE MUDOU! Eu já disse por que os romances de Chico são ruins. Caetano não consegue dizer por que são bons! Prefere apelar à torcida, um jeito covarde de debater. Como o autor de Leite Derramado tem uma legião de fãs, apela aos admiradores de seus trinados para que defendam a sua prosa. Eu duvido, mas não dá para comparar aqui, que Caetano seja um leitor de Nietzsche mais dedicado do que sou. Descolada a frase do contexto, ela pode servir à justificação da tirania, assim como a irmã do filósofo tentou fazê-lo um justificador do nazismo. Sem essa, Caetano Veloso! Nietzsche não ampara o nazismo nem explica o capilé para Maria Bethânia.
    A “Folha” disparou, maliciosamente, o caso. E o tratou com mais malícia do que se esperaria de um jornal que – embora seu dono e editor tenha dito à revista “Imprensa”, faz décadas, que seu modelo era a “Veja” – se vende como isento e aberto ao debate em nome do esclarecimento geral. A “Veja” logo pôs que Bethânia tinha ganho R$ 1,3 milhão quando sabe-se que a equipe que a aconselhou a estender à internet o trabalho que vem fazendo apenas conseguiu aprovação do MinC para tentar captar, tendo esse valor como teto. Os editores da revista e do jornal sabem que estão enganando os leitores. E estimulando os internautas a darem vazão à mescla de rancor, ignorância e vontade de aparecer que domina grande parte dos que vivem grudados à rede. Rede, aliás, que Bethânia mal conhece, não tendo o hábito de navegar na web, nem sequer sentindo-se atraída por ela.
    Não debato a Folha. Isso é coisa lá entre eles. No que diz respeito à VEJA, CAETANO MENTE DE FORMA VERGONHOSA. A revista, reitero, tratou do assunto apenas na edição desta semana, sem uma única incorreção. Eu, no meu blog — e não sou “a” VEJA —, escrevi vários posts a respeito. Respondendo à ex-cria da ARENA Jorge Furtado, expliquei o que era Lei Rouanet, deixei claro que autorização para “captação” não era concessão de verba do Orçamento e que o dinheiro, se conseguido, é público porque vem de renúncia fiscal. COMO CAETANO NÃO CONSEGUE RESPONDER À CRÍTICA COM FUNDAMENTO, RESPONDE À QUE NÃO TEM FUNDAMENTO PORQUE PRECISA DIZER ALGUMA COISA. É uma das técnicas que Schopenhauer denunciava para se tentar ganhar um debate mesmo sem ter razão. É interessante saber que Bethania “mal conhece a rede”, como entidade que pairasse acima dessa vulgaridade. Vai ver é por isso que pediu logo de cara 600 paus para dirigir-se a si mesma, né, Caetano?
    Os planos de Bethânia incluíam chegar a escolas públicas e dizer poemas em favelas e periferias das cidades brasileiras. Aceitou o convite feito por Hermano como uma ampliação desse trabalho. De repente vemos o Ricardo Noblat correr em auxílio de Mônica Bergamo, sua íntima parceira extracurricular de longa data. Também tenho fígado. Certos jornalistas precisam sentir na pele os danos que causam com suas leviandades. Toda a grita veio com o corinho que repete o epíteto “máfia do dendê”, expressão cunhada por um tal Tognolli, que escreveu o livro de Lobão, pois este é incapaz de redigir (não é todo cantor de rádio que escreve um “Verdade tropical”). Pensam o quê? Que eu vou ser discreto e sóbrio? Não. Comigo não, violão.
    Nessa baixaria, não entro. Aí deixo para o fígado de Caetano Veloso. Começo meu texto fazendo a devida distinção entre “público” e “privado”. Não sou amigo nem de Noblat nem de Mônica Bergamo; tenho com ambos mais divergências do que convergências, mas acho que Caetano não incorre em ilações porque tenha fígado, não, mas porque pode não ter caráter. Pretende, ao expor supostos aspectos da vida privada de seus contendores, matar o debate com um procedimento similar à chantagem! E nada disso torna explicável o benefício concedido a Maria Bethânia.
