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    domingo, 18 de agosto de 2013

    Da Rússia, com terror




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    Ano IX Dom, 18 de Agosto de 2013 Número 227







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    Da Rússia, com terror


    ESCRITO POR JAMIE GLAZOV | 18 AGOSTO 2013 
    ARTIGOS - MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO


    Nota do tradutor: A crise no Egito é mais um passo da Irmandade Muçulmana rumo ao califado mundial, longamente planejado. Vale a pena recordar os ensinamentos de Ion Mihai Pacepa sobre a influência do comunismo no terrorismo islâmico. A entrevista abaixo, conduzida pelo editor Jamie Glazov, foi publicada no site do FrontPage Magazine em 1° de março de 2004, sob o título From Russia With Terror.

    Ion Mihai Pacepa é um ex-general da Securitate, polícia secreta da Romênia comunista. Em 1978 pediu asilo político nos EUA, onde vive até hoje, sob identidade secreta. É o desertor de mais alta patente do Bloco Oriental. Escreveu diversos livros e artigos sobre os serviços de inteligência comunistas. O seu mais recente livro, lançado em junho, éDisinformation: Former Spy Chief Reveals Secret Strategy for Undermining Freedom, Attacking Religion, and Promoting Terrorism, em coautoria com Ronald Rychlak.

    Segue a entrevista:

    O convidado de hoje da FrontPage Interview é Ion Mihai Pacepa, ex-chefe do serviço de espionagem da Romênia comunista. Em 1987, ele publicou Red Horizons (Regnery Gateway), traduzido em 24 países. Em 1999, Pacepa escreveu The Black Book of the Securitate, o livro mais vendido na Romênia em todos os tempos. No momento, está finalizando um livro sobre as origens do anti-americanismo atual.

    Frontpage Magazine: Bem-vindo à Frontpage Interview, Mr.Pacepa. Como ex-chefe da espionagem romena, que recebia ordens diretas da KGB soviética, o senhor obviamente sabe de muita coisa. O senhor escreveu sobre o fornecimento soviético de armas de destruição em massa (WMD - Weapon of Mass Destruction - armas de destruição em massa) para Saddam Hussein, e também sobre como o ensinaram a eliminar vestígios delas. Pode comentar este assunto e nos dizer sobre a sua ligação com as “WMD desaparecidas” no Iraque atualmente?

    Pacepa: A memória política contemporânea parece ter sido convenientemente atingida por um tipo de doença de Alzheimer. Não faz muito tempo, todos os líderes ocidentais, começando pelo presidente Clinton, clamavam contra as WMD de Saddam Hussein. Agora, quase ninguém se lembra que, após ter desertado para a Jordânia em 1995, o general Hussein Kamel, genro de Saddam Hussein, nos ajudou a encontrar “mais de cem baús e caixas de metal” contendo documentação “relativa a todas as categorias de armas, inclusive nucleares”. Ele também ajudou a Comissão Especial das Nações Unidas (UNSCOM – United Nations Special Commission) a resgatar do rio Tigre peças de mísseis sofisticados proibidos no Iraque. Isto é exatamente o que o meu velho plano soviético “Sãrindar” dizia para ser feito em caso de
    emergência: destruir as armas, esconder os equipamentos e preservar a documentação. Não é de admirar que Saddam Hussein tenha se apressado em atrair Kamel de volta para o Iraque, onde foi morto juntamente com cerca de 40 parentes três dias depois da chegada, ato descrito pela imprensa oficial de Bagdá como “administração espontânea de justiça tribal”. Isto feito, Saddam Hussein fechou a porta para qualquer outra inspeção da UNSCOM.

    FP: Algum plano Sãrindar foi colocado em funcionamento?