    O projeto que envolve o nome de Bethânia (que consistiria numa série de 365 filmes curtos com ela declamando muito do que há de bom na poesia de língua portuguesa, dirigidos por Andrucha Waddington), recebeu permissão para captar menos do que os futuros projetos de Marisa Monte, Zizi Possi, Erasmo Carlos ou Maria Rita. Isso para só falar de nomes conhecidos. Há muitos que desconheço e que podem captar altíssimo. O filho do Noblat, da banda Trampa, conseguiu R$ 954 mil. No audiovisual há muitos outros que foram liberados para captar mais. Aqui o link: http://www.cultura.gov.br/site/wp-content/uploads/2011/02/Resultado-CNIC-184%C2%AA.pdf. Por que escolher Bethânia para bode expiatório? Por que, dentre todos os nossos colegas (autorizados ou não a captar o que quer que seja), ninguém levanta a voz para defendê-la veementemente ?
    Muitos erros não fazem um acerto. Caetano, a Soninha-toda-pura, na definição de Wally Salomão, faz de conta que não entendeu a reação do distinto público. Aquela gente toda a que ele se refere, convenham, ao menos se dispôs a pôr o pé na estrada. Bethania enviou um projeto ao Minc em que receberia R$ 50 mil por mês para… dirigir-se!
    Não há coragem? Não há capacidade de indignação? Será que no Brasil só há arremedo de indignação udenista? Maria Bethânia tem sido honrada em sua vida pública. Não há nada que justifique a apressada acusação de interesses escusos lançada contra ela. Só o misto de ressentimento, demagogia e racismo contra baianos (medo da Bahia?) explica a afoiteza.
    Ah, a velha acusação de racismo! Pra começo de conversa, “baiano” não é raça, Caetano. Raça nem mesmo existe!
    Houve o artigo claro de Hermano Vianna aqui neste espaço. Houve a reportagem equilibrada de Mauro Ventura. Todos sabem que Bethânia não levou R$ 1,3 milhão.
    E ninguém afirmou o contrário. Pare de responder a uma mentira!
    Todos sabem que ela tampouco tem a função de propor reformas à Lei Rouanet. A discussão necessária sobre esse assunto deve seguir.
    É o que todos estão fazendo, tendo como emblema um caso escandaloso.
    Para isso, é preciso começar por não querer destruir, como o Brasil ainda está viciado em fazer, os criadores que mais contribuem para o seu crescimento. Se pensavam que eu ia calar sobre isso, se enganaram redondamente. Nunca pedi nada a ninguém. Como disse Dona Ivone Lara (em canção feita para Bethânia e seus irmãos baianos): “Foram me chamar, eu estou aqui, o que é que há?”
    Ninguém pensava que Caetano fosse calar, convenham! Há anos ele é tomado como símbolo do homem que opina sobre tudo, e com mais convicção em assuntos sobre os quais não entende nada. O choque provocado pelo caso Bethania foi até uma deferência à cantora. Como é um medalhão da MPB — aquilo que antigamente os tontos chamavam “ícone” —-, não se esperava dela um projeto que previsse aquele desfrute.
    Caetano responde àquilo que ninguém disse porque não teria como responder àquilo que se disse. Se não quer dançar comigo “nem morta”, santa!, então tem de me deixar fora de sua cantilena nepotista. Se evoca o meu nome, é fatal que a gente se esbarre no salão!
    *

    Texto originalmente publicado às 16h07 de domingo

    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Caetano Veloso, Lei Rouanet
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    521 COMENTÁRIOS
    20/03/2011
    às 6:51
    Cineasta petista e antipaulista tenta se explicar, mas chafurda de novo na impostura
    A Lei Rouanet não cessa de expor pessoas ao ridículo. Jorge Furtado, o diretor de cinema que se dá muito bem com empresas públicas, resolveu se explicar num novo texto. Desmoralizei o seu primeiro artigo em defesa do capilé oficial para Maria Bethania, aquele em que ele acusa a direita branca de São Paulo. Demonstrei que este petista, mas arenista de pai e mãe, teve seus dois primeiros empregos em órgãos públicos do Rio Grande do Sul ao tempo em que um governador, da Arena, era biônico, e o outro, já eleito, era do PDS, o então partido de Sarney. É um cara que sabe na pele e no estômago o que é direita branca! Furtado lida bem com a Fortuna. Os país, arenistas, eram íntimos do poder. O filho, petista, é íntimo do poder. Os bobos ficam na oposição; a família Furtado, no governo.
    Pois bem, ele teve a ousadia de tentar responder, mas esgueirando-se na covardia: “Não foi bem isso o que eu disse”. Deve estar preocupado com um eventual boicote do público paulista à sua próxima obra seminal. Artistas brasileiros adoram fazer obras seminais com dinheiro público. De minha parte, jamais me furtarei a lembrar, a cada filme seu ou especial na TV Globo, o que ele pensa da detestável gente de São Paulo, com seus ombros sempre largos para arcar com os impostos que paga e as culpas que não tem. Aguardo o dia em que gente como Furtado tentará nos expulsar, os paulistas, da federação! Pobre São Paulo! O que será de ti sem o Brasil, não é?!?!?!
    Depois de algum teretetê tentando amenizar a boçalidade inicial, ele escreve este incrível parágrafo:
    Muitos reclamam de minha comparação do custo do projeto com os valores que a corrupção suga no erário público, como se eu tivesse afirmado que “já que todos roubam”, este dinheiro não faz nenhuma diferença. Um erro não justifica o outro, é claro. Minha comparação com os valores da corrupção serve apenas de parâmetro monetário: se é possível surrupiar 380 milhões das verbas de informática do Distrito Federal, sinal que existe dinheiro disponível para atividades mais nobres. Cultura, por exemplo. Outros reclamam que só citei casos de corrupção em governos demo-tucanos, esquecendo de citar maracutaias de governos petistas (o suposto “mensalão” e os supostos desvios do “caso Erenice” foram os mais citados, fica aqui o registro).
    Imaginem se todas as áreas da administração pública decidirem enfiar o pé na jaca porque existe corrupção no país… É um raciocínio pedestre! A Lei Rouanet é renúncia fiscal — logo, lida com dinheiro público, que deixa de entrar no caixa. Não é um saco sem fundo. Se Bethania conseguisse R$ 10 mil para declamar “Hoje é domingo, pede cachimbo”, com aquela sua entonação particular que premia indistintamente Fernando Pessoa ou Zezé Di Camargo, com a dramaticidade de um carcará do bico volteado prestes a alçar vôo, seria dinheiro demais para o produto a ser entregue ao público. Qual é? Bethania pediu R$ 600 mil para dirigir… Bethania! Quer R$ 50 mil por mês para dizer a si mesma como deve se comportar na leitura de poemas. Não é só perda de parâmetro. Também perdeu o senso de ridículo.
    A vigarice intelectual do texto de Jorge Furtado atinge o estado da arte quando ele se refere ao “suposto mensalão” e aos “supostos desvios do caso Erenice”. As provas de um caso e de outro não lhe bastam. Ele não precisa de evidência nenhuma para atacar a direita branca de São Paulo, mas todas as evidências que existem contra os petistas ainda não o convenceram: são crimes “supostos”. Essa gente, com essa moralidade, está no poder e ainda acredita que pode sair por aí distribuindo pitos. Adiante.
    (…) Confesso minha ignorância a respeito dos detalhes da lei Rouanet (nunca a utilizei para fazer meus filmes, embora muitas mensagens no twitter me acusem de ter “enriquecido” com ela) e não tenho opinião formada sobre suas necessidades de reformulação.
    De fato, a Lei Rouanet não financia cinema porque quem o faz é a Lei do Audiovisual: é outra, com características parecidas, mas voltada para o cinema. Furtado sabe disso. Não é que ele esteja mentindo a seus leitores. Eles apenas está deixando de dizer a verdade. Segue ele na arte de desdizer:
    Alguns paulistas se sentiram ofendidos, alegando que eu afirmei que todos os críticos ao blog vinham da direita paulista. Não é verdade, não foi o que eu escrevi, leia o texto. O que disse foi que “nas críticas sobram piadas contra os baianos, quase todas vindas do mesmo gueto branco direitista no enclave paulista”. Me referia claramente, portanto, a quase todas as críticas aos baianos, não a todas as críticas ao blog da Bethânia. Eu certamente exagerei ao atribuir aos eleitores de Serra a maioria das críticas ao projeto, muitas são de governistas.

    Como se nota, o próprio Furtado deixa claro que a sua afirmação é ainda mais grave. Para ele, São Paulo é um “enclave”, onde existe um “gueto branco direitista”. Ora, o que fazer com “enclave” onde existe um “gueto”? Pergunte a um nazista. Ele tem a resposta! Tentando se corrigir, Furtado consegue ser ainda mais asqueroso.