    Pacepa: Sem dúvida. A versão mais branda do plano Sãrindar foi feita por mim para Gaddafi, da Líbia. Assim que eu obtive asilo político nos EUA, Gaddafi encenou um incêndio em uma instalação secreta de armas químicas conhecida por mim (o porão sob o complexo químico de Rabta). Para garantir que os satélites da CIA captassem o incêndio e riscassem aquele alvo da sua lista, ele criou uma imensa nuvem de fumaça preta queimando cargas de pneus e pintando marcas de incêndio na instalação. Este procedimento está descrito no plano Sãrindar. Por garantia, Gaddafi também construiu uma segunda instalação, desta vez 30m chão abaixo, na montanha Tarhunah, sul de Tripoli. Isto não estava no plano
    Sãrindar.

    FP: É inegável, então, que Saddam Hussein possuía WMDs?

    Pacepa: No início da década de 1970, o Kremlin criou uma “divisão socialista de trabalho” para persuadir os governos do Iraque e da Líbia a se unirem à guerra de terrorismo contra os EUA. O chefe da KGB, Yury Andropov (mais tarde, o líder da União Soviética), me falou que estes dois países poderiam inflingir mais danos aos americanos que as Brigadas Vermelhas, o Baader-Meinhof e todas as demais organizações terroristas juntas. Os governos daqueles países, explicou Andropov, tinham não apenas recursos financeiros ilimitados (leia-se, petróleo) como também enormes serviços de inteligência que estavam sendo operados pelos “nossos consultores em razvedka” (palavra intraduzível, algo como “espionagem” ou “reconhecimento” - nota do tradutor) e poderiam estender os seus tentáculos pelos quatro cantos do mundo. Havia, entranto, um grande perigo: ao elevar o terrorismo ao nível de estado, correríamos o risco da represália americana. Washintgon jamais despacharia os seus aviões e foguetes para exterminar o Baader-Meinhof, mas certamente os mandaria para destruir uma nação terrorista. Assim, a nossa tarefa também era abastecer secretamente aqueles países com armas de destruição em massa, pois Andropov concluiu que os ianques nunca atacariam um país que pudesse retaliar com tais armas mortais.

    A Líbia era o principal cliente da Romênia naquela divisão socialista de trabalho, devido à estreita associação de Ceausescu com o coronel Muammar Gaddafi. Moscou cuidou do Iraque. Andropov me disse que, se o nosso experimento com o Iraque e a Líbia desse certo, a mesma estratégia poderia ser estendida à Síria. Recentemente, Gaddafi admitiu ter WMD, e os inspetores da CIA as encontraram. Por que acreditaríamos que a toda-poderosa União Soviética, que espalhou WMD por todo o mundo, não poderia fazer o mesmo no Iraque? Cada peça do arsenal iraquiano veio da antiga União Soviética - dos lançadores Katyusha aos tanques T72, veículos de combate BMP-1 e caças MiG. Na primavera de 2002, apenas duas semanas depois da Rússia tomar assento na OTAN, o presidente Putin e os seus ex-oficiais da KGB, que agora estão no comando da Rússia, concluíram outro acordo comercial de $40 bilhões com o regime tirânico de Saddam Hussein. Não era para compra de trigo ou feijão – a Rússia tem que importá-los de outro lugar.

    FP: Fale sobre a OLP e a sua conexão com o regime soviético.

    Pacepa: A OLP foi concebida pela KGB, que tinha uma propensão por organizações de “libertação”. Havia o Exército de Libertação Nacional da Bolívia, criada pela KGB em 1964 com a ajuda de Ernesto “Che” Guevara. Em seguida, houve o Exército de Libertação Nacional da Colômbia, criado pela KGB em 1965 com a ajuda de Fidel Castro, que logo se envolveu profundamente com sequestros, de aviões e pessoas, atentados a bomba e guerrilha. Posteriormente, a KGB também criou a Frente Democrática para Libertação da Palestina, que realizou inúmeros atentados a bomba nos “territórios palestinos” ocupados por Israel, e o “Exército Secreto para a Libertação da Armênia”, criado pela KGB em 1975, que organizou numerosos atentados a bomba contra escritórios das linhas aéreas americanas na Europa
    Ocidental.