    Enrolando-se mais um pouco, avança o tolerante Jorge Furtado:
    “O que eu não aceito, de maneira alguma, é o achincalhe da turba de palpiteiros sobre o trabalho ou o talento de uma artista como a Maria Bethânia ou de intelectuais como o Hermano Vianna. Os covardes que, no anonimato, repetem mensagens que nem leram sobre projetos que desconhecem são o que a internet trouxe de pior. O melhor a fazer é ignorá-los. Infelizmente, nem sempre é possível.”
    O que Furtado não tolera é a liberdade de expressão daqueles que não pensam como ele. Na quarta-feira, participei de um seminário do Instituto Millenium sobre liberdade de expressão. Escrevi aqui um texto com as idéias que defendi lá. Afirmei:
    “Da mesma forma que o teste de resistência da democracia é feito por aqueles que discordam de consensos – sejam estes legítimos ou não, embasados ou não em verdades científicas -, o teste de resistência dos democratas se dá quando confrontados com idéias que consideram absurdas, irrealistas, detestáveis até. Aceitar que o outro exponha a sua “verdade”, por mais estúpida que nos pareça, testa a nossa capacidade de conviver com a diferença. Isso não significa, e meu trabalho espelha essa minha postura, que não devamos, nós também, ser, então, “detestáveis” à nossa maneira aos olhos de quem discorda de nós. É preciso dizer com clareza e destemor o que se pensa, e não com o intuito de destruir o outro, de “eliminar a contradição”, de “extirpar” o adversário, como poderia sugerir certo Luiz Inácio Lula da Silva.”
    Não é o que pensa Furtado, é claro! Os que não estão com ele são as pessoas do “gueto branco direitista”, do “enclave”, como corpos estranhos que precisam ser eliminados, numa limpeza ideológica.
    Da Arena ao PT, Furtado mudou de pêlo, mas não de vício. Continua a odiar a liberdade! Eu, como “branco direitista do enclave paulista”, direi a este senhor o quê? Quando ele estava abrigado no regaço arenista, eu pertencia a uma minoria que tentava derrubar o governo. Hoje ele está no regaço petista, e eu continuo crítico ao governo. Ele odiava a liberdade antes como agora. Eu a prezo agora como antes.
    Não, não! Gente que teve o toddynho e as fraldas financiados pela ditadura não vai dar lições de moral democrática sem receber o devido troco. Taí um debate que farei com gosto!
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Jorge Furtado, Lei Rouanet, Maria Bethania
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    282 COMENTÁRIOS
    17/03/2011
    às 15:13
    Sobrinho de ministra da Cultura é sócio de produtora que fará vídeos de Bethania com capilé oficial
    Como demonstrei no post abaixo, no Brasil, “como nunca antes houve na história destepaiz”, até para as práticas do sexo solitário se exigem certas credenciais aristocráticas. Pois bem…
    A produtora que fará os vídeos com pílulas poéticas de Maria Bethania — o nome do blog será “O Mundo Precisa de Poesia” — é a Conspiração Filmes. Um dos sócios da empresa é Lula Buarque, sobrinho do Chico Jabuti e da Ana de Hollanda, ministra da Cultura.
    A Conspiração é uma produtora bem-sucedida. Seria injusto dizer que vive do capilé oficial. Não precisaria disso. Mas atenção! Não se deve usar as suas credenciais contra a reputação dos cofres públicos. O fato de que ela pode ter vida independente sem precisar do estado não a perdoa quando se mete num projeto com essas características.
    Lula Buarque pode ter a genialidade cromossômica da família Buarque, não discuto isso. Mas seria razoável que a tia não estivesse tão próxima de um projeto que interessa à empresa do sobrinho, ainda que ele represente percentual pequeno do faturamento da empresa.
    Eu entendo que essa gente toda não veja nada de estranho nisso. A literatura política nos instrui a respeito. O historiador Sérgio Buarque de Holanda (com um “L” só) especificou um dos nossos males em “Raízes do Brasil”: o “homem cordial”. Não, não é o “brasileiro bonzinho”, aquele que Obama vai encontrar na Cinelândia. É o brasileiro incapaz de distinguir a esfera pública da esfera privada, o estado da ordem familial.
    Nesse livro, Sérgio acertou na mosca!
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Ana de Hollanda, Lei Rouanet, Lula Buarque
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    80 COMENTÁRIOS
    17/03/2011
    às 7:05
    Lei de incentivo à cultura e aristocracia do onanismo
    O “caso Maria Bethania” movimentou a rede ontem. Estive no seminário do Instituto Millenium — ainda voltarei ao assunto — e não tive tempo de escrever a respeito. Faço-o agora. Tomo o episódio como um sintoma. Todo mundo deve saber da história a esta altura, mas vai uma síntese: o Ministério da Cultura autorizou a cantora a captar, via Lei Rouanet, R$ 1,3 milhão para um blog em que aparecerá declamando poesias. A direção do projeto é de Andrucha Waddington. O tema, e nem poderia ser diferente, mobilizou ontem as redes sociais. A esmagadora maioria das pessoas que se manifestaram criticou a autorização. “Captação” quer dizer renúncia fiscal — a empresa vai abater do imposto que deve parte do que “investiu” em “cultura”. É DINHEIRO PÚBLICO, SIM!
    Waddington reagiu às críticas. Na Folha de hoje, ele afirma: “Se fosse documentário ou filme para ser visto por cinco mil pessoas no cinema, ninguém estaria reclamando. Parece que internet não é um meio válido. Lá [no blog], os vídeos vão ser vistos por milhões, e de graça. Preciso trabalhar com uma equipe, com o mesmo padrão de qualidade dos meus filmes.” Ninguém aqui duvida da competência do moço e de suas exigências técnicas. O ponto, definitivamente, não é esse. Antes que chegue a ele, noto que Waddington também parece não ver com bons olhos os “filmes para cinco mil pessoas” feitos com capilé oficial. Nisso, estamos juntos!
    Acho que o cineasta não está ligando a crítica à coisa. Vozes da sociedade brasileira têm reagido mal à facilidade com que nomes estelares das, vá lá, “artes” conseguem incentivos para seus projetos. A Lei Rouanet virou o “Bolsa Família” de nomes consagrados. Artistas que lotam casas de espetáculo dia após dia recorrem à lei para montar os seus shows. Faturam uma dinheirama — é justo; trabalharam por isso — sem que tenham, e nisto está o privilégio, investido um centavo na empreitada, toda ela saída da tal lei de incentivo. É injusto. Nós trabalhamos para isso. Em outras palavras: o custo é socializado com todos os brasileiros, mas o lucro, evidentemente, é privado.
    Se o blog vai ter mesmo milhões de acessos, por que uma artista do porte de Bethania precisa recorrer ao dinheiro público para montar o seu projeto? Empresas certamente estariam interessadas em anunciar os seus produtos na página. Waddington erra também quando fala da gratuidade. Ao contrário: todos estarão pagando pelo blog, até mesmo aqueles que não são fãs de Bethania e que não acessarão a sua página. Essa é uma confusão, aliás, muito típica quando se fala em leis de incentivo: fica parecendo que o dinheiro não sai de lugar nenhum.
    É claro que estamos diante de um exemplo de falta de critério — ou de critério torto. Sou contrário a incentivo de qualquer natureza, deixo claro. Mas como sei que seria malhar em ferro frio, advogo que ele obedeça a algumas regras. Pergunto: incentivo a quê e a quem? O “quê” remete à obra que vai contar com um empurrãozinho do estado. Entendo que o trabalho deveria ter a marca de uma consistente inovação, o que, definitivamente, não é o caso de Bethania. A avaliação seria um tanto arbitrária? Sem dúvida! Não menos do que hoje — mas, ao menos, estaria comprometida com o novo. O “quem” remete ao artista agraciado. Que sentido faz “incentivar” medalhões que dispõem de recursos, muitos deles com óbvios sinais exteriores de riqueza, para montar seus projetos? Tenham paciência!