    Em 1964, o primeiro Conselho da OLP, formado por 422 representantes palestinos escolhidos a dedo pela KGB, aprovou a Carta Nacional Palestina - um documento esboçado em Moscou. O Pacto Nacional Palestino e a Constituição Palestina também nasceram em Moscou, com a ajuda de Ahmed Shuqairy, um agente de influência da KGB que se tornou o primeiro presidente da OLP. (Durante a Guerra dos Seis Dias, ele escapou de Jerusalém disfarçado de mulher, tornando-se de tal forma um símbolo dentro da comunidade de inteligência política que uma de suas operações de influência posteriores - destinada a fazer com que o Ocidente considerasse Arafat um moderado - recebeu o codinome “Shuqairy”.) Esta nova OLP era comandada por um Comitê Executivo estilo soviético, composto por 15 membros que, como os seus camaradas em Moscou, também comandavam departamentos. Como em Moscou - e Bucareste – o presidente do Comitê Executivo tornou-se também o comandante geral das forças armadas. A nova OLP também tinha uma Assembléia Geral, que era, sob inspiração soviética, o nome dado a todos os parlamentos da Europa Oriental após a Segunda Guerra Mundial.

    Baseado em outra “divisão socialista de trabalho”, o serviço de espionagem romeno (DIE) foi responsável por fornecer apoio logístico à OLP. Exceto pelas armas, fornecidas pela KGB e pela Stasi, da Alemanha Oriental, tudo o mais saía de Bucareste. Até mesmo os uniformes e a papelaria da OLP eram fabricados na Romênia, de graça, como “ajuda camarada”. Durante aqueles anos, dois aviões de carga romenos lotados de bens para a OLP pousavam em Beirute semanalmente, e eram descarregados pelos homens de Arafat.

    FP: Você falou sobre o seu conhecimento pessoal sobre como Arafat foi criado e cultivado pela KGB e como os soviéticos realmente o destinaram a ser o futuro líder da OLP. Explique isto melhor, por favor.

    Pacepa: “Tovarishch Mohammed Abd al-Rahman Abd al-Raouf Arafat al-Qudwa al-Husseini, nom de guerre Abu Ammar,” foi levado à condição de líder palestino pela KGB após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, entre israelenses e árabes. Naquela guerra, Israel humilhou os aliados mais importantes da União Soviética no mundo árabe da época - Egito e Síria - e o Kremlin pensou que Arafat poderia ajudar a restabelecer o prestígio soviético. Arafat começou a sua carreira política como líder da organização terrorista palestina al-Fatah, cujos fedayin eram treinados secretamente na União Soviética. Em 1969, a KGB conseguiu catapultá-lo a presidente do comitê executivo da OLP. O presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, outra marionete soviética, propôs publicamente a indicação.

    Logo em seguida, Arafat foi encarregado pela KGB de declarar guerra contra o “imperialismo sionista” americano durante a primeira conferência de cúpula da Black International, uma organização também financiada pela KGB. Arafat alega ter cunhado o termo “imperialismo sionista” mas, na verdade, Moscou inventou este grito de guerra muitos anos antes, misturando o tradicional anti-semitismo russo com o novo anti-americanismo marxista.

    FP: Por que as lideranças americanas e israelenses foram ludibriadas durante tanto tempo em relação às atividades criminosas e terroristas de Arafat?

    Pacepa: Porque Arafat é um mestre do engodo - e eu infelizmente contribui para isto. Em março de 1978, por exemplo, eu secretamente conduzi Arafat para Bucareste para envolvê-lo em uma trama de desinformação soviética-romena longamente planejada. O objetivo era fazer com que os Estados Unidos estabelecesse relações diplomáticas com Arafat, fazendo com que ele fingisse querer transformar a OLP terrrorista em um governo no exílio desejoso de renunciar ao terrorismo. O presidente soviético Leonid Brezhnev acreditava que o recém-eleito presidente Jimmy Carter morderia a isca. Assim, ele disse ao ditador romeno que as condições eram propícias para introduzir Arafat na Casa Branca. Moscou deu a incumbência a Ceausescu porque em 1978 meu chefe tornara-se o tirano predileto de Washington. “A única coisa que as pessoas do Ocidente se preocupam é com os nossos líderes”, o chefe da KGB disse quando me envolveu no esforço para tornar Arafat popular em Washington. “Quanto mais eles os amarem, mais gostarão de nós.”