    Querem ver? Se o cantor Latino decidir criar um blog para o exercício de sua “arte”, há alguma chance de o Minc lhe dar autorização “para captar”? Não! A concessão do benefício obedece, no caso, a um critério de gosto e influência. “Está comparando Latino a Bethania?” Estou, sim! Nenhum deles precisa de dinheiro público para exercer o seu ofício. O fato de um transitar entre os bem-pensantes — e até pode ser por bons motivos —, e o outro não é que acaba fazendo a diferença. De resto, tentem me convencer de que a contribuição de Bethania à poesia, com o seu blog, será superior à de Latino à música…
    Trata-se de um patrocínio despropositado — e não é o único —, sintoma de um tempo. O seminário do Millenium de ontem debateu liberdade de expressão. Eu participei do painel sobre o politicamente correto. Em todas as conversas, pairava, monstruosa, a sombra do Estado, que, parece, é onde os brasileiros cedo ou tarde acabam se abrigando. Estamos fazendo uma nação de estado-dependentes. Não acho que isso possa dar em boa coisa, mas não quero dar relevo ao profeta que não sou. Não são só os artistas que estão nessa. Boa parte do empresariado está pendurado nas tetas do estado.
    O Brasil é mesmo um país sui generis. Nos EUA, por exemplo, o showbizz arrecada impostos; aqui, ele come impostos. “Ah, mas olhe o tamanho da economia lá etc”. Sim, olho! Eu diria que a nossa indústria do entretenimento é, proporcionalmente, menor do que a sua economia. Aqueles que deveriam ser os empreendedores preferem as facilidades oficiais. Este é um país de aristocratas — agora, dos aristocratas progressistas!
    Pausa.
    Estou no avião. Há uma revistinha chamada “Brasil – Almanaque de Cultura Popular”. Tem o apoio do Ministério da Cultura — lei de incentivo, vocês sabem, como Bethania… É feita para circular nos aviões da TAM. A primeira página dupla de anúncio é da CEF. A segunda pagina dupla de anúncio é da Petrobras. A terceira página dupla de anúncio é do Banco do Brasil. É uma publicação da “Andreato Comunicação e Cultura”. O diretor editorial é Elifas Andreato. O diretor executivo é Bento Huzak Andreato. A editora de imagens é Laura Husak Andreato.
    É um manual mesmo, como os de antigamente, com pílulas de curiosidade sobre isso e aquilo… A gente não sente falta de nada porque qualquer coisa poderia estar ou não estar ali. Tento ler tudo o que me cai às mãos, até bula de remédio — como Gabriel Chalita lendo Sartre aos oito anos, “não entendo nada, mas adoro…”.
    Volto ao manual da Família Adreato patrocinado pela Família Brasil. Há uma notinha com este título: “Nem todos os adultos podem ver as revistas ‘para adultos”. O texto é este:
    “Claro que, se a Biblioteca Nacional recebe todos os periódicos publicados no Brasil, sua coleção de impressos eróticos e pornográficos é bastante extensa. Playboy, G Magazine, Sexy e títulos mais inusitados como Homem Macho, dos anos 1930, ou a fotonovela Carol Blue, dos anos 1980, estão todos armazenados. Comprovam costumes e tradições ao longo das épocas. Entretanto, não estão disponíveis para o público comum. Para consultá-las é preciso ser pesquisador e apresentar documento oficial da instituição acadêmica.”
    O almanaque não me foi de todo inútil. Taí algo que eu não sabia. Existe tambéma a aristocracia do onanismo.
    Quanto tempo vai demorar para que isso seja uma República?
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet, Maria Bethania
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    198 COMENTÁRIOS
    13/06/2009
    às 6:09
    E Caetano vai levar a prebenda da Lei Rouanet…
    Por Marcio Aith, na Folha:
    “Não sou masoquista para trabalhar só com artistas malsucedidos. O ministério não tem vocação para irmã Dulce ou para Madre Teresa de Calcutá.” Com essas palavras o ministro da Cultura, Juca Ferreira, indicou à Folha que irá rever a decisão que proibiu produtores do músico Caetano Veloso de captar patrocínio da Lei Rouanet para divulgar o novo CD do artista, “Zii e Zie”.
    Em reunião em maio, a Comissão Nacional de Incentivo à Cultura (CNIC) decidiu que o projeto, no valor de R$ 2 milhões, não precisa da Rouanet por ser comercialmente viável. A CNIC é um órgão colegiado que pertence ao Ministério da Cultura. O ministro pode, a seu critério, rever as decisões da comissão. Ferreira negou ter sofrido pressões da empresária Paula Lavigne, ex-mulher e empresária de Caetano, para que a decisão fosse revertida:
    “Ela não fez nenhum sauê, apenas ligou para mim e perguntou qual critério tinha sido utilizado para Caetano que ela não percebia que tinha sido usado para outras pessoas”. Leia a seguir a entrevista.

    FOLHA- O sr. vai rever o veto a Caetano Veloso?
    JUCA FERREIRA – A produção de Caetano entrou com o recurso, que vai ser analisado pelo ministério. Estou acompanhando. Evito ao máximo rever decisões da CNIC. Só quando ocorre um erro muito contundente procuro chamá-los à razão.
    FOLHA- Que erro foi esse?
    FERREIRA – O que houve é o seguinte. Não é possível aplicar um critério para um artista e não aplicar para outro. A lei atual não tem nenhum critério que diga que os artistas bem-sucedidos não podem ter seus projetos aprovados, e nem a nova deverá ter. No ano passado, quando eu intervim para aprovar o show da Maria Bethânia [a CNIC também tinha negado acesso da cantora à Rouanet], já tínhamos aprovado projetos da Ivete Sangalo, artista mais bem-sucedida comercialmente em todos os tempos. Não podemos sair discricionariamente decidindo, sem critérios legais.
    (…)
    FOLHA – O senhor diz que não há critério legal para negar o projeto de Caetano Veloso. Se não existe critério, por que musicais como “Peter Pan” e “Miss Saigon”, e exposições como “Leonardo da Vinci” e “Corpo Humano” foram negados?
    FERREIRA – Não vou aqui discutir casos.Frequentemente há erros, eu tenho dito isso. É justamente a falta de critérios que cria ambiente para julgamentos subjetivos. Um dos objetivos da reforma da lei é adotar critérios previamente legitimados pela discussão pública.
    FOLHA – Não há uma contradição entre o espírito da reforma da Lei Rouanet, baseada no uso de dinheiro público para quem precisa, e a decisão de estender a lei a Caetano, um artista consagrado?
    FERREIRA - De modo algum. O show já está em turnê, cobrando um preço. Seus produtores se dispuseram a reduzi-lo para pouco menos da metade se for incorporado dinheiro público. Ao que parece, o ingresso cairia para R$ 40 inteira, e R$ 20 meia. Isso possibilita a ampliação de pessoas na plateia. Atende a uma demanda nossa, a de que um artista bem-sucedido amplie seu público. Não é contraditório. Queremos uma política cultural sólida, mas não faremos isso sem os grandes artistas brasileiros. A única coisa que apontamos é que, da maneira como a lei é hoje, os artistas novos, de diversos Estados, não têm acesso à lei. Não sou masoquista para trabalhar só com artistas malsucedidos. O ministério não tem vocação de irmã Dulce nem de Madre Teresa de Calcutá. Um artista conhecido pode ter dificuldade de conseguir patrocínio para uma obra experimental, ou pode ser do interesse público abaixar os preços de um espetáculo popular. Deve-se avaliar economicamente cada projeto, o que hoje a lei sequer prevê. A discussão não está aí. Aqui
    Comento
    Este bogueiro já se declarou contra subsídio até para feijão, como sabem. Ou jamais seremos eficientes na produção de feijão. Simples e óbvio assim. Imaginem esse papo de subsidiar cultura…
    Mas vá lá. A coisa está aí. Juca Ferreira, coitado!, chega a ser patético, bisonho. Sabe que Caetano, se quiser, pode fuzilá-lo com três ou quatro palavras, que seriam publicadas em todos os jornais. E por quê? Porque, se pode haver dúvida sobre se é ou não o mais importante artista popular brasileiro, uma coisa está fora de debate: é o mais influente. E, obviamente, não tem problemas para atrair público a seus shows. Se um Caetano precisa de Lei Rouanet, os outros artistas precisam de muleta. Tenham paciência!
    É uma piada. Ao justificar, no entanto, a revisão da decisão, concedendo ao cantor o benefício, Juca Ferreira se trai e evidencia uma espécie de má consciência que vai tomar conta da lei. Explico.
    O espírito da revisão da lei, diz ele, é descentralizar a concessão de benefícios, atendendo a produções regionais, que não se orientem só por critérios de mercado etc. Bem, vocês conhecem essa cascata. É claro que, dado esse critério, Caetano estaria fora: tem público, não é um autor regionalista desconhecido, não faz arte experimental… Ao contrário: é a própria filha da Chiquita Bacana…
    Mas aí é Juca Ferreira quem demonstra o que realmente pensa dos tais artistas fora do mercado que serão apoiados pela Lei Rouanet: “Não sou masoquista para trabalhar só com artistas malsucedidos. O ministério não tem vocação de irmã Dulce nem de Madre Teresa de Calcutá.”