    “Mas somos uma revolução”, explodiu Arafat, após Ceausescu ter explicado o que o Kremlin queria dele. “Nascemos como uma revolução, e devemos continuar sendo uma revolução incontida.” Arafat objetou que os palestinos careciam da tradição, unidade e disciplina necessárias para se tornarem um estado formal. Todas estas condições eram algo apenas para uma geração futura. Que todos os governos, inclusive os comunistas, eram limitados por leis e acordos internacionais, e ele não estava disposto a colocar leis e outros obstáculos no caminho da luta palestina para erradicar o estado de Israel.

    Meu antigo chefe só foi capaz de convencer Arafat a enganar o presidente Carter recorrendo ao materialismo dialético, pois ambos eram stalinistas fanáticos que conheciam o marxismo de cor. Ceausescu compassivamente concordou que “uma guerra de terror é a sua única arma realista”, mas também disse ao seu convidado que, se ele transformasse a OLP em um governo no exílio e fingisse romper com o terrorismo, o Ocidente iria enchê-lo de dinheiro e glória. “Mas você tem que continuar fingindo, de novo e de novo”, meu chefe enfatizou.

    Ceausescu lembrou que influência política, como o materialismo dialético, era construído sobre a mesma doutrina básica de que a acumulação quantitativa gera transformação qualitativa. Ambos funcionam como cocaína, digamos. Se você cheira uma vez ou duas, ela não mudará a sua vida. Se você usá-la dia após dia, entretanto, ela fará de você um viciado, um homem diferente. Isto é a transformação qualitativa. E, nas sombras do seu governo no exílio, você poderá manter tantos grupos terroristas quantos quiser, com a condição de que não sejam publicamente associados ao seu nome.

    Em abril de 1978 eu acompanhei Ceausescu a Washington, onde ele convenceu o presidente Jimmy Carter de que poderia persuadir Arafat a transformar a sua OLP em um governo no exílio, sujeito a leis, se os Estados Unidos estabelecessem relações oficiais com ele. De imediato, o presidente Carter aclamou publicamente Ceausescu como um “grande líder nacional e internacional” que tinha “assumido um papel de liderança na comunidade internacional”. Três meses depois eu obtive asilo político nos Estados Unidos, e o tirano romeno deu adeus ao seu sonho de ganhar o Prêmio Nobel da Paz. Um quarto de século depois, entretanto, Arafat permanece no cargo de chefe da OLP e parece ainda estar trilhando o jogo de engodo do Kremlin. Em 1994, Arafat ganhou o Prêmio Nobel da Paz porque concordou em transformar a sua organização terrorista em um tipo de governo no exílio (a Autoridade Palestina) e fingiu, de novo e de novo, que aboliria os artigos da Carta da OLP de 1964 que tratam da destruição do estado de Israel e erradicaria o terrorismo palestino. No fim do ano escolar palestino de 1998-99, entretanto, todos os mil e quinhentos novos livros didáticos usados pela Autoridade Palestina de Arafat descreviam Israel como “inimigo sionista” e igualavam o sionismo ao nazismo. Dois anos após a assinatura dos Acordos de Oslo, o número de israeleneses mortos por terroristas palestinos aumentou 73% em comparação com o período de dois anos precedente ao acordo.

    FP: É simples: não pode haver paz no Oriente Médio com Arafat no poder. Que recomendação você daria aos diplomatas americanos e israelenses?