    Sacaram? O que não for, digamos, coisa de mercado, como Caetano, é “artista malsucedido”… Pergunto: por que o Estado tem de dar subsídio a artista malsucedido? E os caminhoneiros malsucedidos? E os contabilistas malsucedidos? E os padeiros malsucedidos? Ah, bem, não vale perguntar sobre torneiro-mecânico malsucedido…
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Caetano Veloso, Lei Rouanet
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    46 COMENTÁRIOS
    29/05/2009
    às 6:09
    Ministério da Cultura: O jdanovismo com rapadura e paçoca
    Não deixem de ler reportagem de Márcio Aith, no caderno Ilustrada, da Folha de hoje, sobre mudanças na Lei Rouanet que o Ministério da Cultura pretende operar. Baixou na turma aquela tentação dirigista, sabem? Informa Aith:
    A mudança foi proposta em março passado pelo ministro da Cultura, Juca Ferreira, e ainda está em discussão. Um de seus objetivos é “democratizar” e “regionalizar” a produção cultural no Brasil, reduzindo, nas palavras do próprio ministro, o “poder absurdo” das empresas na escolha dos filmes, peças, exposições e festivais que são patrocinados com a alavanca da renúncia fiscal.
    Entendi. Em matéria de “poder absurdo”, Ferreira só é favorável ao do Estado. Digam aqui pro Tio Rei: vocês confiam mais nos critérios da mão-de-obra especializada que se foi formando nessas empresas ou numa comissão de burocratas? Ah, sim. Não poderia continuar sem uma questão de princípio: sou contra subsídio permanente até de feijão — ou jamais se encontrará uma maneira eficiente de produzir feijão. Imaginem o que penso, então, sobre o subsídio a metáforas e prosopopéias… Mas, se existe, que, ao menos, se contenha a tentação dirigista. Mas quê…
    O “jadonovismo” do título é uma referência a Jdanov, o homem da “cultura” do stalinismo e um dos grandes incentivadores do “realismo socialista”, a arte que deveria enunciar e anunciar as verdades eternas do “povo”. De qual povo? Ora, do povo que interessava ao stalinismo, naturalmente. Juca Ferreira é o nosso Jdanov da rapadura, da paçoca e do petismo.O ministro quer mudar, é? Volto à reportagem:
    Ao todo, a Folha ouviu 15 empresas. Onze disseram que seus investimentos em cultura tendem a cair se o projeto restringir benefícios fiscais ou obrigá-las a mudar o foco de seus investimentos.
    Quatro dizem que vão manter seu volume de patrocínio. Apenas uma diz que vai elevar os investimentos em cultura. Seus nomes só são indicados nos casos em que as empresas assim o permitiram.
    (…)
    “Se esse projeto for aprovado tal como proposto, cortaríamos pela metade nossos investimentos gerais na área”, disse Selma Caetano, consultora cultural do Grupo Carrefour. “O projeto parte da ideia, equivocada, de que o governo sabe mais onde colocar o dinheiro do que o setor privado.”
    Segundo Selma, o Carrefour faz intensa programação cultural na região da zona sul de São Paulo, onde fica o instituto cultural da empresa e onde quase não existem espaços culturais.
    “Sob o pretexto de direcioná-lo, o governo vai perder não só o dinheiro alocado para impostos como também a contrapartida das empresas, que não têm nada a ver com impostos.”
    Assinante lê mais aqui
    Por Reinaldo Azevedo
    Tags: Lei Rouanet, Ministério da Cultura
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    “Se não fosse a Santa Comunhão, eu estaria caindo continuamente. A única coisa que me sustenta é a Santa Comunhão. Dela tiro forças, nela está o meu vigor. Tenho medo da vida, nos dias em que não recebo a Santa Comunhão. Tenho medo de mim mesma. Jesus, oculto na Hóstia, é tudo para mim. Do Sacrário tiro força, vigor, coragem e luz. Aí busco alívio nos momentos de aflição. Eu não saberia dar glória a Deus, se não tivesse a Eucaristia no meu coração.”



    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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