    Pacepa: Expor as mentiras de Arafat e condenar o seu terrorismo sangrento, mas evitar se envolver em represálias físicas contra ele - o que certamente o tornaria um herói para os palestinos. Sugiro fortemente a solução Ceausescu. Em novembro de 1989, quando foi reeleito presidente da Romênia, Ceausescu era tão popular quanto Arafat é agora entre os palestinos. Um mês depois, entretanto, Ceausescu foi processasdo por genocidio pelo seu próprio povo e executado pelo seu próprio povo. De um dia para o outro Ceausescu virou o símbolo da tirania. A Romênia tornou-se um país livre, e doze anos depois foi convidada para integrar a OTAN.

    FP: Fale um pouco sobre as condições da KGB na Rússia atualmente. Alguns dizem que está experimentando uma ressurreição. É verdade?

    Pacepa: Certamente. Nos últimos doze anos, a Rússia foi modificada para melhor, em alguns aspectos, como nunca antes. Entretanto, aquele país tem um longo caminho até se livrar do legado do comunismo soviético. Em junho de 2003, cerca de 6 mil antigos oficiais da KGB ocupavam importantes posições nos governos russos central e regionais. Três meses mais tarde, quase metade dos altos cargos de governo também estavam ocupados por antigos membros da KGB. É como colocar a velha Gestapo, supostamente derrotada, no comando de reconstrução da Alemanha.

    Desde a queda do comunismo, os russos têm enfrentado uma indigna forma de capitalismo operada por antigos burocratas comunistas, especuladores e mafiosos cruéis que têm ampliado as injustiças sociais e ocasionado um declínio na produção industrial. Assim, após um período de revolta, os russos têm gradualmente - e talvez reconhecidamente - voltado para a sua histórica forma de governo, a autocracia tradicional russa (samoderzhaviye) cuja origem remonta ao século XIV de Ivan, o Terrível, no qual um senhor feudal governava o país com a ajuda da sua polícia política pessoal. Boa ou ruim, a polícia política russa historicamente pode parecer para a maior parte do povo do país a sua única defesa contra a ganância dos novos capitalistas domésticos e a cobiça dos ávidos vizinhos estrangeiros.

    A Rússia jamais retornará ao comunismo - muitos russos pereceram nas mãos daquela heresia. Mas parece que a Rússia também não se tornará verdadeiramente ocidental, pelo menos não nesta geração. Se a história - incluindo a dos últimos 14 anos - serve de guia, os russos, que no momento estão desfrutando do seu nacionalismo recuperado, se esforçarão para reconstruir um tipo de Antigo Império Russo inspirando-se nas velhas tradições russas e usando formas e meios russos antigos.

    FP: A Rússia é amiga ou inimiga dos Estados Unidos na situação internacional atual?

    Pacepa: Após a queda do Muro de Berlim, corri para lá para dar uma olhada. A temível polícia da Alemanha Oriental foi abolida de um dia para o outro, e os seus arquivos estavam abertos para o público. Um ano depois, a ultrajante atividade da Stasi estava revelada em um comovente e enorme museu de liberdade. Um membro do parlamento de Berlim me disse que os alemães queriam provar ao mundo que, com certeza, o passado jamais seria repetido. Para garantir, o governo alemão vendeu todos os edifícios da Stasi para empresas privadas.

    Após o colapso da União Soviética, os novos administradores do Kremlin não abriram os arquivos da polícia política da União Soviética, mas em 1992 eles criaram o seu próprio tipo de museu da KGB em Moscou, em um edifício de um cinza sombrio atrás da Lubianka. Os andares superiores continuam sendo escritórios da KGB mas as salas do térreo são usadas para conferências e clube para os oficiais da KGB aposentados – incluindo discoteca.

    Em 11 de setembro de 2002, inúmeros oficiais aposentados da KGB reuniram-se no museu da KGB. Não foi para se solidarizarem conosco na data da nossa tragédia nacional, mas para celebrar o 125° aniversário de Feliks Dzerzhinsky - o homem que criou uma das mais criminosas instituições da história contemporânea. Dias depois, o prefeito de Moscou, Yury lushkov, um dos políticos mais influentes da Rússia, mudou de idéia e disse que agora quer recolocar a estátua de bronze de Dzerzhinsky no lugar de honra que ocupava antes em Lubianka. Poucos antes, o novo presidente russo ordenara que a estátua de Yury Andropov fosse recolocada em Lubianka, de onde havia sido removida após o golpe da KGB em 1991. Andropov é o único outro oficial da KGB que chegou ao comando no Kremlin, e por isso
    é normal Putin prestar homenagem a ele. Durante toda a vida, Andropov doutrinou os seus subordinados para acreditar que o imperialismo americano era o principal inimigo do país. Hoje, estes subordinados estão chefiando a Rússia. Pode demorar mais uma geração para o ódio visceral aos EUA cultivado por Andropov desaparecer.

    FP: Como a Rússia se enquadra na Guerra ao Terror? Não há pelo menos um interesse comum em combater o terrorismo islâmico?

    Pacepa: O 11 de setembro de 2001 nasceu diretamente de uma operação conjunta soviética-OLP concebida como consequência da Guerra dos Seis Dias. O objetivo desta operação conjunta era restabelecer o prestígio de Moscou jogando o mundo islâmico contra Israel e criando um ódio fanático e violento contra o seu principal defensor, os EUA. A estratégia era retratar os Estados Unidos, esta terra de liberdade, como um “país de sionismo imperialista” estilo nazista, financiado pelo dinheiro judeu e chefiado por um ávido “Conselho dos
    Sábios de Sião” (o epíteto do Kremlin para o Congresso dos EUA), cujo objetivo era alegadamente transformar o resto do mundo em um feudo judeu. Em outras palavras, o coração do plano conjunto era transformar a histórica aversão árabe e islâmica aos judeus em uma nova aversão aos Estados Unidos. Investimos muitos milhões de dólares nesta tarefa gigantesca, a qual envolveu exércitos inteiros de oficiais de inteligência.

    No fim da década de 1960, um novo elemento foi acrescentado à guerra soviética-OLP contra o imperialismo sionista de Israel e dos EUA: o terrorismo internacional. Antes de 1969 terminar, o Décimo-terceiro Departamento da KGB, conhecido no nosso jargão de inteligência como Department for Wet Affairs, “wet” sendo um eufemismo para a sangrenta invenção do sequestro de aviões. A KGB constantemente nos instruía de que ninguém da esfera de influência americana/sionista devia mais se sentir seguro. O seqüestro de aviões tornou-se um instrumento da política externa soviética - e, finalmente, a arma escolhida para o 11 de setembro.

    Durante aqueles anos de intensos sequestro de aeronaves, fiquei perplexo com o quase idêntico orgulho que Arafat e o general Sakharovsky, da KGB, tinham da sua perícia como terroristas. “Eu inventei o sequestro de aviões [de passageiros]” gabou-se Arafat para mim no início dos anos 1970 quando o encontrei pela primeira vez. Poucos meses depois, encontrei-me com Sakharovsky no seu escritório em Lubianka. Ele apontou para as bandeiras vermelhas fincadas em um mapa mundi na parede. “Olhe só”, disse. Cada bandeira representava um avião dominado. “O sequestro de aviões é uma invenção minha” vangloriou-se.

    Os subordinados de Sakharovsky estão agora reinando no Kremlin. Enquanto eles não revelarem totalmente o seu envolvimento na criação do terrorismo anti-americano e não condenarem o terrorismo de Arafat, não há razão para acreditarmos que tenham mudado.

    FP: Obrigado, Mr. Pacepa. O nosso tempo acabou. Foi uma grande honra conversar com o senhor. Espero que venha novamente.

    Pacepa: Foi um grande prazer, e ficarei feliz em voltar.



    Publicado no FrontPage Magazine.

    Tradução: Ricardo Hashimoto




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    (Diário de Santa Faustina, n. 1037)

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